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Editorial

Editorial

É com muita satisfação que apresentamos aos leitores mais um número da Revista Psicologia & Sociedade. Gostaríamos de informar que a partir do mês de novembro do corrente ano a revista passa a contar com o processo de submissão e editoração on-line através do SEER (Sistema Eletrônico de Editoração de Revistas) com acesso pela página: www.ufrgs.br/revistapsicologiaesociedade.

O SEER foi traduzido e customizado pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT – www.ibict.br ) baseado no software desenvolvido pelo Public Knowledge Project (Open Journal Systems) da Universidade British Columbia (http://pkp.sfu.ca/ojs/).

Cabe ressaltar que a concretização dessa possibilidade conta com a parceria da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) que disponibilizou recursos materiais e humanos além de criar um portal de periódicos científicos (http://www.ufrgs.br/propesq/periodicoscient) e do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) que apóia financeiramente a revista.

Outra notícia é que a partir desse número a revista passa a adotar as normas técnicas da APA (American Psychological Association). A decisão foi tomada pela constatação de que a maioria dos originais submetidos pelos autores adotava tais normas e pelo crescente número de autores estrangeiros que submetem seus trabalhos à revista.

A equipe editorial da revista acredita que essas modificações acrescentarão qualidade e interatividade com seus autores, leitores e colaboradores.

Uma das atribuições mais interessantes de um editor é o desafio de poder explicitar ou (por que não?) criar pontos de articulação entre autores que se encontram em um mesmo número da revista. Tal encontro se faz por força de um arranjo determinado por tantas variáveis que configura uma estranha sensação de casualidade. A casualidade abre uma janela (embora limitada, é certo) do "estado da arte" no campo de interseção entre a psicologia e a sociedade. Bem, vamos ao trabalho. Que encontros se efetivaram neste número?

O presente número da revista reúne alguns artigos que discutem a dimensão política do trabalho do psicólogo no plano da pesquisa e construção de conhecimento como também no plano da intervenção.

Maria Elizabeth Barros de Barros e Nelson Alves Lucero no artigo "A Pesquisa em Psicologia: Construindo outros Planos de Análise" trazem para debate as dimensões política e subjetiva na pesquisa em Psicologia. Argumentam que a produção de conhecimento e a pesquisa não podem ser consideradas apenas como um empreendimento técnico e/ou metodológico. Ana Lúcia Gonçalves Maiolino e Deise Mancebo põem em exercício as reflexões anteriores mostrando como a produção acadêmica sobre a exclusão está relacionada aos planos sócio-histórico e político.

Perspectiva semelhante aos autores comentados acima adota Regina Benevides no texto "A Psicologia e o Sistema Único de Saúde: quais interfaces?". Segundo a autora existe uma recorrente separação entre clínica e política na formação e na prática profissional dos psicólogos. Os princípios da inseparabilidade, da autonomia e co-responsabilidade e da transversalidade são tomados como agenciadores de um de trabalho em Psicologia capaz considerar a imbricação da dimensão política, contribuindo para um modo de fazer acontecer das políticas públicas.

O debate da inserção da Psicologia nas políticas públicas continua no trabalho: "A Psicologia e a Estratégia Saúde da Família: Compondo Saberes e Fazeres" de Celiane Camargo-Borges e Cármen Lúcia Cardoso. As autoras propõem uma atuação interativa, coletiva e local a partir de uma perspectiva que denominam Psicologia Social da Saúde.

Um tema caro a Psicologia Social é o próprio social. Não só no sentido de levar em consideração o social em seu trabalho, mas, acima de tudo, compreender como determinadas configurações do social operam no sentido de constituir e, por que não dizer, determinar práticas da Psicologia. Esse tema também se faz presente nos artigos que seguem.

A dimensão da invenção de uma clínica em contextos comunitários é tratada por Liana Fortunato Costa e Shyrlene Nunes Brandão. Para as autoras há a necessidade de uma reconstrução da intervenção considerando questões contextuais e políticas. Ferrán Casas no artigo "Desafios atuais da psicologia na intervenção social" faz um alerta. Além da Psicologia Social destacar a importância dos contextos faz-se necessário coloca-los em questão, principalmente pela velocidade das transformações dos mesmos. O autor indica a importância das dimensões não materiais da vida social nos processos de mudança.

Uma dessas dimensões é discutida por Ana Maria Nicolaci-da-Costa no artigo "Sociabilidade virtual: separando o joio do trigo". Sustentada no aporte de Zygmunt Bauman, a autora expõe uma multiplicidade de formas de interação sendo difícil manter uma opinião condenatória a priori desse tipo de vínculo.

O tema do trabalho tem sido constante na revista. As transformações dos modos de trabalhar desafiam os psicólogos a repensar aportes teóricos e intervenções em planos coletivos e solidários. Dois artigos tratam dessa questão. O primeiro intitulado: "Possibilidades Solidárias e Emancipatórias do Trabalho: campo fértil para a prática da Psicologia Social Crítica" de autoria de Marília Veríssimo Veronese e Pedrinho Guareschi discute a inserção da Psicologia Social Crítica no campo da economia solidária, como um espaço laboral passível de constituir modos singularizados de trabalhar. O segundo, "Uma análise das diferentes noções do cooperativismo na perspectiva construcionista" de autoria de Roberto Minoru Ide busca desconstruir o sentido homogêneo atual dado ao termo cooperativismo através de uma análise histórica baseado no Construcionismo Social. Segundo sua pesquisa o cooperativismo apresentou três sentidos ou noções difusos: doutrinária, organizativa e de lugar. Os resultados trazem contribuições para o debate metodológico em torno do uso de documentos para análises da psicologia social.

Um trabalho que discute gênero e violência é apresentado por Silvia Regina Ramão, Stela Nazareth Meneghel e Carmen Oliveira. A partir da proposição de oficinas em uma organização não governamental de mulheres negras Maria Mulher/Porto Alegre/RS, as autoras analisam que a violência a que estão submetidas essas mulheres paralisa os movimentos do desejo fazendo com que permaneçam territorializadas nos papéis de mãe, esposa e cuidadora. Discutem também a intervenção como potencializadora de criação de novas possibilidades de vida.

Marianela Denegri Coria, Mireya Palavecinos Tapia, René Gempp Fuentealba e Cristina Caprile Costa em "Socialização Econômica em Famílias Chilenas de Classe Média: Educando Cidadãos ou Consumidores?" articulam educação familiar com a economia. O trabalho analisa as estratégias e práticas de socialização econômica numa mostra de 132 famílias de classe média da cidade de Temuco no Chile. Seu trabalho postula uma alfabetização econômica na perspectiva da construção de uma cidadania responsável.

Fechando esse número da revista Andréa Vieira Zanella no artigo "Sujeito e Alteridade: Reflexões a partir da Psicologia Histórico-Cultural" discute a condição de sujeito como resultante de um processo de duplo sentido: ao apropriar-se da cultura nela se objetiva. A dimensão singular é inexoravelmente constituída e constituidora do social, o que pode ser tematizado como alteridade, como a dimensão de um outro ou das relações com outros.

Esperamos que a janela aberta por esse número da revista possa contribuir para manter vivo o debate entre a psicologia e o social. As abordagens teóricas e metodológicas aqui avistadas, bem como os desafios da política e do contemporâneo, atestam a diversidade e a riqueza do campo. Convidamos os leitores a se fazerem presentes no debate submetendo suas contribuições à revista.

Cleci Maraschin

Editora

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Jan 2006
  • Data do Fascículo
    Ago 2005
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