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Os novos atores jihadistas* * Tradução: José Geraldo de Oliveira Almeida.

The new Jihadist actors

Resumo

O jihadismo trouxe novos atores para o cenário mundial, particularmente no Ocidente. Estes novos atores estão surgindo em quase todo o mundo, exceto no subcontinente latino-americano, em alguns países pequenos e no Japão. Com a fundação do Estado Islâmico, a multiplicação de atores jihadistas aconteceu de maneira quantitativa e qualitativa: começou com algumas centenas e já passam de cinco mil na Europa, ampliando ainda a faixa etária dos recrutados.

Em uma amostra de 1.200 indivíduos - que, entre 2012 e 2015, partiram de países ocidentais para a Síria e o Iraque -, observou-se que 14% deles tinham menos de 18 anos, 27% entre 18 e 21 anos, 26% entre 22 e 25 anos, 17% entre 26 e 29, 9% entre 30 e 35 e 7% 36 anos ou mais. Se classificarmos como “jovens” o grupo etário dos 14 aos 25 anos de idade, eles representam 67% do total, mais de dois terços.

Palavras-chave:
Jihadismo; Muçulmanos europeus; Jovens de origem imigrante; Sociedade ocidental; Estado Islâmico

Abstract

Jihadism brought new actors to the world stage and particularly to the West. These new actors are emerging almost everywhere in the world, except on the Latin American subcontinent, in several small countries, and in Japan. With the arrival of the IE (Islamic State), the multiplication of jihadist actors took place in a quantitative and qualitative way: it started with a few hundred and has already surpassed five thousand in Europe, encompassing new age groups as well.

In a sample of 1,200 individuals who moved from Western countries to Syria and Iraq between 2012 and 2015, 14% are under the age of 18, 27% are between 18 and 21, 26% are between 22 and 25, 17% between 26 and 29, 9% between 30 and 35 and 7% are 36 years-old or above. If we classify as "youth" the age group from 14 to 25 years of age, they represent 67%, or more than two-thirds of the total.

Keywords:
Jihadism; European muslims; Young people of immigrant origin; Western society; Islamic State

Os três tipos de atores jihadistas

Podemos distinguir, de acordo com as classes sociais, três tipos de atores jihadistas:

  • □ Jovens de origem imigrante, do tipo “periférico”, que vivem em bairros marginalizados, onde predomina uma grande pobreza em comparação a outros bairros, com elevadas taxas de abandono escolar e delinquência.

  • □ Jovens de origem imigrante, das classes média baixa ou média média, que sofrem o não reconhecimento pela sociedade e os preconceitos sociais a eles voltados. Para esses jovens, o acesso às classes médias não põe fim aos preconceitos sociais relacionados à sua origem imigrante.

  • □ Jovens da classe média que se identificam com os muçulmanos que sofrem no Oriente Médio e que estão à procura de uma comunidade acolhedora que lhes ofereça uma filiação ao islamismo radical.

Esses três tipos de jovens são distintos em sua origem social e étnica, mas todos sentem o mesmo mal-estar em relação à ausência de utopia mobilizadora na sociedade, o mesmo medo de um futuro sem certeza de permanecer nas classes médias e o mesmo receio da proletarização.

Muçulmanos europeus e sua integração social em questão

O jihadismo retoma a questão, entusiasticamente debatida na Europa, sobre a integração dos muçulmanos. Este é um problema complexo que não pode ser abordado de forma dicotômica, pela afirmação ou pela negação. A verdadeira questão é a qualidade da convivência: de um lado, observa-se um sentimento de alienação por parte dos muçulmanos (discriminação, islamofobia, estigmatização); do outro, existe, por parte dos demais cidadãos, a sensação de que os muçulmanos estão “apartados” e não reconhecem as características básicas da convivência democrática.

Numerosos estudos na França, Inglaterra, Alemanha e em outros países europeus mostraram que com qualificações iguais, um “Mohamed” não tem a mesma probabilidade de ser contratado e, principalmente, a mesma possibilidade de encontrar o mesmo tipo de trabalho que um “Robert”. Na França, a discriminação no trabalho faz com que “Robert” tenha de três a cinco vezes mais probabilidade de encontrar um emprego do que o “Mohamed” (Adida, Laitin & Valfort, 2013ADIDA, Claire; LAITIN, David; VALFORT, Marie-Anne. Mesurer la discrimination. Apports de l’économie expérimentale, 2013. Disponível em: < http://www.laviedesidees.fr/IMG/pdf/20130503_valfort_hortefeux.pdf>.
http://www.laviedesidees.fr/IMG/pdf/2013...
; Valfort, 2015; El Karoui, 2016). Esse fenômeno já havia sido anteriormente percebido e analisado por Philippe Bataille (1997BATAILLE, Philippe. Le racisme au travail. Paris: La Découverte, 1997.), que acrescentava: tendo qualificação igual, os jovens de origem imigrante devem se contentar com empregos de salários menores e posições hierárquicas mais modestas que seus homólogos franceses de origem não imigrante. É justamente por isso que os primeiros estão recorrendo à administração penitenciária, à polícia e ao exército, instituições no âmbito das quais o exame de admissão tem um caráter anônimo, pelo menos na prova escrita. No exército francês, em 2005, entre 10 e 20% do efetivo da tropa eram de origem magrebina (Bertossi & Wenden, 2007BERTOSSI, Christophe; WENDEN, Catherine Wihtol de. Les couleurs du drapeau: l’Armée Française face aux discriminations. Paris: Robert Laffont, 2007.).

Da mesma forma, na Inglaterra, os dados disponíveis revelam a grande lacuna que separa os muçulmanos dos demais. A discriminação no emprego aumentou na última década (Dugan, 2014DUGAN, Emily. Britain’s hidden racism: workplace inequality has grown in the last decade. The Independent Online, 03 Dec. 2014.). De acordo com pesquisa da Universidade de Manchester (Centre on Dynamics of Ethnicity, 2014), os postulantes a um posto de trabalho muçulmanos tinham menos de uma em três chances de conseguir um emprego semelhante ao de um inglês cristão da mesma idade e com as mesmas qualificações (Dobson, 2014DOBSON, Roger. British Muslims face worst job discrimination of any minority group, according to research. The Independent Online, 30 Nov. 2014.).

Além disso, o fato de estar na universidade ou mesmo de ter um emprego (para um jovem de origem imigrante, o emprego é subqualificado em comparação ao emprego dos “brancos”) não significa necessariamente o fim da frustração. Numerosos jovens de origem norte-africana na França e do subcontinente indiano na Inglaterra sofrem discriminação, sejam eles de classe baixa ou média.

Da mesma forma, na prisão, a proporção de muçulmanos é muito maior que na sociedade: na Grã-Bretanha, os prisioneiros muçulmanos apresentam uma quantidade três vezes superior1 1 . Dados baseados em estatísticas carcerárias na Grã-Bretanha. Para um resumo, ver The Independent, 28 Mar. 2014: “Number of Muslims in prison doubles in decade to 12.000”. , representam 4,7% da população do país e 15% da população carcerária (Allen & Dempsey, 2016ALLEN, Grahame; DEMPSEY, Noel. Prison population. Statistics. House of Commons Library, n. SN/SG/04334, Jul. 2016.). Também na França, sua taxa de encarceramento é provavelmente de quatro a cinco vezes superior à sua representação na sociedade (Beckford, Joly & Khosrokhavar, 2006---- . Le Jihadisme et la mort. In: WIEVIORKA, Michel (Dir.). Disposer de la vie... Disposer de la mort, p. 139-147. “Les entretiens d'Auxerre”. La Tour d’Aigues (FR): Éditions de l’Aube, 2006.; Khosrokhavar, 2004; 2016). Em outros países europeus encontramos índices semelhantes.

