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ULTRACONSERVADORISMO CATÓLICO: MIMESES DOS MECANISMOS DA EROSÃO DEMOCRÁTICA BRASILEIRA

CATHOLIC ULTRACONSERVATISM: A MIMESIS OF THE MECHANISMS ERODING THE BRAZILIAN DEMOCRACY

Resumo

Este texto parte da hipótese de que existe certa aproximação performática entre o bolsonarismo e o ultraconservadorismo católico, afinidade que reforça mecanismos de desdemocratização institucional. Para nossa argumentação, focamos no conflito gerado em torno da Campanha Ecumênica da Fraternidade de 2021, organizada pelo Conselho Nacional de Igrejas, quando o Centro Cultural Dom Bosco desafia a autoridade da Conferência Nacional dos Bispos Brasileiros ao deflagrar uma contra campanha. Quais os mecanismos e conteúdos utilizados para deslegitimar a iniciativa e as instituições religiosas? Quais conteúdos e performática se assemelham ao fenômeno bolsonarista e da extrema direita internacional? O quanto esse episódio reverbera outros tipos de ameaças e violências aos setores progressistas nos últimos anos no Brasil? Qual é a novidade que a direita cristã, católica e evangélica, apresenta na relação entre religião e política? Quais são os desafios teóricos e políticos que esse caso nos apresenta para compreender o declínio da democracia no país? A construção de um corpus de evidências netnográficas e a análise da produção de mídias que circularam nas redes sociais sustentam nossa reflexão.

Palavras-chave:
Democracia; Ultraconservadorismo; Igreja Católica; Direita Radical; Religião-Política

Abstract

This study hypothesizes the existence of a certain performatic approximation between Bolsonarism and Catholic ultraconservatism, an affinity that reinforces mechanisms of institutional undemocratization. Our argument focuses on the conflict around the 2021 Campanha Ecumênica da Fraternidade (Ecumenical Brotherhood Campaign, organized by the National Council of Churches), when the Dom Bosco Cultural Center challenges the authority of the National Conference of Brazilian Bishops by launching a countercampaign. What mechanisms and content were used to delegitimize the initiative and these religious institutions? What content and performance resemble the Bolsonarist phenomenon and that of the international extreme right? How much does this episode reflect other types of threats and violence to progressive sectors in the last years in Brazil? What novelty does the Christian, Catholic, and Evangelical right movements offer regarding religion and politics? What theoretical and political challenges does this case offer us to evaluate the decline of democracy in the country? The construction of a corpus of netnographic evidence and the analysis of media productions that circulated in social media support our reflection.

Keywords:
Democracy; Ultraconservatism; Catholic Church; Radical Right; Religion-Politics

Introdução

Em fevereiro de 2021, conservadores católicos, bispos e grupos de leigos deflagraram uma contra campanha para boicotar a V Campanha da Fraternidade Ecumênica (CFE) nas dioceses de todo o Brasil. Os fiéis católicos foram incentivados a não fazerem doações econômicas no domingo de Ramos, dia em que o dinheiro da coleta é destinado para obras sociais, sustentadas pelos projetos da Igreja católica e das igrejas que participam na Campanha (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, 2018CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. 2018. Nota de esclarecimento. Brasília, DF: CNBB. Disponível em: Disponível em: https://bit.ly/3PWxjol . Acesso em: 18 set. 2021
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). Por meio de outdoors e lives no YouTube difundidas nas redes sociais, estes grupos questionaram os materiais produzidos pela comissão responsável e atacaram de forma beligerante seus idealizadores. A Campanha da Fraternidade Ecumênica, realizada em conjunto com outras igrejas cristãs não católicas, sofreu um ataque que ultrapassou os muros eclesiais, estendendo-se para a sociedade.

Para o grupo conservador católico do Centro Dom Bosco (CDB), um dos principais expoentes da contra campanha difamatória, a CFE é uma mobilização religiosa da “extrema esquerda revolucionária” infiltrada na Conferência Nacional dos Bispos Brasileiros (CNBB) da Igreja católica e no Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic). Ambas as instituições são acusadas pelo CDB de espalhar, nas mais de quinhentas dioceses católicas, temas caros à ala “esquerdista” das igrejas, tais como a reivindicação de direitos das minorias, respeito à diversidade religiosa e às culturas indígenas, bem como a denúncia do racismo, feminicídio, violência doméstica e preconceito contra a comunidade LGBTQI+.

Autodefinidos como uma comunidade defensora da “verdadeira doutrina” da Igreja católica, o CDB afirma promover a formação de “soldados de Cristo por meio da via espiritual e intelectual para atuar na cultura defendendo a fé verdadeira”. Os pilares religiosos do Centro são “rezar, estudar e defender a fé”, ostentando o desejo de “ver novamente de pé a Cruz de Cristo na sociedade brasileira, [tendo como missão] ajudar a Santa Igreja Católica na salvação das almas”.1 1 Canal do Youtube do Centro Dom Bosco. Veiculado em 5 de fevereiro de 2021.Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=Uc8Slv0hvJU. Acesso em: 19 set. 2021. Ao mesmo tempo, o Centro defende o que compreende como verdadeira tradição católica, sendo um imperativo sinalizar os erros doutrinais e disciplinares em que incorrem tanto a hierarquia quanto os fiéis católicos. Munidos destes objetivos, o CDB liderou um sistemático ataque à CFE de 2021, acusando de ser “ideológico” o conteúdo do documento de estudo da Campanha, denominado de Texto-Base, e alertando para possíveis infiltrações políticas na sua elaboração.

Duas questões perturbaram o Centro Dom Bosco de Fé e Cultura (CDB), fundado no Rio de Janeiro em 2016, a participação ecumênica na elaboração dos documentos da Campanha e as questões de gênero que neles são abordadas. Numa sequência de cinco vídeos gravados pelo CDB, disseminados pelas redes sociais e aqui analisados, mostram-se quatro aspectos a serem destacados: o teor acusatório das afirmações, um acirramento das relações entre as alas progressista e conservadora do catolicismo, certa afinidade linguística e performática com grupos que tendem à polarização social, como é o caso dos grupos radicais bolsonaristas e a maneira de inserir a denominada “ideologia de gênero” no epicentro da contraofensiva à iniciativa da CFE/2021.

