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Prestes, o nacional desenvolvimentismo e a revolução mundial

Prestes, national developmentism and the world revolution

Resumos

Tendo como referência imediata o trabalho do jornalista William Waack nos arquivos de Moscou sobre o levante de 1935 no Brasil o autor examina o significado do cruzamento entre o nacionalismo tenentista brasileiro e o internacionalismo jacobino bolchevique nesse movimento.


An analysis of the meaning of the armed uprising of 1935 in Brazil with reference to the work of the journalist Willian Waak in the Moscow archives.


QUALIDADE DE VIDA

Prestes, o nacional desenvolvimentismo e a revolução mundial

Prestes, national developmentism and the world revolution

Ottaviano de Fiore di Cropani

Professor do Departamento de Política da Faculdade de ciências Sociais da PUC/SP

RESUMO

Tendo como referência imediata o trabalho do jornalista William Waack nos arquivos de Moscou sobre o levante de 1935 no Brasil o autor examina o significado do cruzamento entre o nacionalismo tenentista brasileiro e o internacionalismo jacobino bolchevique nesse movimento.

ABSTRACT

An analysis of the meaning of the armed uprising of 1935 in Brazil with reference to the work of the journalist Willian Waak in the Moscow archives.

AOS MEUS ALUNOS DE JORNALISMO DA PUC

William Waack conseguiu penetrar em um dos arquivos políticos mais importantes e inacessíveis da História Moderna — o arquivo do quartel general da revolução mundial em Moscou. Lá estão, entre 1919 e 1943, as autobiografias dos militantes da mais extraordinária e mal sucedida das seitas revolucionárias jacobinas deste século, a Internacional Comunista. Lá se encontram também os documentos da insurreição de Xangai, da greve geral inglesa, das revoluções alemãs, da explosão da catedral de Santa Sofia, da defesa de Madri e... do levante comuno-tenentista de 1935 no Brasil.1 1 Este artigo foi escrito antes que eu pudesse ler Companheiros de William Waack (Companhia das Letras) e não é, pois, um comentário ao livro. É um comentário sobre a reação da esquerda às reportagens de Waack.

A reportagem causou algumas reações previsíveis. Ana Leocádia, a filha de Prestes e Olga Benário, desqualifica o trabalho objetivo de Waack no clássico estilo stalinista. Jorge Amado declara que discorda das escolhas do passado mas que não vai traí-las. Paulo Francis lança o mote: Prestes era ladrão! Mas a reação reticente e embaraçada da maioria dos intelectuais, especialistas e militantes da esquerda é mais interessante. Como nota Marco Aurélio Garcia, nada do que a reportagem revela pode realmente surpreendê-los. Por que, então, esse mal-estar?

O coronel que há dois anos atrás me ciceroneava gentilmente pela fortaleza de Praia Vermelha não se sentia embaraçado em lembrar que ali começara a insurreição de Prestes. Ele citava uma tradição de sua instituição. O coronel pertence, como o próprio Prestes pertenceu, a uma elite de militares estudiosos que se enraiza na revolução republicana de 1889 e no jacobinismo positivista — matriz primeira do nosso nacional-desenvolvimentismo. E esta ideologia, que hoje demonstra crescentes sinais de fraqueza, foi até há pouco a ideologia política hegemônica no sistema político brasileiro.

Durante o almoço, o coronel desaprovou Prestes mas não demonstrou a menor intenção de denegri-lo. Fez-me lembrar do caso de um jornalista que, entrevistando o Brigadeiro Eduardo Gomes durante a ditadura, insinuou algo desabonador sobre o Cavaleiro da Esperança. O Brigadeiro passou-lhe uma rápida e educada reprimenda, defendendo o idealismo do "comandante Prestes".

Este respeito do Brigadeiro por Prestes derivava da juventude militar revolucionária que ambos tinham partilhado. Eduardo Gomes fora um dos dois sobreviventes do levante do forte de Copacabana em 5 de julho de 1922. Este levante — no qual Eduardo Gomes, ainda rapaz, vira morrer todos os companheiros e do qual safra ferido — foi o primeiro dos levantes tenentistas, que culminariam nos dois anos de guerrilha da coluna Prestes-Miguel Costa (1924-26). Devido ao seu carisma e à sua coragem, Gomes adquiriu o status de líder tenentista mais popular do Brasil depois de Prestes.

Democrata de modelo udenista, o Brigadeiro tornou-se o candidato anti-Prestes nas eleições de 1945. (Getúlio derrotou a ambos com seu candidato, o general Dutra.) E morreria como um liberal anticomunista: durante a ditadura militar pós-64, foi um patrono moral da tendência castelista e partidário da redemocratização rápida. Mas, dentro dele, qual um fantasma do passado, o comandante Prestes carregava as esperanças da juventude militar numa invicta coluna guerrilheira.

A esquerda sente-se mais embaraçada com a imagem de Prestes em 35 do que o coronel ou o Brigadeiro Eduardo Gomes, porque, sendo essencialmente nacionalista, ela teme o efeito da oficialização do que já era público mas não oficial. Ou seja: que agentes secretos apátridas — profissionais a serviço de uma potência estrangeira que dava as ordens finais — organizaram e dirigiram o levante do Cavaleiro da Esperança. A própria Olga Benário era uma agente do Exército Vermelho. A notícia parece um torpedo dirigido contra o ideário da esquerda, que desde 35 vem sendo, moldado pela hegemonia ideológica e mitológica do nacional-comunismo prestista.

De fato, a partir de 35, a esquerda não-nacionalista tornou-se insignificante entre nós. Houve dois partidos comunistas bem diversos no Brasil. Um antes de Prestes, outro depois dele. O primeiro, fundado em 1922 por anarquistas, rebeldes e intelectuais, não teve importância. Era pequeno demais e não tinha raízes na sociedade. O segundo, que começa em 1935 com a entrada dos jacobinos prestistas, que seguem seu comandante para fora do tenentismo e para dentro do comunismo, é o Partido Comunista que conhecemos. O partido que, enfrentando sozinho getulistas, liberais, coronéis e meios de comunicação, usando apenas o prestígio da dobradinha Prestes-URSS, obteve 10% dos votos nacionais nas eleições de 1946 e tornou-se uma força viva na história brasileira.

O recrutamento de Prestes pelo Komintern me foi relatado por Aristides Lobo que, com Mário Pedrosa, aderira à corrente trotskysta em 1929, e se tornara amigo temporário de Prestes durante o exílio de ambos em Buenos Aires. Aristides logo percebeu que era perfeitamente inútil tentar discutir com Prestes os argumentos teóricos que dividiam trotskystas e stalinistas. A Prestes bastavam o jacobinismo positivista-autoritário que absorvera na Escola Militar e a fé nacionalista — traduzida para o dialeto comunista da época, que acabara de aprender. Nada tinha de intelectual e achava essas discussões dispensáveis. A vitória de Stalin, seu poder em nível mundial, uma base sólida fora do Brasil que lhe permitisse realizar aqui a revolução nacional e social, era tudo que o interessava.

