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Lógicas da emoção

RESENHAS

Lógicas da emoção

Simoni Lahud Guedes

Professora do departamento de Antropologia e do Programa de Pós-Graduação em Antropologia e Ciência Política da Universidade Federal Fluminense

Luiz Henrique de TOLEDO. Lógicas no futebol. São Paulo, Hucitec/Fapesp, 2002. 342 páginas

A inegável maturidade da reflexão acadêmica nas ciências sociais brasileiras sobre os esportes, em particular sobre o futebol, pode ser medida por vários índices: a multiplicação dos pesquisadores envolvidos com a temática, a diversidade das propostas teóricas e das abordagens metodológicas, a configuração de alguns debates importantes, a presença da antropologia ou da sociologia do esporte em alguns dos encontros mais importantes das ciências sociais no Brasil.1 1 O primeiro Grupo de Trabalho (GT) a se inserir em uma destas reuniões foi proposto e coordenado por José Sérgio Leite Lopes e Carmem Sílvia Rial, na XXII Reunião Brasileira de Antropologia, ocorrida em Brasília, em 2000. Em 2001, Arlei Sander Damo e eu coordenamos um GT na IV Reunião de Antropologia do Mercosul, ocorrida em Curitiba, repetindo o grupo em 2002 na XXIII Reunião Brasileira de Antropologia. José Jairo Vieira e Ronaldo Helal coordenaram o primeiro Grupo de Trabalho sobre esportes na XVI Reunião Anual da Anpocs, em 2002. Mas talvez o resumo desses índices esteja na alta qualidade de teses e dissertações elaboradas no contexto dos programas de pós-graduação do país, muitas delas publicadas nos últimos dez anos.2 2 Há um evidente predomínio de estudos nos programas de pós-graduação em antropologia e história. A amplitude dessa produção como um todo impede a citação, aqui, de um ou outro desses trabalhos, o que pode ser encontrado em Toledo (2001), na revista BIB. Contudo, deve-se ressaltar que é notável a ausência dessa temática na ciência política. Nessa literatura recente, algumas problemáticas delineadas pela produção anterior vão assumindo contornos mais nítidos, dialogando de modo inovador com as diversas tradições disciplinares das ciências sociais.

É nesse quadro que deve ser considerado o livro de Luiz Henrique de Toledo, originalmente tese de doutorado defendida no Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo, sob a orientação do professor José Guilherme Cantor Magnani. A dimensão simbólica do fenômeno social "futebol brasileiro" é postulada e sobretudo investigada pelo autor em seus mecanismos de produção e articulação com outras dimensões da vida social, demonstrando, pelas vias escolhidas, os modos pelos quais se produzem os consensos e os dissensos acerca do futebol. Toledo propõe, assim, uma interpretação da complexa dinâmica sociocultural (política, econômica, institucional e simbólica) construída, ao longo de mais de cem anos, em torno do futebol no Brasil.

Para tornar inteligível essa dinâmica, o texto procura consolidar um espaço entre a vertente inaugurada por Roberto DaMatta (1982, 1994), propondo interpretações totalizantes sobre o esporte e o futebol no Brasil por meio de ensaios já clássicos na ciência social brasileira e internacional, e trabalhos que operam recortes, sobretudo de cunho etnográfico, para analisar os inúmeros aspectos socioculturais dos esportes no Brasil. A visão totalizante é expressa desde as primeiras páginas com a apresentação de um modelo analítico que comporta uma série de recortes sobre o tema. Essa opção metodológica permite ao autor operar em diversos níveis de abrangência e incorporar à sua reflexão dados de ordem bastante diversa, analisando, por exemplo, a constituição e a mudança internacional das regras do futebol e das formas de jogo, ao mesmo tempo em que inclui no seu corpus os dados produzidos em pesquisas etnográficas, realizadas no cotidiano dos clubes paulistanos, nos cursos de capacitação de treinadores de futebol, nos cursos de extensão sobre jornalismo esportivo e, por fim, em bares freqüentados por torcedores.