Em sua subjetividade, esses prisioneiros muçulmanos frequentemente nutrem um sentimento de forte alienação em relação à sociedade global, não apenas por terem sido aprisionados, mas por serem precisamente muçulmanos. Com isso, certificam-se de forma implícita na Inglaterra, ou explícita na França, da islamofobia.

Por outro lado, devemos também observar o autoenclausuramento dos muçulmanos em diferentes países europeus. Aqueles que manifestam o “fundamentalismo” levantam a questão da fidelidade política e da identificação cultural ao país adotado. Em uma pesquisa com amostra representativa de muçulmanos de 20162 2 . ICM Research for the Channel 4 documentary: “What British Muslims really think”, transmitido em 13 Abr. 2016. , conclui-se que a comunidade muçulmana teria se tornado uma verdadeira “nação apartada da própria nação” na Inglaterra, relançando o debate sobre as políticas multiculturalistas e o seu fracasso em promover a integração. A pesquisa revela que apenas um em cada três muçulmanos entraria em contato com a polícia se percebesse que um parente estivesse envolvido com o islamismo radical; que 23% dos muçulmanos ingleses acreditam que a Xaria (a lei canônica islâmica) deveria substituir a lei inglesa nas regiões do Reino Unido com grande efetivo de população muçulmana; que 52% dos muçulmanos rejeitam a homossexualidade e gostariam que fosse declarada ilegal (em comparação aos 22% dos ingleses não muçulmanos). Além disso, esse mesmo estudo revela que 31% dos muçulmanos britânicos consideram que a poligamia deveria ser legalizada; 35% julgam que os judeus têm demasiado poder na Grã-Bretanha, em comparação aos 8% entre os não muçulmanos.

Há, portanto, uma dupla alienação: os muçulmanos sentem-se frustrados em um país onde o preconceito social torna ilusória a igualdade de oportunidades em relação ao emprego (encontramos o mesmo sentimento na França); bem como os ingleses não muçulmanos, por sua vez, sentem-se desconcertados por uma parcela significativa dos muçulmanos que têm ideias e atitudes distantes das suas em relação à cidadania, ao respeito pela lei e à igualdade entre mulheres e homens.

Esse fenômeno também é observado na Alemanha. Em pesquisa realizada em 20163 3 . Datenreport 2016: Social Report for the Federal Republic of Germany. , 7% dos entrevistados muçulmanos acreditavam que a violência era justificada e que o Jihad seria um método aceitável para difundir a cultura islâmica. Ao mesmo tempo, 36% (mais de um terço) dos alemães de origem turca vivem abaixo da linha da pobreza. Quase a metade acredita que é mais importante seguir a lei islâmica do que a lei alemã no caso de um conflito entre as duas. Um estudo realizado pela Universidade de Wilhelms, de Münster, em 2016 (Pollack et alii, 2016POLLACK, Detlef; MÜLLER, Olaf; ROSTA, Gergely; DIELER, Anna. Integration und Religion aus der Sicht von Türkeistämmigen in Deutschland. Switzerland: Springer, 2016.), revelou os seguintes fatos:

  • □ 47% dos entrevistados afirmam a crença religiosa como mais importante do que a lei do país onde residem (57% são de primeira geração, 36% de segunda e terceira gerações);

  • □ 50% acreditam que existe apenas uma religião verdadeira, o islã (54% são de primeira geração, 46% de segunda);

  • □ 36% proclamam que somente o islã é capaz de resolver os problemas de nosso tempo (opinião compartilhada por 40% de primeira geração, 33% de segunda e terceira gerações);

  • □ 20% dos entrevistados anunciam que a ameaça representada pelo Ocidente para o islã justifica a violência (25% de primeira geração, 15% de segunda e terceira gerações);

  • □ 33% acreditam que as mulheres devem usar o véu (39% de primeira geração, 27% de segunda e terceira gerações);

  • □ 51% asseguram que, sendo cidadãos alemães de origem turca, são “cidadãos de segunda classe”; e, por fim

  • □ 54% testemunham que independentemente do que façam, não são aceitos como membros plenos da sociedade alemã.

Este questionário apresenta dois aspectos que resumem a situação dos jovens de origem imigrante em grande parte dos países europeus: por um lado, são rejeitados como cidadãos, por outro, parte significativa deles apresenta ideias e modelos de comportamento que contribuem para marginalizá-los e identificá-los como não cidadãos.

Na Bélgica, os muçulmanos representam 7% da população, com 782 mil praticantes (Guiterrez, 2016GUITERREZ, Riccardo. 781.887 musulmans vivent en Belgique: découvrez la carte, commune par commune. Sudinfo, 2016. Disponível em: <https://www.turkaramamotoru.com/en/islam-in-belgium-366156.html>.
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). Sua forte concentração na região de Bruxelas, onde constituem pouco menos do quarto da população bruxelense (23,6%), cria a fantasia de uma “Eurábia”, uma Bélgica invadida por muçulmanos4 4 . Ver: <http://www.sudinfo.be/1580627/article/2016-05-24/781887-musulmans-vivent-en-belgique-decouvrez-la-carte-commune-par-commune>. .

Uma pesquisa realizada no início de 2017 revela que para 29% dos muçulmanos belgas, as leis do islã são superiores às leis belgas. Quase um terço não gosta dos costumes ocidentais, preferindo um sistema político “inspirado” pelo Alcorão5 5 . Programa de televisão “Noir, jaune blues”, Le Soir, La Radio-Télévision Belge de la Communauté Française (RTBF). . Outra pesquisa (Torrekens & Adam, 2015TORREKENS, Corinne; ADAM, Ilke (Dirs.). Belgo-Marocains, Belgo-Turcs : (auto)portrait de nos concitoyens. Bruxelles: Fondation Roi Baudoin, Maio 2015.) revelou que os muçulmanos das segunda e terceira gerações sentem-se mais marroquinos do que belgas (em particular devido à não atribuição de fato da nacionalidade belga pela opinião pública), pois dispõem frequentemente de menos postos de trabalho e se consideram discriminados, mesmo quando providos de um diploma de ensino superior.

O caso francês assemelha-se, com algumas diferenças, aos da Alemanha, Inglaterra e Bélgica. Segundo um estudo do Instituto Montaigne (El Karoui, 2016), 28% dos muçulmanos na França acreditam que a Xaria prevalece sobre as leis da República; para 60% dos entrevistados, as meninas deveriam poder usar o véu na escola (58% dos homens e 70% das mulheres são a favor do uso do véu); para 48%, deveriam poder afirmar sua identidade religiosa no trabalho.

