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Compreensão econômica de estudantes entre 10 e 15 anos

Comprensión económica de estudiantes entre 10 y 15 años

Student's economic comprehension between 10 and 15 years old

Resumos

Nos últimos 50 anos, ocorreram significativas mudanças sociais, culturais, políticas, econômicas e tecnológicas que afetam o comportamento de pré-adolescentes e jovens. Essa faixa etária necessita de investigações sobre sua compreensão do mundo econômico e o papel da família no processo de socialização econômica. Por isso, a presente pesquisa tem por objetivo principal caracterizar a compreensão econômica de 830 estudantes de 10 a 15 anos de diferentes níveis socioeconômicos, moradores da cidade de São Paulo. O instrumento utilizado foi o Teste de Alfabetização Econômica para crianças, TAE-N. Com abordagem qualitativa e quantitativa, utilizou-se o desenho descritivo-comparativo e correlacional. Apresenta-se a frequência das variáveis categóricas; valores de frequência absoluta, percentual; média e desvio-padrão; utilizou-se o coeficiente alfa de Cronbach; teste Qui-Quadrado. Para a comparação de medidas contínuas ou ordenáveis, valeu-se dos testes Mann-Whitney e Kruskal-Wallis. Os resultados demonstram uma socialização econômica insuficiente para lidar com as exigências do mundo econômico.

socialização econômica; alfabetização econômica; conhecimento social


En los últimos 50 años han ocurrido significativos cambios sociales, culturales, políticos, económicos y tecnológicos, que afectan el comportamento de pre adolescentes y adolescentes. Este grupo etário requiere investigaciones sobre conprensión del mundo económico y el rol de la família en el processo de socialización económica. Por esta razón la investigación tiene por objetivo general caracterizar la comprensión económica de 830 estudiantes entre 10 y 15 años de diferentes niveles socioeconómicos, de la cuidad de São Paulo. El instrumento utilizado fue el Test de socialización económica TAE-N. Es un estudio mixto cualitativo y cuantitativo, con un diseño descriptivo, comparativo y correlacional. Los resultados se presentan con estadísticos descritivos, utilizándose el Coeficiente Alfa de Crombach y la prueba Chi Cuadadro. Para la comparación de variables continuas y ordinales fue utilizada la prueba de Mann-Whitney y Kruskal-Wallis. Los resultados muestran una socialización económica insuficiente para responder a las exigencias del mundo económico.

socialización económica; alfabetización económica; conocimiento social


In the last 50 years, social, cultural, political, economical and technological changes have been occurring which affect pre teens and teens behavior. This age group needs investigations on their economical world understanding and family role in the process of economical socialization. The main objective was characterize the economical understanding of 830 students aged 10 up to 15 years old from different socioeconomic levels who lives in São Paulo city. The Economical Literacy Test for children -ELT-C was the instrument used to comparative-descriptive and correlational drawing, based on a qualitative and quantitative approach. The frequency of categorical variables is presented; values of absolute and percentage frequency; average and standard-deviation and the alpha coefficient from Cronbach and the Chi-Square test were used. For the comparison of continuous or orderable measures were used the tests Mann-Whitney and Kruskal-Wallis. The results demonstrate an insufficient economical socialization to deal with the economical world demands.

economical socialization; economical literacy; social knowledge


ARTIGOS

Compreensão econômica de estudantes entre 10 e 15 anos

Comprensión económica de estudiantes entre 10 y 15 años

Student's economic comprehension between 10 and 15 years old

Sonia BessaI; Maria Belintane FermianoII; Marianela Denegri CoriaIII

ICentro Universitário Adventista de São Paulo, São Paulo/SP, Brasil

IIFaculdades NetWork, Nova Odessa/SP, Brasil

IIIUniversidad de La Frontera, Temuco, Chile

RESUMO

Nos últimos 50 anos, ocorreram significativas mudanças sociais, culturais, políticas, econômicas e tecnológicas que afetam o comportamento de pré-adolescentes e jovens. Essa faixa etária necessita de investigações sobre sua compreensão do mundo econômico e o papel da família no processo de socialização econômica. Por isso, a presente pesquisa tem por objetivo principal caracterizar a compreensão econômica de 830 estudantes de 10 a 15 anos de diferentes níveis socioeconômicos, moradores da cidade de São Paulo. O instrumento utilizado foi o Teste de Alfabetização Econômica para crianças, TAE-N. Com abordagem qualitativa e quantitativa, utilizou-se o desenho descritivo-comparativo e correlacional. Apresenta-se a frequência das variáveis categóricas; valores de frequência absoluta, percentual; média e desvio-padrão; utilizou-se o coeficiente alfa de Cronbach; teste Qui-Quadrado. Para a comparação de medidas contínuas ou ordenáveis, valeu-se dos testes Mann-Whitney e Kruskal-Wallis. Os resultados demonstram uma socialização econômica insuficiente para lidar com as exigências do mundo econômico.

Palavras-chave: socialização econômica; alfabetização econômica; conhecimento social.