O modelo analítico proposto procura dar conta da extrema dispersão do fenômeno "futebol" na sociedade brasileira, intrinsecamente associada à sua importância e penetração altamente diferenciada, assumindo os riscos da amplitude de tal tarefa. Contudo, o peso atribuído a esse modelo ­ produzir formas de apropriação e dar sentido a um corpus extremamente diversificado ­ não condiz, acredito, com a excessiva economia em sua apresentação e discussão, o que dificulta a compreensão de um estudo que se arma em algumas dezenas de subtextos,3 3 O Sumário (pp. 11­12), por exemplo, só se torna apreensível após a leitura da Introdução. Embora bem subdividido, os títulos e subtítulos são excessivamente vagos para permitir ao leitor a compreensão do que está sendo abordado. causando, em alguns momentos, a sensação de ser algo fragmentado. Mas, de qualquer forma, há que se louvar a ousadia e a originalidade da proposta. O autor enfrenta de maneira inédita esta dispersão sem abdicar da produção artesanal de dados em contextos selecionados.

A proposta de Toledo situa-se, em termos epistemológicos, no amplo e diversificado terreno das abordagens que buscam superar dicotomias clássicas das teorias sociais, e, como perspectiva analítica, assenta-se entre dois modos de conhecimento, o fenomenológico e o objetivista (Bourdieu, 1972). Arma-se, portanto, sob uma estrutura que só é possível por meio da análise dos diversos agentes sociais envolvidos; trata-se de uma estrutura dinâmica ou, pode-se dizer, de uma estrutura "agida". A partir dessa perspectiva, o autor procura apreender a multiplicidade das dimensões no campo esportivo profissional4 4 Damo (2002a) propôs, em recente comunicação apresentada no GT Esporte, Política e Cultura, realizado XVI Reunião Anual da Anpocs, a ampliação do modelo analítico apresentado por Toledo no sentido de abranger outras formas de praticar o futebol no Brasil, não-profissionais. no Brasil, assumindo, em primeiro lugar, como alguns autores vêm argumentando (por exemplo, DaMatta, 1982), que o foco central da produção simbólica no futebol é a produção contínua de jogos como "situações rituais" (p. 16). Sua proposta, portanto, parte da concepção dos jogos de futebol como ritual, para criar o conjunto de categorias que compõem seu modelo analítico. Deste modo, o campo esportivo é simultaneamente totalizado e recortado através de três categorias de agentes ­ profissionais, especialistas e torcedores, classificados a partir das diferentes formas de atuação e participação no jogo. Os profissionais são todos aqueles que interferem diretamente nos jogos (jogadores, técnicos, dirigentes, juízes, preparadores físicos, médicos etc.). Os especialistas ou cronistas esportivos são os profissionais da mídia (comentaristas, locutores, repórteres), intérpretes dos jogos e, por definição, mediadores entre o evento ritual e os torcedores. A categoria torcedores procura abranger todos os que, mediados pela emoção, partilham o universo do futebol.5 5 Nessa análise dos torcedores, deve-se ressaltar, o autor aprofunda uma investigação iniciada anteriormente em sua dissertação de mestrado (Toledo, 1996).

Aí encontramos aqueles que sustentam e viabilizam a partida em si, os profissionais, aqueles que impõem a ela a circularidade da emoção, ou seja, o conjunto genérico de torcedores e, por sua vez, os especialistas, que procuram decodificar e ordenar para uma narrativa supostamente mais linear e universalista, a partir das técnicas disponíveis de cada meio midiático, o processo ritualístico em evento jornalístico, de interesse geral (p. 17).

Esse modelo analítico fornece, também, a estruturação do próprio texto, que se constitui por três capítulos, dedicados à análise de aspectos selecionados da atuação e da produção de cada uma dessas categorias de agentes, concebidos dentro de uma estrutura mais ampla. Contudo, uma das estratégias analíticas fundamentais para a viabilização da proposta, partindo da postulação dos "jogos de futebol" como "situações rituais", é a busca, justamente, dos complexos e multifacetados contextos de produção desses rituais, que o autor denomina "cotidiano" (p. 19). Essa opção metodológica, sistematicamente perseguida nos três capítulos, norteia e ordena a constituição do material, propiciando um enfoque bastante produtivo e original. O modelo analítico privilegia, assim, um olhar sobre a própria produção dos agentes envolvidos no "ritual do jogo de futebol". Dos treinos nos quais se produzem os jogadores profissionais aos bares nos quais se produzem os torcedores, passando pela produção de treinadores e jornalistas esportivos, são analisados contextos e momentos de construção das diversas práticas geradas pelo futebol profissional.

