Acessibilidade / Reportar erro

GASTRECTOMIA EM OCTOGENÁRIOS COM CÂNCER GÁSTRICO: ELA É FACTÍVEL?

RESUMO

Racional:

A população octogenária está expandindo mundialmente e é esperado que a demanda por gastrectomia devido a câncer gástrico nessa faixa também aumente. Entretanto, os resultados da operação curativa nessa população são pobremente reportados e não está claro o que mais importa no resultado: idade, status clínico, estágio da doença, ou a extensão da operação.

Objetivos:

Avaliar os resultados cirúrgicos da gastrectomia em octogenários e verificar os fatores relacionados com a sobrevida.

Métodos:

Através de revisão de banco de dados prospectivo, pacientes com 80 anos ou mais de idade e adenocarcinoma gástrico comprovado histologicamente e submetidos a gastrectomia com intuito curativo foram analisados. Fatores relacionados a complicações pós-operatórias e sobrevida foram estudadas.

Resultados:

Cinquenta e um pacientes preencheram os critérios de inclusão. A gastrectomia subtotal foi realizada em 70,5% dos casos e a linfadenectomia D1 em 72,5% dos pacientes. Complicações ocorreram em 25 pacientes (49%), sendo que em 11 elas foram graves (sete foram complicações clínicas). Pacientes com complicações tiveram maior duração da internação hospitalar (8,5 vs. 17,8 dias, p=0,002) e sobrevida global mais curta (mediana de 1,4 vs. 20,5 meses, p=0,009). Linfadenectomia D2 e a presença de complicações foram fatores independentes de pior sobrevida global.

Conclusão:

Os octogenários submetidos à gastrectomia com intenção curativa apresentam alto risco de complicações clínicas no pós-operatório. A linfadenectomia D1 deve ser o padrão de atendimento nesses pacientes.

DESCRITORES:
Neoplasias gástricas; Gastrectomia; Idoso; Idoso de 80 anos ou mais; Sobrevida

ABSTRACT

Background:

The octogenarian population is expanding worldwide and demand for gastrectomy due to gastric cancer in this population is expected to grow. However, the outcomes of surgery with curative intent in this age group are poorly reported and it is unclear what matters most to survival: age, clinical status, disease´s stage, or the extent of the surgery performed.

Aim:

Evaluate the results of gastrectomy in octogenarians with gastric cancer and to verify the factors related to survival.

Methods:

From prospective database, patients aged 80 years or older with histologically confirmed adenocarcinoma who had undergone gastrectomy with curative intent were selected. Factors related to postoperative complications and survival were studied.

Results:

Fifty-one patients fulfilled the inclusion criteria. A total of 70.5% received subtotal gastrectomy and in 72.5% D1 lymphadenectomy was performed. Twenty-five (49%) had complications, in eleven major complications occurred (seven of these were clinical complications). Hospital length of stay was longer (8.5 vs. 17.8 days, p=0.002), and overall survival shorter (median of 1.4 vs. 20.5 months, p=0.009) for those with complications. D2 lymphadenectomy and the presence of postoperative complications were independent factors for worse overall survival.

Conclusion:

Octogenarians undergoing gastrectomy with curative intent have high risk for postoperative clinical complications. D1 lymphadenectomy should be the standard of care in these patients.