Essas duas constatações parecem ser amplamente compartilhadas na Europa: por um lado, os muçulmanos não podem ser verdadeiros cidadãos por causa de sua visão de mundo e de seu comportamento; por outro lado, para os muçulmanos, a discriminação no trabalho e no espaço público (abordagens para revista policial na França, Grã-Bretanha6 6 . Divya Talwar, na reportagem “Under-18 terror detainments triple in two years”, BBC, 26 Ago. 2016. O Terrorismact (lei do Terrorismo) permite deter simplesmente por suspeita um indivíduo que esteja passando por uma das fronteiras (marítima, aérea ...) e de interrogá-lo por seis horas: os “Asian” ou “Asian British” (de origem paquistanesa, bengali, indiana) têm seis vezes mais probabilidade de serem presos do que os “brancos”. e em outros países) torna impossível uma real cidadania (Torrekens & Adam, 2015TORREKENS, Corinne; ADAM, Ilke (Dirs.). Belgo-Marocains, Belgo-Turcs : (auto)portrait de nos concitoyens. Bruxelles: Fondation Roi Baudoin, Maio 2015.). Essa dupla constatação dificulta a luta contra o jihadismo no espaço europeu. Sem dúvida, o muçulmano europeu anônimo não tem simpatia pelos jihadistas, mas, ao mesmo tempo, tampouco revela o sentimento de forte pertencimento à sociedade para denunciá-los ou intervir ativamente no sentido de impedir suas ações. Algumas vezes, a humilhação que o muçulmano sofre, torna o jihadismo uma punição mais ou menos merecida pela população “branca”, mesmo que os danos atinjam também os muçulmanos anônimos, que sofrem ataques indiscriminados tanto quanto os não muçulmanos e são alvo de uma islamofobia que é aumentada após cada ataque.

Ademais, se um quarto da população muçulmana está aderindo às diferentes formas de fundamentalismo, pode-se argumentar com facilidade que 75% dos muçulmanos estão mais próximos dos outros europeus e estão se movendo em direção à secularização. A questão da integração do islã no cenário europeu ainda continua pendente, principalmente porque os não muçulmanos atribuem aos muçulmanos a responsabilidade pela radicalização de uma ínfima minoria, superestimando muito a solidariedade e a coesão entre os diferentes grupos muçulmanos.

Os jovens

Os “jovens” - principalmente os jovens entre 15 e 30 anos e que expressam um sentimento de repulsa, de não participação na sociedade, bem como de profunda estigmatização - formam o exército reserva de jihadistas. Sua adesão ao jihadismo é reflexo da crise das sociedades europeias. Isso pode ser constatado ao se comparar os “feitos” de algumas personalidades: Amedy Coulibaly matou cinco pessoas entre 7 e 9 de janeiro de 2015; Adel Kermiche assassinou, no dia 26 julho de 2016, o padre Jacques Hamel; e, por fim, o norueguês Anders Breivik, que, em 22 julho de 2011, matou 77 pessoas e deixou 151 feridas. Este último assassinou compatriotas para conscientizar os noruegueses sobre o perigo islâmico, em nome da civilização europeia e de seus valores cristãos.

Nos três casos, a exaltação da violência aparece em nome de valores “sagrados”, um narcisismo exacerbado, o “eu” sendo vivenciado como depositário de valores sagrados, que não se deixa enganar, para quem, a realização de seu ideal justifica o recurso à violência extrema; uma total rejeição da situação atual em nome de um futuro exaltado e magnificado; o foco no papel do guerreiro em contraste com o dominante “não violento” da sociedade global.

A guerra civil na Síria e o humanitário guerreiro

Jovens ocidentais, em sua grande maioria europeus, têm se envolvido na guerra civil da Síria iniciada 2013. Uma das razões levantadas é a questão humanitária. Em verdade, a situação desesperada da Síria, onde o movimento de protesto terminou em um banho de sangue pelo regime de Assad e pelos atores geopolíticos da região (Irã, Rússia, Arábia Saudita, Emirados Árabes, Estados Unidos), levou jovens muçulmanos ou convertidos de classe média a posicionar-se pelas vítimas. Nesta primeira onda de 2012-2013, a dimensão jihadista é mais marginal. É apenas com a entrada em cena do Estado Islâmico que o processo de ideologização começa a ser implementado, já no segundo semestre de 2013.

As aspirações desses jovens são múltiplas. Uma primeira categoria não tem mais confiança em seu futuro na sociedade ocidental, onde não há sombra de estabilidade (o status de trabalho, família, proteção social, o bem-estar social, a distinção entre homem e mulher etc.). A segunda categoria já está “cansada” da paz que reina na Europa Ocidental desde o final da Segunda Guerra Mundial - a guerra exalta uma vontade de viver de natureza nietzschiana, vontade de potência que já não satisfaz o status quo da vida cotidiana, principalmente na Europa. Um Ocidente sem utopias, à procura de emoções fortes que incendeiem a morosidade da vida cotidiana e introduzam um estímulo na forma de exaltação guerreira e de heroísmo viril. Uma segunda categoria agrega grande parte dos jovens de classe média desprovida de certezas quanto ao seu futuro. Prevalece entre eles a impressão de que a efervescência festiva da guerra e a vida intensificada do presente levam a esquecer os riscos do futuro e gera um momento de jovialidade geral que ofusca a fronteira entre a vida e a morte, o possível e o impossível, o previsível e o imprevisível. Os jovens, portanto, exorcizam a angústia de um futuro arriscado e sem uma perspectiva garantida de progresso individual e coletivo.

A guerra corresponde à constituição do “eu” como herói. Esse heroísmo rompe com a insignificância em que nos encontramos e que, em um Ocidente pacífico, cria uma espera interminável para encontrar um emprego cada vez menos estável dentro de famílias desestabilizadas por meio século de feminismo, mas também pela necessidade de trabalhar, tanto a mulher quanto o homem, no seio da classe média que se encontra em pleno processo de empobrecimento relativo. A possibilidade de curto-circuito nessa longa e desesperada espera é proporcionada pela guerra em que o jovem pode ser excepcional e cumprir seu papel de forma a colocar-se quase prontamente frente aos demais. Tornar-se um guerreiro é uma oportunidade de sair das fileiras sem manipular as regras e trapacear no jogo, é tornar-se superior ao participar da prova de confronto com a morte. É uma nova dialética, diferente daquela proposta por Hegel ao contrapor o senhor e o escravo - no âmbito da qual a simples ameaça de morte é suficiente. Agora, o confronto com a morte abre a perspectiva de um futuro glorioso, passada a provação imposta pela Xaria determinada por um certo jihadismo e a ideia de que este mesmo Estado Islâmico deve perdurar até o final dos tempos. Para esses atores jovens, e muitas vezes ingênuos, a imaginação desenfreada leva a enxergar apenas o lado radiante de um islamismo utópico.

Para muitos desses jovens, a morte se torna um modo de reconhecimento de superioridade, satisfazendo seu narcisismo por essa capacidade que os demais - apegados à vida, com medo e temor da morte - não manifestam. Parte dos jovens de classe média que se envolvem neste jogo - e que é minoria - vai até o fim da lógica: eles aceitam o risco da morte para alcançar um ideal de autoglorificação e quebrar a lógica de insignificância e desindividualização das sociedades europeias, onde a oportunidade de brilhar e de se “realizar” torna-se cada vez mais ilusória. Por outro lado, a individuação atingiu seus limites. O indivíduo globalizado deve suportar muitos aspectos de sua vida social, emocional, econômica e cultural que o esmagam sob seu peso; todas as dimensões negativas da liberdade que o conduz à solidão e à depressão na atomização de sua existência. Já as dimensões positivas - escolher o próprio trabalho, viver em estabilidade econômica, valer-se de seu direito aos benefícios do bem-estar social - estão todas se dissipando. A exposição à prova da morte sagrada, na exaltação desta mise-en-scène de combate, cria uma nova situação que supera a falta de autoestima e permite o acesso a uma aceitação laudatória de si mesmo.

A juventude não afiliada de origem imigrante

O jihadismo não se reduz a jovens de origem imigrante - seja na França, Inglaterra, Alemanha ou em outros países ocidentais -, mas aos jovens muçulmanos de origem imigrante, da primeira à terceira geração, vivendo principalmente em bairros marginalizados e periféricos das grandes cidades. São os atores mais numerosos do jihadismo na Europa, assim como jovens da Somália nos Estados Unidos e indivíduos de origem libanesa na Austrália. Por quê?

