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Editorial

EDITORIAL

Cleci Maraschin

Editora de Psicologia & Sociedade

Essa segunda revista do ano de 2002 chega ao público no início de 2003 em uma contingência nacional que desafia os estudiosos do campo social. O novo governo, o Terceiro Fórum Social Mundial, a repercussão internacional de algumas políticas públicas nacionais, colocam os pensamentos e fazeres dos brasileiros como objeto de estudo e tema de um amplo debate que ultrapassa nossas fronteiras. Essa conjuntura atualiza a discussão sobre a responsabilidade social e ética de nossas práticas de investigação. Dentro dessa perspectiva, cremos que os artigos aqui publicados trazem contri0buições significativas.

O debate teórico é capaz produzir campos inusitados de criação e de intervenção. Nesta edição, uma entrevista e dois artigos se inscrevem nessa perspectiva:

Ana Luisa Janeira, professora da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, trabalha em um projeto de pesquisa que procura analisar a identidade epistemológica inerente a espaços de produção científica, mostrando como as construções espaciais e textuais expressam a lógica imanente a um determinado campo de saberes e práticas.

Roseane Silva Xavier produz uma interlocução entre os conceitos de Representação Social e de Ideologia. É interessante observar que, sobre esse mesmo tema e quase czom o mesmo título (Representações e Ideologia), foi publicado outro artigo na Revista de Ciências Humanas, da Universidade Federal de Santa Catarina (n.1 2000,p. 33-46) por Pedrinho Guareschi. A diferença do trabalho de Guareschi com o publicado neste número é que o primeiro toma o conceito de ideologia na concepção de John B. Thompson; já o segundo toma a idéia de "ideologia geral" de Althusser e de "teorias do senso comum" de Gramsci e do resgate do conceito de "hegemonia" como prática discursiva, na abordagem pós-estruturalista de Laclau e Mouffe.

Ian Parker traz uma contribuição original ao criar um espaço de discussão entre a psicanálise e a teoria social a partir da revisão do debate entre Butler, Laclau e Zizek, autores ainda não muito conhecidos no campo da psicologia social brasileira. Indaga o tensionamento entre o individual e o social de uma perspectiva de articulação entre a teoria lacaniana e a política radical. O autor discute as implicações clínicas do encontro entre a prática clínica e a prática política.

A contemporaneidade, principalmente o acoplamento às tecnologias da informação e da comunicação na vida cotidiana, tem se constituído em um significativo tema de análise. Neste número, Adriana Rosso e colaboradores, discutem o papel dos meios de comunicação de massa na construção de determinados esteriótipos de gênero e raça.

Quatro artigos se produzem na interface entre a Psicologia Social e as políticas públicas. A dimensão analítica e crítica de propostas sociais na esfera pública tem se constituído em uma contribuição importante dos psicólogos sociais na atualidade.

Ângela Caniato e uma equipe de pesquisa composta por docentes e alunos da Universidade Estadual de Maringá através da metodologia de pesquisa intervenção, colocam em discussão categorias como cidadania e "população em situação de risco". A análise vai assinalar, principalmente a partir dos referenciais teóricos de Adorno e Baró, a conotação assistencialista, demagógica e controladora de um programa do governo federal em operacionalização em sua região.

Martha A. Traverso-Yépez e Verônica de Souza Pinheiro analisam a condição adolescente em uma contingência de vida que se produz na escassez políticas públicas e sociais e, mesmo quando existentes, produzem práticas a partir de uma visão unidimensional de saúde privilegiando a dimensão orgânica. As autoras colocam em questão os alicerces teórico-conceituais de práticas profissionais.

Omar Bravo em seu artigo oferece elementos de reflexão e crítica do discurso propositivo da implantação de uma prática de indicação de tratamento compulsivo para dependentes químicos pela justiça do Distrito Federal, inspirada em um modelo norte-americano denominada Tribunais Terapêuticos.

Suzinara Tonatto e Clary Sapiro analisam representações ligadas à sexualidade de jovens do ensino médio de uma escola privada de Porto Alegre. Além de um dispositivo pedagógico a intervenção traz elementos reflexivos sobre as propostas de orientação sexual dentro da perspectiva contida nos Parâmetros Curriculares Nacionais.

Continuamos implementando esforços para que a Revista Psicologia & Sociedade possa cada vez mais participar desse debate acolhendo trabalho de pensadores nacionais e internacionais comprometidos com as transformações sociais.

Também a ABRAPSO, como entidade, organiza nesse ano seu XII Encontro nacional com o tema "Estratégias de invenção do presente – a Psicologia Social no contemporâneo" - de 15 a 17 de outubro - buscando assim mapear e discutir movimentos de reinvenção da Psicologia como uma ação política e social.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Ago 2003
  • Data do Fascículo
    Dez 2002
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