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Percepção de adolescentes não-pais sobre projetos de vida e sobre a paternidade adolescente

Percepción de los adolescentes no padres acerca de proyectos de vida y paternidad adolescente

Adolescent perceptions of life projects and of teenage fatherhood

Resumos

Na adolescência, há o estabelecimento de projetos de vida, que podem ser modificados frente à situação de paternidade. Assim, o objetivo deste estudo foi investigar a percepção de adolescentes não-pais sobre os projetos de vida e sobre a paternidade adolescente. Em particular, buscou-se examinar suas percepções sobre o impacto de uma gravidez na adolescência nos projetos de vida, em relação à família, à escola e ao trabalho. Foram entrevistados sete adolescentes não-pais, com idades entre 13 e 16 anos, com escolaridade variada e baixo nível socioeconômico. As respostas foram submetidas à análise qualitativa que, de modo geral, revelou uma diversidade nos projetos de vida dos adolescentes não-pais quanto à escola, trabalho e família. A paternidade adolescente foi percebida como negativa, devido às suas implicações na adolescência e nos projetos de vida, os quais seriam modificados, postergados ou abandonados.

adolescentes não-pais; projetos de vida; paternidade adolescente


Durante la adolescencia se establecen proyectos de vida que pueden cambiar con la paternidad. Luego, ese estudio tuvo como objetivo investigar la percepción de adolescentes no-padres acerca de proyectos de vida y paternidad adolescente. Particularmente se trató de examinar las percepciones de los adolescentes acerca del impacto del embarazo adolescente en relación a los proyectos de vida, familia, escuela y ocupación. Siete adolescentes, con edades comprendidas entre 13 y 16 años, de diferentes niveles educativos y socioeconómicos, que no son los padres, fueron entrevistados. Las respuestas fueron sometidas a un análisis cualitativo que, en general , reveló diferencias en los proyectos de vida de los adolescentes no padres acerca de escuela , ocupación y familia. La paternidad adolescente ha sido percibida por los participantes como algo negativo debido a sus implicaciones en la adolescencia y sus proyectos de vida, que serían modificados, retrasados o abandonados.

adolescentes; proyectos de vida; paternidad adolescente


In adolescence there are life projects which can be modified by fatherhood experience. Therefore the aim of this study was to investigate the perceptions of adolescents who were not fathers concerning life projects and adolescent fatherhood. In particular it examined their perceptions regarding the impact of adolescent pregnancy on life projects concerning family, school and work. Seven adolescents who were not fathers, aged 13 to 16, of different education and socioeconomic background took part in the study. The answers were submitted to qualitative analysis which revealed in general a diversity of life projects of adolescents who were not fathers regarding school, work and family. Adolescent fatherhood was perceived as negative due to its implications to adolescence and to life projects which would be modified postponed or abandoned.

adolescent non-parent; life project; teenage fatherhood


ARTIGOS

Adolescent perceptions of life projects and of teenage fatherhood

Ana Paula Cargnelutti Venturini; Cesar Augusto Piccinini

Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS, Brasil

RESUMO

Na adolescência, há o estabelecimento de projetos de vida, que podem ser modificados frente à situação de paternidade. Assim, o objetivo deste estudo foi investigar a percepção de adolescentes não-pais sobre os projetos de vida e sobre a paternidade adolescente. Em particular, buscou-se examinar suas percepções sobre o impacto de uma gravidez na adolescência nos projetos de vida, em relação à família, à escola e ao trabalho. Foram entrevistados sete adolescentes não-pais, com idades entre 13 e 16 anos, com escolaridade variada e baixo nível socioeconômico. As respostas foram submetidas à análise qualitativa que, de modo geral, revelou uma diversidade nos projetos de vida dos adolescentes não-pais quanto à escola, trabalho e família. A paternidade adolescente foi percebida como negativa, devido às suas implicações na adolescência e nos projetos de vida, os quais seriam modificados, postergados ou abandonados.

Palavras-chave: adolescentes não-pais; projetos de vida; paternidade adolescente.

