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A evolução da fitoterapia na cicatrização em cirurgia

EDITORIAL

A evolução da fitoterapia na cicatrização em cirurgia

Orlando José dos Santos; Orlando J M Torres

O Brasil possui a maior reserva florestal diversificada do planeta. Muitas destas espécies utilizadas para fins medicinais são consumidas com pouca ou nenhuma comprovação de suas propriedades farmacológicas. O uso de plantas medicinais não se restringe apenas às zonas rurais ou regiões desprovidas de assistência médica e farmacêutica. São também utilizadas intensamente no meio urbano, como forma alternativa ou complementar aos medicamentos alopáticos. O potencial medicinal de uma espécie deve-se à presença de princípios ativos capazes de produzir efeitos farmacológicos diversos, tais como analgésicos, antissépticos, diuréticos, expectorantes, calmantes, digestivos, cicatrizantes, emolientes, antidiarreicos, entre outros. Dentre as substâncias bioativas que podem ser encontradas nas diversas partes de uma planta, podem ser citadas: alcaloides, saponinas, taninos, glicosídeos, flavonoides e óleos essenciais.

No entanto, a maior parte dos dados, quanto ao uso dessas plantas, ainda é empírico e baseado no dito popular. O interesse em descobrir novas substâncias faz com que cientistas de várias áreas busquem na flora brasileira espécies vegetais, com propriedades medicinais utilizadas pela população. É o que se pode observar nos vários estudos que avaliam o potencial cicatrizante de plantas capazes de estimular a reparação cirúrgica.

No Estado do Maranhão, Brasil, em 2004, um projeto inicial foi realizado onde procurou-se analisar quatro plantas com potencial terapêutico1,2,3,4. Foram elas Passiflora edulis (Maracujá), Jatropha gossypiifolia (Pião roxo), Orbignya phalerata (Babaçu) e Shinus terebinthifolius Raddi (Aroeira). Passados oito anos, poucos avanços foram observados na literatura. Entretanto, o Schinus terebinthifolius Raddi (Aroeira) foi novamente estudado por Santos5, procurando identificar a fração ativa desta planta. Os resultados foram muito promissores e vislumbram novas possibilidades do seu uso terapêutico.

Desse modo, muitos estudos têm sido feitos sobre a aroeira, desde a análise da morfologia e anatomia da semente, das cascas e folhas, exame químico e microscópico da planta, desenvolvimento das cascas e dos frutos, até ensaios clínicos toxicológicos (fase I) de um fitoterápico composto por aroeira, hortelã e eucalipto, demonstrando a importância desta planta. Novas drogas podem surgir a partir deste produto, alguns no mercado utilizando a fração.

A aroeira é conhecida como uma planta tóxica; muitas de suas propriedades ou de seus efeitos curativos podem ser atribuídos aos diferentes polifenois que estão distribuídos de modo desigual em seus diversos órgãos. Os polifenois são substâncias de grande importância para a fisiologia da planta, contribuindo para o mecanismo de defesa. Através de triagem fitoquímica, as cascas revelaram que são ricas em taninos, esteroides e fenois; desta forma, procede o uso medicinal popular desta planta pelas suas ações anti-inflamatórias, adstringentes e hemostáticas. Servem esses princípios ativos como marcadores químicos para fins de quantificação e padronização desta parte do vegetal, dos seus extratos e dos produtos fitoterápicos dela obtidos.

Além disso, vários autores estudaram as composições de partes da planta, isolando compostos como: óleos essenciais, flavonoides, frações enriquecidas de flavonoides, shinol, ácido masticadienóico, biflavonóides isolados e triterpenes.

Este número do ABCD traz em suas páginas 140-146 a mais recente pesquisa experimental sobre esta planta no estudo da cicatrização do estômago.

A semente foi lançada, os resultados demonstram evidência científica, a necessidade de se avançar está bem estabelecida de modo que a comunidade científica deve despertar o interesse e aprofundar estudos sobre a aplicabilidade clínica de nossa flora. Espera-se que o produto final seja direcionado para o seu bem maior, ou seja, levar saúde e bem-estar para a população brasileira.

  • 1. Branco Neto MLC, Ribas Filho JM, Malafaia O, Oliveira Filho MA, Czeczko NG, Aoki S, Cunha R, Fonseca VR, Teixeira HM, Aguiar LRF: Avaliação do extrato hidroalcoólico de Aroeira (Schinus terebinthifolius Raddi) no processo de cicatrização de feridas em pele de ratos. Acta Cirúrgica Brasileira 2006, 21:17-22.
  • 2. Coutinho IHILS, Torres OJM, Matias JEF, Coelho JCU, Stahlke Jr. HJ, Agulham MA, Bachle E, Camargo PAM, Pimentel SK, Freitas ACT: Efeito do extrato hidroalcoólico de Aroeira (Schinus terebinthifolius Raddi) na cicatrização de anastomoses colônicas. Estudo experimental em ratos. Acta Cirúrgica Brasileira 2006, 21:49-54.
  • 3. Lucena PLH, Ribas Filho JM, Mazza M, Czeczko NG, Dietz UA, Correa Neto MA, Henriques GS, Santos OJ, Ceschin ÁP, Thiele ES: Avaliação da ação da Aroeira (Schinus terebinthifolius Raddi) na cicatrização de feridas cirúrgicas em bexiga de ratos. Acta Cirúrgica Brasileira 2006, 21:46-51.
  • 4. Nunes Jr. JAT, Ribas Filho JM, Malafaia O, Czeczko NG, Inácio CM, Negrão AW, Lucena PLH, Moreira H, Wagenfuhr Jr J, Cruz JJ: Avaliação do efeito do extrato hidroalcoólico de Schinus terebinthifolius Raddi (Aroeira) no processo de cicatrização da linea alba de ratos. Acta Cirúrgica Brasileira 2006, 21:8-14.
  • 5. Santos OJ, Ribas Filho JM, Czeczko NG, Branco Neto MLC: Avaliação do extrato de Aroeira (Schinus terebinthifolius Raddi) no processo de cicatrização de gastorrafias em ratos. Acta Cirúrgica Brasileira 2006, 21:39-45.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Fev 2013
  • Data do Fascículo
    Set 2012
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