Apresentação
Herdeira de uma tradição de publicações anteriores - a Revista de Cultura Contemporânea e a Revista de Cultura e Política, respectivamente, de 1978 e 1979 -, com este número completa oitenta edições. Tendo seu primeiro fascículo publicado em abril de 1984, o periódico tem se destacado por constituir-se em espaço onde são acolhidas polêmicas que marcam a área de Ciências Sociais. Manter uma revista ao longo de vinte e seis anos evidentemente representa um enorme desafio, que vem sendo enfrentado pelas sucessivas diretorias do Cedec. As dificuldades desse processo, no entanto, só puderam ser vencidas graças à boa receptividade de nosso público-alvo.
Este número apresenta sete artigos que giram em torno de temas analisados de modo articulado: soberania, democracia e mudança. Philippe Schmitter examina as possibilidades de transferência da experiência de integração europeia para outras regiões. Mostra que a unidade, que se estende temporal e espacialmente, constitui-se em processo que não se explicita apenas pelos fatos; é necessário avaliar as ideias que fundam as interpretações sobre os mesmos. No desenrolar da unificação, reforçam-se os regionalismos, fenômeno importante a ser compreendido, cujos caminhos precisam ser abordados teoricamente.
Carlos Sávio Teixeira analisa o pensamento de Mangabeira Unger mostrando que a busca de uma perspectiva para a mudança institucional é o eixo em torno do qual se desenvolve a dimensão explicativa de sua obra.
As novas configurações mundiais levaram Ernesto Laclau e Chantal Mouffe a retomar a noção gramsciana de hegemonia e propor outra abordagem. O artigo de Ana Rodrigues Cavalcanti Alves assinala as semelhanças e diferenças entre essas perspectivas, que permitem observar como se dão as disputas hegemônicas em novos espaços sociais.
O contraste entre as teses de Huntington e Fukuyama, inseridas em dois momentos importantes de transformação do mundo contemporâneo, 1968 e 1989, é apresentado por Natália Nóbrega de Mello. Nessa comparação, a autora recupera o contexto da produção das obras e a alternância entre os polos teóricos da democracia e da estabilidade.
Pablo Sanges Ghetti propõe reflexão crítica a respeito do lugar de na história do discurso sobre a questão nacional brasileira. Para tanto, enfrenta a complexidade da narrativa de Euclides da Cunha discutindo com a bibliografia que analisa sua obra principal e propondo nova perspectiva para o debate. Aponta, desse modo, a inter-relação entre messianismo e construção da nacionalidade brasileira.
O artigo de Eunice Ostrensky mostra como Hobbes usou o conceito de autorização política para neutralizar discursos de seus adversários políticos. A questão da representação ocupa o centro da análise.
Quais são os desafios colocados pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) em tempos de globalização é a questão que organiza o artigo de Fábio Souza da Cruz. O autor resgata a história dessa mobilização mostrando os desafios políticos enfrentados e aponta sua estrutura nos dias atuais.
Assim, a partir de vários ângulos de abordagem e diversas perspectivas analíticas as questões de soberania, democracia e mudança podem ser pensadas em conjunto.
O EDITOR
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
04 Nov 2010 -
Data do Fascículo
2010