RESUMEN

Durante la adolescencia se establecen proyectos de vida que pueden cambiar con la paternidad. Luego, ese estudio tuvo como objetivo investigar la percepción de adolescentes no-padres acerca de proyectos de vida y paternidad adolescente. Particularmente se trató de examinar las percepciones de los adolescentes acerca del impacto del embarazo adolescente en relación a los proyectos de vida, familia, escuela y ocupación. Siete adolescentes, con edades comprendidas entre 13 y 16 años, de diferentes niveles educativos y socioeconómicos, que no son los padres, fueron entrevistados. Las respuestas fueron sometidas a un análisis cualitativo que, en general , reveló diferencias en los proyectos de vida de los adolescentes no padres acerca de escuela , ocupación y familia. La paternidad adolescente ha sido percibida por los participantes como algo negativo debido a sus implicaciones en la adolescencia y sus proyectos de vida, que serían modificados, retrasados o abandonados.

Palabras clave: adolescentes; proyectos de vida; paternidad adolescente.

ABSTRACT

In adolescence there are life projects which can be modified by fatherhood experience. Therefore the aim of this study was to investigate the perceptions of adolescents who were not fathers concerning life projects and adolescent fatherhood. In particular it examined their perceptions regarding the impact of adolescent pregnancy on life projects concerning family, school and work. Seven adolescents who were not fathers, aged 13 to 16, of different education and socioeconomic background took part in the study. The answers were submitted to qualitative analysis which revealed in general a diversity of life projects of adolescents who were not fathers regarding school, work and family. Adolescent fatherhood was perceived as negative due to its implications to adolescence and to life projects which would be modified postponed or abandoned.

Keywords: adolescent non-parent; life project; teenage fatherhood.

A adolescência é uma etapa da vida que instiga diversos pesquisadores a estudá-la, devido às mudanças peculiares que provoca no desenvolvimento humano. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (World Health Organization - WHO, 1995), a adolescência compreende a faixa etária dos 10 aos 19 anos; já para o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 8.069, 1990), ela insere-se entre os 12 e os 18 anos. Todavia, muitas vezes o período que compreende a adolescência ultrapassa o critério da idade (Leal & Knauth, 2006), pois o mesmo se altera de acordo com os contextos e os eventos de vida de cada indivíduo (Oliveira, 2008). A dificuldade de delimitar o final da adolescência pode estar vinculada ao reconhecimento do sujeito do seu status de adulto, e alguns elementos, como o sustento financeiro e a própria paternidade, podem ser indícios do início da vida adulta (Orlandi & Toneli, 2008). Desse modo, é importante considerar as diversidades, tanto em níveis individuais como contextuais, que englobam o desenvolvimento dos adolescentes (Lerner, Lerner, Stefanis, & Apfel, 2001).

Na adolescência, há diversos eventos importantes, como o desenvolvimento biológico, afetivo, cognitivo e social. Por exemplo, no aspecto cognitivo, o adolescente pode alcançar a etapa denominada de pensamento formal (Piaget, 1969), na qual, diferentemente do pensamento concreto da infância, adquire a capacidade de refletir livremente e de representar. Ao focar-se no plano das ideias, o adolescente começa a questionar o seu próprio pensamento, a pensar sobre o que está além da realidade cotidiana, conseguindo antecipar situações futuras. Assim, o adolescente pode elaborar um "programa de vida", que lhe permite integrar suas atividades atuais àquelas que terá no futuro (Inhelder & Piaget, 1976). Nessa mesma direção, Steinberg (1993) considera que a "capacidade de realização" é uma das tarefas psicossociais básicas da adolescência, uma vez que envolve as decisões em relação à escolarização e aos aspectos profissionais futuros. Tais decisões são influenciadas pelas opiniões dos pais, amigos e professores e pela avaliação que o adolescente faz de suas capacidades. Contrapondo-se a essa concepção mais universal das aquisições do desenvolvimento, Vygotski (1984) sinaliza que as significações e as vivências do processo de "adolescer" são singulares às particularidades culturais e individuais de cada sujeito, como as tradições, o contexto social e o econômico. Frente a isso, pode-se pensar que é a partir do desenvolvimento cognitivo e da "capacidade de realização" que o adolescente começa a criar um projeto de vida, mas em alguns casos essa construção pode ser adiada de acordo com as experiências de vida, como a própria paternidade.

