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Estudo sobre o uso de plantas medicinais em crianças hospitalizadas da cidade de João Pessoa: riscos e benefícios

Survey on the use medicinal plants in children hospitalized in the city of João Pessoa city: risks and benefits

Resumos

Trata-se de um estudo com abordagem quantitativa, com o objetivo de investigar o uso de plantas medicinais em crianças na faixa etária de zero a 12 anos internadas no Hospital Infantil Arlinda Marques, da cidade de João Pessoa (PB), entre agosto de 2000 a junho de 2001. Um roteiro de entrevista semi-estruturado foi empregado junto aos 132 acompanhantes das crianças para a obtenção dos dados. Os resultados evidenciaram que as doenças que mais acometeram as crianças foram: 1) pneumonia (26%), 2) infecções intestinais (13%), 3) anemia (8%), 4) afecções renais (7%). Cerca de 27,3% dos acompanhantes usaram plantas medicinais em suas crianças antes de procurarem o Serviço Hospitalar e 41,7% associaram plantas com alguma medicação. Diante destes resultados pode-se concluir que a utilização de plantas medicinais em crianças para o tratamento de doenças possui seus riscos e benefícios que precisam ser avaliados pelos profissionais de saúde.

Plantas medicinais; crianças; riscos e benefícios


The aim of this study is to investigate the use of medicinal plants in children of zero to 12 years hospitalized in the "Hospital Infantil Arlinda Marques", City of João Pessoa, State of Paraíba, Brazil between August 2000 and June 2001. For the collection of the data a half-structuralized script interview was applied to 132 children's companions. The results evidenced that the illnesses which mostly affected the children were: 1) pneumonia (26%), 2) infections of the intestines (13%), 3) anemia (8%), 4) kidneys illnesses (7%). About 27,3% of the companions had used medicinal plants in the children before going to the hospital service; 41,7% had associated plants with some medicines. Based on this, it can be concluded that the use of medicinal plants in children for the treatment of illnesses has its risks and benefits that need to be evaluated by health professionals.

Medicinal plants; children; risks and benefits


DIVULGAÇÃO

Estudo sobre o uso de plantas medicinais em crianças hospitalizadas da cidade de João Pessoa: riscos e benefícios

Survey on the use medicinal plants in children hospitalized in the city of João Pessoa city: risks and benefits

A.R. TôrresI; R.A.G. OliveiraI, * * E-mail: rinaldaago@ig.com.br, Tel. + 55-83-32464197 ; M.F.F.M DinizII; E.C. AraújoIII

IDepartamento de Fisiologia e Patologia, Universidade Federal da Paraíba, Campus Universitário, 58051-970, João Pessoa, PB, Brasil

IIDepartamento de Ciências Farmacêuticas, Universidade Federal da Paraíba, Campus Universitário, 58051-970, João Pessoa, PB, Brasil

IIIDepartamento de Enfermagem, Universidade Federal de Pernambuco, Hospital das Clínicas, 50690-701, Recife, PE, Brasil

RESUMO

Trata-se de um estudo com abordagem quantitativa, com o objetivo de investigar o uso de plantas medicinais em crianças na faixa etária de zero a 12 anos internadas no Hospital Infantil Arlinda Marques, da cidade de João Pessoa (PB), entre agosto de 2000 a junho de 2001. Um roteiro de entrevista semi-estruturado foi empregado junto aos 132 acompanhantes das crianças para a obtenção dos dados. Os resultados evidenciaram que as doenças que mais acometeram as crianças foram: 1) pneumonia (26%), 2) infecções intestinais (13%), 3) anemia (8%), 4) afecções renais (7%). Cerca de 27,3% dos acompanhantes usaram plantas medicinais em suas crianças antes de procurarem o Serviço Hospitalar e 41,7% associaram plantas com alguma medicação. Diante destes resultados pode-se concluir que a utilização de plantas medicinais em crianças para o tratamento de doenças possui seus riscos e benefícios que precisam ser avaliados pelos profissionais de saúde.

Unitermos: Plantas medicinais, crianças, riscos e benefícios.