Analisemos um caso. Karim, Adil e Rabi foram os primeiros a deixar Lunel, uma cidade no norte do Hérault, departamento do Languedoc-Roussillon ao sudoeste da França, com 27 mil habitantes, no final de 2013. Desde então, mais de 20 jovens seguiram o exemplo. Sete já estão mortos, incluindo Karim.

Já Hamza vive perto da loja dos irmãos Karim e Saad, localizada em Lunel. Os dois amigos passam longas horas falando sobre os conflitos no Oriente Médio, sinais que anunciam o fim dos tempos no islã e dos males da sociedade francesa. Para os entrevistadores, afirmam:

Eu obtive um diploma superior de técnico em contabilidade e, ao final do curso, todos os franceses “de berço” conseguiram arrumar um “trampo” e nós, os dois únicos árabes da classe, não conseguimos uma colocação [...]. Na França, na cabeça do cliente, quando é para o trabalho manual, os árabes são chamados, aí não tem problema...

O sentimento de ser um francês de segunda classe, exposto a preconceitos sociais, e de não ter as mesmas oportunidades do que os demais franceses é amplamente compartilhado e evidencia uma realidade que as pesquisas empíricas dos sociólogos confirmam amplamente em quase em toda a Europa.

Para tirar Karim da rotina, Hamza acionou, desde de Lunel, a rede de Johan Juncaj, um albanês que mora perto de Mourad Farès, um dos principais recrutadores da Jihad francesa, atualmente preso. Antes de ser formalmente identificado pelos serviços de inteligência interna e externa, Mourad Farès e Johan Juncaj cuidavam de páginas do Facebook fazendo a apologia à Guerra Santa.

Este modelo está baseado na reversão da humilhação por meio de uma contra-humilhação radical. Ao humilharem aqueles que o humilham, realizam o sonho de muitos jovens que sentem - ou sentiram - que sua vida está destruída pela atitude arrogante de uma sociedade que os enxerga como subumanos.

Na Europa, a grande maioria dos jovens recrutada sob a bandeira do Estado Islâmico (e mais raramente, em redes como Jibhat al Nusra, representando a al-Qaïda) pertence à “juventude não afiliada” (Castel, 2007CASTEL, Robert. La discrimination négative. Citoyens ou indigènes. Paris: Les Éditions du Seuil, 2007.), na literatura anglo-saxônica denominada disaffectedyouth. Sua visão de sociedade é marcada pelo ódio relacionado à sua condição social: sentem-se marginalizados, excluídos, rejeitados, tratados como menos do que nada, estigmatizados como cidadãos de segunda classe e reduzidos à infra-humanidade. Esta autoimagem, que é a de muitos jovens do sexo masculino (não se aplica às meninas), moradores dos subúrbios das grandes cidades da França e dos bairros marginalizados de toda a Europa, torna a compreensão do ideário democrático republicano disseminado impossível.

A maioria esmagadora dessa “juventude não afiliada” não vota ou participa das eleições pois, segundo eles, independentemente do resultado, serão deixados para trás e nenhuma mudança perceptível em sua situação ocorrerá. A única solução viável é “trapacear” no sistema e mergulhar na economia subterrânea (tráfico, drogas, furto, assalto). A violência torna-se a única maneira de recusar o jogo de “paciência”: recusam-se a começar com trabalhos sub-remunerados para terminar, como seus pais, com uma aposentadoria insignificante, sinônimo da indignidade. Querem acesso imediato ao status de classe média. Encontram-se em uma situação de “nem uma coisa, nem outra”, que gera rancor e o sentimento de “não pertencimento” duplo: nem “árabe”, nem “francês”; no país de origem de seus pais, são considerados “franceses sujos”, infames; na França são considerados “árabes sujos”, também infames. A identidade delinquente é tanto um incentivo à vida da classe média, à qual seus pais tiveram o acesso negado, como uma provocação de uma sociedade que os trata como “menos do que nada”.

O sentimento intenso de indignação internalizada e a busca por uma existência reativa ao status quo fazem com que esses jovens não busquem o “reconhecimento legítimo” - que julgam inacessível -, mas o “reconhecimento ilegítimo”. O “herói negativo” jihadista tenta, deste modo, ser reconhecido como estrela do extremismo islâmico em uma negatividade que é desejada e assumida e até mesmo reivindicada em relação a uma sociedade que ele odeia (“ódio”, como categoria antropológica, é neste caso determinante).

O reconhecimento que o jihadista busca é invertido: já que não pode ser reconhecido pela prática do bem, deve ser distinguido pelo mal que perpetra, inspirando o medo em vez da admiração e ser percebido pelo excesso que denota a vontade de ampliar o afastamento em relação às normas dominantes daqueles que justamente lhes negam o acesso à plena cidadania.

A periferia é o lugar dos excessos ilegais para esses jovens: desde a pré-adolescência, tomam por modelo aqueles que “conseguiram se dar bem na vida”, exibindo carros SUVs e usando tênis de marca. O ideal masculino na subcultura da periferia consiste em cultivar uma imagem de ostentação de riqueza e sua capacidade de “esbanjar” dinheiro.

A transferência dessa identidade da delinquência para o jihadismo requer alguns ajustes, porém também preserva algumas características constantes, tal como a natureza narcisista do ego: “exibem”-se “torrando” dinheiro e fazendo “roncar” o carro possante, muitas vezes roubado, que em seguida é incendiado para fazer desaparecer os vestígios do roubo; ao se tornarem jihadista, “exibem”-se executando os infiéis e aparecendo em vídeos publicados nas redes sociais - como fez, por exemplo, Larossi Abdalla, o assassino do policial e de sua companheira, em Magnanville, a noroeste de Paris, no dia 13 de junho de 2016. Abdalla realizou um vídeo selfie e o transmitiu pelo Facebook. Ou ainda como tentou fazer Mohamed Merah, que se filmou no ato mesmo do assassinato dos soldados muçulmanos e de um pai judeu com seus filhos, enviando as imagens para o canal Aljazeera, do Catar.

O jihadista da periferia coloca suas aspirações em um registro religioso que lhe restitui a dignidade perdida. Torna-se um cavaleiro da fé e sacia sua necessidade de autoafirmação. Não busca, de seu ponto de vista, o desvio por motivos “egoístas”, mas por sua crença em um islamismo que todos deveriam compartilhar e que eleva a reivindicação à universalidade, rivalizando com o universal laico republicano, que simplesmente odeia. O jihadismo introduz orgulho nos jovens que acreditam que só podem recuperar a dignidade transgredindo as normas existentes. Há uma divisão que não se encontra na juventude da classe média, uma forma de esquizoidia relacionada à sua situação de jovem excluído e incompreendido, tanto na sociedade que o viu nascer, quanto na sociedade de onde vieram seus pais.

Em doze casos de jihadistas analisados por psiquiatras, encontramos os seguintes elementos: a maioria não conseguiu terminar o ensino médio; nenhum seguiu uma carreira profissional; estão todos em uma condição financeira instável e precária; sentem-se assolados pelo vazio; ir para a Síria e engajar-se representa uma ruptura com essa vida cotidiana sem atrativos (Bazex & Mensat, 2016BAZEX, Hélène; MENSAT, Jean-Yves. Qui sont les Jihadistes français ? Analyse de 12 cas pour contribuer à l’élaboration de profils et à l’évaluation du risque de passage à l’acte. Paris: Elsevier Masson, 2016.). Essas características juntam-se àquelas dos demais jovens excluídos, sem perspectiva econômica e social, lançados em um mundo que oferece uma vida sem horizonte.