O termo “ideologia de gênero” não é novo. É oriundo de uma discussão teológica nos corredores do Vaticano, no final dos anos 90, e parece condensar desde os medos de uma desintegração moral da sociedade até a necessidade de articulação política, perante o feminismo e seus impactos sobre a vida da mulher e da família tradicional cristã (Bracke e Paternotte, 2016BRACKE, Sarah; PATERNOTTE, David. 2016. Unpacking the sin of Gender. Religion and Gender, v. 6, n. 2, pp. 143-154. DOI: 10.18352/rg.10167
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; Case, 2018CASE, Mary Anne. 2018. El rol de los Papas en la invención de la complementariedad y la anatematización del género desde el Vaticano. In: BRACKE, Sara; PATERNOTTE, David (ed.). Habemus género, la iglesia católica e ideología de género. Tradução: Maria Luisa Peralta. Rio de Janeiro: Observatorio de Sexualidad y Política. pp. 26-56. Disponível em: https://shre.ink/99P0.
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; Rosado-Nunes e Carranza, 2019ROSADO-NUNES, Maria José; CARRANZA, Brenda. 2019. Fim de uma ordem: natureza, lei divina, feminismo. Revista de Estudos de Teologia e Ciências da Religião, v. 17, n. 53, pp. 936-964. DOI: 10.5752/P.2175-5841.2019v17n53p936
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). A “ideologia de gênero”, enquanto referência acusatória, desqualifica os estudos acadêmicos de gênero desenvolvidos ao longo das últimas cinco décadas sobre as questões de assimetria, desigualdade e poder entre gêneros.

A expressão “ideologia de gênero” foi primeiramente apropriada por certos setores pastorais do catolicismo, posteriormente por outros setores conservadores pentecostais, até alcançar a mídia que a popularizou nos últimos anos. Na América Latina, a internacionalização do vocábulo ganha fôlego político ao constituir-se no elo de alianças entre setores conservadores (religiosos ou não) para deflagrar campanhas antigênero do tipo: “Con mis hijos no te metas!” (Barajas, 2021BARAJAS, Karina Bárcenas. 2021. Antagonismos en el espacio público en torno a la “ideología de género”: expresiones del neoconservadurismo católico y evangélico en México. In: DE LA TORRE, Renée; SEMÁN, Pablo (ed.). Religiones y espacio público en América Latina. Buenos Aires: Clacso. pp. 457-484., p. 458). No Brasil a “ideologia de gênero” cristalizou-se como mote de campanha presidencial de Jair Bolsonaro,2 2 Disponível em: https://bit.ly/3KcOcr2. Acesso em: 19 set. 2021. consagrou-se como pauta de governo ao fazer parte do discurso de posse em 2019,3 3 Disponível em: https://bit.ly/43AlKq0. Acesso em: 2 jan. 2019. e nos pronunciamentos feitos pelo ex-presidente na ONU (em 2020 e 2021),4 4 Disponível em: https://bit.ly/43ImTf4. Acesso em: 8 nov. 2021. Disponível em: https://bit.ly/43DSi2w. Acesso em: 8 nov. 2021. onde foi reforçada a centralidade da família, do cristianismo e do conservadorismo como categorias de identidade. Sob o slogan “conservadores nos costumes e liberais na economia”, o termo “ideologia de gênero” é central para a construção de narrativas patriarcais e machistas que garantem a preservação de padrões de relações sociais e interpessoais aliados a um sistema econômico neoliberal (Bulgarelli, 2020BULGARELLI, Lucas. 2020. Damares e Guedes são parte do mesmo projeto [Entrevista concedida a Rosana Pinheiro-Machado]. The Intercept Brasil. Disponível em: Disponível em: https://shre.ink/9O5q . Acesso em: 20.nov.2020.
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; Machado, 2020MACHADO, Maria das Dores Campos. 2020. A vertente evangélica do neoconservadorismo brasileiro. In: GUADALUPE, José Luis Pérez; CARRANZA, Brenda. Novo ativismo político no Brasil: os evangélicos do século XX. Rio de Janeiro: Konrad Adenauer Stiftung. pp. 271-285.).

O argumento que sustentamos aqui é que o modus operandi como o CDB agiu é muito próximo das maneiras pelas quais os setores do bolsonarismo agem. Não apenas em conteúdo, como também as formas são próximos do mesmo processo observado por outros analistas da extrema direita mundial (Bueno, 2021BUENO, Arthur. 2021. The post-depressive constellation: from political effervescence to the right-wing authoritarianism in Brasil. In: BIANCHI, Bernardo et al. (org.). Democracy and Brazil: collapse and regression. New York: Routledge. pp. 114-130.; Conger, 2019CONGER, Kimberly H. 2019. The christian right in U.S. Politics. Oxford Research Encyclopedia of Politics. DOI: 10.1093/acrefore/9780190228637.013.810
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; Minkenberg, 2019MINKENBERG, Michael. 2019. Religion and the radical right. In: Rydgren, Jens (ed.). The Oxford handbook of the radical right. New York: Oxford University Press. pp. 523-535.; Kahhat, 2019KAHHAT, Farid. 2019. El eterno retorno: la derecha radical en el mundo contemporáneo. Lima: Planeta Perú.; Teitelbaum, 2020TELTEIBAUM, Benjamin. 2020. Guerra pela eternidade: o retorno do tradicionalismo e a ascensão da direita populista. Campinas: Editora Unicamp.; Zuquete, 2011ZUQUETE, José Pedro. 2011. Novos tempos, novos ventos? A extrema-direita europeia e o Islão. Análise Social, v. 46, n. 201, pp. 653-677.). Em geral, as indagações sobre as direitas no Brasil, quando pesquisadores estudam o papel das igrejas, estão muito focadas nos setores neopentecostais (Caldeira e Toniol, 2020CALDEIRA, Rodrigo Coppe; TONIOL, Rodrigo. 2020. Catolicismo eclipsado. Folha de S.Paulo, 31 jul. 2020. Disponível em: Disponível em: https://saidapeladireita.blogfolha.uol.com.br/2020/07/31/artigo-mostra-importancia-do-catolicismo-para-ascensao-do-conservadorismo-no-brasil/?loggedpaywall . Acesso em: 15 abr. 2020.
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; Cowan, 2021COWAN, Benjamin. 2021. Moral majorities across the Americas: Brazil, the United States, and the Creation of the Religious Right. Chapel Hill: The University of North Carolina Press.; Panotto, 2021PANOTTO, Nicolás. 2021. Lo evangélico como fuerza agonista: disputas hegemónicas frente a la transición política latino-americana. Encartes, v. 3, n. 6, pp. 36-51.; Pleyers, 2021PLEYERS, Geoffrey. 2021. El ascenso político de los actores religiosos conservadores. Cuatro lecciones del caso brasileño. Encartes, v. 3, n. 6, pp. 65-84.). Nosso objeto se caracteriza pelos católicos conservadores que têm realizado alianças para atuar politicamente com setores conservadores de outras igrejas cristãs em instâncias legislativas e de governos, tanto federais quanto estaduais e municipais (Camurça, 2020CAMURÇA, Marcelo Ayres. 2020. Um poder evangélico no Estado Brasileiro? mobilização eleitoral, atuação parlamentar e presença no governo Bolsonaro. Nupem, v. 12, n. 25, pp. 82-104. DOI: 10.33871/nupem.v12i25.713
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; Carranza e Vital-Cunha, 2018CARRANZA, Brenda; VITAL-CUNHA, Christina. 2018. Conservative religious activism in the Brazilian Congress: Sexual agendas in focus. Social Compass, v. 65, n. 4, pp. 486-502. Disponível em: Disponível em: https://shre.ink/9989 . Acesso em: 15 abr. 2020.
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; Sales e Mariano, 2019SALES, Lilian; MARIANO, Ricardo. 2019. Ativismo político de grupos religiosos e luta por direitos. Religião e Sociedade, v. 39, n. 2, pp. 9-27. DOI: 10.1590/0100-85872019v39n2editorial
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).

