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A nova fase de Lua Nova

EDITORIAL

A nova fase de Lua Nova

Uma revista se faz com idéias. Idéias capazes de fazer refletir sobre o tempo presente e, mesmo, de fazer mudar a vida — quando os tempos são de transformação. Mas as idéias, como os homens, também têm vida: elas nascem, se desenvolvem e envelhecem. E mudam, principalmente quando os tempos são de transformações muito rápidas que, por isso mesmo, exigem que as velhas idéias ou sejam substituídas por outras novas ou sejam capazes de retomar, generosamente, as suas origens e as suas raízes, muitas vezes, quase esquecidas dos contemporâneos.

LUA NOVA acaba de completar três anos de existência: com a sua última edição, de abril-junho, chegamos a doze números publicados consecutivamente, a cada três meses. Como anunciamos no editorial da nossa primeira edição, continuamos querendo fazer "uma revista de reflexão, voltada para as questões atuais da construção da democracia no país. Uma reflexão sobre a ação política, social e econômica em nosso tempo". Isso significa dizer que não temos nenhum motivo para nos afastar dos nossos objetivos iniciais, de fundo, voltados a uma redefinição das bases institucionais, políticas, econômicas e sociais da sociedade.

Mas se não queremos nos afastar dos nossos objetivos iniciais, desejamos, de outra parte, levá-los às últimas conseqüências, tão longe quanto seja possível. Isso nos leva a refletir mais sobre as exigências ao debate da questão da democracia em um país de tantas tradições autoritárias, hierárquicas e elitistas, e onde até mesmo a tradição da esquerda não está ir,;une a um tratamento instrumental da democracia. Falar em democracia, no Brasil, significa, ao mesmo tempo, confrontar-se com uma cultura política que se apóia sobre imensas desigualdades sociais e, mas ainda, sobre sólidas tradições que excluem a igualdade perante a lei e, portanto, a cidadania. Falar em democracia, portanto, implica enfrentar uma larga tradição política e intelectual, teórica e prática, que pretende nos assegurar que a igualdade só pode ser restrita e a liberdade — se for possível — só pode existir para alguns. Significa enfrentar essas convicções ideológicas, não só no plano da conjuntura imediata, mas ao nível das estruturas, inclusive das estruturas de pensamento, onde essas crenças se renovam e se reproduzem na condição de idéias, velhas ou novas.

Por isso, LUA NOVA entra em nova fase: não para deixar para trás os seus objetivos iniciais mas, ao contrário, para criar condições melhores para que eles sejam alcançados. Queremos, agora, mais do que nunca, uma revista de reflexão sobre a política e a cultura, baseada nas diferenças e no pluralismo das idéias. Mas queremos, mais do que antes, uma revista capaz de uma contribuição intelectual e teórica voltada para os temas de fundo, para as questões da igualdade e da liberdade, para os temas sobre os nexos entre democracia e socialismo.

Isso faz com que o leitor venha a encontrar, daqui para a frente, uma revista de artigos e contribuições mais consistentes, mais longos e, por isso mesmo, mais de fundo. Esperamos que a mudança agrade e venha ao encontro das expectativas dos nossos amigos e leitores que nos acompanham há três anos.

JOSÉ ÁLVARO MOISÉS

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Mar 2011
  • Data do Fascículo
    Jun 1987
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