Prestes não foi um marxista no sentido europeu da palavra. Como Gramsci, passou 9 anos na cadeia. Nesse período, Gramsci escreveu uma obra que mudou a visão dos intelectuais italianos sobre a Itália e a visão dos marxistas em geral sobre a revolução. Prestes, como notou Agildo Barata (que o classificava de "positivista-estóico"), limitou-se a traduzir as máximas de Epiteto, um escravo que ensina a sofrer em silêncio e a perseverar.

Com o recrutamento de Prestes, o Komintern stalinista impôs ao insignificante comunismo brasileiro a hegemonia dos tenentistas, militares e civis imbuídos do republicanismo jacobino anti-oligárquico (até hoje bem vivo no Exército e fora dele) e muito bem enraizados na classe média urbana. Assim, a partir de Prestes, o PCB tornou-se o partido da ideologia nacional-popular brasileira. Uma versão totalitária da ideologia nacional-desenvolvimentista, à qual pertencem o florianismo, o tenentismo, o comunismo prestista, o getulismo, o brizolismo, a doutrina da ESG, as doutrinas da luta armada dos anos 60 e, em versão pasteurizada, o juscelinismo.

Ideologia multiforme mas coerente, o nacional-desenvolvimentismo sempre foi (em maior ou menor grau) antiliberal e orientou as lutas políticas, sociais e econômicas de um inteiro ciclo histórico brasileiro (1930-1990). Nasceu lá no forte de Praia Vermelha, no final do Império, quando a idéia de Progresso, força-motríz do século XIX, deixou de ser uma característica do liberalismo possível no Brasil (representado pela Maçonaria) e foi reinterpretada em versão militar pelos oficiais republicanos, que inscreveram o lema de Augusto Comte, "Ordem e Progresso", em nossa bandeira. (O lema, aliás, está censurado. Cortaram dele a palavra "Amor", que inicia o original.)

Uma pergunta interessante que se coloca sobre a nossa história ideológica é se os integralistas podem ser incluídos entre as versões do nacional-desenvolvimentismo. O integralismo nasceu da fusão entre o fascismo conservador italiano (diverso do nihilismo nazista) e o modernismo nacionalista brasileiro. Foi uma doutrina teatral, estetizante e moralista, que acreditava numa revolução cultural regeneradora. Possuía todas as características fundamentais do nacionalismo, mas não dava importância ao desenvolvimento econômico e à modernização social. O tema "Progresso" desagradava ao seu conservadorismo. Aspirava apenas à "Ordem". Essa falta de perspectiva progressista, somada à vitória mundial dos liberais e comunistas sobre os fascistas, dispersou os membros do movimento entre as demais correntes políticas, onde seus intelectuais e ativistas tiveram papel relevante. Poucos, como Miguel Reale, optaram pelo liberalismo. A maioria manteve-se fiel ao nacionalismo e migrou para o trabalhismo, o comunismo, o getulismo ou o golpismo militar.

A grande e múltipla corrente do nacional-desenvolvimentismo passou ao lado do integralismo e absorveu seus militantes em suas várias tendências. Os integralistas adaptaram-se bem a todas elas devido ao pathos autoritário e à mitologia nacionalista comum. Mas a origem do integralismo é exterior ao nacional-desenvolvimentismo. Este não provém nem da literatura nem do fascismo, mas do Exército e de seu nacional-positivismo de modelo latino-americano.

A continuidade destes movimentos nacional-desenvolvimentistas não é apenas ideológica, mas biográfica. Através de Hermes da Fonseca, um ramo do tenentismo enraiza-se no jacobinismo nacional-positivista da Escola Militar de Benjamin Constam e de Floriano. Outro ramo, através de Prestes, desabrocha no nacional-comunismo brasileiro.

O mesmo positivismo autoritário, a mesma fé no Estado Central dirigido pelo Exército e pela elite tecnocrática contra as oligarquias rurais e regionalistas. O mesmo olho severo para com os poderes econômicos estrangeiros e os do comerciante nacional. A mesma desconfiança na democracia política como fonte de justiça social. O mesmo ideal de um progresso dirigido pelos melhores, não necessariamente eleitos: científico, honesto, dotado do senso de missão social e nacional.

E, sem dúvida, a mesma brutalidade, que levou os florianistas a tratar os monarquistas vencidos com uma violência com que estes não haviam tratado os republicanos2 2 Vide Os Subversivos da República, de Maria de Lourdes Janotti, e, naturalmente, O Triste Fim de Policarpo Quaresma, do democrata anti-nacionalista e anti-autoritário Lima Barreto, que, quanto à visão cultural e política, é uma espécie de anti-Glauber Rocha. ; que levou aos massacres de camponeses em Canudos e no Contestado, ao massacre de oficiais e marinheiros em Anhatomirim; que levou os tenentes ao desabusado emprego da polícia e da artilharia; que levou Getúlio e Góis Monteiro ao terror do Estado Novo; que levou os comunistas ao assassinato de inocentes e à denúncia de companheiros dissidentes à polícia; que levou a linha dura do Exército à institucionalização da tortura.

Para acompanhar o fio desta meada ideológico-biográfica, basta seguir a apologia da ditadura de Floriano Peixoto — e de seu ideólogo Benjamin Constam — feita pela historiografia comunista brasileira (com a significativa exceção de Caio Prado Jr., intelectual de origem oligárquica, que sequer cita Floriano em A Evolução Política do Brasil).

Tanto nas memórias do tenente Agildo Barata (que entrou para o PCB seguindo Prestes e, em 35, comandou o levante de Praia Vermelha) como na História Sincera da República do civil Leôncio Basbaum, ou na História Militar do Brasil do coronel marxista Werneck Sodré, a ditadura florianista é sempre defendida como "inevitável necessidade histórica". Essa defesa tem a intenção evidente de desculpar a priori outra ditadura — aquela que eles próprios pretendiam estabelecer, percebida claramente como uma continuidade do florianismo.

Barata, que provinha de uma família jacobina e militar (seu bisavô foi Cipriano Barata e seu tio um oficial florianista), escreve: "...não faltaram as violências, arbitrariedades e, possivelmente, crimes, num compreensível espírito de revanche contra o governo filo-português e escravocrata de Pedro II, recém-derrubado. Os remanescentes inconformados precisavam ser esmagados com mão de ferro e o foram." E, em 1957, já fora do marxismo, mas ainda nacionalista inoxidável, Barata congratulava-se com as mudanças no "velho Exército que vai desaparecendo para ceder lugar a um novo Exército, espiritualmente representado por Benjamin Constant".

A "República da Espada" durou cinco anos (1889-1894). As oligarquias a retiraram do poder com seu peso social, suas safras, seus bacharéis e seu Parlamento. Mas ela deixaria uma lembrança profunda na nação, a conhecida "saudade dos militares". Saudade anti-oligárquica, que ajudou a eleger Presidente da República o Marechal Hermes da Fonseca, discípulo e admirador de Floriano Peixoto. Em 1922, este velho florianista, ídolo dos jovens oficiais, irá inspirar o primeiro assalto tenentista à república oligárquica — o levante do forte de Copacabana, marco místico do golpismo militar brasileiro, iniciado pelo próprio filho de Hermes.

