Composição do óleo essencial de Sinningia aggregata

Composition of essential oil of Sinningia aggregata

ARTIGO

Composição do óleo essencial de Sinningia aggregata

Composition of essential oil of Sinningia aggregata

M.E.A. StefanelloI, ^*; A.C. Cervi^II; A. Wisniewski Jr.^III

^IDepartamento de Química, Universidade Federal do Paraná, Centro Politécnico, Caixa Postal 19081, 81531-990, Curitiba, PR, Brasil

^IIDepartamento de Botânica, Universidade Federal do Paraná, Centro Politécnico, Caixa Postal 19041, 81531-990, Curitiba, PR, Brasil

^IIIInstituto de Pesquisas Tecnológicas, Universidade Regional de Blumenau, Rua Araçatuba, 83, 89030-080, Blumenau, SC, Brasil

RESUMO

O óleo essencial de Sinningia aggregata (Ker. Gawl.) Wiehler (Gesneriaceae) foi extraído por hidrodestilação e analisado por CG e CG/EM. Foram identificados 17 compostos, representando 91,8% do óleo. O óleo é constituído principalmente por compostos alifáticos de cadeia longa (49,8%) e sesquiterpenos oxigenados (40,2%). Os principais componentes foram: linoleato de metila (28,4%), 1-octadecanol (16,9%), acetato de (Z)-nerolidila (8,8%), espatulenol (7,8%) e (E)-nerolidol (6,7%). Monoterpenos e fenilpropanóides não foram encontrados. Este é o primeiro relato de estudo de óleo essencial na família Gesneriaceae.

Unitermos:Sinningia aggregata, Gesneriaceae, óleo essencial, linoleato de metila, 1-octadecanol.

ABSTRACT

The essential oil isolated by hydrodistillation from the aerial parts of Sinningia aggregata (Ker. Gawl.) Wiehler (Gesneriaceae) was analyzed by capillary GC and GC/MS. Seventeen components were identified, representing 91,8% of the total oil. The oil was characterized by a high content of long-chain aliphatic compounds (49,8%) and oxygenated sesquiterpenes (40,2%). The two major components were methyl linoleate (28,4%) and 1-octadecanol (16,9%). Among the sesquiterpenes, (Z)-nerolidol acetate (8,8%), spathulenol (7,8%) and (E)-nerolidol (6,7%) are present in appreciable amounts. Monoterpenes and phenylpropanoids were not found in the oil.

Keywords:Sinningia aggregata, Gesneriaceae, essential oil, methyl linoleate, 1-octadecanol.

INTRODUÇÃO

O gênero Sinningia Nees (família Gesneriaceae, tribo Sinningieae) compreende 66 espécies, a maioria encontrada nas regiões Sul e Sudeste do Brasil (Chautems, 1991). S. aggregata (Ker. Gawl.) Wiehler é uma erva terrestre, de tubérculo perene, cujas partes aéreas são cobertas por tricomas aromáticos e viscosos. É encontrada em vários estados brasileiros e também no Leste do Paraguai (Chautems, 1993).

A química do gênero Sinningia é pouco conhecida. Apenas dois artigos foram encontrados na literatura referindo-se a presença de constituintes químicos nesse gênero. O primeiro é um estudo sobre a distribuição de flavonóides em Gesneriaceae e relata a ocorrência de antocianidinas nas pétalas de Sinningia cardinalis, S. macropoda, S. speciosa, S. gloriosa e S. barbata (Harbone, 1966). O segundo trata da ocorrência de glicosídeos fenólicos em Gesneriaceae e assinala a presença de verbascosídeo, um derivado do ácido cafeico, em S. cardinalis (Jensen, 1996). A ocorrência de óleo essencial não é comum no gênero, sendo que apenas três espécies são conhecidas como aromáticas: S. aggregata, S. harleyi e S. valsuganensis (Chautems, 1991).

MATERIAL E MÉTODOS

Material vegetal

A planta foi coletada em Canta Galo (PR) em dezembro de 1992 e cultivada em Curitiba (PR) desde então. Para a extração do óleo essencial, foram feitas duas coletas das partes aéreas desse exemplar cultivado, em janeiro e fevereiro de 2004. Uma exsicata (Cervi 3873) está depositada no Herbário da Universidade Federal do Paraná (UPCB).