Ao focar sua atenção na produção dos agentes principais do campo esportivo, em vez de, por exemplo, delinear seus arcabouços institucionais, Toledo opta por atualizar e reconstruir os princípios engendrados na dinâmica sociocultural do futebol brasileiro. Reitere-se, aqui, que se o modelo analítico proposto por Toledo visa, sobretudo, apreender a "estrutura simbólica" (p. 15) do futebol brasileiro, a forma como o material é apresentado e trabalhado, em cada caso, incorpora várias outras dimensões desse fenômeno social. Mas, certamente, ao investigar essa dinâmica, há, tal como na "diagonal brasileira",6 6 Variação do "esquema tático WM", utilizado até 1950. Trata-se de uma das formas de jogo expostas no Capítulo 1, a qual teria sido uma contribuição tática brasileira. uma atenção mais detida à sua estruturação simbólica, o que, de certo modo, permite ao autor interpretar e compreender as complexas e múltiplas facetas que se inter-relacionam nos eventos sociais produzidos em torno do futebol. Para isso, é fundamental a referência ao futebol como símbolo flutuante (p. 27),7 7 "O futebol pode ser pensado como um símbolo flutuante justamente porque não produz este consenso, ao menos não na sua totalidade, mas pode ser vislumbrado como um fenômeno cultural no qual todos articulam, com uma boa dose de especulação, cientificismo, magia e emoção, suas teorias e doutrinas, e que, literalmente, investem nas suas falas e saberes determinados valores que, aí sim, talvez produzam identidades em alguns níveis" (p. 27). Numa concepção aproximada, apoiando-me em descobertas do estruturalismo lévi-straussiano, considerei o futebol no Brasil como "instituição zero" (Guedes, 1977), buscando acentuar, ao mesmo tempo, sua extrema exigência de significados e, de certa forma, a indiferença do veículo futebol aos significados que lhe são atribuídos. como um operador cultural passível de dar forma a representações e emoções díspares nos muitos níveis ou aspectos em que se apresenta (ritual ou cotidiano, nacional, regional, clubístico, peladeiro, praticado, assistido, discutido, falado, escrito). Tal referência é sintetizada na introdução do livro, mas essa questão perpassa todo o texto, aparecendo em passagens como, por exemplo, no Capítulo 3, dedicado aos torcedores, quando Toledo expõe a penetração do futebol nos mais diversos espaços de sociabilidade:

Ao que tudo indica, como tema que transborda para o cotidiano seus acontecimentos, mas acima de tudo suas versões, significando outros temas da vida social, o futebol apresenta-se como um mecanismo simbólico poderoso e articulador de extenso repertório de fatos. Muitas vezes sua eficácia reside nesta função de conetivo e na maneira como vincula certos acontecimentos da vida [...] (pp. 267-268).

Fazendo operar o conjunto dessas estratégias analíticas, o texto é construído em vários níveis de abrangência, conjugando contextos de pesquisa e produção de dados diversos amalgamados, fundamentalmente, pelos eixos de significado que carregam. No Capítulo 1, o autor percorre alguns dos territórios cotidianos em que se movem os profissionais. Esse espaço é demarcado pelas regras universais do jogo, obtidas a partir da análise dos manuais de divulgação que são editados para construir o público brasileiro. Toledo, ainda, inventaria as formas ou padrões de jogo, apresenta os resultados de observação participante em treinos e, numa interessante e inovadora estratégia de pesquisa, em cursos de formação de treinadores. Com esse material, ele faz, a meu ver, sua principal contribuição. A análise dos especialistas, no Capítulo 2, inicia-se por um mergulho histórico-sociológico na crônica esportiva, distinguindo, por meio de suas trajetórias e inserções, formas distintas de operar a mediação entre o público e o jogo (mais identificadas à emoção do torcedor, mais técnicas ou mais políticas). Também aqui, o texto é construído com uma riqueza extraordinária de dados, oriundos de etnografias em cursos de jornalismo esportivo e da análise de uma das mais interessantes práticas acerca do futebol no Brasil: as mesas-redondas. Nessas mesas, especialistas e profissionais expõem e produzem, para um público mais amplo, as interpretações do jogo, atualizando uma de suas mais importantes características: sua "discutibilidade" (Bromberger, 1998). O material analisado nesse capítulo torna-se mais relevante em virtude da importância do jornalismo esportivo na formação do público esportivo no Brasil (Lopes, 1994) e da escassez de trabalhos sobre o tema. No Capítulo 3, acerca dos torcedores, o autor retoma e aprofunda etnografias anteriores, buscando, de um lado, categorizar algumas formas de torcer e, de outro, descrever os espaços de sociabilidade em que os consensos e os dissensos são construídos.