HEADINGS:
Stomach neoplasms; Gastrectomy; Aged, 80 and over; Aged; Survival

INTRODUÇÃO

O câncer gástrico é uma das principais causas de mortalidade por neoplasias em todo o mundo1010 Luo G, Zhang Y, Guo P, Wang L, Huang Y, Li K. Global patterns and trends in stomach cancer incidence: Age, period and birth cohort analysis. Int J Cancer. 2017;141(7):1333-1344. https://doi.org/10.1002/ijc.30835
https://doi.org/10.1002/ijc.30835...
,2121 Xu Y, Wang Y, Xi C, Ye N, Xu X. Is it safe to perform gastrectomy in gastric cancer patients aged 80 or older?: A meta-analysis and systematic review. Medicine (Baltimore). 2019; 98 (24):e16092. https://doi.org/10.1097/MD.0000000000016092
https://doi.org/10.1097/MD.0000000000016...
. Como a maioria dos casos é diagnosticada na 7ª década44 Cancer.net. Stomach Cancer: Statistics. Available at: www.cancer.net/cancer-types/stomach-cancer/statistics. Accessed: january 23rd 2020.
www.cancer.net/cancer-types/stomach-canc...
e a expectativa de vida está aumentando, a demanda por gastrectomia em pacientes muito idosos aumentará1919 de Souza Giusti AC, de Oliveira Salvador PT, Dos Santos J, Meira KC, Camacho AR, Guimarães RM, et al. Trends and predictions for gastric cancer mortality in Brazil. World J Gastroenterol. 2016;22(28):6527-6538. https://doi.org/10.3748/wjg.v22.i28.6527
https://doi.org/10.3748/wjg.v22.i28.6527...
,2121 Xu Y, Wang Y, Xi C, Ye N, Xu X. Is it safe to perform gastrectomy in gastric cancer patients aged 80 or older?: A meta-analysis and systematic review. Medicine (Baltimore). 2019; 98 (24):e16092. https://doi.org/10.1097/MD.0000000000016092
https://doi.org/10.1097/MD.0000000000016...
. Os octogenários são um grupo particular de interesse. Correspondem a uma população em expansão, frequentemente frágil ou com comorbidades. Além disso, espera-se que a taxa de complicações seja maior e a sobrevida menor quando comparadas com pacientes mais jovens88 Kim JH, Chin HM, Jun KH. Surgical outcomes and survival after gastrectomy in octogenarians with gastric cancer. J Surg Res. 2015;198(1):80-86. https://doi.org/10.1016/j.jss.2015.05
https://doi.org/10.1016/j.jss.2015.05...
,1313 Norero E, Quezada JL, Cerda J, Ceroni M, Martinez C, Mejía R, et al. Risk factors for severe postoperative complications after gastrectomy for gastric and esophagogastric junction cancers. ABCD, arq. bras. cir. dig., 2019, vol.32, no.4. ISSN 0102-6720,2020 Takama T, Okano K, Kondo A, Akamoto S, Fujiwara M, Usuki H, et al. Predictors of postoperative complications in elderly and oldest old patients with gastric cancer. Gastric Cancer. 2015;18(3):653-661. https://doi.org/10.1007/s10120-014-0387-6
https://doi.org/10.1007/s10120-014-0387-...
. Neste momento, não está claro o que mais importa para a sobrevida: idade, estado clínico pré-operatório, estágio da doença ou a extensão da operação realizada. A linfadenectomia D2 é adequada para octogenários? Todos esses tópicos permanecem pouco investigados.

Este estudo teve como objetivo avaliar os resultados da gastrectomia em octogenários com câncer gástrico e verificar os fatores relacionados à sobrevida.

MÉTODOS

Este estudo foi aprovado pelo comitê de ética do hospital e está registrado online (www.plataformabrasil.com; CAAE: 30308620.1.0000.0068).

População de pacientes e desenho do estudo

Todos os pacientes submetidos a qualquer procedimento cirúrgico para câncer gástrico entre 2009 e 2019 foram avaliados retrospectivamente. Os dados foram obtidos de um banco de dados médico prospectivo. Os pacientes elegíveis foram aqueles com 80 anos ou mais, com adenocarcinoma confirmado histologicamente e que foram submetidos à gastrectomia com intenção curativa. Os critérios de exclusão incluíram operação paliativa e procedimentos realizados em caráter de urgência/emergência.

As comorbidades foram avaliadas pelo índice de Charlson e as complicações cirúrgicas foram classificadas de acordo com Clavien-Dindo (>2 foi considerado como complicação maior)66 Dindo D, Demartines N, Clavien PA. Classification of surgical complications: a new proposal with evaluation in a cohort of 6336 patients and results of a survey. Ann Surg. 2004;240(2):205-213. https://doi.org/10.1097/01.sla.0000133083.54934.ae
https://doi.org/10.1097/01.sla.000013308...
. Óbitos até 30 dias após a gastrectomia ou no período de internação foram considerados como mortalidade cirúrgica.

O procedimento cirúrgico foi realizado conforme recomendado pela Associação Japonesa de Câncer Gástrico77 Japanese Gastric Cancer Association. Japanese gastric cancer treatment guidelines 2014 (ver. 4). Gastric Cancer. 2017;20(1):1-19. https://doi.org/10.1007/s10120-016-0622-4
https://doi.org/10.1007/s10120-016-0622-...
. O tumor foi classificado de acordo com a 8ª edição do TNM11 Ajani JA, In H, Sano T, Gaspar LE, Erasmus JJ, Tang LH, et al. American Joint Committee on Cancer (AJCC). Cancer Staging Manual. 8th edition. Stomach. Springer 2017;17:203 - 220..

