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Editorial

EDITORIAL

A presente edição da revista Psicologia & Sociedade chega ao público com modificações em sua proposta gráfica. Esperamos com isso aprimorar a qualidade de apresentação dos artigos aqui publicados bem como ampliar o número de trabalhos em cada edição.

O movimento expancionista atinge também a periodicidade da revista. A previsão de uma periodicidade quadrimestral para o ano de 2005 pode ser antecipada para o ano em curso. Alguns fatores foram decisivos para essa antecipação. A primeira boa notícia consistiu na aprovação do auxílio editorial pelo CNPq o qual possibilita recursos financeiros para o incremento do investimento. A segunda boa notícia foi o resultado da avaliação dos periódicos nacionais feita pela Comissão (Capes/Anpepp) da área de Psicologia que qualificou a revista como Nacional A, reconhecendo os esforços empreendidos pela ABRAPSO no aprimoramento de sua publicação. Também foi importante o lançamento do número especial temático, retomando uma prática de parcerias com editores convidados que já fazia parte da história da revista.

Os trabalhos aqui publicados demonstram a trajetória da revista de acolher e instituir-se como um fórum significativo para o debate da Psicologia em relação ao social e aos demais campos de conhecimento que constituem sua rede interdisciplinar de diálogo. Alguns artigos debatem a própria Psicologia Social, seja em relação a conceitos que a constituem como campo teórico, seja em sua historicidade. As interfaces da Psicologia com as tecnologias, as políticas públicas, o direito e a educação estão presentes nos demais artigos.

Durante o XII Encontro Nacional da ABRAPSO eu e Virgínia Kastrup conversamos com André Parente sobre tecnologia, imagem e Psicologia. Os leitores podem compartilhar desse encontro na entrevista aqui publicada.

Três artigos, de modos distintos, colocam em reflexão a Psicologia Social. Rosane Neves nos faz uma instigante provocação: ao invés da Psicologia explicar o social é o próprio social que deveria poder explicar o surgimento da Psicologia. Nessa perspectiva a autora nos convoca a ultrapassar a idéia de social como restrito à noção de sociabilidade. A relação da Psicologia Social com as noções de saber, comunidade e cultura é o tema do artigo de Sandra Jovchelovitch. A autora toma o conceito de representação e demonstra como o mesmo pode ser passível de articulação entre as formas do saber e da constituição de contextos sócio-culturais. O artigo de Elizabeth de Melo Bomfim possibilita uma reflexão da psicologia social a partir de sua própria história. A autora, analisando o legado documental, reconstitui o percurso de quatro cursos de Psicologia Social ministrados no Brasil na primeira metade do século XX trazendo informações pouco conhecidas e divulgadas. Essa análise possibilita a autora evidenciar características desse momento inaugural da construção da Psicologia Social como campo científico.

Os direitos, as políticas públicas e as intervenções psi com sujeitos que vivem em circunstâncias sociais desfavorecidas constituem-se em tema de estudo em três artigos. Fernanda Bocco e Gislei Domingas Romanzini Lazzarotto produzem uma reflexão, a partir da Análise Institucional, de uma intervenção com jovens em situação de abrigagem sendo a maioria deles autores de atos infracionais. O trabalho contribuiu para pensar em formas de fazer psicologia e de lidar com o público em questão. Ricardo Mendes Mattos e Ricardo Franklin Ferreira discutem a tipificação e as formas como as pessoas em situação de rua elaboram e questionam de representações sociais advindas de suas contingências de vida. Juliana Prates Santana e outros pesquisadores apresentam uma descrição crítica a partir da análise documental de instituições de atendimento a crianças e adolescentes em situação de rua da cidade de Porto Alegre evidenciando as incongruências entre as propostas contidas nos documentos e o cotidiano institucional.

O trabalho de Ana Cecília Augsburger nos leva a problematizar em que medida critérios e categorias utilizados para diagnóstico de problemas de saúde mental dificultam o desenvolvimento de uma epidemiologia na área. Para a autora, faz-se necessário o questionamento crítico de sistemas classificatórios que não contemplem as dimensões sociais, culturais e institucionais das classificações.

Dois trabalham se produzem em uma articulação com os direitos sociais. Mary Jane Spink e colegas perguntam sobre a responsabilidades pelos danos quando o risco é ativamente procurado como forma de lazer. Os autores organizam sua argumentação situando o trabalho no contexto da literatura sobre risco para focar um estudo de caso de uma operadora de turismo de aventura. Produzem uma interessante articulação entre mercado de turismo, seguros e Estado. Luciano Augusto de Toledo Coelho discute o emprego de testes psicológicos tendo como base os direitos fundamentais do trabalhador. O autor considera que as possibilidades de postos de trabalho produzidas em uma lógica de hegemonia capitalista-neoliberal podem se impor na sujeição crescente do trabalhador podendo induzir ao desrespeito do princípio constitucional da dignidade humana.

Dois artigos debatem a relação social e das políticas públicas com o campo da educação. João Paraskeva aponta como as relações entre os Estados e grupos econômicos têm promovido uma plataforma democrática redutora que produz efeitos na escolarização, em geral, quanto no currículo, em particular. Ana Maria Silveira Schlichting e outros pesquisadores analisam um modelo de avaliação do Ensino Médio instaurado pela Associação Catarinense das Fundações Educacionais (ACAFE) que tem como um de seus objetivos disponibilizar uma proposta alternativa para selecionar candidatos à universidade. Discutem algumas dimensões conflitantes do operar de tal modelo, tais como seu funcionamento como ritual de passagem e/ou barreira ritualizada; meio ou não de escolha profissional; estratégia de seletividade social e escolar e/ou meio de democratização do ensino.

Contando que nossos esforços editoriais convirjam para uma crescente qualificação desse fórum, convidamos todos ao exercício da leitura crítica e da autoria reflexiva.

Cleci Maraschin

Editora de Psicologia & Sociedade

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Nov 2004
  • Data do Fascículo
    Ago 2004
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