"Projetos de vida" é uma expressão cuja definição na Psicologia não é clara, embora muitos pesquisadores a utilizem como se houvesse uma significação pré-suposta. Projetos, perspectivas, expectativas, aspirações de vida ou de futuro são algumas das diferentes maneiras que a literatura utiliza para se referir à mesma ideia (Neiva-Silva, 2003). A noção de projetos de vida abarca desejos, aspirações e realizações, bem como a crença ou o plano de que alguma coisa se realize no futuro (Nascimento, 2006; Neiva-Silva, 2003). Frente a essa diversidade de elementos que podem se referir ao conceito aqui discutido, no presente estudo - que tem a perspectiva teórica da psicologia do desenvolvimento - assume-se que projeto de vida se refere à elaboração de planos e ao estabelecimento de metas futuras, bem como às estratégias adotadas para os implementar. É importante destacar que outras abordagens teóricas e análises poderiam ser utilizadas para explicitar a dinâmica psicossocial envolvida nesse processo, incluindo as dimensões política, social e econômica ou também a perspectiva de gênero, que são referidas por outros autores (Lyra, 1997; Lyra & Medrado, 2000; Orlandi & Toneli, 2008).

Apesar de muitas crianças, desde cedo, se questionarem sobre o que elas almejam para seu futuro, é na adolescência que efetivamente se estabelecem tais projetos (Souza, Trindade, Coutinho, & Menandro, 2007). Espera-se que até o final dessa etapa o jovem tenha decidido seus planos futuros e tenha constituído um projeto de vida capaz de ser realizável, sobretudo quanto à escolarização (Günther, 1996) e à profissionalização (Locatelli, Bzuneck, & Guimarães, 2007). Desse modo, alguns autores apontam que os principais elementos dos projetos de vida incluem as dimensões acadêmica, profissional e familiar (Oliveira, 2006; Souza et al., 2007).

Outros estudos também têm destacado a importância das capacidades individuais (Oliveira, Sá, Fischer, Martins, & Teixeira, 2001); das oportunidades disponíveis (Günther & Günther, 1998); da educação escolar (Oliveira et al., 2001); dos valores e crenças da família (Locatelli et al., 2007) e dos amigos (Scelza, 2006); das relações afetivas (Scelza, 2006) e do contexto (Lerner et al., 2001) na elaboração de projetos de vida. Além disso, cotidianamente, o adolescente internaliza aquilo que falam sobre ele, o que percebe como oportunidades e problemas, bem como aquilo que acredita que possa ser ou se tornar - elementos que exercem influência na construção de seu projeto de vida (Scelza, 2006). O desenvolvimento da noção de temporalidade (Costa & Assis, 2006), a maturidade e os recursos pessoais (Camarena, Minor, Melmer, & Ferrie, 1998) também influenciam nos projetos de vida, de tal modo que os adolescentes mais novos podem ainda não ter estruturado planos claros para o futuro.

Uma vez que a elaboração de projetos para o futuro sofre múltiplas influências de fatores socioculturais, econômicos e do momento histórico, podem ocorrer de maneira distinta nas classes média e popular. Nesse sentido, nas classes sociais com renda mais alta, comumente há uma tendência de patologização da gravidez adolescente (Orlandi & Toneli, 2008). Além disso, alguns discursos tendem a restringir a paternidade na adolescência a um evento sempre negativo, por ser considerado precoce e, assim, indesejável (Lyra, 1997). Tal concepção parece estar vinculada a uma série de mudanças na vida atual e futura dos pais adolescentes (Dias & Aquino, 2006; Falcão & Salomão, 2005; Fraser, Brockert, & Ward, 1995; Levandowski, Piccinini, & Lopes, 2008; Meade, Kershaw, & Ickvics, 2008), sendo, inclusive, considerado um problema de saúde pública (Brandão & Heilborn, 2006; Heilborn et al., 2002; Silva & Tonete, 2006; Trindade & Menandro, 2002). Entre as principais alterações nos projetos de vida de pais adolescentes, há a antecipação de escolhas quanto a gerar um filho e constituir uma família; tais planos que poderiam ser definidos a longo prazo passam a exigir decisões mais rápidas, devido à chegada do bebê (Camarena et al., 1998). Para que ocorra a manutenção dos projetos de vida dos adolescentes, algumas pesquisas mostraram que o apoio familiar é essencial (Brandão & Heilborn, 2006; Coley & Chase-Lansdale, 1998; Esteves & Menandro, 2005; Levandowski et al., 2008; Marsiglio, Hutchinson, & Cohan, 2000). Dessa forma, os projetos podem não ser abandonados, mas redefinidos e/ou postergados.