A dupla vitimização

Um novo fato parece ter sido encontrado nos bairros segregados de toda a Europa: a primeira geração acreditava na integração, a segunda está desapontada e a terceira parece ainda mais “desnacionalizada”, propensa mesmo ao fundamentalismo islâmico mais radical.

Nos espaços urbanos confinados e enclausurados - que chamamos de “bairros periferizados” - a distância social está se ampliando de forma agora intransponível entre esses jovens da terceira geração e a sociedade. A segunda geração vive o profundo mal-estar pelo não acesso à cidadania esperada. O recurso ao jihadismo é o sintoma desse mal em muitos países. A terceira geração, nem sequer precisa desse tipo de manobra para afirmar seu rancor. Os jovens se sentem “cartas fora do baralho”, “alheios à nação”, em outro mundo.

Trata-se de um universo remodelado que está rompendo com a sociedade global e que usa o islã para expressar sua ruptura: não se serve álcool nos cafés, não há meninas ou mulheres nesses espaços sociais exclusivamente masculinos, os supermercados e açougues disponibilizam alimentos halal, não há mulheres sem véu ou burca... É menos pelo islã do que pela vontade de lutar contra a sociedade laica que é evidenciada nesses bairros a obediência rigorosa aos preceitos prescritos, que, se não é seguida espiritualmente por grande parte dos jovens, traduz o desejo de viver uma diferença capaz de provocar um princípio da identidade.

É justamente o que Fethi Benslama (2016BENSLAMA, Fethi. Un furieux désir de sacrifice. Le surmusulman. Paris, Les Éditions du Seuil, 2016.) chama de “super-muçulmano”, que constrói um islã imaginário, em grande parte inventado para as necessidades de um mal-estar identitário. Não é o islã tradicional, mas o islã da ilegalidade, do desvio islâmico, do roubo islâmico, assim como do desafio islâmico. Tudo o que é proibido no islã tradicional é reinterpretado e revisitado por uma atitude de ruptura simbólica com a sociedade em nome de uma “pureza islâmica” que supostamente o autoriza a combater os descrentes justamente a partir do tráfico de droga, do roubo, da violência...

Este fenômeno é muito mais acentuado nas sociedades onde a laicidade prevalece, como na França (e em menor medida, na Bélgica), do que na Alemanha ou na Inglaterra, mesmo em um bairro fechado onde está comprovado que vem se desenvolvendo uma atitude desafiadora em nome do islã. Assim, encontramos esse enclaustramento tanto em Molenbeek (Bruxelas) como em Mirail (Toulouse): da segunda à terceira geração, o fosso identitário tornou-se intransponível entre os “muçulmanos” e os “brancos”. A transformação dos bairros em guetos anda de mãos dadas com a autoafirmação dos novos atores jovens em sua diferença irredutível com a sociedade externa.

Anteriormente, comentários degradantes sobre “árabes”, ou “paquistaneses”, ou “marroquinos” (na Bélgica), ou “turcos” (na Alemanha) eram considerados inapropriados, condenáveis e até mesmo indecentes. Atualmente, a visão da extrema direita, cada vez mais difundida, denuncia “o árabe”, “o turco” ou o “asiático” como a “ralé” ou a plebe que não pode ser integrada à sociedade, um tipo de endurecimento em resposta aos integrantes das terceiras gerações nesses novos bairros dos subúrbios transformados em verdadeiros guetos.

Portanto, a radicalização ocorre de parte a parte e o projeto de integração é posto novamente em questão, pelo menos neste segmento da população que vive em áreas mais ou menos fechadas, denunciado pelas pequenas classes médias “brancas” como um desatino, ou mesmo uma calamidade. As observações ultrajantes, de ambos os lados, não são mais a exceção, tornaram-se corriqueiras e banais.

Outros fenômenos devem ainda ser observados nesse processo de ruptura mental e social dos “jovens”, de um lado, e da opinião pública em desordem, do outro. No caso da França, por exemplo, o contencioso argelino (a sangrenta Guerra de Independência dos anos 1950/1960 e o traslado de importante contingente populacional de origem argelina para a França, logo após a guerra) é fundamentado em um duplo sentimento de vitimização, duas gerações depois.

Do lado “francês”, o caso argelino é estendido no plano imaginário aos outros norte-africanos (“os árabes”) que expulsaram os franceses e, na sequência, foram morar justamente onde moram aqueles que foram expulsos (é esquecido, porém, que a colonização foi altamente desigual, que o colonizador e o colonizado não compartilhavam o mesmo universo mental ou legal). Esses hóspedes temporários que deveriam ter partido, abusaram da hospitalidade francesa e se estabeleceram por um tempo exorbitante. No entanto, não saberiam se integrar, sendo muito diferentes e sem a capacidade de se tornarem cidadãos plenos por causa de seu “jeito de ser”, de sua religião e de sua cultura.

Nesta perspectiva, a sociedade seria vítima de indivíduos não assimiláveis que estariam tomando a França como refém (isso se aplicaria, mutatis mutandis, à Inglaterra, à Alemanha...). Esse sentimento é corroborado pela superestimação do número de muçulmanos nos diferentes países: na Bélgica, os cidadãos estimam o contingente em 20, e até mesmo em 30% da população total; em realidade, o número é inferior a 10%7 7 . Programa de televisão: “Noir, Jaune Blues”, Le Soir, La Radio-Télévision Belge de la Communauté Française (RTBF). . O mesmo ocorre na França e nos demais países. Do lado dos jovens da segunda e, em especial, da terceira ou quarta geração de origem imigrante, predomina o sentimento que, em todo caso, estão excluídos da verdadeira cidadania e são vítimas de uma sociedade que lhes nega o direito de ser como os demais. O que quer que façam, são rejeitados, suspeitos do pior e incapazes de fazer prevalecer a igualdade.

A polícia e, mais frequentemente, a administração pública os trata como inferiores, como delinquentes contumazes. Sentem-se vítimas de uma sociedade que fechou todas as portas e lhes nega as oportunidades mínimas oferecidas aos demais. Diante dessa rejeição, eles sentem o que os sociólogos chamam de “raiva” (Dubet, 1987DUBET, François. La galère: les jeunes en survie. Paris: Fayard, 1987. ; Lapeyronnie, 2008LAPEYRONNIE, Didier. Ghetto urbain. Paris: Robert Laffont, 2008.). Em verdade, essa vitimização é baseada em uma visão muito monolítica da sociedade francesa (e, mais geralmente, europeia).

Existem certamente preconceitos e estereótipos, mas há cada vez mais uma classe média de origem imigrante que ainda se sente maltratada, mesmo tendo conquistado essa sua ascensão até à classe média. A vitimização consiste em tornar absoluto o sentimento de injustiça social, mesmo que não seja tão generalizado quanto esses jovens o afirmam. Por outro lado, sua ação, frequentemente agressiva, e seu modo de se expressar, com os nervos sempre “à flor da pele”, corroboram os preconceitos sociais e confirmam a ideia de que não são socializáveis, nem mesmo são “normais”. Com isso, eles se manifestam com uma agressividade exagerada decorrente dessas ideias em parte preconcebidas sobre o modo como a sociedade se volta contra eles, o que torna o diálogo difícil, ou até mesmo impraticável. Rejeitam a polícia, a administração pública e, muitas vezes, as assistentes sociais, os educadores, os orientadores. Esses jovens fazem tudo para serem definitivamente rejeitados pela sociedade, usando essa rejeição para aumentar em sua alma o ódio de forma mais intensa em relação ao outro. Cria-se, assim, um círculo vicioso, que vai desde o racismo em relação aos outros até o contrarracismo de si, do estado de vítima ao estado de vitimização, onde nos esquecemos do papel que desempenhamos na dinâmica do ódio pelos demais.