Os pacientes foram divididos em dois grupos: com e sem complicações pós-operatórias (CPO). As complicações foram divididas em clínicas ou cirúrgicas (estas diretamente ocasionadas pelo ato cirúrgico).

Análises estatísticas

Os dados nominais são apresentados em frequências com porcentagens e os dados numéricos em médias com desvio-padrão. As variáveis contínuas e categóricas foram analisadas pelo teste t e teste do qui-quadrado, respectivamente. A curva ROC (Receiver Operating Characteristic) foi usada para determinar o melhor valor de corte para o tamanho do tumor que se correlacionou com óbito. A área sob a curva ROC (AUC) foi empregada como uma medida de acurácia. A sobrevida foi calculada a partir da data da operação até o evento (morte/recidiva) ou data do último acompanhamento, e estimada pelo método de Kaplan-Meier; o teste log-rank foi utilizado para avaliar a diferença entre as curvas. A sobrevida global (SG) foi calculada até a morte e a sobrevida livre de doença (SLD) até a data da recorrência da doença. A análise multivariada de risco proporcional de Cox foi realizada para analisar os fatores prognósticos relacionados à sobrevida. Razão de risco e intervalo de confiança de 95% foram calculados como medida de associação. Todos os valores de p foram reportados como bicaudais e p igual ou inferior a 0,05 foi considerado estatisticamente significativo. As análises foram realizadas no programa SPSS (Version 20; SPSS, Chicago, IL, USA).

RESULTADOS

No período considerado, dos 1.156 pacientes operados, 91 eram octogenários (7,8%) e 51 preencheram os critérios de inclusão. A maioria era de homens (72,5%) e a idade média foi de 84 anos (80-94). Gastrectomia subtotal foi realizada em 70,5% dos casos e 72,5% tiveram linfadenectomia D1. O número médio de linfonodos recuperados foi de 35. O tamanho médio do tumor foi de 4,9 cm (±2,5). A curva ROC determinou o ponto de corte de 4,9 cm para o tamanho da lesão associado à óbito (AUC=70,7%, IC 95% 0,56-0,86, p=0,012).

CPO ocorreram em 24 (47%) pacientes, 11 (21,5% do total) deles tiveram complicações maiores, sendo sete dessas complicações clínicas (incluindo quatro óbitos).

As características clínicas e patológicas dos pacientes com e sem CPO são apresentadas na Tabela 1. Idade, gênero, índice de Charlson, ASA e estádio TNM foram semelhantes entre os grupos; invasão linfática e venosa foram mais frequentes no grupo com CPO. O tempo de internação hospitalar foi maior no grupo CPO (8,5 vs. 17,8 dias, p=0,002).

TABELA 1
Características clinicopatológicas dos octogenários com câncer gástrico de acordo com a presença ou ausência de complicações pós-operatórias (CPO)

Sobrevida

Em seguimento médio de 18 meses, 27 (53%) pacientes morreram e 11 (21,5%) tiveram recorrência da doença. A mortalidade em 30 e 90 dias foram 9,8% (n=5) e 15,7% (n=8), respectivamente. A sobrevida global (SG) mediana para todos os pacientes foi de 24,1 meses. As curvas de sobrevida são apresentadas na Figura 1.

FIGURA 1
Sobrevida global e sobrevida livre de doença para octogenários com câncer gástrico

Em relação ao tipo de linfadenectomia, os pacientes submetidos à D1 apresentaram melhores taxas de SG comparados à D2 (p=0,037). A SG mediana para D2 foi de 13,9 meses (mediana não alcançada para D1, Figura 2A).

Considerando o tamanho do tumor, os pacientes com lesões maiores (≥ 4,9 cm) apresentaram pior SG (mediana de 17,2 meses - mediana não alcançada para as lesões menores, p=0,015, Figura 2B).