A paternidade na adolescência é um fenômeno presente na vida de muitos adolescentes, seja quando estão diretamente envolvidos com uma gravidez, seja quando convivem com amigos ou conhecidos que passam por essa situação. Em função disso alguns estudos têm se voltado para investigar a percepção de adolescentes não-pais sobre as consequências da gravidez na adolescência nos projetos de vida. O termo percepção é aqui entendido como as significações que os jovens atribuem ao fenômeno da paternidade na adolescência. Por exemplo, o estudo de Herrmann (2008) investigou a percepção de 120 adolescentes americanos sobre o impacto da gravidez na adolescência em relação aos aspectos de relacionamento, vocacionais e do próprio self. Os resultados mostraram que os adolescentes sem filhos consideravam que, além de afastar-se dos amigos, ter um bebê durante a adolescência diminuiria o tempo livre, as atividades sociais e a liberdade, influenciando negativamente a vida social como um todo. Esse e outros estudos sobre o tema contribuem para que se compreenda como a paternidade na adolescência é vista pelos jovens e trazem importantes contribuições para a prevenção e intervenções da gravidez na adolescência.

Nessa mesma direção, o presente estudo se propôs investigar a percepção de adolescentes não-pais sobre os projetos de vida e sobre a paternidade adolescente. Em particular, buscou-se examinar suas percepções sobre o impacto de uma gravidez na adolescência nos projetos de vida, em relação à família, à escola e ao trabalho.

Método

Participantes

Participaram deste estudo sete adolescentes do sexo masculino, com idades entre 13 e 16 anos, que não eram pais e nunca tinham vivenciado uma situação de gravidez. Os participantes frequentavam uma escola pública de Porto Alegre, variaram quanto à escolaridade e eram de baixo nível socioeconômico. A Tabela 1 apresenta os dados sociodemográficos dos participantes.

Delineamento e procedimentos

Utilizou-se um delineamento de estudo de casos múltiplos (Yin, 2005) para investigar a percepção de adolescentes não-pais sobre os projetos de vida e sobre a paternidade adolescente. Em particular, buscou-se examinar suas percepções sobre o impacto de uma gravidez na adolescência nos projetos de vida, em relação à família, à escola e ao trabalho.

O presente estudo faz parte do projeto, longitudinal e multicêntrico, denominado "Aspectos Biopsicossociais da Gravidez Adolescente: Estudo Longitudinal da Gestação ao Segundo Ano de Vida da Criança" - GRADO1 1 Piccinini, C. A., Lopes, R. C. S., Marin, A. H., Carvalho, F. T., Henn, C. G., Dias, A. C. G., Schwengber, D. D., & Diehl, A. M. P. (2008). Aspectos biopsicossociais da gravidez adolescente: estudo longitudinal da gestação ao segundo ano de vida da criança. Instituto de Psicologia. UFRGS, Porto Alegre. , que acompanha 180 gestantes adolescentes (que não apresentam intercorrências clínicas durante a gravidez, que não sofreram abuso sexual, que não têm comprometimento mental e emocional), residentes em três cidades do Rio Grande do Sul: Porto Alegre, Rio Grande e Santa Maria. Em cada centro estão sendo acompanhadas, em média, 60 gestantes e, quando possível, os respectivos pais dos bebês. O projeto GRADO foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFRGS (Processo nº 25000.089325/2006-58, em 07/04/2008) e pelo Comitê de Ética do GHC (Processo nº 250/08, em 08/12/2008).

Inicialmente, foi realizado o contato com a direção de uma escola vinculada ao Grupo Hospitalar Conceição (GHC) - um dos hospitais que integram o projeto GRADO - a fim de explicitar os objetivos e a proposta de pesquisa. Após concordância e autorização da direção, os adolescentes, pertencentes a diferentes séries do Ensino Fundamental, foram convidados a participar do estudo diretamente em suas salas de aula. Aqueles que manifestaram interesse foram selecionados pelo critério idade (entre 13 e 18 anos), por não terem vivenciado a paternidade na adolescência, por terem disponibilidade de ausentar-se da sala de aula, atentando-se para que as entrevistas não acarretassem prejuízos em suas atividades escolares (como a realização de provas ou trabalhos escolares no turno da entrevista). Na ocasião, foi entregue o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, que foi assinado pelo adolescente e por seu responsável e trazido no novo encontro - agendado para o próximo dia de aula.

Durante a coleta, os adolescentes responderam a Ficha de dados sociodemográficos da família e a Entrevista sobre a percepção da paternidade adolescente, que foram adaptados do projeto GRADO. A coleta de dados foi realizada individualmente em uma sala privativa da escola, tendo duração média de 60 minutos. Os dados das entrevistas foram digitalmente gravados e, posteriormente, transcritos.