Quando Agildo Barata descreve o ciclo guerrilheiro dos tenentes (1924-26),, ele se entusiasma com o mês de ditadura tenentista em Manaus (1924), durante o qual os corruptos e oligarcas foram obrigados a entregar suas contas bancárias — dinheiro que os revolucionários utilizaram para fins públicos de primeira necessidade. Este entusiasmo pela justiça sumária anti-oligárquica constitui um viés ideológico que permeia o Exército desde a guerra do Paraguai até os dias de hoje. Os oficiais de 64, mal chegaram ao poder, começaram a caçar políticos corruptos (sob aplauso popular).

Este viés, entretanto, não se tornara entre os tenentistas um projeto político definido. Os tenentistas de esquerda — oficiais como os irmãos Távora, Miguel Costa, Prestes, Agildo Barata, Juracy Magalhães, Ribeiro Junior (o ditador de Manaus), ou civis como Maurício de Lacerda — mantinham-se unidos não por uma doutrina mas por um estado de espírito mais propenso à violência contra a oligarquia que o do resto do Exército.

O ideário desse tenentismo radical era amplo e vago o suficiente para reunir pelo menos três componentes, heteróclitos mas afins. O componente fundamental era a tradição positivista-autoritária dos florianistas. O segundo, certa admiração por Mussolini que, em 1930, (antes, portanto, dos integralistas) levou Juarez Távora e Miguel Costa a organizar uma "Legião" uniformizada com camisas caquis. O terceiro elemento eram os slogans das frondas oligárquicas, como os maragatos gaúchos e a "reação republicana" nordestina.

A "reação republicana" (1910-20), organizada por Nilo Peçanha e J.J.Seabra, lançou o slogan mais repetido pelos tenentes até a Revolução de 30: "Representação e Justiça". Era uma dissidência civil dos excluídos do sistema de poder oligárquico, que foi bater à porta dos quartéis (como fariam mais tarde os dois Lacerdas, tio e sobrinho) e conseguiu o apoio de Hermes da Fonseca. Esta peregrinação de civis, que vão aos quartéis pedir a intervenção militar, tem longa tradição entre nós.

Lívio Xavier fez-me notar a semelhança entre as carreiras de Maurício de Lacerda, o tribuno civil dos tenentistas, e de seu sobrinho, Carlos Lacerda. Este, quando jovenzinho, por um instante seguiu Prestes no desvio totalitário de 35. Adulto e sensato, ligou-se, como o tio, ao golpismo ortodoxo da tradição florianista-tenentista para tornar-se, como o tio, seu maior tribuno civil.

Os tenentistas gostavam também de citar a frase de Silveira Martins, líder de outra fronda oligárquica, a dos maragatos gaúchos: "A liberdade não se implora de joelhos, se conquista de armas na mão!" — o que, afinal, no Rio Grande do Sul, feudo tradicional dos liberticidas ximango-positivistas, era a pura verdade.

Uma pequena parte dos tenentes de esquerda, entretanto, apostou numa solução ainda mais radical do que imitar Mussolini: imitar a URSS. As idéias estavam no ar, nos jornais e nas conversas. O general Zerbini, que fora monarquista quando cadete, contou-me rindo que ouvira falar pela primeira vez de materialismo histórico através do futuro general Assis Brasil, que lia Bukharin, em voz alta, de cuecas. Prestes leu divulgação marxista pela primeira vez na Bolívia, em 1928, e encontrou nela o que sentia faltar-lhe: uma visão de mundo ainda mais radicalmente anti-oligárquica (ou "antifeudal" no dialeto comunista daqueles anos) que a dos tenentes. Mas muito mais articulada e de incrível amplidão. Um exército mundial lutava contra todas as oligarquias, e o capitão — que guiara a coluna guerrilheira queimando os documentos dos cartórios, nos quais os coronéis fundiários legalizavam o roubo da terra dos pobres — quis alistar-se nele.

Luís Carlos Prestes foi o mais importante destes oficiais da tradição jacobino-florianista, que optaram pelo comunismo mas continuaram a imaginar a revolução em termos tenentistas e não leninistas. Quem ensinou ao capitão Agildo Barata a técnica da tomada de surpresa dos quartéis não foi Lênin, que ele ainda não lera. Foi Juarez Távora, que Agildo reputava ser o maior teórico brasileiro da tomada de quartéis. (Ao longo de anos, Távora instruíra oficiais como Barata, Juracy Magalhães e Jurandyr Mamede, analisando minuciosamente as experiências dos próprios levantes tenentistas.)

Outra comprovação desta ligação profunda entre o nacional-comunismo prestista e o tenentismo de tradição florianista é o fato de que Prestes, depois de convertido ao marxismo, nunca perdeu o contato nem o respeito de boa parte dos oficiais e sub-oficiais radicais, que combateram no ciclo dos levantes militares anti-oligárquicos mas que não quiseram segui-lo para dentro do comunismo.

Vemos portanto que, assim como Hermes estabeleceu a ligação histórica entre jacobinos florianistas e jacobinos tenentistas, Prestes fornecerá a ligação entre estes últimos e os jacobinos comunistas. Mas a adesão do jacobinismo prestista ao messianismo totalitário da Revolução russa deu-lhe uma coesão e disciplina internas, um fanatismo, um linguajar marxista, um prestígio internacional e intelectual que as demais correntes da ideologia nacional-desenvolvimentista, essencialmente nativas (exceto a doutrina da ESG, parcialmente alemã, francesa e americana), não tiveram. A aura do PCB moldou algumas gerações de intelectuais brasileiros e os ligou a uma grande corrente internacional — o que não teria acontecido sem o recrutamento de Prestes.

Isto pode ser comprovado pelo exemplo inverso da Argentina. O comunismo argentino, que nunca dispôs de um líder jacobino nacionalista da estatura de Prestes ou Fidel Castro, foi um partido tão desimportante para a história argentina quanto nosso PCB antes de Prestes. Os demais marxistas argentinos (na maioria nacional-populistas, como os de todos os países subdesenvolvidos) tiveram de aderir "criticamente" ao jacobinismo de Perón, um fascismo de esquerda bem mais difícil de engolir que o de Prestes. Este, pelo menos, se declarava marxista e defendia a Revolução Russa. Quem não tem cão, caça até com rinoceronte.

OS JACOBINOS INTERNACIONALISTAS

Os militantes do Komintern vindos com Prestes em 35, que a reportagem de Waack ressuscita — Olga3 3 Olga, de Fernando Morais, descreve bem a formação da freira revolucionária que foi Olga Benário. , Locatelli, Pavel, Berger —, eram comunistas de um tipo bem diverso do Cavaleiro da Esperança, o tenente radical. Antes de tudo, raramente eram nacionalistas. (Quando o eram, ocultavam isso de si próprios). Inimigos declarados do nacionalismo em geral, só suportavam (com impaciência) o dos países subdesenvolvidos porque, desde o II Congresso do Komintern, a estratégia do quartel-general da revolução mundial era apoiar os nacionalismos coloniais contra os centros imperialistas.

Eles provinham de um ramo especial e essencialmente europeu do jacobinismo — o jacobinismo internacionalista — cujo mito fundamental é o da Revolução Mundial. Foram eles que dirigiram a Comuna de Paris (1871) e que, com Lenin e Trotsky, tomaram o poder no império russo (1917).

