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Editorial

Editorial

Neste ano do cinquentenário de Brasília e quando o Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UnB faz 40 anos, a revista Sociedade e Estado aparece de "cara nova". Ao ampliar, alterou-se o formato e, também, a diagramação agora atende ao requisito de dispor de modo vazado os textos. Há, também, mudança das fontes e de outros recursos gráfico-visuais. O objetivo pretendido com as transformações foi tornar a leitura do nosso periódico mais confortável, claro, observando padrões e tendências que ora se desenrolam entre as publicações científicas.

O compromisso com a qualidade e a busca de se manter em sintonia com os rumos dos debates no campo das ciências sociais permanecem marcas fundamentais desta revista, já posicionada no escopo da tradição sociológica brasileira.

Estar atento a esses debates consiste em apresentar as diferentes possibilidades interpretativas sobre a complexidade mundial contemporânea. Essas correntes compõem um ponto de inflexão sobre o saber social. Como alternativas, pós-modernismo, estudos culturais, multiculturalismo, pós-colonialismo, estudos feministas, modernização reflexiva, constelações pós-nacionais, aportes liberais e outras linhas interpretativas que se dispõem interligadas no somatório dos revolvimentos do entendimento consagrado a respeito de pares centrais à teoria social. O que se tornam alvo de disputas são questões candentes e com efeitos intelectuais e políticos de ordens diferentes; questões como: homogeneização e diversidade; provincianismo e cosmopolitismo; particular e universal; eu e outro; nós e alteridade; indivíduo e sociedade; micro e macroestrutura, passado e presente etc.

Um tanto aturdidas seja pelas alterações nos mundos sociais seja pela disputa com esses novos discursos sobre o presente, as ciências sociais têm esboçado saídas reflexivas, elevando à condição de objeto do pensamento os compromissos que pautaram até hoje as suas próprias trajetórias e demarcaram limites aos seus empreendimentos intelectual-analíticos. Na sociologia, cada vez mais se insiste a respeito de alternativas que devolvam o olhar sociológico à dimensão cosmopolita. Mas os efeitos do crivo reflexivo se fazem sentir sobre a própria idéia de cosmopolitismo, acusada de eurocentrismo, já que estariam os discursos dos clássicos sociológicos embasados na tônica universalista herdada do Iluminismo europeu do século XVIII. Da mesma maneira como a idéia de particularidade é descortinada em sua aliança com a matriz romântica.

Inserida nessa atmosfera, a discussão sobre a complexidade das tramas sócio-humanas reabre debates acerca de questões permanentes na teoria sociológica, à maneira de: objetividade, subjetividade; ação e estrutura; vontade e norma; liberdade e determinação; razão e história; natureza e cultura; sistema e cotidiano e outros. Algo assim se faz na medida mesma em que intervêm aspectos que excedem a cumplicidade culturalista estabelecida entre as perspectivas desconstrucionista e construtivista, as que têm predominado nesse mesmo domínio cognitivo e epistêmico, nas últimas décadas. Isto porque são introduzidos dilemas conceituais e de análise no tocante às interfaces entre o humano e o não humano, o natural e o artificial, no compasso seja da ampliação da semântica da subjetividade seja do descentramento do conhecimento em relação ao primado antropológico a favor de uma concepção cósmica ou, ainda, dos entrecruzamentos de fenômenos sócio-humanos e biológicos quando adquire relevância de objeto de estudo sociológico temas como os do afeto e da emoção.

Os artigos que o compõe as páginas deste primeiro volume do número 25, da coleção que agora completa 23 anos, justamente, indicam outros ajustes nesse panorama da produção sócio-antropológica contemporânea, no instante em que se atêm tanto aos remanejamentos em curso no plano teórico como às alternativas de abordagem insurgentes dispostas na contrapartida da ascensão de um leque novo de objetos de conhecimento.

Assim, em "A teoria sociológica contemporânea. Da superdeterminação pela teoria à historicidade", de Paulo César Alves (UFBA), argumenta-se sobre a relevância adquirida entre as propostas teóricas nas ciências sociais, nas últimas três décadas, dos modelos analíticos e interpretativos com acento na historicidade. Para o autor, uma das características da adoção desses modelos é a redefinição no entendimento da ação humana, já que esta é reconhecida em sua inscrição no mundo social e físico, ao mesmo tempo, dotada da possibilidade de transcender ambas as dimensões.

"Entre tapas e beijos: A favela turística na perspectiva de seus moradores", de Bianca Freire-Medeiros (FGV-RJ), mergulha no universo opinativo dos moradores da favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, com vista a compreender como eles representam a transformação da localidade em um endereço turístico.

Ao tomar por objeto um conjunto de decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o Benefício de Prestação Continuado, no artigo "O Benefício de Prestação Continuada no Supremo Tribunal Federal" Janaina Penalva, Débora Diniz e Marcelo Medeiros (UnB) colocam em questão o critério do recorte de renda como critério para elegibilidade do benefício.

Com o propósito de formular um modelo analítico de síntese, em "Integrando abordagens da economia e da sociologia em análises da produção tecnológica", de Cristiane Vianna Roeun e Léa Velho (Unicamp), a observação dos limites impostos por um e outro campo disciplinar, no que toca ao objeto em questão, tem por contrapartida o esforço de unificar o enfoque da economia evolucionária com aqueles da construção social da tecnologia e da teoria do ator-rede.

Em "Empreendedorismo high-tech no Brasil: Condicionantes econômicos, políticos e culturais", Sonia Guimarães e Lucas Azambuja (UFRGS) apostam em uma abordagem multidimensional para observar como as correlações entre os planos micro e macrossociológicos, mediante as vertentes culturais, institucionais, cognitivas e econômicas, informam um tipo de "mudança cultural" manifesto no comportamento dos profissionais com alta qualificação, os quais frustram as expectativas mercadológicas no tocante ao deveriam ser os seus objetivos.

Edson Farias e Maria Eloisa Martin

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    25 Mar 2011
  • Data do Fascículo
    Abr 2010
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