Instrumentos

Ficha de dados sócio-demográficos da família (Núcleo de Infância e Família - NUDIF, 2009a): utilizado para obter dados sociodemográficos dos participantes, tais como: moradia, escolaridade, trabalho, religião, hábitos de vida e características de seus pais.

Entrevista sobre a percepção da paternidade adolescente (NUDIF, 2009b): é uma entrevista estruturada, realizada de maneira semidirigida, que investiga diversos temas: aspectos da vida cotidiana do adolescente, o relacionamento familiar, afetivo e com os amigos, a rede de apoio, os projetos de vida e as percepções sobre a paternidade adolescente, alcançando, também, o quesito de como o adolescente imaginaria ser, quando se tornasse pai, suas expectativas sobre o bebê e o relacionamento com o mesmo. As questões que embasaram o presente estudo referiram-se aos projetos de vida dos adolescentes quanto a escolaridade, casamento, filhos e ocupação profissional, além de suas percepções sobre a paternidade adolescente e as possíveis mudanças decorrentes da mesma.

Resultados

Foi realizada uma análise qualitativa de conteúdo (Bardin, 1977; Laville & Dione, 1999) para examinar a percepção de adolescentes não-pais sobre os projetos de vida e sobre a paternidade adolescente. Em particular, buscou-se examinar suas percepções sobre o impacto de uma gravidez na adolescência nos projetos de vida, em relação à família, à escola e ao trabalho. Para fins de análise, foram criadas, com base na literatura (Camarena et al., 1998; Herrmann, 2008; Levandowski, 2001) e também no próprio relato dos participantes, três categorias: 1. Projetos de vida; 2. Percepções sobre a gravidez de um adolescente e 3. Percepções sobre mudanças nos projetos de vida frente à paternidade na adolescência. A seguir, serão apresentadas e discutidas as categorias, buscando-se exemplificá-las através das verbalizações dos adolescentes não-pais.

1. Projetos de vida

Esta categoria abarcou os relatos dos adolescentes não-pais sobre seus projetos de vida. Foram identificadas como subcategorias: características dos projetos de vida; esforços destinados à realização dos projetos de vida; expectativas familiares quanto aos projetos de vida dos adolescentes e percepções sobre as mudanças nos projetos de vida frente à paternidade na adolescência.

A análise dos relatos mostrou uma variedade de projetos de vida dos participantes, alguns mais definidos, outros ainda sendo construídos, mas com diversas possibilidades. Os projetos de vida, de maneira geral, incluíram: ter uma família (A1, A2, A4), ter uma casa (A1, A2), ter um carro (A3), ter um emprego (A1, A2, A4), ter uma boa remuneração (A4), ter um filho (A2), ajudar as pessoas (A4), ser um profissional de nível superior (A6, A7): "Os meus planos é, o trabalho que eu já tenho, compra minha casa tudo, ter direitinho pra depois namora e ter um filho" (A2); "Ter filhos, criar bem, educar. Ah, quero ter um bom trabalho pra sustenta minha família" (A4); "Eu queria ser, o meu sonho era ser Arqueólogo" (A6).

Quanto aos projetos de escolarização, os relatos dos participantes mostraram a motivação de quase todos em permanecer na escola, uma vez que tinham projetos de concluir o Ensino Médio (A1, A2) e realizar alguma faculdade (A3, A4, A5, A7): "Estudo? É só terminar os meus estudos, fazer uma faculdade, enfim, fazer as minhas coisas" (A3). Um dos adolescentes (A6) referiu estar em dúvida entre continuar trabalhando ou investir em uma faculdade; de maneira inversa, outros adolescentes (A5, A7) relataram ter planos mais definidos. Um deles relatou ter um "plano A" e, se caso não fosse concretizado, seguiria o "plano B": "O plano A vai ser futebol, o plano B é trabalhar em alguma empresa" (A5); já o outro queria fazer Direito e, em seguida, prestar concurso para a Polícia Federal: "Eu quero fazer Direito, pra começar, depois do Direito eu quero tentar a Polícia Federal" (A7).