ABSTRACT

The aim of this study is to investigate the use of medicinal plants in children of zero to 12 years hospitalized in the "Hospital Infantil Arlinda Marques", City of João Pessoa, State of Paraíba, Brazil between August 2000 and June 2001. For the collection of the data a half-structuralized script interview was applied to 132 children's companions. The results evidenced that the illnesses which mostly affected the children were: 1) pneumonia (26%), 2) infections of the intestines (13%), 3) anemia (8%), 4) kidneys illnesses (7%). About 27,3% of the companions had used medicinal plants in the children before going to the hospital service; 41,7% had associated plants with some medicines. Based on this, it can be concluded that the use of medicinal plants in children for the treatment of illnesses has its risks and benefits that need to be evaluated by health professionals.

Keywords: Medicinal plants, children, risks and benefits.

INTRODUÇÃO

A fitoterapia é uma terapêutica popular milenar. Com o reconhecimento pela Organização Mundial de Saúde (OMS), na Conferência de Alma Ata em 1978, o aproveitamento das plantas medicinais foi ressaltado como parte do Programa Saúde Para Todos no Ano 2000 recomendando-se, inclusive a realização de mais estudos e a propagação do uso das plantas medicinais regionais como uma maneira de diminuir custos dos programas de saúde pública (Yamada, 1998).

A utilização de plantas medicinais nos programas de atenção primária à saúde pode se constituir numa alternativa terapêutica muito útil devido a sua eficácia aliada a um baixo custo operacional, a relativa facilidade para aquisição das plantas e a compatibilidade cultural do programa com a população atendida (Matos, 1994).

Na cultura nordestina é comum o uso de plantas medicinais na preparação de remédios caseiros para tratar várias enfermidades. Entre as mais utilizadas destacam-se: 1) hortelã-da-folha-miúda (Mentha x villosa Huds); 2) romã (Punica granatum L.); 3) melão-de-são caetano (Momordica charantia L.); 4) capim-santo (Cymbopogon citratus Stapf.) e, 5) alecrim-pimenta (Lippia sidoides Cham.) (Medeiros Filho et al., 1997; Diniz et al.,1997, Amorim, 1999).

Em estudos efetuados por Medeiros Filho et al., (1997), realizados em João Pessoa (PB), 36,6% de lactentes e 35% de pré-escolares foram tratados com plantas medicinais perfazendo 71,1%; a utilização destas foi referida por 96,7% das mães entrevistadas e, dentre estas, 2,9% relataram os possíveis efeitos tóxicos ocorridos em crianças na faixa dos três meses aos seis anos: 1) vômitos e sudorese, provocados pela hortelã-da-folha-miúda (Mentha x villosa Huds), e o sabugueiro (Sambucus australis Cham e Schlecht); e, 2) diarréia, a associação do mastruz (Chenopodium ambrosioides L.), com o saião (Kalanchoe brasiliensis Camb). Devido a efeitos hepatotóxicos, o mastruz é contra indicado para crianças, salvo com acompanhamento de algum profissional da saúde.

O uso de medicamentos em crianças, principalmente nos bebês, nos quais o metabolismo da droga e a função renal são menos eficientes, podem acarretar efeitos mais intensos. A utilização de chás, de forma indiscriminada, em crianças portadoras de enfermidades hepáticas, renais ou outras doenças, poderá lhes trazer sérias conseqüências para sua saúde se não houver acompanhamento médico (Rang; Dale, 2001). Por outro lado, sabe-se que os remédios e as associações de fármacos usados indiscriminadamente nesta população aumentam-lhes a morbimortalidade devido aos efeitos adversos e toxicidade provocados. Nos Estados Unidos a incidência de efeitos adversos por medicamentos em crianças é de 4,5 a 9,8 %; no Brasil, desconhecem-se estudos semelhantes. A segurança para o uso de plantas medicinais na pediatria precisa ser bem avaliada (Wong, 2003).