O jacobinismo, movimento político da modernidade, comemora este ano exatamente dois séculos. Ele adquiriu consciência de si próprio em 1793 quando os robespierristas lideraram a ditadura revolucionária francesa e sonharam com a República virtuosa, terrorista, igualitária e um tanto teatral. Durou pouco, mas estabeleceu o modelo para os instrumentos da luta política clandestina que se travaria contra a Restauração: as sociedades secretas e os clubes carbonários, que organizaram atentados e golpes de Estado em todo o continente. Se os carbonários são filhos dos jacobinos, os fascistas, comunistas e nacionalistas latino-americanos são seus netos.

O jacobinismo nasceu conspirativo, voluntarista, inimigo da democracia política, e tornou-se crescentemente romântico, nacionalista, militar e policial. (O imperador José II, irmão de Maria Antonieta, fez sua reforma apoiado nos jacobinos austríacos, em sua maioria funcionários da polícia. Fouché inventou a polícia política moderna. Saint-Just, Carnot e Bonaparte criaram o exército nacional de massas.)

O fascismo — a ditadura dos que, como notou Sartre, mantém relações sexuais com a pátria — é sua versão histérica. Já os militares sul-americanos, como "los científicos" mexicanos e os florianistas brasileiros, são sua variante positivista. Ambas versões ortodoxamente nacionalistas. Mas a partir da fundação da Primeira Internacional, criada em 1864 por proudhonianos, bakuninistas e marxistas, consolida-se na Europa uma mutação do jacobinismo. Desde 1848, várias sociedades secretas jacobino-carbonárias, como a dos blanquistas ou a Liga dos Justos (para a qual Marx e Engels escreveram o Manifesto Comunista), vinham sofrendo a influência do socialismo iluminista-reformista de Saint Simon, Cabet, Fourier e Owen. Esta fusão entre utopia socialista e revolucionarismo jacobino criou um novo movimento: o Socialismo Revolucionário Internacionalista.

Esta corrente se formou, pois, aprofundando a fé jacobina na organização clandestina e na ditadura (essência do leninismo e do trotskysmo) mas rejeitando o nacionalismo originário dos jacobinos. Todo o socialismo europeu, jacobino ou não, sempre foi, até a Segunda Guerra Mundial, visceralmente antinacionalista. Os nacionalistas dos países europeus eram os estamentos militares saudosos do Ancien Régime senhorial, os antisemitas e os fascistas. O documento fundador do Socialismo — a Certa às Nações de Saint Simon — é um manifesto a favor do industrialismo, do trabalho, da riqueza, pela paz e pelo fim dos nacionalismos.

Assim, para os jovens das escolas de quadros do Komintern, como Olga Benário e seus camaradas, apoiar os movimentos nacionalistas de líderes de países subdesenvolvidos como Prestes, Chiang-Kai-Chek ou Haya de la Torre, era uma política instrumental. Estes líderes chefiavam importantes movimentos progressistas, mas com tendências à "confusão pequeno-burguesa", especialmente em questões nacionais.

Haya, o fundador do APRA peruano, afastou-se do Komintern sem grandes conflitos. Mas Chiang-Kai-Chek, assim que pôde (1927), massacrou seus aliados comunistas4 4 Ler a respeito os dois romances de André Malraux: Os Conquistadores e A Condição Humana. Ambos baseiam-se em fatos verídicos da revolução chinesa. , demonstrando o perigo da política de alianças com estes nacionalistas coloniais. O precedente de Chiang não saía, aliás, da cabeça dos comunistas brasileiros. Em 1934 (quando Prestes já estava na URSS), editaram um livro intitulado "A luta contra o Prestismo e a Revolução Agrária e Anti-imperialista", no qual o Cavaleiro da Esperança era classificado de "Chiang-Kai-Chek do Brasil".

Esse nacionalismo dos revolucionários coloniais era necessário para enfraquecer os centros imperialistas, inimigos do primeiro Estado Proletário. Para agradar a estes nacionalistas das colônias, os comunistas aceitaram até mesmo fazer com Marx o que os florianistas haviam feito com Comte: cortar a primeira frase do apelo final do Manifesto Comunista, cujo texto original, diz: "Os proletários não tem pátria! Proletários de todo o mundo, uni-vos!". Mas, apesar de todas as concessões possíveis, os jacobinos internacionalistas não confiavam no nacionalismo das colônias, inseguro, infiel e perigoso para o grande sonho a que serviam: o Estado Mundial Comunista. "A Internacional será a Raça Humana" dizia uma estrofe do hino que cantavam nas batalhas, nas prisões, nos triunfos, diante dos companheiros tombados. Hino que nascera em 1871, nas chamas da Comuna de Paris, batismo de fogo dos jacobinos internacionalistas — o primero "assalto ao céu", segundo o epitáfio que lhes dedicou Marx.

Estes jesuítas do marxismo, assim como os do século XVII, provinham de todas as nações e combateram em todo o planeta, mesclados com policiais, terroristas, mitômanos, agentes duplos, aventureiros, mercenários. Sustentava-os uma fé na justiça de sua causa, que mantinha os melhores deles puros em meio à violência física e moral em que viviam. Seu santo sanguinário era o polonês Félix Djerzinsky, o policial mítico, ex-jovem poeta que assumira o trabalho mais sujo da Revolução russa e se mantivera incorruptível. (Há outras visões possíveis de Djerzinsky.) Para eles, o Brasil era um detalhe.

Ora, assumir a presença destes comunistas estrangeiros e anti-nacionalistas, como os dirigentes ocultos (aliás, ineptos) do levante de 35, macula o movimento aos olhos da nossa esquerda, que se tornou nacionalista justamente graças a Prestes. Este grupo secreto de agentes estrangeiros, desconhecidos pelo próprio partido, parece transformar em farsa o nacionalismo de Prestes e do PCB. Este é o motivo do mal-estar causado na esquerda pela reportagem de Waack.

O TENENTE RADICAL E OS BOLCHEVISTAS

Trata-se, entretanto, como bem percebia o Brigadeiro, de um completo engano. Prestes conseguiu o apoio do Komintern para sua rebelião tenentista, nacionalista e brasileiríssima, contrariando a orientação mundial do stalinismo na época.

Até a tomada do poder por Hitler, em 1933, o stalinismo apostara nas insurreições onde fosse possível fazê-las. Tanto nas metrópoles, como nas colônias e "semi-colônias", o que incluía o Brasil. Depois de Hitler, entretanto, o stalinismo tratou de buscar apoio nas democracias ocidentais contra seu novo e perigosíssimo vizinho e evitar provocações.

A Internacional Comunista — que via a preservação do primeiro Estado Operário como sua prioridade estratégica — passou, pois, a apostar na segurança das Frentes Populares antifascistas e a opor-se a aventuras que indispusessem a URSS com os donos das colônias e "semi-colônias".

O único levante comunista ocorrido no mundo entre 1933 e 1940 é o de Prestes. Foi, portanto, a convicção messiânica do líder da esquerda tenentista brasileira na possibilidade de uma revolução popular vitoriosa (e não a "linha geral" do Komintern) que levou ao envio de uma equipe de internacionalistas profissionais para assessorar Prestes em sua revolução. Alguns destes — como Berger, que enlouquecerá na tortura — eram contra o levante. Apenas cumpriram ordens.