As perguntas que orientam nosso argumento são: quais os conteúdos e mecanismos empregados pelo CDB para deslegitimar a Campanha Ecumênica da Fraternidade/2021? Até que ponto estes conteúdos e formas de ação se aproximam do fenômeno bolsonarista e das maneiras pelas quais a extrema direita internacional tem agido? O que este caso ilumina em termos dos desafios, tanto teóricos quanto políticos, para se compreender o declínio da democracia no país? O quanto eles se aproximam de outros episódios violentos e ameaçadores a setores progressistas vivenciados nos últimos anos no Brasil? Sabendo que a direita católica sempre esteve atuante na sociedade brasileira, o que este episódio aponta em termos de novidade?

O objetivo do presente estudo é compreender o sentido e as gramáticas políticas que articulam os discursos e as narrativas que circularam nos materiais produzidos pelo CDB. Para isso, utilizamos a proposta de análise de discurso sociológico sugerida por Jorge Ruiz Ruiz (2009RUIZ, Jorge, Ruiz. 2009. Análisis sociológico del discurso: métodos y lógicas. Forum Qualitative Sozialforschung, v. 10, n. 2, pp. 1-32.), quem indica que, a partir da construção de um corpus de conteúdos, temáticas e enunciados de determinado grupo, sejam lastreadas as conexões analíticas com os contextos sociais (temporais e históricos) em que são produzidos. Isso significa que devemos ir além das recorrências linguísticas nos materiais disponíveis, exercitando-nos na procura de conectores com eventos e materiais que “pairam” em torno desse corpus, e, se possível, detectar as regras de produção e circulação de sentido desses discursos, na procura de evidências de como, para seus autores e receptores, esse investimento tem sentido. Para responder às perguntas e demonstrar nosso argumento, examinamos a literatura pertinente, bem como o site e os cinco vídeos disponíveis no canal do YouTube do Centro Dom Bosco em torno deste caso. Realizamos, ainda, uma entrevista com Romi Bencke, pastora luterana, Secretária Geral do Conic, responsável pela condução dos trabalhos de preparação e divulgação da Campanha, que foi duramente atacada durante a contraofensiva movida pelo CDB.

Começamos por apresentar o CDB e sua forma de atuação, para em seguida discutir teoricamente as aproximações com as análises sobre as formas de atuação da extrema direita e os processos de desdemocratização, finalizando com algumas considerações finais.

I. Centro Dom Bosco: um expoente da ultradireita católica no país

Desde os anos sessenta, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil deflagra, a cada ano, uma força-tarefa para organizar a Campanha da Fraternidade com um mesmo padrão. A preparação inclui um tema de relevância social, um lema associado a uma frase bíblica, monta-se uma equipe que realiza um trabalho coletivo que se debruça na produção de materiais de estudo, de acordo com a metodologia popular (ver, julgar e agir), que serão discutidos durante a Quaresma, os quarenta dias que precedem à Páscoa cristã.

O tema de 2021 foi “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor”. O documento base de discussão continha 79 páginas, subdividido em capítulos, cada parágrafo numerado, com autoria ecumênica e coletiva, pois a responsabilidade da Campanha seria do Conic. Este último surge em 1982 e reúne as igrejas Católica Apostólica Romana, Aliança de Batistas do Brasil, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil e a Igreja Presbiteriana Unida. No plano estratégico são parte de seus valores “[o] ecumenismo, diálogo inter-religioso, promoção e defesa dos direitos humanos e promoção de uma cultura de paz”.5 5 Disponível em: https://www.conic.org.br/portal/apresentacao. Acesso em: 15 set. 2021.

Ao longo de suas quase seis décadas, as Campanhas da Fraternidade anuais têm um caráter pedagógico com os correspondentes desdobramentos políticos nem sempre consensuais, pois “implantar novos modos de educar, pensar e discutir problemas políticos e sociais dentro e fora dos templos, durante o período quaresmal, [frequentemente] envolveu acirradas disputas” (Nunes, 2021NUNES, Adailton Antônio Galiza. 2021. Campanha da Fraternidade: uma política da Igreja Católica para o Brasil. Tese de Doutorado em Educação. Campinas: Unicamp., p. 57). Se é verdade que esse viés controverso parece ter acompanhado a história dessa iniciativa católica, também é verdade que, na Campanha ecumênica de 2021, o tom de disputa tomou proporções que extrapolaram os muros de desacordo institucional. A polêmica liderada pelo CDB constituiu-se em escândalo e foi reverberada em jornais e sites de notícias. O CDB realizou, por meio de vídeos de Youtube e em hashtags no Twitter e no Instagram, ataques ferozes e acusações a líderes religiosos de terem aderido a “pautas abortistas e anticristãs”, além de incentivarem os cristãos a não fazerem doações para a Campanha da Fraternidade (Putti, 2021PUTTI, Alexandre. 2021. Ultraconservadores atacam religiosos e boicotam campanha da fraternidade. Carta Capital, 16 fev. 2021. Disponível: Disponível: https://bit.ly/3pQdx3f . Acesso em: 15 set. 2021
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).