Assim, por um lado, há a vitimização dos “brancos” que se sentem maltratados e despojados de seus hábitos e costumes por jovens “bandidos” e pelo fundamentalismo islâmico; por outro lado, há a vitimização dos jovens de origem imigrante que têm o insuperável desconforto de estarem em sociedades que não gostariam que fossem o que são e os colocam na impossibilidade de construir um futuro sereno e cidadão. Essa vitimização bifronte enquadra os jovens em um estado mental e espacial (os bairros fechados, enclausurados, de onde saem apenas em grupo, para se defenderem, espalhando ao mesmo tempo medo e mal-estar). O diálogo social torna-se praticamente impossível.

A radicalização desses jovens é a consequência da percepção de sua existência como reificada pelos olhos inquisidores de uma sociedade desumana em suas exigências desmedidas e na qual eles não têm assento. Sem a capacidade, sem a possibilidade de viver sua existência em um estado de neutralidade emocional finalmente reconhecido, pretendem semear o terror e a infelicidade para aqueles que, segundo acreditam, são os principais responsáveis por seu infortúnio. Ao fazê-lo, escondem seu próprio papel na transição para os extremos.

Os jovens de classe média

Há algumas décadas, a distinção entre as classes médias e populares tende ao desaparecimento, pelo menos no que respeita as classes médias baixas. O medo do rebaixamento de classe social e da proletarização não é mais um fenômeno puramente subjetivo e pode ser observado na economia, no emprego e na deterioração das condições de vida.

Em seu trabalho sobre o rebaixamento progressivo das classes médias, Louis Chauvel (2016CHAUVEL, Louis. La spirale de déclassement: Paris: Les Éditions du Seuil, 2016.) destaca os efeitos do aumento da tributação, das moradias mais caras, dos diplomas desvalorizados e da crescente instabilidade no emprego e nos salários. Esses elementos criam um sentimento de profunda insegurança nos jovens de classe média, que não têm sequer a certeza de serem beneficiários, no futuro, do mesmo padrão de vida de seus pais. Seu desejo de ir para a Síria está parcialmente relacionado a esse sentimento de falta de esperança, em uma sociedade que não oferece perspectivas, horizonte, nem mesmo à juventude da classe média.

As mulheres jihadistas e a questão feminista

Na tradição islâmica, as primeiras mulheres que lutaram contra o inimigo foram as Sahabiyyat (mulheres companheiras do profeta), em especial Umm Umara, que cortou a cabeça de um dos combatentes árabes judeus que teria escalado a muralha da fortaleza onde mulheres e crianças se refugiaram durante a batalha de Khandaq (batalha da trincheira), no ano 627. Do século IX ao século XI, as Mutarajjulat, mulheres que se vestiam como homens, lutaram e teriam sido amaldiçoadas pelo profeta. As fontes clássicas do islã são muito relutantes sobre o papel das mulheres no movimento jihadista (Cook, 2005COOK, David. Women fighting in Jihad? Studies in Conflict & Terrorism, v. 28, 2005.).

No entanto, uma reinterpretação da tradição foi feita para legitimar a intervenção das mulheres no Jihad. A referência à doutrina clássica do Jihad defensivo (Jihadaldaf’) é especialmente usada, estipulando que todos os muçulmanos, homens, mulheres, crianças e escravos teriam a obrigação de lutar (fardh al’ayn) para defender seu território e sua fé em caso de ataque inimigo (Lahoud, 2014LAHOUD, Nelly. The neglected sex: the Jihadis’ exclusion of women from Jihad. Terrorism and Political Violence, v. 26, 2014.).

Antes da guerra civil na Síria, em 2013, e do surgimento do Estado Islâmico, em 2014, não havia muitas mulheres envolvidas no Jihad na Europa. Havia mulheres convertidas, como Muriel Degauque, a belga de mais de 30 anos, ou mulheres como Jihad Jane8 8 . Cognome da norte-americana convertida ao islamismo Colleen LaRose, presa em 2009 (n. do t.). . De 2013 a 2015, houve um aumento significativo no número de mulheres envolvidas no jihadismo: mais de 500 (10%) das cerca de cinco mil pessoas que deixaram os países ocidentais em direção à Síria. Diferente da maioria dos homens jovens, com um passado criminoso comprovado e originário das periferias ou de bairros pobres e isolados, elas são geralmente das camadas médias (os casos de Hayat Boumeddiene, a companheira de Coulibaly ou de Hasna Aït Boulahcen, prima de Abaaoud, representam uma minoria). São, em grande parte, convertidas ou provenientes de famílias nas quais a fé jihadista não é predominante, ou mulheres de famílias neotradicionais inglesas, que não pertencem às camadas pobres e que pretendem obedecer à ordem religiosa do califado. A maioria não tem antecedentes criminais e é marcada por uma militância insólita em suas vidas. Nos países muçulmanos, quando as mulheres participam do Jihad, é principalmente para vingar um membro da família - como o marido, um primo, um irmão ou o pai, assassinado pela polícia -, a exemplo das “Viúvas Negras”, na Chechênia, ou para acompanhar seus maridos detonando explosivos amarrados na cintura, como Sajida al-Rishwai9 9 . Sajida al-Rishwai é a esposa de Ali Hussein al-Shammari. Ele cometeu um atentado suicida no dia 9 de novembro de 2005 em hotéis na cidade de Amã. O cinto explosivo de sua esposa não detonou. , na Jordânia. Na Europa, o jihadismo feminino apresenta-se sob uma nova forma, e a dimensão da vingança não é preponderante em sua ação; está mais voltado para uma nova identidade baseada em mais de meio século de feminismo, mesmo que sua atitude denote formas antifeministas às vezes exacerbadas.

Essas jovens, inicialmente, pretendem restaurar sua imagem de “mulher”: ao dar à luz “leõezinhos” a serviço de sua nova fé, elas se opõem à tendência feminista dominante, que pretende apagar a diferença entre homens e mulheres e de fazer com que a função reprodutiva da mulher seja um fenômeno tardio. Algumas dão mesmo um passo além e tentam obter um treino militar na Síria (na brigada El Khansa). Aquelas que não puderam ingressar no exército do Jihad nutrem um ódio multiplicado pela sociedade e procuram atuar com os meios que encontram (explosão de botijões de gás, arma branca) e constituir, excepcionalmente, células autônomas de mulheres onde os homens não intervêm como agentes violentos. Este, particularmente, é o caso das três jovens mulheres jihadistas que tentaram explodir um carro cheio de botijões de gás, sendo que uma delas esfaqueou um policial que estava tentando contê-las no atentado.

A autoafirmação das mulheres jihadistas levanta a questão a respeito do “novo estilo de feminismo” que está em contradição com os motivos do feminismo tradicional, que rejeita a violência, em tese essencialmente masculina. Essa nova lógica de ação exalta a violência em uma atitude que emana simultaneamente do feminismo, do pós-feminismo e do antifeminismo.