É importante destacar a elaboração da noção de formas-representações (p. 149, passim), ao final do primeiro e longo capítulo do livro, como uma das conclusões mais relevantes de Toledo, resultado de sua postura epistemológica. Não por acaso, o ponto de partida do texto é a análise das regras universais do jogo tal como se apresentam nos manuais que, desde o início do século, difundem e interpretam o futebol no Brasil. Em particular, o autor salienta, com penetrantes observações, as mudanças na regra 11, do impedimento (ou off-side), e as interpretações de um dos aspectos mais debatidos, no Brasil, da regra 12, em relação ao tranco. Considera, em seguida, com o mesmo rigor, as diferentes formas ou padrões de jogo, ou seja, os esquemas táticos ­ geralmente expressos em combinações numéricas ou de letras (2-3-5; 3-2-5; 4-2-4, WM etc.), aparentemente neutras, limitadas pelas regras do jogo ­, que encobrem construções historicamente situadas e simbolicamente selecionadas. Tais padrões mantêm uma relação estreita com as "escolas, jeitos ou estilos", sem se confundir com eles, compondo um conjunto, designado pelo autor, como as três naturezas do jogo de futebol; essa reflexão vale a pena destacar:

Desse modo, o conjunto das regras, a primeira natureza que define a atividade como esporte, não determina ou instrui totalmente as maneiras de jogar, o que revela nas formas de jogo uma espécie de "segunda natureza", ambas justapostas ainda a uma "terceira natureza", identificada nas representações que consolidam as anunciadas "escolas", "jeitos" ou "estilos" (p. 61, grifos do autor).

Se as regras são universais, esforço de todo um empreendimento em tornar o futebol um esporte mundial, as formas ou padrões consistem nos ajustamentos ou numa linguagem que dialoga com os sotaques mais locais do jogo, amplificados e perpetuados no domínio do senso comum pelas auto-representações que definem as categorias nativas da "terceira natureza" (p. 61, grifos do autor).

A análise detalhada dessas "naturezas" atualizadas no jogo de futebol ­ regras universais, formas ou padrões e estilos específicos ­, abordadas a partir do material empírico levantado pelo autor, permite a Toledo demonstrar, de forma cristalina, como as opções simbólicas constroem as formas sociais. Essa conclusão encontra-se sintetizada na noção de forma-representação, que acentua igualmente os matizes em sua percepção diferenciada pelas categorias de agentes discriminados (profissionais, especialistas e torcedores):

Tais formas-representações atualizam no cotidiano dos treinamentos níveis simbólicos nem sempre consensuais no que se refere aos sentidos atribuídos ao futebol pelos diversos atores e significa matizar e pôr em confornto determinadas representações cristalizadas no senso comum que são, muitas vezes, tomadas pela literatura acadêmica como categorias nativas estáveis, tais como ocorrem freqüentemente com as denominações futebol-força e futebol-arte, por exemplo.

Formas dizem respeito às configurações que alocam os jogadores espacialmente no gramado em função de determinadas tarefas a eles delegadas pelos técnicos ou comissões técnicas. Representações consistem nos ajustamentos num plano simbólico de tais formas ou padrões codificados, empiricamente observados em campo, repetidos à exaustão nos treinos, confirmados (ou não) numa partida e referendados (ou não) pela memória coletiva dos conjuntos de torcedores (p. 152, grifos do autor).