Harry Berger (Arthur Ewert) é talvez a figura mais trágica de todo o grupo. Não chegou aqui como Olga Benário, que de nada sabia e estava apaixonada por um herói. Ewert fora um dos agentes do Komintern em Buenos Aires, aquele que convencera Prestes a ir trabalhar na URSS como engenheiro. Portanto, estava bem mais informado que os russos sobre as condições locais e já desconfiava de que o levante seria um fracasso antes de vir "dirigí-lo" — avaliava os efeitos devastadores do voluntarismo e do baluartismc sobre as análises políticas. Conhecera-os de sobra na série dos levantes alemães de 1919,1921 e 1923. Antes de vir para o Brasil, confidenciou esta opinião ao amigo Hans Krebs, outro internacionalista, que combatera com ele na Alemanha5 5 Krebs escreveu suas memórias - Do Fundo Da Noite - sob o pseudônimo de Jean Valtin. Paulo Sérgio Pinheiro analisa o caso em sua excelente história das estratégias comunistas. Estratégias da Ilusão (São Paulo Companhia das Letras, 1991). . Berger fora enviado para cá com sua companheira Elise Sabvorowsky, como castigo por suas opiniões oposicionistas, e aqui ambos conheceram o inferno na sorridente Cidade Maravilhosa, do cassino da Urca e de Felinto Muller.

O Brasil foi a única exceção na política exterior da URSS daquele período, e talvez o livro de Waack esclareça com que argumentos aquele oficial carismático, provindo de um longínquo país, convenceu Manuilsky, o dirigente do Komintern encarregado do Brasil, a apadrinhar seu caso. De qualquer forma, Manuilsky teve de confiar às cegas em Prestes. Ele e os demais membros da direção da Internacional, literalmente, nada sabiam da real situação brasileira. Febus Gikovate, que se opôs ao levante (o que causaria sua expulsão), relatou-me que um dos slogans sugeridos por Moscou para a insurreição foi: "Índios do Brasil, tomai as terras!" A mesma história me foi contada por Hermínio Sacchetta e Alberto Rocha Barros (pai). Divertia-os a idéia de que os russos e Hollywood tivessem a mesma imagem do Brasil — mas pode, também, ter se tratado de uma malevolência da luta de frações.

De todo modo a ignorância de Moscou, somada à impossibilidade dos agentes no exterior discordarem das "sugestões" da direção moscovita, estiveram entre os fatores responsáveis por alguns aspectos Brancaleone do levante de 35. Aqueles infelizes kominternianos eram típicos Yesmen da burocracia stalinista, que Hemingway retratou numa página amarga de Por Quem os Sinos Dobram, na qual descreve André Marty, comissário de Moscou na Brigada Internacional, planejando batalhas que mal compreendia e mandando jovens como Locatelli para uma morte inútil.

O desastre não pode, entretanto, ser atribuído apenas ao Komintern. Parte do levante de 35 foi, sem dúvida, como afirma Marly Vieira, espontâneo e fora do controle de qualquer facção. A efervescência da ANL e a inclinação ao golpe nos quartéis eram reais e não pura invenção baluartista. Quem viveu o período 1962-64, sabe do que estou falando. Mas Prestes deve ter convencido Manuilsky de que algo muito maior e mais profundo estava em curso. Algo de que a Revolução de 1930 fora apenas o prelúdio.

O fato da URSS ter aberto uma exceção para o Brasil fica ainda mais intrigante quando sabemos que Manuilsky jamais teria decidido nada sem antes consultar Stalin. Dimitri Manuilsky padecia de um pecado de origem perigosíssimo na URSS: não provinha do grupo leninista, mas do trotskysta6 6 Ver Milovan Djilas era Conversations avec Staline, 1962, pg 39. , que tivera de abjurar, optando pelo servilismo mais absoluto — única possibilidade de continuar na ativa.

Manuilsky era trotskysta desde antes da revolução e acompanhara a entrada de Trotsky para o partido de Lenin em 1917. O fato de estar em liberdade em 1934 — quando discutiu a insurreição com Prestes — já era uma sorte razoável. Quanto a ser dirigente da Internacional, um milagre. Mas o intelectual revolucionário que seguira Trotsky não era o burocrata encurralado e cauteloso que Prestes conheceu. Devido à sua situação periclitante, Manuilsky não iria abrir uma exceção à "linha geral" do partido sem pedir a aprovação de Stalin.

Se não pediu, podemos imaginar dois motivos. O primeiro é que Manuilsky considerasse o Brasil um país tão insignificante que Stalin nunca o responsabilizaria pela ninharia de uma derrota naquele fim de mundo. Difícil de acreditar, porque nas sangrentas lutas internas dos comunistas uma das táticas mais comuns era denunciar ninharias como traições. O segundo motivo seria que Manuilsky mantivesse secretamente a tese de Trotsky de que cada revolução tem um ritmo de amadurecimento próprio, e que a tática stalinista de tratar todas as revoluções em bloco só causava desastres.

Nesse caso, tentar ajudar a parir uma revolução num país imenso como o Brasil (que lhe descreviam como "maduro") era a forma mais eficiente de minar o próprio poder de Stalin dentro da URSS. (Todos os trotskystas e trotskyzantes acreditavam que a única maneira de salvar a URSS da degenerescência burocrática era ampliar a extensão da revolução mundial).

Se Manuilsky teve realmente um momento de independência, que acabou contribuindo para um desastrado levante no Brasil, este foi — com certeza — o último de sua vida, porque quando ele se despediu de Prestes fazia 29 dias que Kirov fora assassinado.

Sergei Kirov, o chefão stalinista de Leningrado, começava a emergir como rival de Stalin num momento particularmente difícil. A guerra civil contra os camponeses (1929-32) confiscara-lhes toda a terra, passando sua propriedade para o Estado, e terminara com milhões de lavradores trabalhando como escravos em campos de concentração e obras públicas. A fome devastava o campo e o país fervia de ódio reprimido.

Ameaçado, Stalin assassinou Kirov — que estava usando sua popularidade para posar de pacificador —, jogou a culpa na oposição e desencadeou o terror de 1934 a 39, destinado a destruir toda a elite comunista e a substituí-la por funcionários aterrorizados e obedientes.

Nesse abismo desapareceu toda a velha guarda do partido, inclusive a velha guarda stalinista.7 7 A bibliografia sobre a época é extensa, mas vale a pena ler quatro obras: O Grande Terror, do liberal Robert Conquest; O Caso Do Camarada Tulayev, do dissidente Victor Serge (novela baseada no caso Kirov); Let History Judge, do historiador soviético comunista Roy Medvedev; e Arquipélago Gulag, do anti-comunista Alexander Soljenitsin. Manuilsky, com mais culpa no cartório que muitos stalinistas fiéis assassinados, sobreviveu e a derrota no Brasil nunca lhe foi imputada. Isto vem reforçar a idéia da aprovação explícita de Stalin para a revolução no Brasil. Mas Manuilsky arriscou o pescoço ao endossar junto a Stalin a revolução que Prestes lhe garantia ser possível.

Djilas viu Manuilsky em Moscou um ano depois do fechamento do Komintern, enquanto Prestes ainda estava preso no Rio de Janeiro — o velho revolucionário exibia um sorriso mecânico educado, impenetrável, e não se comprometia com mais nada.