Portanto, faz-se necessário esclarecer a população sobre alguns pontos essenciais para o uso racional de plantas medicinais tais como: manipulação, coleta e uso terapêutico; isso deverá ser feito com o propósito de correlacionar os saberes popular x científico para que o profissional de saúde indique a terapêutica a ser usada, principalmente em crianças portadoras de doenças crônicas, a fim de se avaliar os riscos e benefícios (Carriconde et al., 1995; Diniz et al., 1997; Medeiros; Cabral, 2000).

Considerando todo o exposto, foi definido como objetivo desse estudo investigar os riscos e benefícios do uso de plantas medicinais em crianças na faixa etária de zero a 12 anos internadas no Hospital Infantil Arlinda Marques (HIAM) da cidade de João Pessoa (PB).

MATERIAL E MÉTODOS

Trata-se de um estudo com abordagem quantitativa, realizado entre agosto de 2000 a junho de 2001 com 132 acompanhantes de crianças na faixa etária de zero a 12 anos internadas no Hospital Público Infantil Arlinda Marques (HIAM) em João Pessoa (PB).

Um roteiro de entrevista semi-estruturado foi empregado para obter as informações sobre o grau de conhecimento dos acompanhantes a respeito das plantas utilizadas antes e depois do diagnóstico clínico, da fonte de obtenção, quem as recomendou bem como do grau de conhecimento sobre riscos e benefícios desta prática.

Vale notar que durante o processo de coleta de dados, conforme os acompanhantes nomeavam as plantas que usaram com as crianças antes da hospitalização foi-lhes apresentado a foto da planta para facilitar a identificação desta e, logo após foram solicitados para trazerem uma amostra a qual foi comparada com as plantas existentes no Programa de Educação Tutorial (PET/Farmácia) da UFPB.

Os participantes foram informados sobre o objetivo e a metodologia utilizada neste estudo; em relação ao tratamento dos dados, após a coleta, os mesmos seriam organizados em freqüências relativas e absoluta, apresentados em quadros, tabelas e figuras, procedendo à discussão com a literatura pertinente e que estes seriam divulgados em periódicos científicos; no que diz respeito à participação de cada um, esta seria voluntária, com a plena liberdade em desistir da pesquisa e recusar a prestar informações durante a coleta de dados, a qual foi iniciada após parecer favorável do Comitê de Ética do Centro de Ciências da Saúde da UFPB. Desta maneira, os princípios da Resolução 196 de 1996 do Conselho Nacional de Saúde, sobre pesquisa com seres humanos, foram respeitados (Brasil, Conselho Nacional de Saúde, 1996).

O banco de dados foi montado para a análise estatística-descritiva, considerando números absolutos e relativos para justificar a maior incidência nas respostas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Analisando a figura 1, observam-se as doenças que mais acometeram as crianças foram: 1) pneumonia (26%), 2) infecções intestinais (13%), 3) anemia (8%), 4) afecções renais (7%). De maneira geral, estes dados demonstram as infecções como alto índice de morbidade, coerente com a situação da saúde na população de baixo nível sócio-econômico. Segundo Medeiros; Cabral (2000), a crescente taxa de natalidade na Região Nordeste, acompanhada de baixa renda e falta ou precárias condições sanitárias podem promover o aparecimento de doenças nas crianças como verminoses, diarréias e infecções respiratórias agudas (IRAs). Enfermidades estas, encontradas menos freqüentemente ou mais facilmente controladas quando se eleva o nível sócio-econômico da população.


Dados deste estudo revelam que 27,3% dos acompanhantes usaram plantas medicinais em suas crianças antes de procurar o serviço hospitalar. Esta prática pouco cuidadosa no uso de plantas medicinais, devido ao insuficiente conhecimento sobre o assunto ou pela idéia de que "é natural e se bem não fizer, mal não fará", pode causar efeitos indesejados como intoxicações ou ausência da resposta medicamentosa (Medeiros Filho et al., 1997). Alia-se a tudo isto o fato de que 41,7% associaram plantas com alguma medicação; estas foram do tipo planta x planta ou planta x medicamento, como se observam nos seguintes relatos:

"Usei o lambedor da cebola-branca e beterraba com um remédio de farmácia...."

"Usei um lambedor que minha mãe fez, mas não sei qual era as plantas..."