RESUMEN

En los últimos 50 años han ocurrido significativos cambios sociales, culturales, políticos, económicos y tecnológicos, que afectan el comportamento de pre adolescentes y adolescentes. Este grupo etário requiere investigaciones sobre conprensión del mundo económico y el rol de la família en el processo de socialización económica. Por esta razón la investigación tiene por objetivo general caracterizar la comprensión económica de 830 estudiantes entre 10 y 15 años de diferentes niveles socioeconómicos, de la cuidad de São Paulo. El instrumento utilizado fue el Test de socialización económica TAE-N. Es un estudio mixto cualitativo y cuantitativo, con un diseño descriptivo, comparativo y correlacional. Los resultados se presentan con estadísticos descritivos, utilizándose el Coeficiente Alfa de Crombach y la prueba Chi Cuadadro. Para la comparación de variables continuas y ordinales fue utilizada la prueba de Mann-Whitney y Kruskal-Wallis. Los resultados muestran una socialización económica insuficiente para responder a las exigencias del mundo económico.

Palabras claves: socialización económica; alfabetización económica; conocimiento social.

ABSTRACT

In the last 50 years, social, cultural, political, economical and technological changes have been occurring which affect pre teens and teens behavior. This age group needs investigations on their economical world understanding and family role in the process of economical socialization. The main objective was characterize the economical understanding of 830 students aged 10 up to 15 years old from different socioeconomic levels who lives in São Paulo city. The Economical Literacy Test for children -ELT-C was the instrument used to comparative-descriptive and correlational drawing, based on a qualitative and quantitative approach. The frequency of categorical variables is presented; values of absolute and percentage frequency; average and standard-deviation and the alpha coefficient from Cronbach and the Chi-Square test were used. For the comparison of continuous or orderable measures were used the tests Mann-Whitney and Kruskal-Wallis. The results demonstrate an insufficient economical socialization to deal with the economical world demands.

Keywords: economical socialization; economical literacy; social knowledge.

Compreensão econômica, artigo de primeira necessidade

É muito comum ver que crianças, pré-adolescentes e adolescentes são tratados como clientes pelo marketing, graças ao poder, tanto financeiro, pois eles possuem dinheiro para seus gastos, quanto de persuasão, já que influenciam os colegas e a família nas compras. A pesquisa exibida neste artigo delineou-se a partir de tal realidade, o crescente manejo com o dinheiro de pré-adolescentes e adolescentes e sua inserção ativa no mundo econômico.

São poucas as pesquisas no Brasil sobre socialização econômica, socialização do consumidor, educação econômica e alfabetização econômica. Podemos citar os trabalhos de Araújo (2009) e Fermiano (2010) com crianças e pré-adolescentes, Silva (2008) com jovens, Lellis (2007) e Cantelli (2009) com famílias. De modo geral, as referidas pesquisas demonstram que os participantes possuem pouco conhecimento acerca do funcionamento da economia e as estratégias utilizadas para educar economicamente os filhos não têm características de serem as mais adequadas.

Crianças, pré-adolescentes e adolescentes estão inseridos no mundo econômico. Isso é fato. Porém, não significa que compreendam como são estabelecidas as relações de produção ou que saibam inferir a respeito de sua responsabilidade econômica, social e política. São bombardeados por propagandas que os incentivam cada vez mais a consumirem e, provavelmente, não possuam habilidades e competências para refletir sobre os motivadores que provocam desejos, as solicitações do meio e as pressões de um mercado cada vez mais agressivo.

A socialização econômica trata do estudo de como as crianças e jovens constroem os conceitos econômicos, em quais estágios do desenvolvimento ocorrem essas construções, como manuseiam o dinheiro e como a interação social com os pais, a escola, o meio e as variáveis sociodemográficas afetam tal processo.

De acordo com Denegri, Palavecinos, Ripoll e Yáñez (1999), o termo socialização para o consumo se refere à aquisição de conhecimentos, crenças, valores, atitudes e condutas relacionadas ao consumo por crianças, adolescentes e adultos, existindo uma estreita relação entre o processo de socialização e a educação para o consumo. Ambos fazem parte do mesmo processo cujo objetivo principal é promover conhecimentos, habilidades, atitudes, hábitos e valores destinados a tornar a conduta do consumidor eficiente e satisfatória. A mesma autora afirma que a socialização inicia-se na Educação Infantil e deve continuar ao longo da idade juvenil e adolescência. Durante a infância e adolescência, ocorre uma forte socialização econômica quanto a valores, atitudes, informações e habilidades que podem levar a condutas corretas ou à formação de condutas e hábitos negativos.

Estudos sobre educação econômica

Uma retrospectiva histórica leva o leitor a um vasto campo de pesquisas e descobertas mundo afora, tanto de informações coletadas no Ocidente quanto no Oriente. É interessante tomarmos conhecimento de tudo isso para conhecermos os caminhos percorridos e as descobertas realizadas, todavia, nesse momento, o objeto do presente artigo é outro. Contudo, convém lembrar que o desenvolvimento da Economia e Psicologia, sobretudo a Psicologia Econômica, e as respectivas pesquisas que se dedicaram a compreender o comportamento racional do homem contribuíram muito para desvendar o comportamento econômico do homem, o processo de socialização econômica, do consumidor e daí difundiu-se cada vez mais, até chegar à América Latina e ao Brasil.

Para este artigo, citam-se alguns estudiosos notáveis, dentre outros de igual importância. Dessa forma, apresentam-se algumas das muitas pesquisas sobre socialização econômica, alfabetização econômica de crianças, jovens, adultos, da família e outros, organizadas temporalmente. Importantes também são os pontos em comum que tais pesquisas trazem para reflexão, abrindo um leque de possibilidades para novas investigações no Brasil.