Historicamente, os jacobinos internacionalistas do Komintern foram a facção política mais derrotada do século. A guerra da Espanha, onde se cobriram de glória e de infâmia, marcou seu fim. Para ela acorreram de toda parte: da China, do Brasil, da Indonésia, Africa, América do Norte e Europa. E naquele longínquo verão de 1937, nos escombros da cidade universitária de Madri, no vale de Guadalajara, às portas de Teruel, bateram-se por todos os pobres do mundo.

Amleto Locatelli, o bravo jovem descoberto pela reportagem de Waack, que conseguiu escapar de morrer ou de enlouquecer aqui nas mãos do inqualificável Filinto Müller, foi visto pela última vez dois anos depois, com o uniforme da Brigada Internacional, ferido à beira de um riacho espanhol, esperando a chegada dos fascistas. Como não lembrar da morte de Robert Jordan em Por Quem os Sinos Dobram ? Se Euclides da Cunha foi o Homero dos jacobinos florianistas, Hemingway, Orwell, Malraux, dos Passos, Victor Serge e Érico Veríssimo cantaram a guerra dos internacionalistas. Um elogio mais sinistro veio de Brecht: sua peça sobre os kominternianos na China contém uma defesa do amoralismo policial mais absoluto. A comunista alemã Ruth Fisher chamou-o de "menestrel da GPU" (nome da polícia política soviética antes da KGB).

Mas Stalin apostava cada vez mais no nacionalismo russo e considerava os internacionalistas incômodos justamente em matéria de política internacional. Os que escapavam vivos da Espanha desapareciam na voragem dos expurgos, eram entregues a Hitler como "presente de casamento" pelo pacto germano-soviético ou se suicidavam em pequenos hotéis de periferia em países cujas línguas desconheciam.

Quando Prestes saiu da prisão, em 1945, os internacionalistas já eram um mito do passado. O Komintern fora fechado e os poucos "espanhóis" sobreviventes foram assassinados no pós-guerra como "titoistas". Isto é (suprema ironia), como nacionalistas. Sua fé e sua instituição, o Komintern, morreram com eles. A partir de 1945, todos os partidos comunistas, inclusive os europeus, tornaram-se, em maior ou menor grau, nacionalistas declarados. Voltaram à tradição originária do jacobinismo. O P.C. francês acompanharia ("criticamente", é claro) os socialistas e fascistas franceses na tentativa de manter a Argélia francesa. A URSS, a Iugoslávia, a China, o Vietnã e o Cambodja engalfinharam-se em conflitos nacionais abertos ou disfarçados. Ainda antes do fim da Segunda Guerra, em 1944, o jovem guerrilheiro montenegrino Milovan Djilas, internacionalista convicto enviado por Tito a Moscou, ouvira horrorizado um general soviético declarar que as guerras do futuro entre as potências comunistas seriam mais terríveis que as da era capitalista8 8 Djilas, Milovan, op. cit, p. 59 .

Com a liquidação desses internacionalistas stalinistas e de sua instituição, o Komintern — que Stalin substituiu pela KGB —, durante muito tempo restou no mundo apenas um ramo do jacobinismo internacionalista, o dos trotskystas. Agrupados desde 1938 na IV Internacional, teoricamente sucessora do Komintern, eles definham junto com a tradição da experiência soviética que os moldou. Mas em 1958 e 1968, na esteira de duas novas revoluções, surgiram os guevaro-sandinistas e as Frações Vermelhas.

Os guevaro-sandinistas representam um jacobinismo especificamente latino-americanista, iniciado com a revolução cubana. O comando ao qual pertence o casal de canadenses que sequestrou Abílio Diniz milita numa organização desse tipo. O caso é um crime político que lembra o de Olga Benário e dos kominternianos de 35. Mas a esquerda sente-se tolhida em defender publicamente este ponto de vista porque, em sua imensa maioria, ela condena ações armadas e não deseja comprometer-se na defesa de revolucionários, além de tudo estrangeiro, à véspera de eleições. (E tampouco depois). Mas não se verá livre deles. Dada a imensa miséria latino-americana, a desfaçatez das oligarquias, a corrupção da classe política e a privatização do Estado, a base social deste jacobinismo latino-americano não definhará com o fim próximo da experiência cubana. Os militantes do Sendero morrem desafiadoramente.

As Frações Vermelhas (alemã, italiana e japonesa) nasceram da revolução de 1968 (tão decisiva para a história do Ocidente quanto a de 1848) e não tem mais nada a ver com o socialismo. São religiões terroristas do tipo Tugh ou Netchaevista. Seu gênero de internacionalismo é aquele samba do crioulo doido, que levou ao massacre do aeroporto de Tel-Aviv, onde terroristas japoneses assassinaram católicos portoriquenhos por conta dos árabes para prejudicar os israelenses... e para estar na mídia!

Possivelmente, o terrorismo internacionalista do futuro se aproximará cada vez mais deste tipo novo de jacobinismo nihilista, no qual o internacionalismo não será um ideal de Federação Mundial Socialista mas o desafogo da raiva existencial dentro da Cosmópolis afrontosamente bem alimentada e insensível.

OS EMBARAÇOS DA ESQUERDA

Desde que se tornou prestista em 1935 — apesar da gafe inicial de trazer estrangeiros como assessores —, o PCB pouco teve a ver com qualquer tipo de internacionalismo, e nunca abandonou seu projeto ortodoxamente nacionalista para o Brasil. A famosa afirmação de Prestes no Senado (1947) de que, em caso de guerra mundial, ele se alinharia com a URSS contra o Brasil significava que, para o bem do nosso país, era melhor que a URSS vencesse os EUA, porque isso permitiria aos verdadeiros patriotas do PCB tomar o poder aqui.

A frase ficou famosa porque parecia um colossal disparate político. O senador que fez a pergunta provocativa ao Cavaleiro da Esperança não esperava uma resposta tão parecida com um suicídio político. Esperava, é obvio, uma evasiva. Prestes deixou os inimigos estupefatos e os amigos constrangidos. Seria ele, além de puro, imbecil?

Há, entretanto, nessa famosa afirmativa de Prestes algo que escapa aos não-habituados com os ritos totalitários. Prestes não era idiota. Mas o partido totalitário exige de seus membros tais suicídios simbólicos. Eles demonstram ao público interno do partido que o companheiro cortou completamente suas relações com todas as facções do mundo externo. Depois destes suicídios públicos, o partido passa a ser o único lugar onde ele pode ser aceito e sobreviver politicamente.

Mas nada disso deve ser confundido com o internacionalismo cosmopolita do Komintern. A única esperança que os comunistas brasileiros nunca abandonaram foi a de atrair os militares nacionalistas, sua matriz originária —o que às vezes conseguiram, como na Campanha do Petróleo.

De fato, todas as correntes do nacional-desenvolvimentismo, e não apenas os comunistas, sempre sofreram o fascínio e a influência dos militares, mesmo que à distância. A rigor, a única corrente civilista e não jacobina desta ideologia foi o juscelinismo.

Em 1956 (ou 57), o ex-trotskysta Mário Pedrosa ligou-se (passageiramente) ao "Clube da Lanterna" (lacerdista) — do qual participavam os golpistas de Jacareacanga — e veio a São Paulo buscar apoio na esquerda. Paulo Singer e eu, ambos do Partido Socialista, tivemos um encontro com ele no bar do Museu de Arte Moderna. Quando argumentamos que, afinal, se tratava de semi-fascistas, Mário alegou que esta sempre fora a forma inicial de politização das Forças Armadas no Brasil e lembrou o caso de Prestes.