A idéia central do autor gira em torno dessa noção de forma-representação, por meio da qual as três naturezas do jogo se conjugam, possibilitando compreender o modo como os significados são negociados e disputados,8 8 Proposta semelhante é desenvolvida por Jean-Michel Faure e Charles Suaud (1998), argumentando, com base em material sobre clube de futebol, o que denominam a "construção circular da identidade do clube", que impõe, num jogo de disputas, por meio de avaliações do desempenhos da equipe (pelos próprios jogadores, treinadores, torcedores, dirigentes, jornalistas etc.), os "estilos" valorizados como próprios do clube. e se transformam ou não em diferenças perceptíveis nos desempenhos. Jogar "à brasileira", por exemplo, se não representa, como bem assinala o autor, uma correlação absolutamente estável de significados dotada de consenso inquestionável, congrega determinadas representações sociais de "ser brasileiro" e de sua expressão no futebol. Por isso a conquista da Copa do Mundo de 1994, por exemplo, que, segundo interpretações recorrentes, foi alcançada num "estilo" estranho às características valorizadas no futebol brasileiro, tendo sido privilegiadas a defesa, a disciplina tática e a marcação em vez do ataque e do drible, tem seu valor minimizado por muitos profissionais, especialistas e torcedores.

São essas formas-representações, na verdade muito variadas no complexo contexto futebolístico brasileiro ("jogar à Corinthians", "jogar à Flamengo", "futebol carioca", "futebol-arte", "futebol-força", "jogar à Felipão", exemplos citados na página 153) que funcionam como eixos simbólicos nos diversos níveis de produção das categorias de agentes analisados segundo o modelo proposto. Constituída pela intervenção de profissionais, especialistas e torcedores, a noção sintetiza o modo de produção simbólico do futebol.

Considerando a fecundidade da proposta, o trabalho de Toledo é um convite para que novas incursões se realizem na mesma direção, investigando a produção e a atuação de outros agentes profissionais, especialistas ou torcedores. Por exemplo, estão ausentes na literatura acadêmica sobre o futebol no Brasil estudos sobre os dirigentes esportivos, que, com certeza, nos levaria a análises relevantes acerca da relação entre futebol e política, para além da ultrapassada ladainha do "ópio do povo". Em particular, a noção de forma-representação pode gerar investigações que inventariem e hierarquizem os "estilos" em suas diversas versões e matizes, possibilitando, por exemplo, a exploração das variações do "futebol-arte" no Brasil e sua relação com as versões internas do "futebol-força"9 9 Cf. trabalho realizado por Damo (2002b) para o "estilo gaúcho". ou, ainda, pode abrir caminhos para a realização de trabalhos que investiguem, em contextos etnográficos definidos, a produção simbólica dos "estilos" específicos de seleções, clubes, times de várzea ou pelada.

NOTAS

Bibliografia

BOURDIEU, Pierre. (1972), Esquisse d'une théorie de la pratique. Genève, Paris, Librarie Droz.

BROMBERGER, Christian. (1998), Football, la bagatelle la plus sérieuse du monde. Paris, Bayard Éditions.

DAMATTA, Roberto. (1994), "Antropologia do óbvio: notas em torno do significado social do futebol brasileiro". Revista USP. Dossiê Futebol, 22, São Paulo.

_______. (1982), "Esporte na sociedade: um ensaio sobre o futebol brasileiro" in Roberto DaMatta, Universo do futebol: esporte e sociedade brasileira, Rio de Janeiro, Pinakotheke.

DAMO, Arlei Sander. (2002a), "O uso dos termos amadorismo e profissionalismo como categorias sociológicas na literatura acadêmica sobre o futebol". Comunicação apresentada no GT Esporte, Política e Cultura, XXVI Reunião Anual da Anpocs.

_______. (2002b), Futebol e identidade social: uma leitura antropológica da rivalidade entre torcedores e clubes. Porto Alegre, Editora da UFRGS.