Nas décadas de 60 e 70, surgem os primeiros trabalhos de socialização econômica na família, realizados por Marshall e Magruder (1960), cuja preocupação era saber como as práticas de socialização econômica dos pais afetavam o conhecimento e a conduta dos filhos quanto à utilização do dinheiro.

Jahoda (1979, 1983) pesquisou as ideias relativas a intercâmbio monetário e ao funcionamento do banco como instituição financeira com crianças de 6 a 16 anos de diferentes classes socioeconômicas e provenientes de países diversos. Nessa mesma perspectiva, Hung Sik Ng (1983) efetuou um estudo com crianças chinesas de 6 a 13 anos de Hong Kong. Seus resultados indicam que as crianças chinesas obtêm a compreensão completa sobre o funcionamento bancário mais precocemente.

Furth (1980) realizou uma investigação na perspectiva construtivista sobre a compreensão da sociedade, com 195 crianças entre 5 e 11 anos. Os resultados mostraram a existência de quatro estágios na compreensão global dos fenômenos sociais. A principal contribuição do mencionado estudo foi provar que as ideias das crianças acerca do mundo social são qualitativamente diferentes das dos adultos e que as mudanças quanto ao desenvolvimento cognitivo são resultantes de um processo de construção. A compreensão do mundo social não pode ser atribuída somente à influência dos conhecimentos transmitidos pelos adultos, mas a um esforço ativo das crianças por reorganizar estes conhecimentos, a partir de suas próprias estruturas cognitivas.

As investigadoras Berti e Bombi (1981, 1988) realizaram vários estudos referentes ao desenvolvimento do pensamento econômico com crianças italianas de 4 a 14 anos. Tomando como referencial a teoria piagetiana, elas abordaram a compreensão da origem do dinheiro, funções do banco, remuneração pelo trabalho e desigualdade social. Os resultados mostraram que a compreensão da economia é um processo de diferenciação e articulação, no qual a criança constrói regras cada vez mais precisas e complexas.

Os resultados dos estudos revelam que a criança é ativa no desenvolvimento de conceitos econômicos e, ao mesmo tempo, demonstram haver uma estreita relação com o desenvolvimento cognitivo, entretanto mediada fortemente pela influência do nível socioeconômico, do meio cultural e da experiência econômica a que está submetida.

Os estudos descritos evidenciam alguns pontos em comum e destacam-se dois em especial, a construção evolutiva de conceitos econômicos e a influência do meio social em tal construção. Delval (1989) assegura que as representações que se formam a respeito de diferentes aspectos do funcionamento do mundo social têm um conjunto de traços comuns. Um deles seria a semelhança de explicações a partir da faixa etária; outro seria a generalização de concepções de mundo e sua aplicação aos diferentes domínios. Essas diferentes concepções se comportariam como estágios pelos quais se constrói, cada vez mais, um todo organizado. Para que essa organização seja cada vez mais coerente, as experiências sociais tornam-se imprescindíveis.

Mory e Lewis (2001), em um estudo com 637 sujeitos ingleses, entre 16 e 60 anos, verificaram que os métodos utilizados para a alfabetização econômica das famílias eram muito variados. 58% deles davam uma mesada para os filhos; 46% incentivavam-nos a realizar operações bancárias; 37% apoiavam a economia a curto prazo, utilizando cofrinhos domésticos; e somente 32% dos pais conversavam com os seus filhos sobre o uso do dinheiro. Uma percentagem muito pequena das famílias se preocupava em orientar seus filhos, os demais utilizavam métodos diversos, de forma esporádica ou de acordo com as circunstâncias, ou quando surgia interesse por parte das crianças. Observaram também que as diferentes profissões dos pais e nível socioeconômico interferem nas práticas de socialização econômica. As famílias de nível socioeconômico baixo davam poucas informações econômicas para seus filhos, comparadas às de nível socioeconômico alto.

Gunter e Furnham (2001) destacam as formas como as crianças e jovens raciocinam e compreendem os assuntos econômicos. Tais estudos têm demonstrado que, desde cedo, as crianças e adolescentes não estão indiferentes às questões econômicas, mas constroem ativamente explicações sobre o mundo econômico e tais explicações estão na base de suas condutas de consumo.

Na pesquisa de Denegri, Cortés, Quezada e Sepúlveda (2004), foram encontrados os seguintes níveis de pensamento econômico em participantes de 10 a 14 anos: é a partir desses níveis que os estudantes da referida pesquisa foram analisados.

Nível I – Pensamento Econômico Primitivo, subdividido em Nível IA e IB, (crianças de 6 a 9 anos): predomínio de categorias extraeconômicas; o dinheiro é visto como um instrumento natural de compras, livremente, disponível para todos. O desejo predomina acima de qualquer coisa, não se consideram as restrições sociais ou econômicas. A realidade social e econômica é representada de forma isolada. Não se tem compreensão de mudança de forma dinâmica. Há dificuldade de se separarem as relações pessoais e institucionais próprias do mundo econômico e separar o mundo das relações pessoais do âmbito social e institucional. Tendem a aplicar as mesmas regras de reciprocidade nas explicações dos problemas econômicos e não há uma compreensão muito clara da noção de lucro, excluindo a ideia econômica de busca de benefícios. Têm um conceito pessoal de Estado, representado como uma figura concreta, que atua como pai e protetor de toda a sociedade.