Na mesma época, Oliveiros S. Ferreira, outro ex-trotskysta, aproximou-se destes oficiais e se tornou um dos ideólogos civis do jacobinismo militar. Isto, entretanto, não o impediu — enquanto a ditadura militar queimava os cadáveres dos guerrilheiros castristas — de publicar um artigo em que fazia o elogio do jacobino Fidel Castro como o "último grande capitão da Indo-América". (Chamar a América Latina de Indo-América é distintivo do radical-nacionalismo hispano-americano.)

Mais recentemente, João Quartim de Morais, um dos fundadores da Vanguarda Popular Revolucionária - VPR, qual faz parte o ex-capitão do Exército Carlos Lamarca (Lamarca, aliás, parece saído da iconografia tenentista), escreveu um livro no qual sua admiração pelos militares é tão profunda quanto a de Barata, Werneck Sodré e Basbaum — e possui, creio, a mesma motivação jacobina.

Durante a ditadura pós-64, a esquerda nunca deixou de apoiar as medidas nacionalistas dos militares, mitificadas pela retórica messiânico-modernista de Glauber Rocha. Fábio Munhoz, troskysta preso em 1969, manteve discussões com militantes stalinistas e da ALN, que tinham sido levados do presídio para conversar com oficiais ligados ao velho tenentista general Albuquerque Lima (com resultado nulo, é claro). Observou então, argutamente, que a nostalgia dos nacionalistas revolucionários brasileiros em relação aos militares era a mesma relação de amor-ódio que os trotskystas mantinham em relação à URSS.

Enquanto escrevo, a imprensa noticia dois sintomas desta nostalgia militar orgânica dos nacional-desenvolvimentistas. O primeiro é que a UBES, controlada pelo PCdB e MR8, acaba de convidar o Clube Militar para a abertura de seu Congresso. A intenção explícita é reforçar a aliança contra a política de privatizações. No caso particular do MR8, trata-se mesmo de um problema de sobrevivência — a organização subsiste às custas da privatização do Estado brasileiro. (O MR8 — cuja sigla carrega o dia da morte de Che Guevara — é um exemplo claro das organizações jacobinas que se corrompem antes mesmo de instaurar sua ditadura, porque conseguem arranjar uma colocação como brigada de choque dentro do sistema de poder existente.) A segunda notícia é uma declaração de Brizola segundo a qual, "em certas circunstâncias", as intervenções militares são justificáveis. Ouvem-se pelos corredores da história brasileira os ecos do positivismo autoritário de Júlio de Castilhos, do florianismo, do tenentismo, do Estado Novo e da ditadura militar.

Mas, se todas as correntes do nacional-desenvolvimentismo sofreram, em maior ou menor grau, da nostalgia dos militares, os comunistas brasileiros sofreram dela mais agudamente. Eles sempre condenaram com veemência os trotskystas e guevaristas, que, além de acreditar na necessidade da desagregação do Exército, traziam militantes estrangeiros para o Brasil e enviavam brasileiros para militar lá fora.

Prestes nunca mais empregou estrangeiros, rejeitando este internacionalismo das organizações marxistas cosmopolitas. Preferiu fazer suas trapalhadas com os militantes nativos, apesar de educá-los em Praga e Moscou. Mas se o Exército mandava seus oficiais formarem-se no Panamá, por que os comunistas não poderiam mandar seus quadros se formarem em Praga?

Assim como os comunistas não gostam de confessar que usavam os serviços da KGB, seus inimigos não gostam de revelar que colaboraram com a CIA. Mas assim foi, e nenhum dos lados pretendia "vender o Brasil" como afirmavam os adversários. Nem Prestes nem Castelo Branco jamais foram "entreguistas", termo que, aliás, nunca passou de chantagem política.

A CIA e a KGB, entretanto, jamais possuirão a aura romântica e religiosa dos kominternianos. São instituições de funcionários insensíveis ou cruéis, que raramente morrem no exercício da profissão — caso em que suas famílias recebem seguro. Terminam a vida aposentados numa praia da Flórida ou do Mar Negro.

Olga Benário, a revolucionária internacionalista, não é um equivalente de Dan Mitrione, o torturador da CIA executado pelos Tupamaros. Ela faz parte da história brasileira mais ou menos como Anita Garibaldi faz parte da história italiana. A policial Olga é comparável ao horrível idealista Djerzinsky, mas não ao horrível realista Filinto Müller — parente moral de Béria.

Os internationalistas que lutaram no Brasil — Olga, Locatelli, Pavel e Berger (como, antes deles, os carbonados Libero Badaró e Garibaldi; e, depois deles, Guevara, Soledad Barret Viedma e Pauline Reichstul9 9 Militantes da VPR, assassinadas em janeiro de 1973. Pauline era tcheca. Soledad e seu irmão Jorge pertenciam, como Agildo Barata, a uma família jacobina — eram netos de Obdulio Barret, um dos fundadores do PC paraguaio. Soledad estava grávida do cabo Anselmo, que a denunciou juntamente com mais 8 militantes de Recife (o grupo Primavera). Na tradição cavalheiresca de Filinto Müller, ambas as jovens tiveram os rostos mutilados antes de serem executadas. ) — quiseram mais da vida do que poder, privilégios e aposentadoria. Quiseram vivê-la no devotamento ao que acreditaram ser a maior realização da história humana.

A esquerda não tem, pois, motivos para sentir-se embaraçada com a presença destes revolucionários estrangeiros. Eles estavam a serviço de um dos maiores líderes carimáticos de nossa história, um nacionalista brasileiro de quatro costados e, à sua maneira—como percebiam o Brigadeiro Eduardo Gomes e Juarez Távora, seus admiradores — um homem puro. A fidelidade de Prestes a Moscou era a fidelidade ao que achava melhor para o Brasil.

Entretanto, se a esquerda não tem motivos para sentir-se embaraçada quanto à autenticidade do nacionalismo profundo e sincero de Prestes e dos comunistas brasileiros, ela tem sérios embaraços com o caráter deste nacionalismo.

O que teria sido do Brasil se Prestes e o Komintern tivessem conseguido estabelecer a ditadura e mantê-la? (Idéia que, apenas talvez, tenha sido um sonho irrealizável). Desconfio que não estaríamos falando deles com tanta isenção. Prestes foi espiritualmente recrutado pelo stalinismo quando, trabalhando como engenheiro na URSS, viu in loco o espetáculo grandioso da industrialização soviética. Entusiasmou-se com aquela tremenda concentração de vontades canalizadas pelo partido totalitário. Mas não se incomodou a mínima em ver o trabalho ser executado por ex-camponeses escravizados, alugados às indústrias pela polícia. Pareceu-lhe, com certeza, ser uma necessidade histórica, como de resto todo o terror stalinista.

Roubar a terra dos camponeses e escravizá-los era algo que o indignava quando realizado pelos coronéis brasileiros e seus capangas. Mas não o indignava se fosse feito pelo "Estado progressista" de engenheiros e policiais. Era o que ele desejava para o Brasil — para nos tornar uma grande nação, é claro.