FAURE, Jean-Michel & SUAUD, Charles. (1998), "Le club comme objet de croyance". Societé & Représentations. Football et Societés, 7: 201-212, dez., Paris, CREDHESS.

GUEDES, Simoni Lahud. (1977), O futebol brasileiro: instituição zero. Dissertação de mestrado, Rio de Janeiro, PPGAS, UFRJ.

LOPES, José Sérgio Leite. (1994), "A vitória do futebol que incorporou a pelada". Revista USP. Dossiê Futebol, 22, São Paulo.

TOLEDO, Luiz Henrique de. (2001), "Futebol e teoria social: aspectos da produção científica brasileira (1982-2002)". BIB, 52: 133-166, São Paulo.

_______. (1996), Torcidas organizadas de futebol. Campinas, Autores Associados/Anpocs.

  • 1
    O primeiro Grupo de Trabalho (GT) a se inserir em uma destas reuniões foi proposto e coordenado por José Sérgio Leite Lopes e Carmem Sílvia Rial, na XXII Reunião Brasileira de Antropologia, ocorrida em Brasília, em 2000. Em 2001, Arlei Sander Damo e eu coordenamos um GT na IV Reunião de Antropologia do Mercosul, ocorrida em Curitiba, repetindo o grupo em 2002 na XXIII Reunião Brasileira de Antropologia. José Jairo Vieira e Ronaldo Helal coordenaram o primeiro Grupo de Trabalho sobre esportes na XVI Reunião Anual da Anpocs, em 2002.
  • 2
    Há um evidente predomínio de estudos nos programas de pós-graduação em antropologia e história. A amplitude dessa produção como um todo impede a citação, aqui, de um ou outro desses trabalhos, o que pode ser encontrado em Toledo (2001), na revista
    BIB. Contudo, deve-se ressaltar que é notável a ausência dessa temática na ciência política.
  • 3
    O Sumário (pp. 11­12), por exemplo, só se torna apreensível após a leitura da Introdução. Embora bem subdividido, os títulos e subtítulos são excessivamente vagos para permitir ao leitor a compreensão do que está sendo abordado.
  • 4
    Damo (2002a) propôs, em recente comunicação apresentada no GT Esporte, Política e Cultura, realizado XVI Reunião Anual da Anpocs, a ampliação do modelo analítico apresentado por Toledo no sentido de abranger outras formas de praticar o futebol no Brasil, não-profissionais.
  • 5
    Nessa análise dos
    torcedores, deve-se ressaltar, o autor aprofunda uma investigação iniciada anteriormente em sua dissertação de mestrado (Toledo, 1996).
  • 6
    Variação do "esquema tático WM", utilizado até 1950. Trata-se de uma das
    formas de jogo expostas no Capítulo 1, a qual teria sido uma contribuição tática brasileira.
  • 7
    "O futebol pode ser pensado como um
    símbolo flutuante justamente porque não produz este consenso, ao menos não na sua totalidade, mas pode ser vislumbrado como um fenômeno cultural no qual todos articulam, com uma boa dose de especulação, cientificismo,
    magia e emoção, suas teorias e doutrinas, e que, literalmente, investem nas suas falas e saberes determinados valores que, aí sim, talvez produzam identidades em alguns níveis" (p. 27). Numa concepção aproximada, apoiando-me em descobertas do estruturalismo lévi-straussiano, considerei o futebol no Brasil como "instituição zero" (Guedes, 1977), buscando acentuar, ao mesmo tempo, sua extrema exigência de significados e, de certa forma, a indiferença do veículo futebol aos significados que lhe são atribuídos.
  • 8
    Proposta semelhante é desenvolvida por Jean-Michel Faure e Charles Suaud (1998), argumentando, com base em material sobre clube de futebol, o que denominam a "construção circular da identidade do clube", que impõe, num jogo de disputas, por meio de avaliações do desempenhos da equipe (pelos próprios jogadores, treinadores, torcedores, dirigentes, jornalistas etc.), os "estilos" valorizados como próprios do clube.
  • 9
    Cf. trabalho realizado por Damo (2002b) para o "estilo gaúcho".
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      28 Maio 2007
    • Data do Fascículo
      Fev 2003
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