Extração e análise do óleo essencial

As partes aéreas frescas foram submetidas a hidrodestilação em um aparelho do tipo Clevenger, durante 2h. O hidrolato foi extraído com éter etílico, a fase orgânica separada e seca com sulfato de sódio. O solvente foi removido por aplicação de vácuo e o óleo conservado em congelador até a análise. A extração foi realizada em duplicata.

A análise quantitativa foi realizada em um cromatógrafo gasoso Shimadzu GC-17A, equipado com uma coluna capilar Durabond-DB5 (30 m x 0,25 mm x 0,25 mm) e um detector de ionização de chama. A temperatura inicial foi mantida a 60ºC por três min., em seguida programada até 250ºC a 5ºC/min e finalmente mantida a 250ºC por 15 min. O gás de arraste foi hélio, usado a uma pressão constante de 80 Kpa e fluxo constante de 1 mL/min. A quantificação dos componentes foi obtida por integração eletrônica.

A análise qualitativa foi realizada em um cromatógrafo gasoso Varian CP-800, acoplado a um espectrômetro de massas Saturn 2000, equipado com uma coluna capilar CP-Sil 8 CB (30 m x 0,25 mm x 0,25 mm). As condições de operação foram as mesmas descritas acima. Os componentes do óleo foram identificados por comparação de seus índices de Kovats, em relação a uma série homóloga de n-alcanos, e do padrão de fragmentação observado nos espectros de massas com dados da literatura (Adams, 1995) e da espectroteca Nist 98.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A hidrodestilação forneceu um óleo incolor com rendimento médio de 0,03%. Os componentes identificados e sua percentagem estão listados na tabela 1, em ordem de eluição. O óleo é constituído principalmente de compostos alifáticos de cadeia longa (49,8%) e sesquiterpenos oxigenados (40,2%). Ésteres e álcoois são predominantes (83,5%) enquanto que a fração hidrocarboneto é pouco significativa (5,3%). Monoterpenos e fenilpropanóides não foram encontrados.

Considerando os componentes individuais, os principais são o linoleato de metila (28,4%) e o 1-octadecanol (16,9%). Essas substâncias, embora não sejam comuns em óleos essenciais, já foram encontradas anteriormente em outras espécies. O óleo essencial das flores de Calendula officinalis (Asteraceae) contém 18,6% de linoleato de metila (Crabas et al., 2003), enquanto que as partes aéreas de Salvia glutinosa (Lamiaceae) contém 1-octadecanol como constituinte principal (Kaya et al., 2003).

Dentre os sesquiterpenos, os principais foram: acetato de (Z)-nerolidila (8,5%), espatulenol (7,5%) e (E)-nerolidol (6,4%). Esses compostos são constituintes comuns de óleos essenciais e já foram encontrados em diversas famílias não relacionadas.

Não foram encontrados relatos de estudo de óleo essencial na família Gesneriaceae. A família mais próxima taxonomicamente é Scrophulariaceae (Cronquist, 1981). A composição do óleo essencial de espécies dessa família difere totalmente daquela encontrada para S. aggregata, pois contém monoterpenos e fenilpropanóides como constituintes principais (Maia et al., 2000; Turcker et al., 2002)

A produção de óleos essenciais está geralmente associada à necessidade que a planta tem de atrair polinizadores. Na tribo Sinningieae a maioria das espécies são polinizadas por beija-flores ou por abelhas. O fator determinante é a morfologia floral (Perret et al., 2001). As flores de S. aggregata possuem a morfologia adequada para polinização por beija-flores. Por essa razão, a produção de essência foi atribuída a uma atividade metabólica intensa, causada pelo ambiente seco e ensolarado em que essa planta é geralmente encontrada na natureza (Chautems, 1991). O presente trabalho não apóia essa hipótese, pois o mesmo exemplar cultivado em local úmido e sombreado manteve a produção de óleo essencial. Portanto, o papel ecológico da secreção aromática presente em S. aggregata ainda precisa ser esclarecido.

Recebido em 16/02/05

Aceito em 17/08/05

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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  05 Maio 2008
• Data do Fascículo
  Dez 2005

Histórico

• Recebido
  16 Fev 2005
• Aceito
  17 Ago 2005