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O progresso da pesquisa sobre o gênero Baccharis, Asteraceae: I - Estudos botânicos

Research progress on the genus Baccharis, Asteraceae: I - Botanical studies

Resumos

Baccharis é um importante gênero da família Asteraceae que compreende aproximadamente 500 espécies, todas americanas, das quais aproximadamente 120 ocorrem no Brasil. Muitos autores como De Candolle, Baker, Heering, Cuatrecasas, Ariza Espinar, Barroso e Giuliano têm tentado estruturar uma adequada divisão do gênero em subgêneros e seções. Espécies desse gênero são importantes economicamente para o homem, pois ajudam no combate à erosão e podem ser utilizadas como plantas ornamentais, mas também podem apresentar-se como pragas de difícil combate em pastagens, podendo intoxicar o gado. Contudo, o destaque maior está na medicina, onde vários representantes são utilizados popularmente. Nesse contexto várias espécies têm sido investigadas contribuindo para a elucidação morfoanatômica e para o controle de qualidade.

Baccharis; Asteraceae; estudos botânicos


Baccharis is an important genus of the Asteraceae family, which comprises about 500 American species, including 120 species from Brazil. Several authors such as De Candolle, Baker, Heering, Cuatrecasas, Ariza Espinar, Barroso and Giuliano have attempted to elaborate an adequate genus division in subgenera and sections. Baccharis species are economically important since they help to prevent erosion and are employed as ornamental plants, although they can become weeds of difficult control in grazing and poison to the cattle. However, in the folk medicine, many species are relevant and have been studied, aiming to contribute to their morpho-anatomical and quality control knowledge.

Baccharis; Asteraceae; botanical studies


DIVULGAÇÃO

O progresso da pesquisa sobre o gênero Baccharis, Asteraceae: I - Estudos botânicos

Research progress on the genus Baccharis, Asteraceae: I - Botanical studies

J.M. BudelI,* * E-mail: janemanfronb@uol.com.br, Tel. + 55-41-2735510 ; M.R. DuarteI; C.A.M. SantosI; P.V. FaragoII; N.I. MatzenbacherIII

IDepartamento de Farmácia, Universidade Federal do Paraná, UFPR, Rua Lothário Meissner, 3400, Jardim Botânico, 80210-170, Curitiba, PR, Brasil

IIDepartamento de Ciências Farmacêuticas, Universidade Estadual de Ponta Grossa, UEPG, Rua General Carlos Cavalcanti, 4748, Uvaranas, 84030-900, Ponta Grossa, PR, Brasil

IIIPós-graduação em Botânica, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS, Rua Paulo Gama, 110, 90040-060, Porto Alegre, RS, Brasil

RESUMO

Baccharis é um importante gênero da família Asteraceae que compreende aproximadamente 500 espécies, todas americanas, das quais aproximadamente 120 ocorrem no Brasil. Muitos autores como De Candolle, Baker, Heering, Cuatrecasas, Ariza Espinar, Barroso e Giuliano têm tentado estruturar uma adequada divisão do gênero em subgêneros e seções. Espécies desse gênero são importantes economicamente para o homem, pois ajudam no combate à erosão e podem ser utilizadas como plantas ornamentais, mas também podem apresentar-se como pragas de difícil combate em pastagens, podendo intoxicar o gado. Contudo, o destaque maior está na medicina, onde vários representantes são utilizados popularmente. Nesse contexto várias espécies têm sido investigadas contribuindo para a elucidação morfoanatômica e para o controle de qualidade.

Unitermos: Baccharis, Asteraceae, estudos botânicos.

ABSTRACT

Baccharis is an important genus of the Asteraceae family, which comprises about 500 American species, including 120 species from Brazil. Several authors such as De Candolle, Baker, Heering, Cuatrecasas, Ariza Espinar, Barroso and Giuliano have attempted to elaborate an adequate genus division in subgenera and sections. Baccharis species are economically important since they help to prevent erosion and are employed as ornamental plants, although they can become weeds of difficult control in grazing and poison to the cattle. However, in the folk medicine, many species are relevant and have been studied, aiming to contribute to their morpho-anatomical and quality control knowledge.

Keywords: Baccharis, Asteraceae, botanical studies.