Nível II – Pensamento Econômico Subordinado (crianças maiores de 10 anos, adolescentes e, inclusive, alguns adultos): nessa fase, começa a surgir um esforço para superar as contradições e os sujeitos já refletem sobre a realidade social. Aparece a construção da primeira conceitualização econômica da sociedade com compreensão do conceito de lucro como eixo. Há a compreensão da existência de restrições, na realidade social, à incorporação de preceitos morais numa conceitualização global da sociedade como um espaço regido por leis necessárias para o seu funcionamento. O Estado passa a ser compreendido como um espaço institucional encarregado da organização, regulação, distribuição de recursos e controle de todo o funcionamento social e econômico. Algumas dificuldades: pouca clareza dos mecanismos de financiamento do Estado; difícil entendimento acerca das inter-relações dos processos econômicos complexos e obstáculos para realizar inferências sobre processo o que não é visível.

Nível III Pensamento Econômico Independente ou Inferencial (adolescentes mais velhos e adultos): há uma mudança na forma global de os adolescentes conceituarem os processos sociais. Conseguem levantar hipóteses a respeito do mundo econômico e, a partir daí, estabelecem relações entre os processos econômicos, sociais, sistemas e ciclos, numa visão mais sistêmica. Possuem reflexão mais avançada acerca da realidade social e das variáveis que operam nas mudanças sociais e econômicas. Há uma valorização ideológica das mudanças, dos ciclos e das políticas econômicas, um maior entendimento do papel do Estado e de suas formas de funcionamento.

Pesquisa efetuada por Denegri, Palavecinos, Gempp e Caprile (2005) descreve as estratégias e práticas de socialização econômica numa amostra chilena de 132 famílias de classe média. As famílias tinham estrutura familiar, biparental ou monoparental, com no máximo 3 filhos de ambos os sexos até 16 anos, pais entre 25 e 35 anos. Os objetivos eram descrever e identificar as estratégias e práticas socializadoras de alfabetização econômica utilizadas por famílias de classe média com seus filhos. Os resultados assinalam que existe consenso entre as famílias a respeito da necessidade de educar as crianças no uso do dinheiro e que esta é uma responsabilidade dos pais. As práticas são diversas, intuitivas, pouco sistemáticas e isoladas, não se constituindo em estratégias de socialização e mostrando inconsistência entre os valores expressos pelos pais e as práticas que empregam.

No Brasil, os primeiros estudos sobre alfabetização econômica são os de Araújo (2009) e Silva (2008). O primeiro estudou o desenvolvimento do pensamento econômico em crianças de 8 a 10 anos; o segundo demonstrou que estudantes do curso de Pedagogia não apresentam nível de alfabetização suficiente para compreender o mundo econômico e desenvolvem atitudes em direção ao endividamento.

Lellis (2007) estudou as crenças e práticas de 32 pais de renda média e baixa quanto à utilização da mesada com filhos. Os resultados apontaram três eixos temáticos: processo de utilização de mesada; função socializadora, de integração e status social; definição de mesada, frequência, valor e necessidade dos filhos.

Na pesquisa de Cantelli (2009), nota-se que os procedimentos utilizados pelas famílias na educação econômica de seus filhos são insuficientes ou mesmo inadequados.

A pesquisa

Os resultados observados nas pesquisas citadas e, considerando a importância do meio, em especial, da família na educação econômica dos mais jovens, suscitaram questionamentos a respeito da realidade brasileira e como os pré-adolescentes e adolescentes compreendem o mundo econômico. Ressalte-se que os estudantes da presente pesquisa foram analisados a partir dos níveis de pensamento econômico encontrados na pesquisa realizada por Denegri, Cortés, Quezada e Sepúlveda (2004). Conhecer o nível de alfabetização econômica da faixa etária de 10 a 15 traz dados sobre a qualidade da educação econômica que recebem em sua família, na escola e outras instituições. E, sua possível ausência, remete à necessidade de elaborar instrumentos e estratégias de divulgação de informações para que as pessoas sejam alfabetizadas economicamente.

Objetivos

A pesquisa foi organizada a partir dos seguintes objetivos: caracterizar a compreensão econômica de estudantes de 10 a 15 anos; identificar o nível de pensamento econômico; comparar os níveis de compreensão econômica dos estudantes, considerando as quatro variáveis: nível socioeconômico, escolaridade, gênero e idade; e observar se os dados são semelhantes aos das pesquisas internacionais e nacionais.

Metodologia

A pesquisa exibe uma abordagem qualitativa-quantitativa. Realizou-se uma análise descritiva com a apresentação de tabelas de frequência das variáveis categóricas, com valores de frequência absoluta (n) e percentual (%), e medidas de posição e dispersão – média, desvio padrão, valores mínimo e máximo e mediana, para as variáveis numéricas.

Para a análise da consistência interna da escala, valeu-se do coeficiente alfa de Cronbach. Este coeficiente é utilizado para verificar a homogeneidade dos ítens, ou seja, sua acurácia. Como regra geral, a acurácia não deve ser menor que 0.80, se a escala for amplamente utilizada, porém valores acima de 0.60 já indicam consistência (Clark & Watson, 1995).

Para a comparação de proporções, foi utilizado o teste Qui-quadrado; para a comparação de medidas contínuas ou ordenáveis entre 2 grupos, foi utilizado o teste de Mann-Whitney; entre 3 ou mais grupos, o teste de Kruskal-Wallis.O nível de significância adotado para os testes estatísticos foi 5% (p<=0.05).