A sobrevida foi diferente conforme a ocorrência de complicações cirúrgicas (p=0,009). A SG mediana para pacientes com CPO maior e menor foi de 1,4 e 20,5 meses, respectivamente (Figura 2C). Considerando o grupo não-CPO como referência, os pacientes com CPO menor apresentaram menor sobrevida (p=0,120), seguidos pelo grupo com CPO maior (p=0,003).

Quando estratificado por pTNM, a SG foi significativamente diferente entre os estágios I, II e III (p=0,006). A SG mediana para os estágios II e III foi 24,1 e 10,5 meses, respectivamente (Figura 2D).

Na análise multivariada, a linfadenectomia D2 e a presença de CPO foram fatores independentes para pior SG (Tabela 2).

FIGURA 2
Sobrevida global para octogenários com câncer gástrico de acordo com: A) tipo de linfadenectomia realizada (D1 vs. V2); B) tamanho do tumor (< vs. ≥ 4.9 cm); C) complicações pós-operatórias (ausente vs. menor vs. maior); D) estágio TNM (I vs. II vs. III).

TABELA 2
Análise univariada e multivariada para sobrevida global

DISCUSSÃO

Os resultados da gastrectomia em octogenários compôem questão discutível. Os dados provêm de séries retrospectivas, pequenas e unicêntricas2121 Xu Y, Wang Y, Xi C, Ye N, Xu X. Is it safe to perform gastrectomy in gastric cancer patients aged 80 or older?: A meta-analysis and systematic review. Medicine (Baltimore). 2019; 98 (24):e16092. https://doi.org/10.1097/MD.0000000000016092
https://doi.org/10.1097/MD.0000000000016...
. Nesta coorte, octogenários com câncer gástrico submetidos à operação com intenção curativa foram mais comumente submetidos à gastrectomia subtotal e recebiam linfadenectomia D1. As complicações foram frequentes (47%) e aumentadas se comparadas a séries com pacientes mais jovens1616 Ramos MFKP, Pereira MA, Sagae VMT, Mester M, Morrell ALG, Dias AR, et al. Gastric cancer in young adults: a worse prognosis group?. Rev Col Bras Cir. 2019;46(4):e20192256. https://doi.org/10.1590/0100-6991e-20192256
https://doi.org/10.1590/0100-6991e-20192...
,1717 Ramos MFKP, Pereira MA, Yagi OK, Dias AR, Charruf AZ, Oliveira RJ, et al. Surgical treatment of gastric cancer: a 10-year experience in a high-volume university hospital. Clinics (Sao Paulo).2018;73(suppl 1): e543s. https://doi.org/10.6061/clinics/2018/e543s
https://doi.org/10.6061/clinics/2018/e54...
. Complicações maiores ocorreram em 21,5% dos pacientes e geralmente foram de cunho clínico, fato também observado por outros autores22 Andreollo NA, Drizlionoks E, Tercioti-Junior V, Coelho-Neto JS, Ferrer JAP, Carvalheira JBC, et al. Adjuvant chemoradiotherapy after subtotal or total gastrectomy and D2 limphadenectomy increases survival in advanced gastric cancer? ABCD, arq. bras. cir. dig., 2019, vol.32, no.4. ISSN 0102-6720,1111 Mikami J, Kurokawa Y, Miyazaki Y, Takahashi T, Yamasaki M, Miyata H, et al. Postoperative gastrectomy outcomes in octogenarians with gastric cancer. Surg Today. 2015;45(9):1134-1138. https://doi.org/10.1007/s00595-014-1087-x
https://doi.org/10.1007/s00595-014-1087-...
,1212 Mita K, Ito H., Hashimoto M, Murabayashi R, Asakawa H, Nabetani M, et al. Postoperative complications and survival after gastric cancer surgery in patients over 80 years of age. J Gastrointest Surg. 2013;17(12):2067-2073. https://doi.org/10.1007/s11605-013-2364-5
https://doi.org/10.1007/s11605-013-2364-...
,1414 Ramos MFKP, Pereira MA, Charruf AZ, Dias AR, Castria TB, Barchi LC, et al. Conversion therapy for gastric cancer: expanding the treatment possibilities. ABCD, arq. bras. cir. dig., 2019, vol.32, no.2. ISSN 0102-6720. Pacientes com CPO tiveram maior tempo de internação e menor SG. Complicações maiores foram fator preditivo de menor sobrevida.