Em relação à escolha profissional, os participantes referiram ter projetos de vida, mas ainda não muito estruturados, sendo que alguns estavam relacionados com a escolarização. Dois adolescentes (A1, A6) mostraram uma motivação para seguirem com os trabalhos que já realizavam no momento da entrevista. Já outros dois (A3, A7) explicitaram faculdades que queriam cursar: "Ah, eu penso em ser veterinário... Que eu gosto de bichos" (A3); e um participante referiu não conseguir se imaginar trabalhando naquele momento: "Trabalho não. ... Nesse momento não" (A4). Para dois participantes (A5, A7), os projetos de trabalho assemelhavam-se aos projetos de escolarização, pois implicavam fazer uma faculdade antes do ingresso no universo do trabalho. Além disso, um participante (A2) apenas conseguia ter planos em relação aos estudos, e não em relação ao trabalho.

Quanto à constituição familiar, quatro participantes (A1, A4 A5, A7) citaram projetos de casamento e dois outros (A2, A6) referiram querer ter uma companheira, para morarem juntos sem se casarem: "Não [quer casar]. Porque depois que briga, fica ruim de separar. Morar junto eu acho que sim, aí eu faço a minha própria família. Assim... com uns 25 anos, eu vou ter um filho e daí a gente começa a morar junto" (A6). Contudo, algumas vezes referiram que ter um bom emprego era uma condição para isso acontecer: "Tem que tá bem na vida... Estudar bastante e pegar um bom emprego. ... Lá pelos 29, mais ou menos" (A5).

Além disso, para seis participantes ter filhos era um de seus projetos (A1, A2, A4, A5, A6, A7) e pensavam em ter o primeiro filho com idades variando entre 20 a 29 anos. Alguns já destacam a quantidade (A4, A7) ou o sexo dos filhos (A6) que gostariam de ter: "Eu queria ter filhos. ... Eu queria ter uma menina. É que eu gosto de criança, sabe? [Com que idade?] Acho que com uns 25" (A6); "Uma família. Ter uma família. Mas não muito cedo. ... Ah... com uns 20 e poucos, 25 por aí... uns dois [filhos] tá bom" (A7). Um dos entrevistados (A5) ressaltou a necessidade de ter uma boa situação econômica: "Daí tem que ver. Ver se eu vou tá com um dinheiro bom. ... não vou deixar o filho na miséria" (A5). Outro participante (A3) destacou que não tinha vontade de ter um filho e, ao justificar os motivos dessa decisão, trouxe elementos de sua história pregressa - a possibilidade de que os pais falecessem previamente, deixando a criança sozinha:

Filho eu não quero ter ... porque não, é difícil. Por exemplo, daí acontece alguma coisa, inventa de ter um atropelamento, alguma coisa assim com o meu filho, daí eu vou me sentir mal. Porque os meus pais já faleceram, né. (A3)

Associado à constituição familiar, os projetos de vida dos adolescentes em relação ao lugar que planejavam morar e ao tipo de moradia mostraram-se pouco estruturados. Os relatos mostravam o anseio de permanecer em Porto Alegre, próximo do lugar que residem com os pais e familiares (A1, A4, A5, A6, A7): "Ah... perto da minha casa [onde mora agora], porque eu não quero morar longe. ... Eu não quero sair de perto da minha mãe, essas coisas" (A6); "Ah, não sei bem, aqui em Porto Alegre, numa casa. ... não tenho preferência [de localização]. Até porque até lá, é muito tempo ainda" (A7).

Em geral, os adolescentes destacaram a permanência na escola como sendo a principal maneira de concretizarem seus projetos de vida. Além disso, outros elementos importantes para que suas aspirações fossem alcançadas incluíram o esforço pessoal (A1, A5, A7) e fazer as coisas certas (A1): "Me esforço. [Como?] Ah, eu tento fazer tudo pelo certo, não incomodo, não faço nada, fico na minha assim" (A1); ter dedicação (A5) e obedecer aos pais (A2): "Estudando bastante e obedecendo aos meus pais" (A2); trabalhar (A3) e guardar dinheiro (A3, A6): "Estudar, terminar os meus estudos e trabalhar muito, guardar um bom dinheiro..." (A3) e ajudar os outros (A4): "Hoje eu estudo. Ter um bom estudo. ... também vou ajudar as pessoas, pra no futuro ser ajudado" (A4). Além disso, um dos participantes (A7) destacou que o apoio de seus pais era fundamental para conseguir ultrapassar as dificuldades na concretização de seus projetos de vida.