Para a realização deste estudo, foi constituída amostra com 830 estudantes, com idade entre 10 e 15 anos, dos níveis socioeconômicos baixo, médio e alto. A amostra foi selecionada intencionalmente com quatro variáveis de controle: nível socioeconômico, gênero, escolaridade e idade. A distribuição dos alunos ocorre da seguinte forma:

-quanto ao gênero: 49,88% do sexo masculino e 50,12% do sexo feminino;

-quanto à escolaridade: 25,69%, 6º ano; 30,76%, 7º ano; 22,68%, 8º ano e 20,87%, 9º ano;

-quanto à idade: 7,39% com 10 anos; 25,70% com 11 anos; 26,06% com 12 anos; 23,52% com 13 anos; 14,06% com 14 anos; e 3,27% com 15 anos;

-quanto ao nível socioeconômico: 39,45% do baixo; 41,38% do médio e 19,18 do alto.

Instrumento

Foi utilizado como instrumento de avaliação um Teste de Alfabetização Econômica para crianças TAE-N, que mede o nível e a qualidade da informação econômica em crianças a partir de 10 anos. Criado por Denegri, Cortés, Quezada e Sepúlveda (2004), é a única prova que aborda esta temática na língua espanhola e tem sido adaptada a diferentes realidades latino-americanas. É composta por 22 itens de múltipla escolha, com uma alternativa correta e três incorretas. As análises realizadas validaram sua qualidade psicométrica, tanto do ponto de vista da teoria clássica dos testes como pelo marco da teoria de resposta ao item. Nesse formato não existe uma única resposta correta. Cada resposta representa um diferente nível de desenvolvimento do pensamento econômico. A resposta incorreta equivale ao nível IA e as respostas corretas, em ordem sucessiva, aos níveis IB, II e III.

Resultados e discussão

Para expressar os níveis de pensamento econômico, utilizaram-se as seguintes abreviações: pensamento econômico primitivo (P.E.Prim.); pensamento econômico subordinado (P.E.Sub.) e pensamento econômico independente (P.E.Ind.).

A partir das respostas ao TAE-N, constatou-se que não houve diferença significativa de resultados por nível entre os gêneros. Para o P.E.Prim, houve 15,3% para o sexo masculino e 15,01% para o feminino; para o P.E.Sub., 42,1% e 41, 96%; e para o P.E.Ind, 41,46% e 43%, respectivamente. Na Tabela 1, observa-se a análise descritiva e a comparação dos resultados.

A pesquisa de Denegri, Amar, Llanhos e Martinez (2002) com crianças colombianas apresentou como resultado um melhor nível de desempenho dos meninos que as meninas na compreensão da realidade econômica. Já na pesquisa de Araújo (2009) com crianças brasileiras, na aplicação do pré-teste, o mesmo fato não ocorreu, pelo contrário, as meninas obtiveram um desempenho superior, no entanto, após a intervenção e aplicação do pós-teste, os meninos mostraram um desempenho melhor.

Foi encontrada diferença significativa p<0.0001 entre os NSE baixo e médio; baixo e alto. Entre os NSE médio e alto não foi encontrada diferença. As pesquisas de Denegri (1997,1999, 2004, 2005) revelam que as crianças de NSE mais alto possuem uma experiência com o dinheiro diferenciada das de NSE mais baixo, não significa, contudo, que as primeiras sejam alfabetizadas economicamente. Os resultados são indicados na Tabela 2.

Quando se compara o desempenho dos três níveis socioeconômicos, verifica-se que os estudantes do NSE alto exibiram uma classificação de pensamento econômico maior. O percentual do P.E.Ind. apresenta uma ordem crescente em relação aos NSE, sendo 31,1%, para o baixo; 48,3%, para o médio; e 51,8%, para o alto. Quanto ao P.E.Sub, para o NSE baixo encontra-se um desempenho de 47,77%; NSE médio, 39%; para o alto, 37,77%. Quanto ao P.E.Prim., obtém-se os seguintes resultados: NSE baixo, 21,05%; médio, 12,64%; e alto, 11,4%.

Tais resultados vêm ao encontro daquilo que a literatura apresenta sobre a importância do meio nas experiências da criança. Os trabalhos de Lellis (2007) apontam as crenças paternas a respeito da utilização da mesada e demonstram uma conduta pouco sistematizada e conduzida pelo senso comum. Se a socialização econômica ocorre, primeiramente na família, podemos inferir que as crianças podem não estar obtendo as informações necessárias para o seu desempenho no mundo econômico. O melhor desempenho daqueles que pertencem ao NSE médio e alto, provavelmente, seja pela frequente experiência com dinheiro. No entanto, em relação à sua função, não se percebem diferenças qualitativas em todos os níveis socioeconômicos, como pode ser visto na análise das respostas para a questão "Quando você compra um chocolate, você está pagando:". Essas observações nos levam a considerar que o tratamento de crianças, pré-adolescentes e adolescentes como clientes pelo marketing faz com que eles assumam um papel que necessita urgentemente de orientação, ou seja, de educação para o consumo e financeira.