O que revelam as falas dos porta-vozes do CDB é que o incômodo com a Campanha da Fraternidade não é recente. Eles sempre se incomodaram com o que eles chamam de “forças revolucionárias” dentro da CNBB, que acabavam por transformar as Campanhas da Fraternidade em disseminação de pautas da esquerda. A Campanha da Fraternidade elaborada pela CNBB ocorre anualmente, entretanto, desde o ano 2000, a cada cinco anos, a Campanha é conduzida de forma ecumênica pelo Conic, ou seja, reunindo várias igrejas cristãs. Assim, em um dos vídeos,6 6 Canal do Youtube do Centro Dom Bosco. Veiculado no dia 05/02/2021. Disponível em: https://youtu.be/Uc8Slv0hvJU. Acesso em: 15 set. 2021. sobre a Campanha, Álvaro Mendes, vice-presidente do CDB, encadeia uma dupla desqualificação da iniciativa. Primeiro, critica o fato da iniciativa ser realizada de forma ecumênica, denominando pejorativamente como “seitas” as igrejas não católicas e, em segundo lugar, rejeita a iniciativa por concretizar uma linha política oposta à do Centro. Dessa maneira, declarou:

É no ano de 2000, na virada do milênio, um ensaio para uma ruptura definitiva dessas forças revolucionárias com a Igreja católica deu mais um passo [sic]. Porque é na Campanha da Fraternidade do ano 2000 que ela marcou um passo a mais nesse processo de degradação, que é a instalação da primeira Campanha da Fraternidade Ecumênica [...] os líderes católicos envolvidos na confecção da Campanha resolvem trazer para dentro das discussões líderes protestantes [...]. Quem está por trás dessa campanha [2021]? [...] seitas protestantes. (Álvaro Dias Mendes)

Em outra passagem, o mesmo vice-presidente faz alusão a uma infiltração de esquerda dentro da Igreja católica:

Em certo sentido, a Campanha da Fraternidade 2021, ela pretende ser algo como o PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) ou Partido Democrata infiltrados dentro da Igreja católica. É a doutrina dessas organizações nefastas, integralmente replicadas num documento preparado para ser executado em todas as dioceses brasileiras. Isso deve trazer para todos nós um alarme muito grande. (Álvaro Dias Mendes)

Para o CDB, as chamadas “doutrinas nefastas” são fundamentalmente questões de gênero. Os líderes do CDB miram especificamente em um parágrafo do documento base:

De uma forma muito precisa [diz o apresentador] sobre um ponto muito preciso, que é o ponto número 68 do texto base, em que há uma tentativa de colocar para dentro da Santa Igreja Católica um vocabulário de ideologia de gênero, aquela sopinha de letrinhas que não para de crescer. Na minha época, basicamente, só tinham duas letras, ou a pessoa que tinha dificuldades em relação à reta orientação sexual, elas se chamavam lésbicas ou gays, você tinha um LG, depois veio, o “B” depois veio o “T”, o “Q”, o “I” e a coisa foi indefinitivamente para o mais. (Álvaro Dias Mendes)

O parágrafo citado constitui um alerta sobre as faces da violência que sofrem setores vulneráveis no país. Tais trechos destacam quem são as pessoas atingidas pelo sistema de violência. O final do parágrafo 68 afirma:

Outro grupo social que sofre as consequências da política estruturada na violência e na criação de inimigos, é a população LGBTQI+. O já citado Atlas da Violência de 2020 [...] mostra que o número de denúncias de violências sofridas pela população LGBTQI+ registradas no Disque 100 no ano de 2018 foi de 1.685 casos. Segundo dados do Grupo Gay da Bahia apresentados no Atlas da Violência 2020, no ano de 2018, 420 pessoas LGBTQI+ foram assassinadas, destas 164 eram pessoas trans. Percebe-se que em 2011 foram registrados 5 homicídios de pessoas LGBTQI+. Seis anos depois, em 2017, este número aumentou para 193 casos. O aumento no número de homicídio de pessoas LGBTQI+, entre 2016 e 2017, foi de 127%. Estes homicídios são efeitos do discurso de ódio, do fundamentalismo religioso, de vozes contra o reconhecimento dos direitos das populações LGBTQI+.7 7 Disponível em: https://bit.ly/3Oammgx. Acesso em: 21 jul. 2023.

A interpretação do texto seguirá com uma narrativa acusatória, onde identificam um inimigo advindo das fileiras progressistas da Igreja católica e o responsabilizam como idealizador do documento:

Nós podemos perceber da primeira linha à última [refere ao texto-base da Campanha] que existe uma vontade das pessoas que estão por trás da confecção do documento de trazer para dentro da Santa Igreja um conjunto de políticas identitárias da extrema esquerda revolucionária. Naquele documento vamos ver questões de racismo, feminismo, LGBT, dentre outras questões... (Álvaro Dias Mendes)

Além de desqualificar a dimensão ecumênica da iniciativa ao se referir como “seitas” às igrejas não católicas - vocábulo abolido na V Conferência Episcopal Latino-americana e do Caribe (2007) - e de demonizar a esquerda política, o setor progressista, a agenda pró-direitos e a comunidade LGBTQI+, o CDB incentivou a não contribuição dos fiéis com a Campanha, o que provocou a difusão de outdoors em algumas cidades, como foi o caso de Londrina, no estado do Paraná:

Atenção católicos. Campanha da Fraternidade 2021 com infiltração de abortistas e cumplicidade da CNBB. Tirem os comunistas do altar! Não doe dinheiro em 28 de março8 8 Folha de Londrina. Disponível em: https://bit.ly/4509j81. Acesso em: 10 ago. 2021.

Mais ainda, a retórica antifeminista do CDB e dos segmentos ultraconservadores desencadearam, nas redes sociais, inúmeras agressões misóginas a Romi Bencke, Secretária geral do Conic.9 9 Disponível em: https://bit.ly/471sHDv. Acesso em: 10 ago. 2021. Em entrevista para este artigo, Bencke nos alertou a respeito de como grupos dentro das igrejas protestantes concordaram com as críticas do CDB, bem como pessoas que não se identificaram foram até a sede da Conic em Brasília “procurando a pastora”, o que gerou receios por parte da equipe que trabalhava no local. O lançamento da Campanha, que seria presencial, foi transferido para o virtual, pois havia ameaças de que, se Romi estivesse presente, a “tirariam à força”.10 10 Entrevista concedida em 24 de agosto 2020. A gravação foi autorizada para fins de divulgação acadêmica. Tais elementos apontam como a pressão intimidatória não ficou restrita a setores da Igreja católica nem somente à ação nas redes sociais.