No que concerne às percepções dos adolescentes sobre as expectativas familiares quanto aos seus projetos de vida destacaram-se a importância de não se envolver com drogas (A1, A4): "Em primeiro lugar o meu bem. Ah, não me ver na rua, como muita gente... não me ver com drogas" (A1); ter uma boa família (A4, A6): "Ah, eles esperam que eu tenha uma boa família e não me envolva com droga. Eles falam pra mim não me envolver nesse mundo, pra mim ajudar as pessoas quando puder" (A4); bem como ser um homem com muitas virtudes e respeitar a esposa (A2): "Eles esperam que cresça, seja um homem bem virtuado, que a minha esposa não reclame de nada pra minha mãe" (A2). Também foram apontadas expectativas quanto a continuar os estudos (A3, A6) e seguir o exemplo do irmão (A3): "Ah, a única coisa que ela queria que eu fosse um bom menino, né, que eu estudasse, fizesse uma faculdade, porque o meu irmão mais velho ele fez ... Que eu seguisse o exemplo do meu irmão" (A3); e de ter um bom emprego (A7): "Que eu tenha um emprego bom" (A7).

2. Percepções sobre a gravidez de um adolescente

Essa categoria examinou as percepções de adolescentes não-pais sobre suas percepções em relação à gravidez de um adolescente que conhecessem e que tivesse se tornado pai antes dos 18 anos. Dos sete participantes, quatro (A1, A4, A5, A7) referiram conhecer um pai adolescente, já os outros três (A2, A3, A6), que não conheciam, enunciaram suas percepções sobre as repercussões desse evento. Optou-se por incluir todos, em função do pequeno número de participantes e da riqueza em seus relatos. As falas dos participantes foram agrupadas em três subcategorias: reações frente à notícia da gravidez de um adolescente; percepções sobre as consequências da gravidez na vida de um adolescente; e percepções sobre o apoio recebido durante a gravidez de um adolescente.

Em geral, visualizou-se que, frente à notícia da gravidez de um adolescente, as percepções dos participantes centralizaram-se em eventuais aspectos negativos desse evento: "Ah, é muito cedo ainda" (A1); "Irresponsável" (A5). Destacaram que isso representaria a interrupção de algumas rotinas da adolescência, podendo influenciar os próprios projetos de vida dos pais adolescentes:

A primeira coisa que eu pensei é que foi uma burrada. Até porque ele é muito novo e tem toda uma vida pela frente. ... ele vai perder a juventude dele, que ele vai querer sair, coisa assim e vai ter que cuidar da filha dele. (A7)

Associadas às reações frente à notícia, os adolescentes não-pais também destacaram as mudanças, sobretudo negativas, decorrentes da gravidez na vida dos pais adolescentes. As principais mudanças descritas incluíram uma maior maturidade e responsabilidade: "Ah, agora a cabeça dele vai mudar também, né? Deixar ele mais maduro... Vai pensar mais no filho antes de outras coisas" (A1), "Ah, mudou muito! É muito cedo, vai perder a juventude dele, ele vai ter muito mais responsabilidade" (A7); assim como uma diminuição no convívio com os amigos, sobretudo em decorrência do trabalho: "Antes ele sempre ficava na rua, jogando futebol, conversando, e agora só fica em casa cuidando do bebê e trabalhando" (A4). Outras mudanças mencionadas incluíram o início da coabitação com a gestante (A4) e as dificuldades de retornar às atividades escolares - abandonadas antes da gravidez (A1, A4): "É mais difícil quando se tem um filho" (A4).

Apesar das percepções negativas frente à gravidez e às suas repercussões, os participantes salientaram que o apoio da família e dos amigos é essencial:

Acho que os amigos tão dando força pra ele. ... Ah, às vezes quando tem parente assim, que não servem mais as roupas, eles dão roupa pro nenê. ... Já dei, as roupas do meu sobrinho. E ele ficou feliz, agradeceu. (A4)

Os participantes referiram não ter uma convivência muito grande com os pais adolescentes e, em geral, não conversavam sobre a gravidez com quem as vivenciou, bem como não costumavam falar com os amigos sobre temas ligados à paternidade: "Porque até com os amigos, eu até tenho uns assuntos [sobre namoro] que eu converso, mas sobre paternidade é muito difícil" (A7). Esse distanciamento do fenômeno aqui estudado pode tê-los influenciado a pouco saberem sobre o apoio recebido pelos pais adolescentes.