A dimensão feminista reside na autoafirmação das mulheres e em sua capacidade de agir sem um homem que as conduza e lhes dê a garantia de legitimidade. Mesmo que Rachid Kassim tenha sugerido a ação no Telegram, a visão “patriarcal” do Islã não poderia convencer jovens europeias a agirem sozinhas, ao contrário de Ulrike Meinhoff, membro da facção terrorista alemã Baader-Meinhoff Gruppe, dos anos 1970-1980, que combinava feminismo e ideologia de extrema-esquerda. Na França - e não na Síria, onde teria sido impossível -, é no âmbito de uma visão neopatriarcal que ela “superinterpreta” uma forma de complementaridade - não de desigualdade, desafiando a realidade -, onde as mulheres se afirmam enquanto atrizes autônomas de um roteiro hiperviolento que as distingue, na morte, papel que até então era privilégio exclusivo dos homens. A dimensão feminista, neste caso em ruptura com o feminismo ocidental, consiste em contestar a exclusividade da ação jihadista violenta aos homens e em disputar com eles o monopólio do martírio.

Necessidade de normas e de uma comunidade forte e integradora

As mulheres jihadistas, assim como seus homólogos masculinos, aspiram pertencer a uma coletividade que dá sentido à vida e cujas normas hiper-restritivas aumentam essa necessidade de pertencimento, e isso de modo que a integração e a repressão se tornam amplamente indistintas. Quanto mais as normas são rígidas, até repressivas, mais o indivíduo anômico em busca de um pertencimento sente-se seguro em seu desejo de fazer parte dessa referida comunidade.

Este é, particularmente, o caso de Saïda10 10 . Este caso foi documentado por Agnès de Féo, que gentilmente o disponibilizou a mim. , nascida no início da década de 1980 em uma família magrebina não praticante, filha de mãe francesa de origem argelina e de pai argelino. Seus pais tiveram ainda sete outros filhos e filhas, antes de se divorciaram, quando Saïda tinha 13 anos.

Saïda culpa seu pai por não criar nem ela, nem seus irmãos e irmãs. É mais carinhosa em relação à mãe e se preocupa com o fato de ela não fazer suas orações diárias, correndo o risco de ir para o Inferno. Na escola, teve dificuldades em seguir as aulas e voltou-se para o islã, influenciada por suas amigas. Tentou passar no concurso para a Polícia da Paz para, segundo ela, lutar contra a injustiça, a pedofilia, os atravessadores e os traficantes de droga. Não conseguiu, apesar do bom desempenho na entrevista, porque não recebeu o atestado médico de um médico certificado. Atribui a Allah o fato de não ter passado no concurso. Constatou, mais tarde, que trabalhar em um ambiente masculino como o da polícia é ilícito (haram). Em seguida, casou-se com um salafista tunisiano, apesar da oposição de seus pais, aprendendo o que é salafismo (salafiyya). Ela encontra respostas para suas perguntas em fóruns islâmicos. Acaba tendo episódios de depressão que atribui aos pecados que teria supostamente cometido antes de sua adesão à fé salafista e que denota um sentimento de culpa por sua falha em cumprir as prescrições religiosas. Não apenas almeja normas rígidas, como também se sente culpada por não as ter obedecido anteriormente, antes de seu período ultraortodoxo. Este tipo de aspiração é encontrado tanto entre os salafistas pacíficos (os pietistas), como em boa parte dos salafistas jihadistas em busca de normas, de certezas, de uma fé que os enquadre e que dê sentido à sua existência (os pietistas tentam, aumentando o rigor no cumprimento dos preceitos estabelecidos, os jihadistas buscam o martírio para superar seus muitos pecados e ir diretamente para o paraíso). Por vestir a burca, foi detida pela polícia e, após uma briga, passou a noite na prisão. Para Saïda prevalece a vontade de construir uma outra vida dotada de quadros restritivos e normas rigorosas para superar sua anomia e a ausência de uma comunidade capaz de oferecer um sentido à sua existência. O neossalafismo preenche esse vazio, mas priva o indivíduo de boa parte de seu livre arbítrio.

Mulheres em face da violência

Há uma geração no Ocidente, em que a relação das mulheres com a violência vem evoluindo progressivamente, no plano antropológico. A violência ainda permanece em grande parte reservada aos homens: a população carcerária feminina é de 4% na França e de 6% na Grã-Bretanha. Quanto à violência doméstica, esta provém principalmente de homens; as mulheres ocupam um lugar marginal, mas com tendência ao crescimento. Nas periferias francesas, uma pequena parte da delinquência é atualmente cometida por meninas. No entanto, o imaginário das mulheres, especialmente das bem jovens, abalado há uma ou duas décadas, não traduz de maneira sensível essa inclinação, senão em casos isolados.

Nos dias de hoje, 10% dos jihadista seriam mulheres. Se compararmos este número com a maioria dos movimentos extremistas, a proporção é uma das mais elevadas, exceto para os movimentos de extrema esquerda, como da gangue de Baader (a proporção de mulheres excedia em 50% e às vezes chegava a 60%; ver Capítulo 10 de Neumann, 2016NEUMANN, Peter R. Der Terror ist unter uns. Berlin: Ullstein Verlag, 2016. ) ou as Brigadas Vermelhas, na Itália. No Irish Republican Army (IRA), Irlanda do Norte, havia 5% de mulheres (Gill, Horgan & Deckert, 2014GILL, Paul; HORGAN, John; DECKERT, Paige. Bombing alone: tracing the motivations and antecedent behaviors of lone-actor terrorists. Journal of Forensic Sciences, v. 59, n. 2, 2014.); 6,4%entre os bascos do grupo Euskadi Ta Askatasuna (ETA) (Pátria Basca e Liberdade) (Reinares, 2004REINARES, Fernando. Who are the terrorists? Analyzing changes in sociological profiles among membes of ETA. Studies in Conflict and Terrorism, v. 27, 2004.). A distribuição de mulheres ocidentais que foram para a Síria é, grosso modo, a seguinte: 70 alemãs (sendo nove menores de idade), 63 a 70 francesas, 60 inglesas (sendo 20 menores), 30 holandesas, 14 australianas (Bakker & Leede, 2015BAKKER, Edwin; LEEDE, Seran de. European female Jihadists in Syria: exploring an under-researched topic. ICCT Background Note, Abr. 2015). Dada a maneira pela qual as mulheres são tratadas pelo Estado Islâmico, essa proporção reflete seu fascínio pelo jihadismo.

Como vimos, a violência não é mais vivenciada exclusivamente por homens. Deve-se enfatizar que isso já ocorreu no passado, como as argelinas que desempenharam um papel importante na Guerra de Independência da Argélia, as “Viúvas Negras” chechenas, mas também o caso de mulheres da esquerda socialista e comunista no Líbano, que participaram do movimento contra a ocupação israelense com ataques suicidas, nos anos 1980.

As mulheres apresentam, no Estado Islâmico, características particulares, e a busca pela “desocidentalização” é uma das que mais se destaca. Essa busca incentiva algumas dessas jovens, que sentem essa “ocidentalidade” como camisa de força, a se identificarem plenamente, absolutamente, totalmente com o neoumma, o qual, por sua vez, encarna, para elas, a felicidade neste mundo e a alegria na vida após a morte. Para elas, o Ocidente é, antes de tudo, o reino da total secularização, a separação do sagrado e do profano, do político e do religioso, do público e do privado, enfim, um modo de ser discordante com o seu, baseado em uma existência totalizante, na qual uma única lei rege o interior e o exterior, o privado e o público, o político e o religioso.

Desejam um “mundo à imagem da ‘singularidade de Allah’”, que se traduziria na unificação de todas as esferas da existência sob a asa protetora de Deus. O mundo laico parece monstruoso, pois, sem unidade, estaria apenas fundado pelo consenso flácido dos cidadãos que baniram Deus de sua existência e tomaram o seu lugar. A perda das utopias e a falta de sentido criada pela ausência do sagrado mobilizador que cimenta a convivência cria um clima angustiante para alguns que sentem fortemente a necessidade de um princípio englobante (no sentido proposto por Jaspers - das Umgreifende -, que englobaria toda a existência) para dar sentido a uma humanidade finalmente unificada em torno de um objetivo comum e nobre.