Chama a atenção a virulência da ação desse grupo, semelhante a outros episódios que envolveram a presença de católicos conservadores, especificamente integrantes da TFP (Tradição, Família e Propriedade), nos protestos sofridos por Judith Butler no SESC de São Paulo, quando ela veio ao Brasil para participar no evento os “Fins da Democracia”, no ano de 2017. À época, a performance dos ataques incluíram “elementos de exorcismo contra uma boneca em tamanho natural de Judith Butler, com a foto do rosto da filósofa, vestida com chapéu de bruxa e sutiã rosa [...] os bonecos foram queimados representando a morte de Butler” (Butler, 2017BUTLER, Judith. 2017. O fantasma do gênero. Folha de S.Paulo, 19 nov. 2017 Disponível em Disponível em https://bit.ly/3NWamz4 . Acesso em: 19 nov. 2017.
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; Silva, 2017SILVA, Isabela Oliveira da. 2017. Gênero, política e religião nos protestos contra Judith Butler. Nexo Jornal. Disponível em: Disponível em: https://shre.ink/99uj . Acesso em: 18 jul. 2023.
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). No mesmo raciocínio, em 2020, um grupo católico pró-vida realizou atos contra a interrupção da gravidez de uma menina de 10 anos estuprada, acusando de assassinato o médico que realizou o procedimento, além de terem exercido pressão psicológica, tanto para a família como para funcionários do hospital, na realização de atos religiosos nas imediações do hospital.11 11 Disponível em: https://bit.ly/4750GuH. Acesso em: 18 out. 2020.

O tom conspiratório e persecutório transparece em todos os vídeos analisados, como verificamos no Quadro 1. Trata-se de uma gama de enunciados que permitem traçar, mais adiante, certas conexões performáticas e discursivas com grupos bolsonaristas de extrema direita.

Quadro 1
Cronologia dos vídeos no Youtube do Centro Dom Bosco referentes à Campanha da Fraternidade Ecumênica

Observemos a maneira como a recorrência desses enunciados criam uma narrativa que traz elementos difamatórios, de acusação e desqualificação, encadeando uma retórica que constrói o “outro”. A análise dos vídeos mostra como se dá essa construção em que o outro não é apenas antagônico, por defender o oposto ao que o grupo acredita, mas o outro é um inimigo religioso que aos poucos passa a ser demonizado. Em sendo demonizado, tem que ser exorcizado e/ou eliminado em nome de Deus. Ao analisar o discurso conservador católico na internet, especificamente o sacerdote ultraconservador padre Paulo Ricardo e o jovem influencer Bernardo Küster, Queiroz (2021QUEIROZ, João Vitor. 2021. Os bastiões da verdade: um estudo de caso sobre o discurso conservador católico na internet. Dissertação de Mestrado em Sociologia. Recife: UFPE.) constata que a construção do outro antagônico para o inimigo se constrói a partir do jogo de espelhos: nós/eles. Segundo ele, nesse conservadorismo, o antagônico católico será: o protestantismo, a esquerda, o marxismo, o socialismo, o globalismo, o feminismo e as comunidades LGBTQI+.

O inimigo precisa ser destruído para que possa prevalecer o verdadeiro sentido de ser católico, a reta interpretação da doutrina. Tais agentes defensores do conservadorismo se estruturam em torno de um modelo ideal da verdadeira igreja, ancorado no tempo de “antes”, no tradicionalismo do Concílio de Trento do século XVI, em que o catolicismo hierárquico era a única expressão da igreja. A continuidade da catolicidade, de acordo com esse catolicismo ultraconservador, depende dos defensores da verdadeira doutrina e da sua capacidade de enfrentar e frear a esquerda política infiltrada na ala progressista da igreja (Queiroz, 2021QUEIROZ, João Vitor. 2021. Os bastiões da verdade: um estudo de caso sobre o discurso conservador católico na internet. Dissertação de Mestrado em Sociologia. Recife: UFPE.).

Nessa “cruzada”, a ofensiva deflagrada pelo CDB contra a CFE/2021 tem como argumento central a ameaça à pureza doutrinária da “Santa Madre Igreja” no que se refere à moralidade sexual, bem como a ameaça política que se concretiza em políticas públicas que tramitam nas instâncias legislativas e judiciárias do país. Por isso, frear a possibilidade de que a sociedade brasileira discuta essas temáticas tem ocupado, nos últimos anos, o ativismo político de setores cristãos no Congresso Nacional. Qualquer tentativa dos movimentos sociais em debater direitos reprodutivos, sexuais e sociais e das minorias, esbarra numa batalha campal entre os parlamentares (Carranza e Vital-Cunhas, 2018CARRANZA, Brenda; VITAL-CUNHA, Christina. 2018. Conservative religious activism in the Brazilian Congress: Sexual agendas in focus. Social Compass, v. 65, n. 4, pp. 486-502. Disponível em: Disponível em: https://shre.ink/9989 . Acesso em: 15 abr. 2020.
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).

Por isso, destaca-se entre as formas de atuar do CDB, uma “ação militante” como eles mesmos denominam, de não ficarem apenas descontentes, mas de se organizarem para conter os avanços “da esquerda”, de agir tanto nas redes sociais (disseminando amplamente o conteúdo produzido por eles) como offline, confrontando párocos locais, denunciando e difamando os “esquerdistas”, não doando recursos que poderiam a vir sustentar pautas e agendas das quais discordam.

Com uma militância na esfera judiciária e legislativa, o CDB impetrou um processo judiciário contra a ONG Católicas pelo Direito de Decidir, no qual se alega a utilização do vocábulo “católicas” de forma ilícita e abusiva, uma vez que sua defesa dos direitos sexuais e reprodutivos, dentre os quais está incluído o aborto, estaria em evidente descompasso com a doutrina da Igreja católica (Carranza e Pereira, 2020CARRANZA, Brenda; PEREIRA, Gisele. 2020. Santos e hereges na arena democrática. Laboratório de Antropologia da Religião, 19 nov. 2020. Disponível: Disponível: https://shre.ink/9980 . Acesso em: 15 abr. 2020.
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).12 12 A polêmica sobre essa contenda foi amplamente divulgada na mídia. Disponível em: https://bit.ly/3q4OFVw. Acesso em: 16 mar. 2021. Foi também objeto de uma série de reflexões antropológicas do Laboratório de Antropologia da Religião/Unicamp. Textos disponíveis em: https://bit.ly/3Dux2BK. Já a representante do antifeminismo religioso no Congresso é a deputada federal Christiane Tonietto (PL/RJ) eleita em 2018, fundadora do Centro Dom Bosco. No primeiro ano de mandato, 2019, Tonietto apresentou 102 propostas legislativas, incluindo Escola sem Partido e o Homeschooling.13 13 Disponível em: https://bit.ly/3rK62LR. Acesso em: 9 jan. 2020. Além disso, Tonietto representa, na qualidade de advogada, o CDB em uma ação movida pela retirada de um vídeo humorístico do canal Porta dos Fundos, no qual realiza-se uma sátira sobre o Natal cristão.14 14 Disponível em: http://glo.bo/476QdPm. Acesso em: 9 jan. 2020