Um dado interessante pode ser acrescentado pela pesquisa de Gasiorowska, Zaleskiewicz e Wygrab (2012), é que apenas ter a ideia do dinheiro afeta o comportamento e preferências sociais das crianças que não entendem suas funções econômicas. Os autores distinguem dois pontos de vista em relação ao dinheiro: o universal, definido por suas funções como instrumento, e o ponto de vista psicológico, no qual o dinheiro exerce uma influência simbólica e emocional e pode servir como recurso social na regulação interpessoal e intrapessoal. A pesquisa foi realizada com crianças de 5 a 8 anos e observou-se que elas demonstraram mais egoísmo em jogos econômicos, revelando preferências menos pró-sociais e menos propensas a ajudar o experimentador do que as crianças do grupo de controle. Demonstraram também a não compreensão dos mecanismos econômicos inerentes ao uso do dinheiro e não são capazes de usá-lo corretamente. Isso pode implicar que o significado simbólico do dinheiro é mais primitivo do que o significado instrumental.

Quanto à variável idade, encontra-se diferença significativa p<0.0001 entre 10-11 e 12 anos; 10-11 e 13 anos; 10-11 e 14-15 anos; 12 e 13 anos; 12 e 14-15 anos, como pode ser verificado na Tabela 3.

Nota-se que o P.E.Prim decresce percentualmente entre os intervalos das idades (10-11; 12; 13; 14-15) de 19,7% para 14,02%, o que evidencia ser positivo, no entanto, a diferença entre 12, 13 e 14-15 anos é insignificante, 15,3%, 14,12% e 14, 02%, respectivamente. Já no P.E.Sub., observa-se um decrescimento entre as idades, o que não demonstra ser um bom resultado, pois os percentuais maiores, nesse nível, encontram-se entre 10-11 anos, com 45,04%; 12 anos, com 43,9%; 13 anos, 39,07%; e 14-15 anos, com 38,64%. No P.E.Ind., verificam-se percentuais maiores nos estudantes mais velhos, sendo aos 10-11, 35,25%; 12 anos, 40,78%; 13 anos, 46,65; e 14-15 anos, 47,24%.

Na distribuição dos estudantes por nível de pensamento econômico, obtiveram-se os seguintes resultados: o P.E.Sub. e P.E.Ind. tiveram índices próximos, 42,5% e 40,2%, respectivamente, e somente 17,1% da amostra está no P.E.Prim..

Denegri (1997) notou a existência de uma sequência evolutiva em relação a respostas menos elaboradas e pouca idade e respostas de maior complexidade e crianças mais velhas. Em seu estudo comparativo entre crianças chilenas e espanholas, a autora percebeu que aparecem diferenças significativas entre ambas as amostras, quanto à evolução dos conceitos econômicos em todas as faixas etárias. Uma das possíveis explicações é em decorrência do contexto cultural dos dois países. O estudo de Araújo (2009) demonstra que as crianças mais jovens, de 8 e 9 anos, apresentaram um crescimento um pouco maior, de 15,2%, do que as crianças de 10-11 anos, 13,3%, considerando os resultados do pré e pós-teste.

A pesquisa de Fermiano (2010), com 423 pré-adolescentes de uma região metropolitana do estado de São Paulo, indica que 92,4% da amostra com a idade de 8 a 14 anos recebe, de seus pais, dinheiro para seus gastos. Ao possuir dinheiro, tal faixa etária tem significativo potencial de consumo e se torna alvo do marketing.

A análise dos resultados permite contribuir para a valorização da importância de um meio rico em informações que pode auxiliar crianças e jovens a compreenderem, levando em conta as características de sua faixa etária, o cotidiano econômico e de consumo em que vivem e, com isso, favorecer o estabelecimento de estratégias mais assertivas na administração do dinheiro e compreensão dos conceitos que envolvem o processo e modo de produção.

Na questão "Quando você compra um chocolate, você está pagando:...", espera-se que a resposta considere a alternativa que compreenda que no chocolate está incluso a sua produção, o lucro e o imposto, pois fazem parte do preço do produto final. Estes são conceitos importantes para a compreensão do mundo econômico. A resposta que caracteriza o P.E.Prim. é "o que o dono do comércio cobra", e a que caracteriza o P.E.Ind. seria "a produção, os impostos e o lucro". Não foi encontrada associação significativa, Qui-Quadrado p=0,0354, entre classe social e a resposta à questão, ou seja, independente do NSE, todas as respostas se encontram no mesmo patamar. O P.E.Prim obteve os seguintes percentuais: quanto ao NSE baixo, 18,35%; médio, 11,7%; alto, 12,99%. Para o P.E.Sub., o NSE baixo teve 24,46%; o médio, 33,4%; o alto, 31,17%. E para o P.E.Ind., o NSE baixo, 57,19%; médio, 55%; e o alto, 55,84%.

O TAE-N analisa o nível de compreensão econômica dos estudantes e aponta conceitos necessários que refletem em seu cotidiano. A defasagem de conhecimentos encontrada diz respeito à origem e circulação do dinheiro, funcionamento bancário, inflação, taxa de juros, lucro, processo de produção. Fatores como a escolarização, o gênero e, fundamentalmente, o nível socioeconômico podem influenciar no modo pelo qual nossos jovens compreendem os fenômenos econômicos e o desenvolvimento de hábitos de consumo e atitudes em direção ao endividamento.