Onde os comunistas tomaram o poder, como bons jacobinos, logo sufocaram a inteligência e a espontaneidade, transformaram a polícia em árbitro da sociedade, tomaram o medo e a subserviência o pão de cada dia, opuseram-se eficazmente a qualquer tipo de liberdade e terminaram arruinando a economia. Sobre os escombros de sua obra, povos desorientados procuram um novo caminho, entre ameaças de guerras nacionais e civis. E se Paraventi (que Waack descobriu ser o intermediário do "ouro de Moscou") não conseguia esquecer os olhos azuis de Olga, eu não consigo esquecer os olhos de Prestes: os de um fanático tranqüilo.

O romantismo, o desprendimento e o heroísmo de tantos jovens tenentistas e internacionalistas não podem servir para camuflar o cadáver de Elza Fernandes, menina do povo arrastada para uma aventura que não entendia e que Prestes (quase certamente com a aprovação de Olga) fez estrangular como queima de arquivo. Ela se parece demais com o eterno destino dos oprimidos: servir de bucha de canhão para os poderosos, inclusive os poderosos idealistas.

A verdadeira religião de Prestes, como a de todos os jacobinos integrais, foi a tirania. "Qual revolução sexual, qual nada! O verdadeiro orgasmo é o poder!" — dizia um deles em 68, num momento de sinceridade cínica e de alegria de viver. Os verdadeiros jacobinos pertencem ao quinto sexo, o único perigoso para a humanidade. Para entender profundamente os partidos jacobinos, além de estudar as várias características que moldam exteriormente estas organizações — origem social, momento histórico, conjuntura econômica, estrutura do poder oligárquico — é preciso estudar também sua mais importante característica interior a de serem uma das formas que o quinto sexo assume para organizar-se em partido político. (Como já ocorreu, antes deles, com boa parte das igrejas cristãs, que sempre tiveram suas KGBs, Gestapos, missionários, mártires, burocratas, dogmas e mitos milenaristas.)

Também não são uma espécie extinta, como anunciou F. Fukuyama num artigo que parecia um suspiro de alívio. Nem o serão, enquanto se perpetuarem as causas que dão ao jacobinismo força moral para se reconstituir após cada derrota. Os fascistas, que pareciam fósseis históricos, ressurgem em plena forma. Acabamos de vê-los devidamente uniformizados, jovens, enfileirados diante do Soviete Supremo em Moscou, erguendo os braços na saudação romana de Mussolini. A seu flanco os comunistas, de novo seus aliados, erguiam a foice e o martelo.

Entretanto, as oportunidades dos jacobinos no novo ciclo histórico nacional e internacional que se abre não são as mesmas que tiveram no ciclo que se encerra. Vivemos um momento em que o México, uma das mais perfeitas e eficazes ditaduras jacobinas (inclusive no disfarce), inicia sua integração com os EUA e o Canadá.

O nacional-desenvolvimentismo dos países pobres, seja de esquerda, direita ou centro, está em crise em todo o mundo — do Egito à Argentina, passando pelo Brasil, Tailândia e Cuba. Contra os jacobinos e nacionalistas destes países (mas também contra seus inimigos históricos, as oligarquias cartoriais, castas e estamentos tradicionais), avolumam-se dois poderosos adversários ideológicos e práticos: o liberalismo cosmopolita, revigorado pela necessária integração destes países com o mercado internacional, e o socialismo reformista, que exibe o sorridente sucesso histórico dos socialismos nórdicos. Esta crise é evidente pelo desprestígio geral da ideologia terceiro-mundista, que nos anos 60 uniu os jacobinos e intelectuais destes países numa esperança fervorosa mas ilusória.

Neste novo mundo, Prestes, Olga, Getúlio, Manuilsky, Locatelli e Guevara adquirem a tez fantasmagórica das velhas fotografias, tornaram-se história. Mas as paixões que os moveram — o objetivo profundamente moderno de mudar o mundo e o eterno desejo de justiça e poder — não morrerão. Apenas irão adquirir novas formas, não necessariamente jacobinas. Entender, criticar e contribuir para a elaboração destas novas formas, é a tarefa dos intelectuais neste surpreendente fim de século.

  • 4 Ler a respeito os dois romances de André Malraux: Os Conquistadores e A Condiçăo Humana.
  • 5 Krebs escreveu suas memórias - Do Fundo Da Noite - sob o pseudônimo de Jean Valtin. Paulo Sérgio Pinheiro analisa o caso em sua excelente história das estratégias comunistas. Estratégias da Ilusão (São Paulo Companhia das Letras, 1991).
  • 6 Ver Milovan Djilas era Conversations avec Staline, 1962, pg 39.
  • 7 A bibliografia sobre a época é extensa, mas vale a pena ler quatro obras: O Grande Terror, do liberal Robert Conquest; O Caso Do Camarada Tulayev,
  • 8 Djilas, Milovan, op. cit, p. 59
  • 1
    Este artigo foi escrito antes que eu pudesse ler
    Companheiros de William Waack (Companhia das Letras) e não é, pois, um comentário ao livro. É um comentário sobre a reação da esquerda às reportagens de Waack.
  • 2
    Vide
    Os Subversivos da República, de Maria de Lourdes Janotti, e, naturalmente,
    O Triste Fim de Policarpo Quaresma, do democrata anti-nacionalista e anti-autoritário Lima Barreto, que, quanto à visão cultural e política, é uma espécie de anti-Glauber Rocha.
  • 3
    Olga, de Fernando Morais, descreve bem a formação da freira revolucionária que foi Olga Benário.
  • 4
    Ler a respeito os dois romances de André Malraux:
    Os Conquistadores e
    A Condição Humana. Ambos baseiam-se em fatos verídicos da revolução chinesa.
  • 5
    Krebs escreveu suas memórias -
    Do Fundo Da Noite - sob o pseudônimo de Jean Valtin. Paulo Sérgio Pinheiro analisa o caso em sua excelente história das estratégias comunistas.
    Estratégias da Ilusão (São Paulo Companhia das Letras, 1991).
  • 6
    Ver Milovan Djilas era
    Conversations avec Staline, 1962, pg 39.
  • 7
    A bibliografia sobre a época é extensa, mas vale a pena ler quatro obras:
    O Grande Terror, do liberal Robert Conquest;
    O Caso Do Camarada Tulayev, do dissidente Victor Serge (novela baseada no caso Kirov);
    Let History Judge, do historiador soviético comunista Roy Medvedev; e
    Arquipélago Gulag, do anti-comunista Alexander Soljenitsin.
  • 8
    Djilas, Milovan, op. cit, p. 59
  • 9
    Militantes da VPR, assassinadas em janeiro de 1973. Pauline era tcheca. Soledad e seu irmão Jorge pertenciam, como Agildo Barata, a uma família jacobina — eram netos de Obdulio Barret, um dos fundadores do PC paraguaio. Soledad estava grávida do cabo Anselmo, que a denunciou juntamente com mais 8 militantes de Recife (o grupo Primavera). Na tradição cavalheiresca de Filinto Müller, ambas as jovens tiveram os rostos mutilados antes de serem executadas.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      21 Jan 2011
    • Data do Fascículo
      Dez 1993
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