Pacientes com lesões ≥4,9 cm também apresentaram pior SG. O tamanho do tumor já foi implicado como preditor de sobrevida por outros autores99 Liu X, Xu Y, Long Z, Zhu H, Wang Y. Prognostic significance of tumor size in T3 gastric cancer. Ann Surg Oncol. 2009;16(7):1875-1882. https://doi.org/10.1245/s10434-009-0449-x
https://doi.org/10.1245/s10434-009-0449-...
,1818 Saito H, Osaki T, Murakami D, Sakamoto T, Kanaji S, Oro S, et al. Macroscopic tumor size as a simple prognostic indicator in patients with gastric cancer. Am J Surg. 2006;192(3):296-300. https://doi.org/10.1016/j.amjsurg.2006.03.004
https://doi.org/10.1016/j.amjsurg.2006.0...
,2222 Yokota T, Ishiyama S, Saito T, Teshima S, Yamada Y, Iwamoto K, et al. Is tumor size a prognostic indicator for gastric carcinoma?. Anticancer Res. 2002;22(6B):3673-3677.. A linfadenectomia D2 foi um fator de risco independente para menor sobrevida, com taxa de risco de 3,53. Embora a D2 seja indicada no câncer gástrico avançado2323 Zilberstein B, Malheiros C, Gomes LL, et al. Brazilian consensus in gastric cancer: guidelines for gastric cancer in Brazil. ABCD, arq. bras. cir. dig. [online]. 2013, vol.26, n.1, ela traz maior risco de complicações e os octogenários já são frágeis, com comorbidades e têm expectativa de vida curta, demonstrando que um procedimento mais rápido e menos oncológico (D1) é melhor 8,21. De fato, a D1 em pacientes frágeis já é muito mórbida1212 Mita K, Ito H., Hashimoto M, Murabayashi R, Asakawa H, Nabetani M, et al. Postoperative complications and survival after gastric cancer surgery in patients over 80 years of age. J Gastrointest Surg. 2013;17(12):2067-2073. https://doi.org/10.1007/s11605-013-2364-5
https://doi.org/10.1007/s11605-013-2364-...
. Além disso, nesta coorte a presença de metástase linfonodal não foi fator associado à sobrevida, o que reforça que a linfadenectomia restrita é apropriada nesses pacientes. Em nossa opinião, a omentectomia também pode ser negligenciada nesses pacientes33 Barchi LC, Ramos MFKP, Dias AR, et al. Total omentectomy in gastric cancer surgery: is it always necessary?. Arq Bras Cir Dig. 2019;32(1):e1425..

Parâmetros clínicos que poderiam comprometer a sobrevida (ASA, índice de Charlson) não foram significativos na análise univariada, provavelmente por se tratar de coorte de pacientes selecionados. Octogenários com condições desfavoráveis ​​não foram indicados para operação com intenção curativa. Além disso, a gastrectomia total não foi associada a pior desfecho (quando comparada à subtotal), isso pode ser devido ao pequeno número de casos incluídos, e há novamente um viés de seleção, já que a operação distal e menos mórbida foi preferida para os octogenários.

Vale ressaltar que o número de linfonodos recuperados foi alto mesmo na D1. Isso pode ter sido ao uso da solução de Carnoy como fixador e não à contaminação de estações D2 em pacientes submetidos a D155 Dias AR, Pereira MA, Mello ES, Zilberstein B, Cecconello I, Ribeiro Junior U. Carnoy's solution increases the number of examined lymph nodes following gastrectomy for adenocarcinoma: a randomized trial. Gastric Cancer. 2016;19(1):136-142. https://doi.org/10.1007/s10120-014-0443-2
https://doi.org/10.1007/s10120-014-0443-...
.

O presente estudo tem limitações por sua natureza retrospectiva. Por outro lado, apresenta população considerada adequada para operação curativa, evitando viés na análise de sobrevida.

CONCLUSÃO

Os octogenários submetidos à gastrectomia com intenção curativa têm alto risco de complicações clínicas no pós-operatório. A linfadenectomia D2 e ​​a ocorrência de complicações maiores foram fatores de risco independentes associados à pior sobrevida. A linfadenectomia D1 deve ser o padrão nesses pacientes.