"Dei um banho com colônia e dei AAS infantil pra tratar a febre dele...."

"Eu dava chá de boldo ou de goiabeira com Imosec pra parar a diarréia...."

Estas associações são perigosas e podem trazer tanto efeitos benéficos quanto maléficos (Wong; Castro, 2003). No intuito de se prevenir intoxicações, diminuição do efeito medicamentoso esperado e, também, de melhorar a identificação da espécie responsável pelo efeito benéfico, no caso de interações planta x planta, os profissionais de saúde não recomendam esta prática.

Estudos realizados por outros autores demonstraram o uso de plantas combinadas (Amorim, 1999; Silveira; Jordão, 1992). Cunha et al., (1995), testaram e confirmaram a atividade antimicrobiana de plantas combinadas (Anadenanthrera colubrina (Vell) Brenanvar. cebil (Griseb) + Caesalpinia ferrea Mart.).

De acordo com Wong; Castro, (2003), quando drogas como digoxina, teofilina, ciclosporina, medicamentos antiretrovirais, sedativos, anticoncepcionais, dentre outras, quando são associadas com a Hypericum perforatum L., têm suas biodisponibilidades diminuídas e que ocorre indução de mania em pacientes que fazem uso de antidepressivos com o Panax ginseng C.A.Meyer .

Estudos de Ameer; Weintraub (1997), destacam que a espécie Citrus x paradisi Macf. interage com medicamentos tipo antagonistas de cálcio e benzodiazepinas (midazolam, triazolam), alterando suas biodisponibilidades. Em outro estudo desenvolvido por Henderson et al., (2000), os flavonóides de Humulus lupulus L. demonstraram forte e seletiva atividade em inibir o citocromo P450 humano, envolvido no metabolismo de drogas. A literatura sobre interações com plantas é escassa. Segundo trabalho realizado por Figueiredo et al., (2000), de 105 plantas selecionadas pelo levantamento bibliográfico, apenas 23,8% possuem dados sobre interação medicamentosa.

Dentre outros exemplos de interação temos a Lippia alba (Mill) N. E. Brown que potencializa o efeito do pentobarbital, o Eucalyptus globulus Labil que não deve ser administrado junto a sedativos, analgésicos ou anestésicos, pois podem potencializar os efeitos dos mesmos, o Persea americana Mill., que interage com a warfarina na terapia anticoagulante, diminuindo o efeito da droga.

Wong; Castro (2003) consideraram as associações como um grande problema enfrentado pelos profissionais de saúde. Como exemplo, Piper methysticum Forst que apresenta interações com diversos medicamentos, potencializando os efeitos dos benzodiazepínicos e aumentando os efeitos hepatotóxicos do álcool. Outro exemplo citado por estes autores é o Ginkgo biloba L. que pode causar hemorragias em uso concomitante com warfarina ou ácido acetilsalicílico.

Observa-se no quadro III as associações do tipo planta x planta; é prudente, sempre que possível, evitá-las.



Quadro 2



Cerca 58,4% dos profissionais da saúde não foram informados a respeito do uso de plantas medicinais em seus pacientes pediátricos, dificultando assim, a sua contribuição na avaliação dos riscos e benefícios que esta prática pode ocasionar. As transcrições citadas a seguir refletem alguns dos motivos pelos quais os acompanhantes não informaram ao profissional sobre a utilização de plantas medicinais:

"Eu não informei ao médico porque não achei importante..."

"Não informei porque ele não perguntou..."

"Não informei porque o médico não acredita..."

Segundo Oliveira et al., (1998), os profissionais de saúde têm interesse em adquirir conhecimentos sobre plantas medicinais; em um de seus estudos, 51 profissionais foram entrevistados quanto ao uso de plantas medicinais e destes, 98% concordaram que os profissionais devem conhecer melhor o uso de plantas medicinais e 68% acreditaram que a pouca utilização das plantas na terapêutica é devido à falta de conhecimento nesta área tanto do profissional de saúde quanto dos pacientes.