Esse caráter de militância na defesa da verdadeira catolicidade do CDB, mirando fundamentalmente o ataque aos “direitos sexuais” e a cruzada antigênero, é um importante traço do ultraconservadorismo no contexto de crise democrática, como desenvolveremos a seguir. Este ultraconservadorismo conecta diferentes igrejas cristãs, principalmente a direita cristã evangélica com a direita cristã católica. Essa afinidade seria impensável décadas atrás, segundo Cowan (2021COWAN, Benjamin. 2021. Moral majorities across the Americas: Brazil, the United States, and the Creation of the Religious Right. Chapel Hill: The University of North Carolina Press.), pois havia a disseminação de narrativas evangélicas anticatólicas e segmentadas por interesses políticos de corte liberal, colocando a apologia doutrinária acima das possíveis alianças contra mudanças culturais em curso nas sociedades estadunidenses e brasileira.

II. Em diálogo com teorias: desdemocratização e direita religiosa radical.

O Centro Dom Bosco opera no mesmo diapasão dos movimentos bolsonaristas em relação à democracia, que por sua vez condiz com formas pelas quais a extrema direita age em todas as partes do mundo.

Nos interessa destacar que o intuito do CDB é desqualificar, deslegitimar a autoridade tanto da pluralidade do catolicismo quanto da própria CNBB. Nos termos de vários autores que estudam a desdemocratização ou a crise da democracia, as instituições são desacreditadas, minadas cotidianamente por dentro (Levitsky e Ziblatt, 2018LEVITSKY, Steven; ZIBLATT, Daniel. 2018. Como as democracias morrem. Rio de Janeiro: Zahar.). Ballestrin (2018BALLESTRIN, Luciana. 2018. O debate pós-democrático no século XXI. Revista Sul-Americana de Ciência Política, v. 4, n. 2, pp. 149-164. DOI: 10.15210/rsulacp.v4i2.14824
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) aponta que o fenômeno é o mesmo em várias partes do mundo. Nas palavras da autora, há “a emergência de discursos abertamente autoritários, anti-humanistas e antidemocráticos; sua eventual legitimação pelo voto popular, partidos políticos e/ou lideranças populistas; e, a utilização das instituições democráticas para a fragilização, minimização ou ruptura da própria democracia” (Ballestrin, 2018BALLESTRIN, Luciana. 2018. O debate pós-democrático no século XXI. Revista Sul-Americana de Ciência Política, v. 4, n. 2, pp. 149-164. DOI: 10.15210/rsulacp.v4i2.14824
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, p. 149).

Nessa mesma direção, Levistky e Ziblatt alertam para um enfraquecimento por dentro das instituições. Não como rupturas drásticas (golpe), mas as instituições são minadas interiormente, ora com a retirada de dispositivos jurídicos ora com práticas caluniosas travestidas de argumentos plausíveis. Essas práticas vão sendo toleradas pela sociedade, largamente aceitas e perigosamente naturalizadas.

Há muitas maneiras para descrever o processo de desdemocratização, alguns utilizam a expressão “crise da democracia”, outros “democracia iliberal”, “pós-democracia”, entre outros. Como aponta Ballestrin” (2018BALLESTRIN, Luciana. 2018. O debate pós-democrático no século XXI. Revista Sul-Americana de Ciência Política, v. 4, n. 2, pp. 149-164. DOI: 10.15210/rsulacp.v4i2.14824
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, p. 153), “o conceito vem agregando vários significados para além de seu diagnóstico principal, isto é, a esterilização da democracia pelas contradições que sua convivência com o neoliberalismo provoca. Há também especificidades locais, com suas idiossincrasias. Em um país profundamente religioso e hegemonicamente cristão, nos parece que compreender as movimentações das direitas religiosas é imprescindível. O caso aqui em pauta e seu contexto permitem compreender parte de como este fenômeno se desenvolve no país.

Na campanha do Centro Dom Bosco contra a CFE, eles afirmam claramente que o problema não seria a hierarquia da Igreja, nem a maioria dos bispos, mas sim os dirigentes da CNBB, que trariam para dentro da Igreja católica ideologias de esquerda, comunistas e ecofeministas. Eles buscam, de todas as formas, gerar desconfiança sobre os bispos que estariam associados a ideias distantes do catolicismo que eles consideram como sendo “o “verdadeiro”.

Esse modo de operar é próximo ao que outros autores chamam de movimentos de direita radical contemporânea (Caiani e Della Porta, 2018CAIANI, Manuela; DELLA PORTA, Donatella. 2018. The Radical Right as Social Movement Organizations. In: RYDGREN, Jens (org.) The Oxford Handbook of the Radical Right. Oxford: Oxford University Press.). Primeiro, há uma estrutura organizacional no meio radical da direita, com uma complexa interação entre vários atores ligados uns aos outros, tanto nas interações cooperativas como nas interações competitivas. Em segundo lugar, essas redes utilizam um amplo repertório de ação coletiva. Como vimos, elas mobilizam suas bases, fazem campanhas difamatórias, são “militantes”. Terceiro, há enquadramentos pelos quais os coletivos envolvidos na direita radical constroem e comunicam a sua realidade (interna e externa). No caso do Brasil, estes elementos estão presentes no que se convencionou chamar bolsonarismo, que vai muito além da figura de Bolsonaro. Há tanto ideias partilhadas, como, tomando vocabulário dos estudos de movimentos sociais, repertórios comuns de ação.