REFERENCES

  • 1
    Ajani JA, In H, Sano T, Gaspar LE, Erasmus JJ, Tang LH, et al. American Joint Committee on Cancer (AJCC). Cancer Staging Manual. 8th edition. Stomach. Springer 2017;17:203 - 220.
  • 2
    Andreollo NA, Drizlionoks E, Tercioti-Junior V, Coelho-Neto JS, Ferrer JAP, Carvalheira JBC, et al. Adjuvant chemoradiotherapy after subtotal or total gastrectomy and D2 limphadenectomy increases survival in advanced gastric cancer? ABCD, arq. bras. cir. dig., 2019, vol.32, no.4. ISSN 0102-6720
  • 3
    Barchi LC, Ramos MFKP, Dias AR, et al. Total omentectomy in gastric cancer surgery: is it always necessary?. Arq Bras Cir Dig. 2019;32(1):e1425.
  • 4
    Cancer.net. Stomach Cancer: Statistics. Available at: www.cancer.net/cancer-types/stomach-cancer/statistics Accessed: january 23rd 2020.
    » www.cancer.net/cancer-types/stomach-cancer/statistics
  • 5
    Dias AR, Pereira MA, Mello ES, Zilberstein B, Cecconello I, Ribeiro Junior U. Carnoy's solution increases the number of examined lymph nodes following gastrectomy for adenocarcinoma: a randomized trial. Gastric Cancer. 2016;19(1):136-142. https://doi.org/10.1007/s10120-014-0443-2
    » https://doi.org/10.1007/s10120-014-0443-2
  • 6
    Dindo D, Demartines N, Clavien PA. Classification of surgical complications: a new proposal with evaluation in a cohort of 6336 patients and results of a survey. Ann Surg. 2004;240(2):205-213. https://doi.org/10.1097/01.sla.0000133083.54934.ae
    » https://doi.org/10.1097/01.sla.0000133083.54934.ae
  • 7
    Japanese Gastric Cancer Association. Japanese gastric cancer treatment guidelines 2014 (ver. 4). Gastric Cancer. 2017;20(1):1-19. https://doi.org/10.1007/s10120-016-0622-4
    » https://doi.org/10.1007/s10120-016-0622-4
  • 8
    Kim JH, Chin HM, Jun KH. Surgical outcomes and survival after gastrectomy in octogenarians with gastric cancer. J Surg Res. 2015;198(1):80-86. https://doi.org/10.1016/j.jss.2015.05
    » https://doi.org/10.1016/j.jss.2015.05
  • 9
    Liu X, Xu Y, Long Z, Zhu H, Wang Y. Prognostic significance of tumor size in T3 gastric cancer. Ann Surg Oncol. 2009;16(7):1875-1882. https://doi.org/10.1245/s10434-009-0449-x
    » https://doi.org/10.1245/s10434-009-0449-x
  • 10
    Luo G, Zhang Y, Guo P, Wang L, Huang Y, Li K. Global patterns and trends in stomach cancer incidence: Age, period and birth cohort analysis. Int J Cancer. 2017;141(7):1333-1344. https://doi.org/10.1002/ijc.30835
    » https://doi.org/10.1002/ijc.30835
  • 11
    Mikami J, Kurokawa Y, Miyazaki Y, Takahashi T, Yamasaki M, Miyata H, et al. Postoperative gastrectomy outcomes in octogenarians with gastric cancer. Surg Today. 2015;45(9):1134-1138. https://doi.org/10.1007/s00595-014-1087-x
    » https://doi.org/10.1007/s00595-014-1087-x
  • 12
    Mita K, Ito H., Hashimoto M, Murabayashi R, Asakawa H, Nabetani M, et al. Postoperative complications and survival after gastric cancer surgery in patients over 80 years of age. J Gastrointest Surg. 2013;17(12):2067-2073. https://doi.org/10.1007/s11605-013-2364-5
    » https://doi.org/10.1007/s11605-013-2364-5
  • 13
    Norero E, Quezada JL, Cerda J, Ceroni M, Martinez C, Mejía R, et al. Risk factors for severe postoperative complications after gastrectomy for gastric and esophagogastric junction cancers. ABCD, arq. bras. cir. dig., 2019, vol.32, no.4. ISSN 0102-6720
  • 14
    Ramos MFKP, Pereira MA, Charruf AZ, Dias AR, Castria TB, Barchi LC, et al. Conversion therapy for gastric cancer: expanding the treatment possibilities. ABCD, arq. bras. cir. dig., 2019, vol.32, no.2. ISSN 0102-6720
  • 15