Nas pesquisas de Araújo (2009) e Silva (2008), a primeira com crianças e a segunda com jovens, houve um trabalho de intervenção controlado com pré e pós-teste. A partir dos resultados obtidos, apontam-se alguns aspectos importantes: há carência de informação sistematizada sobre o funcionamento da economia e atitudes assertivas na administração do dinheiro; as intervenções pedagógicas demonstraram fazer diferença na formação dos participantes; há necessidade de um programa de educação econômica: financeira e do consumidor; o investimento na capacitação de professores se faz necessário, visto que estes se apresentam vulneráveis também; acompanhamento e avaliação para descrever e compreender melhor o comportamento econômico de jovens, crianças e professores antes, durante e após programas de intervenção a médio e longo prazos.

O recente estudo de Davies e Lundholm (2012) ainda revela a escassez de pesquisas voltadas para os conhecimentos sociais, em especial, os de mudança conceitual na compreensão econômica. Os autores investigaram as concepções acerca do fornecimento de bens e serviços gratuitos em diferentes grupos etários.

Os dados das pesquisas apresentadas demonstram a importância do papel do adulto na socialização da criança. As diferentes representações da criança sobre o seu entorno são fruto de uma elaboração interna, de acordo com os instrumentos cognitivos que possui. O processo de construção das noções sociais é dialético, ocorre a partir dos elementos que o adulto proporciona e as construções próprias do sujeito, entre o que é individual e o que é social. Isso leva tempo para ser organizado. É fruto de um bombardeio de informações provenientes da mídia, do grupo, da família, da sociedade e, por isso, com uma série de significações próprias que são organizadas em contextos cada vez mais amplos e coerentes (Delval, 1989).

As noções econômicas se constituem um eixo da organização social e a criança está em contato com elas desde muito cedo, abrindo um leque de possibilidades de estudos sobre as representações a respeito do mundo à sua volta, em especial, da socialização econômica. O mundo econômico também permite um contato mais concreto da criança com a realidade, em suas idas ao supermercado, compras na cantina da escola, conhecimento do dinheiro para lidar com tais situações. Esse tal mundo econômico possui um funcionamento complexo que, no entanto, apresenta aspectos intimamente relacionados entre si (Delval, 1989).

A compreensão da realidade econômica e também a da política, pela criança, segundo Delval (1989), é de grande importância para o estudo do desenvolvimento da psicologia infantil, por ser um eixo da organização social e por estar em contato com essa realidade diariamente, desde muito cedo.

As pesquisas realizadas por Denegri, Palavecinos, Gempp e Caprile (2005), Cantelli (2009) e Lellis (2007) sinalizam que existe consenso entre as famílias quanto à necessidade de educar as crianças no uso do dinheiro e que esta é uma responsabilidade dos pais. Porém, as práticas que utilizam para alfabetizar os seus filhos no uso do dinheiro são intuitivas, pouco sistemáticas e isoladas, não constituindo estratégias de socialização, e mostram inconsistência entre os valores expressos pelos pais e as práticas que empregam, o que repercute na educação de seus filhos.

Os estudantes, de modo geral, estão expostos numa economia que solicita conhecimento do funcionamento bancário, de administração de cartões de crédito, entre outros, e eles o possuem de maneira deficitária.

O consumismo tem se tornado uma patologia social, principalmente nos países de economia emergente, podendo aprofundar ainda mais as desigualdades sociais. Os dados da pesquisa orientam para a necessidade de introduzir, nas escolas, temáticas para a compreensão da economia a fim de que crianças e jovens possam, desde a mais tenra idade, desenvolver capacidade para compreender a sociedade que os cerca.

A esse respeito, a pesquisa de Guven (2012) demonstrou que, quando as pessoas estão satisfeitas ou felizes com sua vida, elas tendem a modificar seu comportamento no modo de consumo, gastam menos e têm uma menor propensão marginal a consumir. As pessoas felizes levam mais tempo a tomar decisões e ter mais controle sobre os gastos, pois esperam uma vida mais longa, parecem estar mais preocupadas com o futuro do que com o presente e também esperam menor inflação no futuro.

A alfabetização econômica permite a compreensão da economia regional, nacional, global e o lugar que ocupamos dentro dela. Ela pode ser uma ferramenta muito importante para ampliar a participação pública no debate e estabelecimento de políticas econômicas, promovendo a oportunidade de conhecer as causas dos problemas sociais e econômicos, ajudando a eliminar representações erradas e criando alternativas políticas e comunitárias.

Para Denegri, Cortés, Quezada e Sepúlveda (2004), um indivíduo alfabetizado, economicamente, é capaz de compreender o sistema econômico, o uso e circulação do dinheiro, as instituições financeiras públicas e privadas, os processos produtivos e econômicos etc.

As crianças e jovens adquirem a maioria das informações e condutas como consumidores de modo informal, ou seja, imitando a conduta dos adultos, pares e pais, e por influência dos meios de comunicação de massa, não tendo acesso a uma formação intencional que lhes prepare para interagir com uma sociedade de consumo cada vez mais agressiva e complexa.

Essa formação intencional só pode ser garantida quando se incorporar a alfabetização econômica e a educação para o consumo como temas sociais relevantes no currículo dos estudantes. A alfabetização econômica e a educação para o consumo devem ser iniciadas desde a educação infantil através do desenvolvimento de hábitos básicos de consumo e o reconhecimento do uso do dinheiro; isso deve ser aprofundado na Educação Básica, Ensino Médio e Ensino Superior.