INTRODUÇÃO

O gênero Baccharis pertence à tribo Astereae e à subtribo Baccharidinae. Esta compreende cinco gêneros sulamericanos e muito parecidos entre si (Ariza Espinar, 1973). A origem do nome Baccharis (Bakkharis) vem do grego, antiga denominação para algumas plantas arbustivas (Kissmann; Groth, 1999), e chegou a ser empregado para designar espécimes que nada têm a ver com as que hoje em dia recebem esse nome (Ariza Espinar, 1973).

O gênero inclui mais de 500 espécies, distribuídas dos Estados Unidos à Argentina, sendo que 90% ocorrem na América do Sul. Normalmente são arbustos perenes de 50 cm a 4 m de altura. Na região sudoeste do Brasil, existem aproximadamente 120 espécies. A grande concentração de espécies no Brasil e nos Andes indica que toda essa área é o provável centro de origem do táxon.

Espécies desse gênero são importantes economicamente para o homem pois ajudam no combate à erosão e podem ser utilizadas como plantas ornamentais, embora também possam se apresentar como pragas de difícil combate em pastagens, podendo intoxicar o gado. Entretanto, o destaque maior está na medicina, onde várias espécies são utilizadas popularmente (Corrêa, 1984; Carneiro; Fernandes, 1996).

Revisão do gênero Baccharis

Em 1737, Linné, em sua obra Hortus Cliffornianus denominou de Baccharis várias espécies, de diversos gêneros atuais, mas apenas uma pertencia a uma verdadeira Baccharis (B. halimifolia L.). Esse erro foi repetido novamente por Linné em sua obra "Species Plantarum" (1753). Mais tarde, em 1794, Ruiz e Pavón propuseram o gênero Molina, com base no caráter dióico de suas espécies. Em conseqüência, este seria o nome correto para o gênero. Lamentavelmente, Persoon (1807) em vez de passar a Molina a única espécie linneana autêntica (B. halimifolia), transferiu todas as Molina de Ruiz e Pavón a Baccharis. Desde então, a maioria dos autores têm usado este nome e Molina de Ruiz e Pavón passou a nomen rejiciendum (Ariza Espinar, 1973).

Em 1831, Lessing agrupou as espécies providas de caules alados e denominou de Alatae. De Candolle, em 1836, foi o primeiro autor que estabeleceu uma classificação em nível infragenérico de Baccharis. Subdividiu o gênero em 8 seções, embasadas principalmente na morfologia das folhas: Trinervatae DC., Cuneifoliae DC., Discolores DC., Oblongifoliae DC., Sergilae DC., Caulopterae DC., Distichae DC. e Lepidophyllae DC. Essas duas últimas são integradas por espécies que atualmente não pertencem ao gênero.

Entre os anos de 1841 e 1856, Hooker e Arnott, Gardner, Rémy e Weddell utilizaram o sistema de De Candolle para classificar as espécies estudadas por eles (Sulamericanas, Brasileiras, Chilenas e Andinas, respectivamente) (Giuliano, 2001).

Em 1882, Baker empregou um critério similar para classificar as espécies brasileiras, considerou quatro das seções de De Candolle (Cuneifoliae, Discolores, Oblongifoliae e Caulopterae) e agregou outras duas: Aphyllae Baker e Angustilfoliae Baker. Baker reuniu todas as plantas conhecidas como carqueja na série Caulopterae e designou à espécie Baccharis genistelloides Persoon as seguintes variedades: B. genistelloides var. trimera Baker, B. genistelloides var. cylindrica Baker, B. genistelloides var. milleflora Baker, B. genistelloides var. crispa Baker e B. genistelloides var. brachystachys Baker.

Comumente espécies de Baccharis que possuem cladódios são denominadas popularmente de carqueja e segundo Barroso (1976) estas espécies pertencem ao grupo Trimera: B. vincaefolia Baker, B. milleflora (Less.) DC., B. glaziovi Baker, B. opuntioides Martius, B. articulata (Lam.) Persoon, B. gaudichaudiana DC., B. usterii Her., B. trimera (Less.) DC., B. cylindrica (Less.) DC., B. myriocephala DC., B. crispa Spreng., B. microcephala (Less.) DC., B. phyteumoides (Less.) DC., B. sagitalis (Less.) DC., B. pseudovillosa Teodoro, B. stenocephala Baker, B. riograndensis Teodoro et Vidal. Atualmente a espécie B. cylindrica (Less.) DC. é considerada sinonímia de B. crispa Spreng. segundo Ariza Espinar (1973) e Giuliano (2001).