    Ramos MFKP, Pereira MA, Dias AR, Yagi OZ, Zaidan EP, Ribeiro-Júnior U, et al. Surgical outcomes of gastrectomy with D1 lymph node dissection performed for patients with unfavorable clinical conditions. Eur J Surg Oncol. 2019;45(3):460-465. https://doi.org/10.1016/j.ejso.2018.11.013
    » https://doi.org/10.1016/j.ejso.2018.11.013
  • 16
    Ramos MFKP, Pereira MA, Sagae VMT, Mester M, Morrell ALG, Dias AR, et al. Gastric cancer in young adults: a worse prognosis group?. Rev Col Bras Cir. 2019;46(4):e20192256. https://doi.org/10.1590/0100-6991e-20192256
    » https://doi.org/10.1590/0100-6991e-20192256
  • 17
    Ramos MFKP, Pereira MA, Yagi OK, Dias AR, Charruf AZ, Oliveira RJ, et al. Surgical treatment of gastric cancer: a 10-year experience in a high-volume university hospital. Clinics (Sao Paulo).2018;73(suppl 1): e543s. https://doi.org/10.6061/clinics/2018/e543s
    » https://doi.org/10.6061/clinics/2018/e543s
  • 18
    Saito H, Osaki T, Murakami D, Sakamoto T, Kanaji S, Oro S, et al. Macroscopic tumor size as a simple prognostic indicator in patients with gastric cancer. Am J Surg. 2006;192(3):296-300. https://doi.org/10.1016/j.amjsurg.2006.03.004
    » https://doi.org/10.1016/j.amjsurg.2006.03.004
  • 19
    de Souza Giusti AC, de Oliveira Salvador PT, Dos Santos J, Meira KC, Camacho AR, Guimarães RM, et al. Trends and predictions for gastric cancer mortality in Brazil. World J Gastroenterol. 2016;22(28):6527-6538. https://doi.org/10.3748/wjg.v22.i28.6527
    » https://doi.org/10.3748/wjg.v22.i28.6527
  • 20
    Takama T, Okano K, Kondo A, Akamoto S, Fujiwara M, Usuki H, et al. Predictors of postoperative complications in elderly and oldest old patients with gastric cancer. Gastric Cancer. 2015;18(3):653-661. https://doi.org/10.1007/s10120-014-0387-6
    » https://doi.org/10.1007/s10120-014-0387-6
  • 21
    Xu Y, Wang Y, Xi C, Ye N, Xu X. Is it safe to perform gastrectomy in gastric cancer patients aged 80 or older?: A meta-analysis and systematic review. Medicine (Baltimore). 2019; 98 (24):e16092. https://doi.org/10.1097/MD.0000000000016092
    » https://doi.org/10.1097/MD.0000000000016092
  • 22
    Yokota T, Ishiyama S, Saito T, Teshima S, Yamada Y, Iwamoto K, et al. Is tumor size a prognostic indicator for gastric carcinoma?. Anticancer Res. 2002;22(6B):3673-3677.
  • 23
    Zilberstein B, Malheiros C, Gomes LL, et al. Brazilian consensus in gastric cancer: guidelines for gastric cancer in Brazil. ABCD, arq. bras. cir. dig. [online]. 2013, vol.26, n.1
  • Financiamento:

    não há
  • Mensagem central

    Os octogenários com câncer gástrico submetidos à gastrectomia com intenção curativa têm alto risco de complicações clínicas no pós-operatório. A linfadenectomia D1 deve ser o padrão de atendimento nesses pacientes.
  • Perspectivas

    O presente estudo considerou uma população livre de viés de octogenários com câncer gástrico e que foram considerados aptos para gastrectomia potencialmente curativa. Eles tiveram incidência elevada de complicações clínicas no pós-operatório. A linfadenectomia D2 e a ocorrência de complicações se correlacionaram com pior sobrevida global. Estudos futuros devem ter como objetivo definir o limite de idade para evitar linfadenectomia estendida.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    25 Jan 2021
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    06 Jun 2020
  • Aceito
    20 Set 2020
Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva Av. Brigadeiro Luiz Antonio, 278 - 6° - Salas 10 e 11, 01318-901 São Paulo/SP Brasil, Tel.: (11) 3288-8174/3289-0741 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revistaabcd@gmail.com