Tanto o Centro Dom Bosco quanto os demais setores do bolsonarismo enquadram a realidade de forma muito parecida (Solano, 2019SOLANO, Esther. 2019. A bolsonarização do Brasil. In: ABRANCHES, Sérgio (ed.). Democracia em risco? 22 ensaios sobre o Brasil hoje. São Paulo: Companhia das Letras.), e constituem uma “comunidade moral” (Alonso, 2019ALONSO, Angela. 2019. A comunidade moral bolsonarista. In: ABRANCHES, Sérgio (ed.). Democracia em risco? 22 ensaios sobre o Brasil hoje. São Paulo: Companhia das Letras.) que propaga a política do” “antagonismo” de combate ao inimigo, isto é, o entendimento do ethos político como o ethos guerreiro; o casamento entre políticas neoliberais e neoconservadoras (as políticas neoliberais justificadas ética e moralmente pelas políticas conservadoras); antipartidarismo; o discurso antissistêmico; antiesquerdismo; luta contra as pautas identitárias; militarização da esfera pública e patriotismo; cristianização da política (uma moralização da esfera pública na ideia de que os valores da família tradicional cristã devem ser os valores que também ordenam a vida nacional e pública) (Solano, 2019SOLANO, Esther. 2019. A bolsonarização do Brasil. In: ABRANCHES, Sérgio (ed.). Democracia em risco? 22 ensaios sobre o Brasil hoje. São Paulo: Companhia das Letras.). Os militantes do CDB e os bolsonaristas agem de forma parecida, têm os mesmos repertórios de ação: intimidação nas mídias sociais, difamação, ameaças físicas, campanhas de boicote.

Da mesma maneira, observamos que os valores conservadores são contrapostos ao que eles consideram o perigo de uma extrema esquerda revolucionária. Assim como outros casos da direita radical, este caso também aponta como duas racionalidades políticas distintas e contraditórias, o neoliberalismo e o neoconservadorismo, convergem em seus processos de desdemocratização (Brown, 2015BROWN, Wendy. 2015. Undoing the demos: neoliberalism’s stealth revolution. New York: Zone.). O que observamos, seguindo as pistas de Brown, é que a liberdade se tornou o cartão de visita e a energia manifestamente não emancipatória, na verdade, caracterizada por anunciar uma “democracia iliberal” com seus ataques à igualdade de direitos, às liberdades civis, ao constitucionalismo e às normas básicas de tolerância e inclusão.

O caso do Centro Dom Bosco nos permite refletir acerca da fusão entre a liberdade e o autoritarismo, a liberdade e a exclusão social legitimada, e a violência social. Como afirma Brown (2021BROWN, Wendy. 2021. O Frankenstein do neoliberalismo: liberdade autoritária nas “democracias” do século XXI. In: ALBINO, Chiara; OLIVEIRA, Jainara; MELO, Mariana. (org.); Neoliberalismo, neoconservadorismo e crise em tempos sombrios. Recife: Seriguela. Disponível em: https://shre.ink/9O0B
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, p. 109),

[...] expandir a ‘esfera pessoal e protegida’ e restringir o alcance da democracia em nome da liberdade desenvolve um novo ethos da nação, um ethos que substitui um imaginário nacional democrático, público, pluralista e secular por um ethos privado, homogêneo e familial. O primeiro apresenta compromissos com a modesta abertura, o império da lei (rule of law) e o pluralismo cultural e religioso. O segundo, especialmente em sua forma tradicional, é excludente, amuralhado, homogêneo, unificado e hierárquico. Pode até ser autoritário.

Nesse caso analisado, nos vídeos estão presentes os vários elementos de um ethos homogêneo e familial que se percebe como ameaçado. São denunciados, com ares de alarde e amedrontamentos, que os “esquerdistas” das igrejas estariam defendendo os direitos das minorias, o respeito à diversidade religiosa e às culturas indígenas, e se pronunciando contra o racismo, o feminicídio e violências doméstica e à comunidade LGBTQI+. Todos esses elementos são considerados como “não verdadeiramente católicos”, pior ainda, como anticatólicos, antirreligiosos, portanto, transformados em inimigos aqueles que os defendam. Por isso, é preciso “combater este inimigo”. Sendo assim, os militantes ultraconservadores se contrapõem a qualquer imaginário democrático, público e pluralista, e também se filiam à direita radical. De acordo com Conger (2019CONGER, Kimberly H. 2019. The christian right in U.S. Politics. Oxford Research Encyclopedia of Politics. DOI: 10.1093/acrefore/9780190228637.013.810
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), ao analisar o protagonismo evangélico no governo Trump, essa agenda antidemocrática tem-se fortalecido no conservadorismo cristão e assumido protagonismo nos últimos governos republicanos.

O conservadorismo religioso cristão, evidentemente, não é novo. Remonta sua genealogia ideológica aos anos 60 e 70 do século passado, quando, nos EUA, o feminismo, o ensino sexual e o humanismo secular transformaram valores da sociedade. Os grupos cristãos estadunidenses traduziriam essas mudanças como uma ameaça aos valores tradicionais e como uma guerra cultural em curso que deveria ser freada antes que dissolvesse os costumes morais. Profetizando tempos de perda, os conservadores religiosos frisaram, de acordo com determinados modelos, os laços familiares, a submissão à autoridade, seja imposta ou escolhida, padrões morais como formas absolutas de comportamento, prática e pertencimento à igreja/qualquer religião como padrão de harmonia social (Borda, 2020BORDA, Guilherme Flores. 2020. A construção de uma ‘nação cristã’ na América Latina. In: GUADALUPE, José Luiz Pérez; CARRANZA, Brenda (org.). Novo ativismo político no Brasil: os evangélicos do século XX. Rio de Janeiro: Konrad Adenauer Stiftung. pp. 131-153.; Carranza, 2020CARRANZA, Brenda. 2020. Erosão das democracias latino-americanas: a ascensão política dos cristãos. Ciencias Sociales Y Religión, v. 22, e020013. Disponível em: Disponível em: https://shre.ink/998n . Acesso em: 15 abr. 2020.
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; Villazon, 2015VILLAZON, Julio Córdova. 2015. Velhas e Novas direitas religiosas na América Latina. In: VELASCO E CRUZ, Sebastião et al. Direita, Volver! São Paulo: Fundação Perseu Abramo. pp. 163-175.).

Esse conservadorismo cristão de outrora mantém seus traços de articulação internacional e a preservação da moralidade conjugal baseada na família heterossexual, bastião da família tradicional, e legitimada por seu potencial reprodutivo (Vaggione e Machado, 2020VAGGIONE, Juan Marco; MACHADO, Maria das Dores Campos. 2020. Religious patterns of neoconservatism in Latin America. Politics & Gender, v. 16, n. 1. DOI: 10.1017/S1743923X20000082
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) como resposta à “persistente guerra cultural”. Assim, a “ideologia de gênero” e as campanhas antigênero, nacionais (Marchas pela Família) e transnacionais (Com mis Hijos no te Metas) se inscrevem na capacidade de gerar uma crítica anticultural. As campanhas transcendem a reatividade religiosa e desencadeiam sentimentos sociais antigênero, antipatia e aversão contra movimentos que defendem a agenda de direitos reprodutivos, diversidade das identidades sexuais e as discriminações étnico-raciais. Paralelamente a essa crítica, cristalizam-se os medos sociais gerados pela violência urbana, desemprego, precarização das condições de vida e o ressentimento por parte dos homens por uma possível perda de poder social diante do avanço do feminismo e do movimento LGBTQI+.

