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Editorial

Editorial

Neste ano de 2011 a ABRAPSO comemora 30 anos de existência. Trinta anos de construção de uma psicologia social engajada na luta em prol da transformação das condições que aviltam a existência humana, sejam estas decorrentes de macropolíticas econômicas ou de escolhas singulares que balizam as relações cotidianas com a entonação da intolerância.

Em novembro a Associação realizará o seu 16º Encontro Nacional, evento que reunirá na cidade de Recife/PE mais de quatro mil pessoas. Oportunidade ímpar para o debate em torno da Psicologia Social que vem sendo construída pelos abrapsianos e para avaliar em que medida e de que maneira essa luta hoje se apresenta. Transformada, por certo, pois afinal, significativas mudanças sociais foram presenciadas/promovidas nessas três décadas: modificaram-se os modos de vida e, em decorrência, as estratégias de luta, a práxis do psicólogo social e os referenciais que a sustentam.

Quando da emergência da ABRAPSO, a afirmação do social em oposição ao individual demarcava limites claros para a pesquisa em Psicologia Social. A produção de conhecimentos baseados em critérios estatísticos de generalidade, de certo modo hegemônicos naqueles tempos, resultou em teorizações onde a diversidade se apresentava como excedente às curvas normais, carecendo de intervenções que as adequassem a limites aceitáveis e conhecidos. Decorrentes dessa lógica difundiam-se intervenções normatizadoras, pouco afeitas à leitura e crítica da complexidade fundante das próprias diferenças que eram negativamente reconhecidas.

A crítica a essas intervenções e teorizações mobilizou os abrapsianos a investirem em modos outros de saber/fazer, fundamentados no reconhecimento da inexorável condição ética, estética e política de toda e qualquer intervenção psi e dos conhecimentos por este campo de saber produzidos. Mas se o reconhecimento da diferença era condição do outro com o qual se trabalhava, o diferir se fez presente também no próprio fazer dos abrapsianos.

Essa multiplicidade é facilmente constatável nos sumários da Revista Psicologia & Sociedade, periódico da ABRAPSO de reconhecida expressão e importância: as várias perspectivas teórico-metodológicas revelam a condição plural de seus associados e simpatizantes, bem como de seus saberes/fazeres, e dos avaliadores que analisam e aprovam os trabalhos. Revela-se essa diversidade também neste segundo número de 2011, cujos artigos produzidos por pesquisadores de diferentes instituições versam sobre temáticas como juventude, infância, a condição da mulher, práticas de exclusão, trabalho, políticas públicas, grupos, risco, alimentação... À diversidade temática soma-se a variedade de referenciais teóricos adotados como balizadores para a leitura dos resultados de pesquisas, das intervenções realizadas ou questões problematizadas.

Não apresentarei cada um dos textos, como é praxe em editoriais. Deixo essa tarefa aos leitores, pois um olhar mais atento a essa produção e aos referenciais teóricos e metodológicos eleitos pelos autores para o desenvolvimento de suas análises possibilitará compreender a complexa teia que vem caracterizando a produção de conhecimentos em psicologia social e o modo como rapidamente se ramifica, cada vez mais e mais.

Mas se as diferenças são reconhecidas em sua positividade posto que expressam a condição polissêmica da própria existência humana, necessário se faz problematizar se e em que medida essa multiplicidade teórico-metodológica - ou o modo como esses referenciais balizam a produção de conhecimentos em psicologia social - mantém o compromisso com a luta em prol de condições dignas de existência para todos, premissa fundante da própria ABRAPSO.

Difícil responder a essa questão, mas a produção de respostas, plurais como as inquietações que as demandam, se apresenta como urgente. Necessário se faz discutir os pressupostos e projetos que balizam nossas intervenções e construções teóricas, não para reeditar velhos discursos e palavras de ordem, mas justamente como exercício de reflexão necessário ao tensionamento da dimensão axiológica que as orienta.

Se esse exercício é urgente, ao mesmo tempo é complexo e difícil. Imersos estamos em uma condição que historicamente produzimos, e nos distanciarmos dos variados feixes que a compõem para compreender suas diferenças, a pluralidade que a conota e a complexa teia produzida a partir de seus cruzamentos requer um grande esforço analítico. Tarefa de todos e de cada um, pois os discursos produzidos se apresentam não como palavras últimas, mas como abertura às contrapalavras que podem afirmar a dialogia da vida e possibilitar sua constante reinvenção.

Andréa Vieira Zanella

Coeditora

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Nov 2011
  • Data do Fascículo
    Ago 2011
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