O Estado Islâmico trouxe esse tipo de significado para os jovens, de ambos os sexos, que entraram na esfera do islã e romperam com o Ocidente - mundo de dominação, profanação e oposição ao islã - e mais, globalmente, para tudo o que é da ordem do sagrado e do transcendente. Excomungam um ocidente dessacralizante e profano, opondo-o a um islã que reintroduz o sagrado na vida e restitui um sentido unificado ao mundo, garantindo ao indivíduo uma vida post mortem feliz. Uma luta contra todas as forças do mal que estão encarnadas nos agentes de secularização do Ocidente maléfico.

Algumas pessoas - como, por exemplo, Umm Raeesa - vivem no Ocidente se desvinculando dessa ocidentalidade que “infecta”, identificando-se de maneira cada vez mais forte com esse islamismo coeso que lhes assegura uma identidade ao abrigo da dúvida e da angústia. Mas então há a suspeita sobre a autenticidade de sua convicção religiosa: se seguem fervorosamente a nova fé, por que permaneceram no Ocidente e não emigraram para o outro lado? Umm Raeesa responde da seguinte forma:

- Não somos adequados nem para este lado (o Ocidente), nem para o outro (o Estado Islâmico).

Fica assim a dúvida sobre a capacidade dos movimentos jihadistas garantirem as condições de uma vida verdadeiramente islâmica, rejeitando o mundo irreligioso deste lado. O Ocidente, palco do feminismo que conseguiu dessacralizar a família patriarcal, aproxima perigosamente o homem e a mulher em seus papéis sociais e torna inaudível a vontade de ser mulher e de sentir o seu corpo no parto - considerado alienante -, tornando impossível a autoafirmação enquanto progenitora e mulher-mãe. O desejo da maternidade não seria o de reproduzir o modelo do passado, mas sim o desejo de retornar ao corpo. Algumas mulheres jovens pedem também a oportunidade de participar - assim como os homens - nos combates e na violência, independentemente do gênero. O Estado Islâmico nega, temendo que esta afirmação leve ao pedido de igualdade entre homens e mulheres (igualdade diante da morte, levando à igualdade perante a vida), o que recusa veementemente.

Conclusão: os novos atores jihadistas

O jihadismo do Estado Islâmico (estabelecido entre a Síria e o Iraque, entre 2014 e 2017) soube mobilizar novos atores (adolescentes de ambos os sexos) e de enviar a mensagem para atores anteriormente marginais, que se tornaram, sob seu reinado, muito numerosos (as mulheres constituindo 10% das vocações), convertidos (eram poucos, se estabeleciam de acordo com os países ocidentais entre 8% e mais de 40%), casos psicopatológicos (muitos mais sob o Estado Islâmico do que sob a al-Qaeda). Soube penetrar em instituições até então fortemente protegidas da radicalização, universidades, escolas, instituições governamentais, incluindo as forças armadas, a polícia; proliferou em países antes livres da influência jihadista ou pouco tocados; propagou-se entre jovens e velhos, adaptando-se sempre à particularidade das sociedades alvo (a propaganda mudava o tom de acordo com cada país, na França, a ordem republicana e laica foi denunciada, na Inglaterra, um multiculturalismo hipócrita). Sobretudo para os jovens, a propaganda foi direcionada para sua cultura juvenil para encorajá-los à mobilização.

O Estado Islâmico desempenhou um papel fundamental no surgimento desses novos atores e atrizes. Além disso, a análise de atores jihadistas, incluindo recrutadores e pregadores, mostra que a dicotomia entre o Jihad sem liderança (leaderless Jihad) e o Jihad dotado de liderança (leaderled Jihad) é artificial. Formas intermediárias de organização frequentemente prevaleceram, a liderança descentralizada (o caso de jovens na França que seguiam as instruções de um membro do Estado Islâmico na Síria), a liderança mais concentrada (que foi o caso dos membros do grupo jihadista que perpetrou os ataques de 13 de novembro de 2015, em Paris, e 22 de março de 2016, em Bruxelas) mostram diferentes graus entre os dois extremos, e não dois modelos rígidos.

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  • NEUMANN, Peter R. Der Terror ist unter uns. Berlin: Ullstein Verlag, 2016.
  • PERLIGER, Arie; MILTON, Daniel. From cradle to grave: the lifecycle of foreign fighters in Iraq and Syria. West Point (HY): Combating Terrorism Center at West Point, Nov. 2016.
  • POLLACK, Detlef; MÜLLER, Olaf; ROSTA, Gergely; DIELER, Anna. Integration und Religion aus der Sicht von Türkeistämmigen in Deutschland. Switzerland: Springer, 2016.
  • REINARES, Fernando. Who are the terrorists? Analyzing changes in sociological profiles among membes of ETA. Studies in Conflict and Terrorism, v. 27, 2004.
  • TORREKENS, Corinne; ADAM, Ilke (Dirs.). Belgo-Marocains, Belgo-Turcs : (auto)portrait de nos concitoyens. Bruxelles: Fondation Roi Baudoin, Maio 2015.
  • VALFORT, Marie-Anne. Musulmans: la réalité des discriminations au travail, 2015. Disponível em: <http://www.latribune.fr/opinions/tribunes/musulmans-la-realite-des-discriminations-au-travail-467384.html>.
    » http://www.latribune.fr/opinions/tribunes/musulmans-la-realite-des-discriminations-au-travail-467384.html
  • *
    Tradução: José Geraldo de Oliveira Almeida.
  • 1
    . Dados baseados em estatísticas carcerárias na Grã-Bretanha. Para um resumo, ver The Independent, 28 Mar. 2014: “Number of Muslims in prison doubles in decade to 12.000”.
  • 2
    . ICM Research for the Channel 4 documentary: “What British Muslims really think”, transmitido em 13 Abr. 2016.
  • 3
    . Datenreport 2016: Social Report for the Federal Republic of Germany.
  • 4
    . Ver: <http://www.sudinfo.be/1580627/article/2016-05-24/781887-musulmans-vivent-en-belgique-decouvrez-la-carte-commune-par-commune>.
  • 5
    . Programa de televisão “Noir, jaune blues”, Le Soir, La Radio-Télévision Belge de la Communauté Française (RTBF).
  • 6
    . Divya Talwar, na reportagem “Under-18 terror detainments triple in two years”, BBC, 26 Ago. 2016. O Terrorismact (lei do Terrorismo) permite deter simplesmente por suspeita um indivíduo que esteja passando por uma das fronteiras (marítima, aérea ...) e de interrogá-lo por seis horas: os “Asian” ou “Asian British” (de origem paquistanesa, bengali, indiana) têm seis vezes mais probabilidade de serem presos do que os “brancos”.
  • 7
    . Programa de televisão: “Noir, Jaune Blues”, Le Soir, La Radio-Télévision Belge de la Communauté Française (RTBF).
  • 8
    . Cognome da norte-americana convertida ao islamismo Colleen LaRose, presa em 2009 (n. do t.).
  • 9
    . Sajida al-Rishwai é a esposa de Ali Hussein al-Shammari. Ele cometeu um atentado suicida no dia 9 de novembro de 2005 em hotéis na cidade de Amã. O cinto explosivo de sua esposa não detonou.
  • 10
    . Este caso foi documentado por Agnès de Féo, que gentilmente o disponibilizou a mim.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    May-Aug 2018

Histórico

  • Recebido
    18 Abr 2018
  • Aceito
    20 Jun 2018
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