O quadro II evidencia as plantas mais utilizadas em crianças; muitas têm ação farmacológica comprovada cientificamente e as informações a respeito destas, com respaldo científico, podem ser de grande valia para os profissionais da saúde, podendo lhes orientar quanto ao uso correto, doses recomendadas e, principalmente, sobre contra-indicações e toxicidades, em pacientes pediátricos, inclusive.

As espécies citadas pelos entrevistados, em sua maioria, são coerentes com os dados obtidos em estudos anteriores (Medeiros Filho et al., 1997), e foram utilizadas para tratar, principalmente, dor abdominal e febre. Segundo os acompanhantes 26% das crianças foram diagnosticadas com pneumonia.

A pneumonia, geralmente causada por bactérias ou vírus, foi responsável por 26% dos internamentos. Entre os sintomas destacam-se: a febre e a dificuldade respiratória (King, 1998). Através do quadro I podem ser observadas algumas das plantas citadas antes do diagnóstico clínico, quais sejam: 1) colônia (Alpinia speciosa Schum.), 2) cebola-branca (Allium cepa L.), 3) alho (Allium sativum L.), 4) mastruz (Chenopodium ambrosioides L.), 5) hortelã-da-folha-grande (Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng.), 6) eucalipto (Eucalyptus globulus Labil) e, 7) espinho-de-cigano (Acanthospermum hispidum DC.).

A Alpinia speciosa Schum. possui propriedades hipotensoras e sedativas e deve ser usada com cautela em crianças. E pode provocar dermatite de contato em pessoas hipersensíveis, por isso o uso de vaporizador com colônia no quarto para facilitar o descongestionamento nasal é o mais indicado. O uso como antipirético é coerente com estudos realizados por outros autores (Matos, 1994; Diniz et al., 1997; Amorim, 1999; Silveira; Jordão, 1992).

Allium cepa L., possui propriedades antimicrobianas, hipolipemiante, antitrombótica, antitumoral, hipoglicemiante e antialérgica em patologia bronquial. Entre os compostos com atividade broncodilatadora destacam-se: os isotiocianatos, os quais in vitro inibem as enzimas 5-lipoxigenase e a cicloxigenase. O extrato etanólico tem demonstrado atividade broncodilatadora em humanos. A cebola poderia ser usada como coadjuvante terapêutico (Alonso, 1998; Bara;Vaneti, 1997/1998).

Allium sativum L., entre as suas propriedades terapêuticas destacam-se hipolipemiante, antiplaquetário, antitumoral e antiinfeccioso (Alonso, 1998). Quanto a sua ação antiinfecciosa apresenta algumas vantagens em relação aos antibióticos sintéticos: 1) pode ser administrado durante mais tempo sem medo de reações adversas, 2) seu emprego não resulta em cepas resistentes, 3) não afeta a flora intestinal e, 4) apresenta atividade antiviral (Alonso, 1998). O uso do alho poderia ser incentivado pelos profissionais de saúde como terapia complementar, pois crianças teriam sido beneficiadas após tratamento.

O Chenopodium ambrosioides L. apesar de ser amplamente usado na medicina popular para o tratamento de pneumonia, poderá trazer riscos às crianças, pois o óleo essencial em altas doses pode provocar náuseas, vômitos, depressão respiratória, lesões hepáticas e renais, transtornos visuais, convulsões, coma e insuficiência cardio-respiratória. É totalmente contra-indicado em crianças abaixo dos três anos (Alonso, 1998). Neste estudo constatou-se o uso numa criança de um ano e sete meses.

Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng. é a planta utilizada no combate às bronquites. No óleo essencial encontram-se o timol e carvacrol com propriedades antimicrobianas, podendo contribuir para a melhora nas patologias do trato respiratório (Matos, 1994). A mucilagem das folhas parece exercer ação protetora das mucosas inflamadas, auxiliando a expectoração. Portanto, seu uso é coerente (Carriconde et al., 1995; Matos, 1994).