As carquejas apresentam como característica marcante a presença de cladódios que fazem o papel de folha, uma vez que estas estão totalmente ausentes ou mostram-se reduzidas, com função fisiológica restrita para a planta (Barroso, 1976). O nome carqueja deve ter sido dado primeiramente à espécie B. genistifolia DC, mas depois foi se estendendo às outras de ramos alados. Hoje, esse nome abrange mesmo espécies de ramos não alados como B. tridentata Vahl, conhecida como carqueja-folhuda e também designa uma espécie conhecida como carqueja-do-pântano que nem pertence ao gênero em questão (Corrêa, 1984). Atualmente a seção Caulopterae DC. também foi discutida num trabalho de Giuliano (2001) e o autor cita para a mesma seção as espécies Argentinas: B. articulata (Lam.) Pers., B. crispa Spreng., B. gaudichaudiana DC, B. genistifolia, B. microcephala (Less.) DC., B. penningtonii Heer., B. phyteuma Heer., B. phyteumoides (Less.) DC., B. sagittalis (Less.) DC., B. trimera (Less.) DC.

Entre 1902 e 1904, Heering propôs uma organização muito diferente, dando uma maior importância aos caracteres florais e ao agrupamento dos capítulos, enquanto Cuatrecasas, entre 1967 e 1969, agrupou as espécies Colombianas em 16 seções, das quais 8 foram propostas por ele (Giuliano, 2001)

Ariza Espinar (1973) classificou as 36 espécies próprias da região central da Argentina em 13 seções, sendo que uma destas foi proposta por ele (Racemosae Ariza), enquanto Barroso (1976) organizou as espécies de Baccharis Brasileiras em 28 grupos, porém, não utilizou a divisão por seções existentes.

Giuliano (2001) realizou uma revisão da história da taxonomia infragenérica de Baccharis e agrupou as 96 espécies Argentinas em 15 seções, das quais 84 já haviam sido classificadas, portanto, 12 espécies foram colocadas dentro desse esquema de classificação.

Barroso e Bueno (2002) descreveram 69 táxons para o Estado de Santa Catarina. Relataram que muitos desses participam também da flora dos Estados do Paraná, Rio Grande do Sul e, em parte nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Esses autores descreveram as espécies não obedecendo a nenhum critério de afinidade.

O controle de qualidade e a elucidação morfoanatômica de espécies de Baccharis têm sido investigados e estão sumarizados na TABELA 1. A validação desses estudos poderá levar ao desenvolvimento de fitoterápicos, bem como auxiliar evitando intoxicações e uso de plantas que não tenham efeito sobre a doença que se pretende combater.

Considerações finais

Devido ao gênero Baccharis possuir aproximadamente 500 espécies, comparativamente existem poucos trabalhos de morfoanatomia e de controle de qualidade envolvendo as mesmas, principalmente no que diz respeito ao Brasil que possui aproximadamente 120 espécies.

É comum a confusão entre diferentes representantes de uso medicinal conhecidos pelo mesmo nome popular e usados indiscriminadamente para a mesma finalidade terapêutica. A identificação botânica de algumas plantas oferece dificuldades até mesmo para especialistas como é o caso das Baccharis de caules alados, as carquejas.

De um modo geral, no presente trabalho, a espécie mais estudada parece ser B. trimera seguida de B. articulata, espécies aladas conhecidas como carqueja e usadas indistintamente na medicina popular como diurética e estomáquica. Das espécies não aladas, a mais citada é B. dracunculifolia, espécie que tem sido investigada pela resina extraída e utilizada pelas abelhas para formar a própolis e também pelo seu óleo essencial muito usado na indústria de perfumaria. Inúmeras espécies de Baccharis, usadas como medicinais ainda não foram estudadas, e a validação desses estudos poderá levar ao desenvolvimento de fitoterápicos. As evidências botânicas incentivam o estudo mais aprofundado destas espécies e ainda de outras do gênero em questão.

Recebido em 27/10/04

Aceito em 24/05/05

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  • *
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      06 Maio 2008
    • Data do Fascículo
      Set 2005

    Histórico

    • Recebido
      27 Out 2004
    • Aceito
      24 Maio 2005
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