O PISA é estudo internacional lançado pela Organisation for Economic Co-operation and Development -OECD -(no Brasil, Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) em 1997 que avalia, a cada três anos, as competências em matemática, leitura e ciência do ensino, em jovens de 15 anos no mundo. Em consonância com as ideias apresentadas, em 2012, teve, como meta, avaliar as competências que os jovens possuem em alfabetização financeira. A inclusão da análise de tal competência vem sendo estudada desde 2010, por um grupo de especialistas em alfabetização financeira. A alfabetização financeira passa a ser considerada como um elemento primordial para garantir a estabilidade financeira e o desenvolvimento das nações. Esse novo panorama deu-se em função das recentes crises econômicas que atingiram países desenvolvidos e os reflexos que se estenderam à economia mundial, em especial, de países com uma economia ainda débil.

Os estudos de Katona (1975) parecem ter sido resgatados e considerados, quando a OECD (2012) justifica a necessidade de alfabetização econômica. A ideia implica que, quando o comportamento e decisões financeiras de cada pessoa são os mesmos dos de milhares ou milhões, ocorrem mudanças no mercado e na economia que podem ter uma repercussão positiva ou não.

A OECD, desde 2005, ou seja, recentemente, defende a alfabetização financeira para as gerações mais jovens e sua inclusão nos currículos escolares. Tal posicionamento ganha corpo com a definição de conteúdos, processos e contextos específicos da área. Os conteúdos estão representados pelas áreas de conhecimento, os processos estão constituídos pelas estratégias cognitivas de processamento de informação e tomada de decisões e seus componentes afetivos, atitudinais e valorativos, os contextos estão representados pelas situações em que se aplicam os conhecimentos e habilidades. O TAE-N contempla os conteúdos e conceitos apresentados no documento da OECD. Após a aplicação do PISA 2012, obter-se-ão valiosas informações para outras análises e desenvolvimento de pesquisas.

A educação financeira e do consumidor é essencial para ajudar os consumidores a obterem informações e tomarem decisões que permitam melhorar sua situação financeira e fortalecer a eficiência do mercado financeiro. A capacitação financeira é a primeira linha de defesa para o bom funcionamento dos mercados (Braunstein, 2008).

A evidência empírica demonstra que adultos, tanto de países desenvolvidos como de economias emergentes, expostos a processos de educação financeira, desenvolvem comportamentos mais pró-ativos quanto à poupança, o planejamento de recursos, dentre eles o destinado a emergências. (Bernheim, Garrett, & Maki, 2001; Cole, Sampson, & Zia, 2010; Moore, 2003). Essa evidência sugere uma relação causal direta entre a educação financeira e as mudanças de comportamento, ou seja, um impacto direto na competência financeira dos sujeitos.

A Educação Econômica é definida por Denegri (1997) como uma ação educativa que tem como objetivo favorecer a construção de noções econômicas básicas e estratégias para a tomada de decisões pertinentes que permitam crianças e adolescentes se posicionarem diante da sociedade de consumo como pessoas conscientes, críticas, responsáveis e solidárias. A autora dividiu a educação econômica em três grandes linhas de pesquisa: a Alfabetização econômica, que corresponde aos elementos conceituais e práticos que possibilitam ao sujeito compreender as várias atividades econômicas a que está exposto diariamente; a Psicologia econômica, conhecida como psicologia do consumo; e a Socialização econômica, que é o processo de aprendizagem das formas de relacionamento com o mundo econômico, processo este mediado pela família, escola, nas relações com os pares e pelos meios de comunicação.

Os resultados obtidos nesta pesquisa vêm ao encontro de outras similares e indicam a necessidade de uma educação econômica para crianças e adultos. A educação econômica, financeira e do consumidor pode servir para cumprir diferentes propósitos, sua efetividade vai depender, em grande medida, da clareza, precisão e avaliação dos objetivos que se pretende alcançar com ela, as competências que se espera desenvolver na população e os conteúdos e estratégias educativas selecionadas para sua aplicação.

Submissão em: 07/09/2011

Revisão em: 17/05/2012

Aceite em: 16/11/2012

Sonia Bessa Nicacio Silva é Doutora em Educação pela UNICAMP. Docente da UEG -Universidade Estadual de Goiás e bolsista PNPD/ CAPES da Universidade Federal Triangulo Mineiro. Endereço: Rua João Batista Marcondes 228 Parque Fernanda. Sao Paulo-SP, Brasil. CEP 05889-300 E-mail: soniabessa@gmail.com

Maria Belintane Fermiano é Doutora em Educação pela UNICAMP. Professora universitária nas Faculdades NetWork. Membro do LPG-Laboratório de Psicologia Genética da Faculdade de Educação/UNICAMP. Coordenadora do GAEEC -Grupo de Alfabetização e Educação para o Consumo, linha de pesquisa do LPG. Endereço: Rua Antonio Zamarchi, 400 -13.171-824, Sumaré, SP, Brasil. E-mail: maria.belintane@gmail.com

Marianela Denegri Coria é PhD. Directora Núcleo de Ciencias Sociales y Humanidades. Universidad de La Frontera – Chile. Endereço: Avenida Francisco Salazar 01145, Temuco, Chile. E-mail: marianela.denegri@ufrontera.cl

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    29 Ago 2014
  • Data do Fascículo
    Ago 2014

Histórico

  • Recebido
    07 Set 2011
  • Aceito
    16 Nov 2012
  • Revisado
    17 Maio 2012
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