A principal atividade do eucalipto (Eucalyptus globulus Labil) é no aparelho respiratório em função do óleo essencial, o qual tem demonstrado, tanto por via oral como inalatória, atividade expectorante, fluidificante e antisséptica da secreção brônquica (Simões et al.,1999). Seu composto mais ativo é o eucaliptol. Qualquer que seja a via de administração, a eliminação predominante é por via pulmonar, justificando assim seu emprego nas afecções respiratórias (Alonso, 1998). Doses altas poderão ocasionar náuseas, vômitos, hematúria, convulsões, depressão bulbar, depressão respiratória e até o coma. Em crianças asmáticas pode ocorrer um efeito paradoxal, broncoespasmo. Uma dose superior a 5 ml do óleo essencial por via interna pode ser fatal (Alonso, 1998).

As estatísticas do Hospital de Melbourne, entre 1981 a 1992, com 109 crianças intoxicadas por ingestão do óleo de eucalipto revelaram que 59% destas apresentaram sintomas preocupantes: perda da consciência (28%), sonolência (27%), vômitos (37%), ataxia (15%), e transtornos respiratórios (11%), (Alonso, 1998). Apesar de o uso coerente pelos entrevistados, esta planta só deveria ser usada sob prescrição de um profissional da área da saúde. Ela é contra-indicada em crianças abaixo dos dois anos de idade.

Acanthospermum hispidum DC é usado como broncodilatador e comercializado com o nome de asmaflora. Estudos realizados por Maciel et al., (1997), comprovaram o efeito broncodilatador, podendo ser usado como terapia complementar no tratamento de pneumonia.

O Peumus boldus Molina, possui propriedades hepatoprotetora e colerética devido ao alcalóide boldina (Schulz et al., 2001). Segundo dados da literatura, o boldo, devido à presença de alcalóides, somente deveria ser usado em crianças a partir dos seis anos de idade. Foi detectado que o óleo essencial na dose de 0,07g/k, produz convulsões em animais; portanto, não deve ser utilizado em crianças com história de convulsões (Alonso, 1998). Entre os entrevistados constatou-se o uso numa criança de dois anos.

Estudos científicos revelaram que Kalanchoe brasiliensis Camb., possui ação antiinflamatória e analgésica e efeitos contra bactérias, devido à presença de briofilina (Silva; Oliveira, 1994). Cunha et al., (1995) detectaram na Kalanchoe brasiliensis Camb., atividade bactericida e fungicida.

O extrato bruto das folhas de Lippia alba (Mill) N.E. Brown, possui componentes químicos com propriedades antiespasmódica e sedativa. Diniz et al., (1997), confirmam a ação anti-séptica da erva cidreira contra bactérias G+ que causam infecções respiratórias (Carriconde et al., 1995; Pessini et al., 2003).

Diante desses resultados conclui-se que a utilização de plantas medicinais em crianças possui riscos e benefícios que deveriam levar os profissionais de saúde a adotarem, como prática profissional, a reforçar na anamnese, a investigação de seu uso. Há dados na literatura que podem subsidiar os profissionais na relação com o paciente, referentes à utilização de plantas no tratamento de várias doenças, contribuindo cientificamente na avaliação dos riscos e benefícios desta prática. Por outro lado, sabe-se que poucos profissionais de saúde se preocupam em documentar as informações colhidas através dos pacientes.

AGRADECIMENTOS

À direção do Hospital Infantil Arlinda Marques, pela autorização concedida para a realização deste estudo. Aos acompanhantes das crianças hospitalizadas, pelas ricas e sábias informações, possibilitando-nos este estudo. A pediatra Profª. Maria do Socorro Sousa, pelas sugestões e apoio. Ao agrônomo Fernando Antônio Cavalcante Viana, pela coleta das plantas medicinais. Ao PET-Farmácia, pelo apoio recebido. Ao PIBIC/CNPq, pela bolsa concedida. Ao bacharel em Ciências da Computação Rafael Guerra Pessoa de Oliveira, pelo apoio técnico na área de informática.

Recebido em 31/03/05

Aceito em 16/08/05

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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      05 Maio 2008
    • Data do Fascículo
      Dez 2005

    Histórico

    • Aceito
      16 Ago 2005
    • Recebido
      31 Mar 2005
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