Nessa dinâmica, interpretada por setores conservadores como de “guerra cultural”, nutre-se o imaginário de se estar em um mundo cada vez mais inseguro, portanto, o valor do grupo demarcado por um “nós” contra “eles” (os outros, os inimigos) fortalece a necessidade de ter famílias mais seguras, líderes religiosos fortes, representantes políticos autoritários. Vale dizer que foi o idealismo punitivo, a pauta armamentista, a implementação de políticas econômicas neoliberais e familismo que contribuíram na eleição de Bolsonaro em 2018, consolidando o imaginário da necessidade de se defender uma pátria, alicerçada na família cristã, ameaçada por ativistas comunistas, feministas, pró-direitos reprodutivos, sexuais, raciais e indígenas (Carranza e Lacerda, 2021CARRANZA, Brenda; LACERDA, Marina. 2021. L’Ambiguo ecumenismo della destra cristiana brasiliana. Revista Missioneoggi. n. 2, ano 50. Disponível em: Disponível em: https://bit.ly/3pTwJgs . Acesso em: 15 abr. 2020.
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; Lacerda, 2020LACERDA, Marina Basso. 2020. Jair Bolsonaro: a agenda defendida em sua trajetória política In: GUADALUPE, José Luis Pérez; CARRANZA, Brenda. Novo ativismo político no Brasil: os evangélicos do século XX. Rio de Janeiro: Konrad Adenauer Stiftung. pp. 289-308.).

Considerações finais

Observamos os conteúdos e mecanismos empregados pelo CDB para deslegitimar a Campanha da Fraternidade Ecumênica e seus promotores, apontamos os ataques aos direitos, especialmente ao que chamam de “ideologia de gênero”, bem como a virulência com que pretendem a eliminação dos que divergem deles. Esta talvez seja a principal novidade presente na direita católica, representada, no caso, por um grupo ultraconservador que se nega a reconhecer o caráter ecumênico das iniciativas da Igreja católica brasileira, como o foi a Campanha da Fraternidade Ecumênica/2021.

A essa novidade podemos acrescentar mais três: seu caráter militante, isto é, as estratégias disruptivas de se comunicar, no uso intensivo de redes sociais, memes, vídeos, para conquistar corações e mentes e desestabilizar instituições de dentro da própria Igreja católica. Característica esta que, ao nosso ver, aproxima as estratégias utilizadas pelo CDB das performances bolsonaristas. A segunda novidade reside no seu empenho em consolidar a juridificação da moralidade pública, por meio de processos judiciais e da presença de seus membros na esfera legislativa (vide a atuação da deputada federal Christiane Tonietto). Por último, o CDB age sob a convicção de ser parte da maioria demográfica e religiosa do país, portanto, em nome de Deus advoga o direito de guiar e de salvar os mais vulneráveis perante influências ideológicas. De mais a mais, essa certeza autoriza ao Centro, como a outros grupos ultraconservadores religiosos, a fazer uso de qualquer meio para, de maneira autoritária e apologética, eliminar os inimigos do catolicismo e do cristianismo.

Nesse sentido, tanto para o CDB como para outros grupos conservadores cristãos, combater a “ideologia de gênero” não apenas acena para seus seguidores, religiosos ou não, mas determina também uma direção de desestruturação democrática. Tal combate parece revelar um fenômeno mais amplo: o desmonte da pauta igualitária de direitos sociais em contextos democráticos. De modo que, os setores conservadores (religiosos ou não) ao confrontar a “ideologia de gênero”, por meio de estratégias de militâncias em diversas frentes, legislativas e judiciárias, capilarizaram a obstrução de mecanismos que negam direitos à população. Eles se opõem, sistematicamente, a uma agenda pró direitos reprodutivos, de reconhecimento das identidades sexuais, étnico-raciais, liberdade religiosa, das questões de gênero e orientação sexual, buscando impor uma moral particular, a do cristianismo, como parâmetro de moralidade pública para toda a sociedade.

Ao fazer essa oposição, a direita cristã consolida uma narrativa bélica que procura apontar como inimigos da sociedade, da família e do cristianismo os eventuais “promotores” da “ideologia de gênero”. Essa militância religiosa soma-se performaticamente aos grupos bolsonaristas que, juntos, constituem uma “reserva moral” necessária ao projeto conservador neoliberal do governo bolsonarista. Esses atores religiosos aproximam-se de outros fenômenos de direita radical no Brasil e no mundo, e contribuem para refletirmos sobre o que é a desdemocratização ou desconstrução da democracia e qual a relevância do fator religioso nesses processos.

Esta pesquisa permitiu refletir sobre temas que não poderemos explorar aqui devidamente, mas requerem estudos futuros. Primeiro, qual é a rede da qual o Centro Dom Bosco faz parte, para além deste episódio, de que juristas, políticos, intelectuais, empresários, outros grupos religiosos, eles se aproximam; e quais afinidades eletivas partilham com setores de outras religiões no Brasil e no mundo. Nos chamou muito atenção quando, na entrevista, Romi Bencke relatou que grupos de direita luterana se sentiram contemplados pelas críticas do CDB, a despeito do Centro ter chamado qualquer outra igreja de “seitas”. Já sabemos que qualquer tentativa dos movimentos sociais em debater direitos reprodutivos, sexuais, sociais e das minorias, esbarra-se numa batalha campal entre os parlamentares religiosos que angariam apoio entre as bancadas ruralistas e pró-armamentistas. Seria importante seguir avançando em pesquisas sobre estas afinidades, aproximações, alianças ideológicas entre a extrema direita brasileira e os setores ultraconservadores religiosos.

Segundo, interessa compreender melhor o papel da violência como estratégia, aprofundar como associam discursos religiosos com a “eliminação” do outro, tanto física quanto simbolicamente, que valores, imagens, emoções mobilizam para que a virulência nas redes sociais e em pequenos protestos seja celebrada como um valor. Mais ainda, interessa aprofundar se a maneira como a defesa da moralidade pública, em nome da maioria cristã (demográfica) como argumento de legitimidade, fornece subterraneamente subsídios ideológicos e opera simbólica e subjetivamente, desencadeando uma sinergia que mobiliza para iminentes confrontos sociais.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Out 2023
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2023

Histórico

  • Recebido
    22 Fev 2022
  • Aceito
    28 Jun 2023
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