CARTAS
Vladimir Palmeira e a constituinte
"Tendo pertencido à mesma geração política de Vladimir, reconheço prontamente por trás dos termos e argumentos usados no seu artigo sobre a Constituinte, no nº 3 de LUA NOVA, o nosso ideário revolucionário de 68, apesar de bastante roto e fora da moda, como não podia deixar de ser, em plenos anos 80. 'Assalto ao poder' é o termo que Marx usou para comentar a COMUNA de PARIS, em mil oitocentos e setenta e tantos, e é espantoso que um século depois não se tenha conseguido pensar ainda uma outra estratégia para um outro mundo. 'Lutas mais chegadas à realidade da classe trabalhadora' , em vez de lutar pela Constituinte (a receita que Vladimir propõe para o momento) é outra estratégia antiqüíssima, e inclusive já foi criticada por Lenin no começo do século, quando mostrava que os economicistas não confiavam na capacidade política da classe operária. Este termo é sinônimo (transpassado para o âmbito do movimento estudantil) da famosa 'luta pelos bebedouros', propugnada por setores militantes do Movimento Estudantil de 68, que por sinal nunca ocorreu. O ME preferiu, mesmo, levar uma luta contra a ditadura, apesar de com isso decepcionar algumas das suas lideranças.
Dizer que 'A Constituinte agora não garante nada', é no mínimo tonto, porque supõe-se (a não ser que tenhamos um novo golpe imediatamente) que ela garantirá pelo menos o que nela for firmado. Mas se a classe trabalhadora ficar se dedicando à luta de bebedouros e 'coisas mais ligadas a ela diretamente', desconfio que encontrará poucos advogados sinceros da sua causa entre os constituintes, que representarão, sem dúvida, outros interesses. Isto é o que se pode chamar de falta de sentido do momento histórico, mesmo que seja em nome dos mais sagrados ideais históricos. É como não entrar na dança, porque não tocou a música que esperávamos. É natural que a geração de 68 envelheça (que fazer!), mas a esclerose que às vezes apresentamos me parece meio precoce. Será uma conseqüência do traumatismo de uma revolução fracassada?" Caterina Koltai, São Paulo SP.
Caterina, a sua participação vem ao encontro dos objetivos de LUA NOVA, que pretende ser uma plataforma de diferentes pontos de vista. É por isso que fazemos questão de publicar a sua carta, bem como fizemos questão de publicar a opinião de Vladimir Palmeira ao lado de outras opiniões diferentes sobre o mesmo tema. Temos todos a ganhar com o debate.
Obrigado e continue escrevendo.
Irene e o risco da paixão
"Sensível e reveladora a entrevista de Irene Ravache (LUA NOVA Nº 4). É confortador saber que os nossos heróis idealizados também têm seus medos e evitam os riscos. Até mesmo o risco da paixão!" Luíza Fontes, Rio de Janeiro RJ.
Obrigado pelos elogios, Luíza. Certamente, o mérito maior cabe à sensibilidade de Irene. Nós, que não somos heróis, continuamos apaixonados por ela.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
01 Fev 2011 -
Data do Fascículo
Jun 1985