3. Percepções sobre mudanças nos projetos de vida frente à paternidade na adolescência

A última categoria compreendeu as percepções dos adolescentes sobre as possíveis mudanças que a gravidez na adolescência poderia trazer nos seus projetos de vida. Apesar de todos os participantes destacarem alterações nos seus projetos de vida, para alguns a paternidade teria maior dimensão, influenciando quase todos os demais projetos de vida, tanto por reduzi-los à metade, pois os esforços seriam destinados a suprir as necessidades do bebê (A2), como por alterar suas atividades da juventude, diminuindo as possibilidades de concretizar os anseios individuais (A7):

"Mudaria muito. Praticamente tudo. ... Que nem eu falei aquela hora, vou ter que ficar cuidando do filho, vou ter que procurar mais de um trabalho pra poder comprar várias coisas pra dar pro guri, roupa, daí fica ruim, esperar pela família assim, daí não vai ter muito como pensar, daí fica tudo cortado pela metade." (A2)

"Ia mudar tudo. ... Bom, ah... não ia mais ter juventude, vamos dizer assim, que eu ia ficar mais preso" (A7).

Outras modificações apontadas foram mais amenas, embora sejam tão importantes quanto as anteriores, como: destinar tempo aos cuidados com o bebê (A3): "Ah, que eu ia, eu ia ter que ficar mais perto do meu filho, né, cuidar dele, trabalhar, essas coisas, ter a minha casa, construir a minha casa, fazer várias coisas, assim" (A3); adiar alguns projetos de vida (A3, A7) e aumentar a responsabilidade (A7):

No colégio até acho que sim [conseguiria permanecer], mas não ia dar pra fazer tudo o que eu quero... Tem muita responsabilidade, né? Não sei. Ah... ia ter que procurar emprego, ia procurar o que tivesse. ... Mais no futuro, até tentaria de novo [fazer Direito]. Mas agora mesmo, ia ter que ser qualquer coisa [em relação ao tipo de trabalho]. (A7)

Apenas um participante (A6) referiu que ficaria feliz se viesse a se tornar pai durante a adolescência, mas essa felicidade estaria agregada à ajuda que o mesmo receberia de sua mãe nos cuidados com o bebê:

Mudaria tudo! Ah, sei lá, eu acho que eu ia ficar feliz. ... Daí eu ia dizer pra minha mãe, que eu acho que ela ia ficar feliz também. ... Eu acho que ela ia me apoiar, ia me ajudar a cuidar da criança. (A6)

Ao longo dos relatos, os participantes também destacaram a necessidade de ter um trabalho na situação de paternidade, o qual muitas vezes levaria à desistência da escola. Em suma, os depoimentos mostraram percepções negativas da gravidez na adolescência, devido às mudanças e às limitações acarretadas pela mesma - percepções semelhantes às reações frente à notícia da gravidez.

Discussão

De acordo com os relatos dos participantes do presente estudo, a situação da paternidade tende a ser percebida como negativa, devido às suas implicações na adolescência e nos projetos de vida. Após enunciarem seus projetos de vida, os adolescentes não-pais relataram suas percepções sobre a paternidade na adolescência e, finalmente, destacaram suas percepções sobre mudanças nos projetos de vida frente à mesma, sendo que cada um desses aspectos foi delimitado para as três diferentes categorias investigadas: projetos de vida; percepções sobre a gravidez de um adolescente; e percepções sobre mudanças nos projetos de vida frente à paternidade na adolescência.

No que diz respeito aos projetos de vida dos adolescentes não-pais, os resultados mostraram diversas especificidades quanto aos aspectos particularmente investigados: escola, trabalho e família - uma vez que os participantes expuseram pensar sobre o futuro e ter planos para o mesmo. Em relação à escola, percebeu-se a importância atribuída à permanência na mesma, uma vez que todos os participantes mencionaram planos de, pelo menos, concluir o Ensino Fundamental, alguns o Ensino Médio, e outros de realizar alguma faculdade. Além de gostarem de frequentar a escola, alguns participantes também realizavam atividades complementares, como curso de computação e aulas de inglês. Esses resultados corroboram os achados de Günther (1996) sobre o papel central da escola na vida dos adolescentes. A relação que o adolescente estabelece com a escola e as suas representações em torno da escolarização também podem contribuir favoravelmente na construção dos projetos de vida referentes a esse aspecto (Locatelli et al., 2007; Oliveira et al., 2001). Além disso, há uma expectativa social sobre o adolescente quanto ao seu empenho nos processos educacionais, uma vez que se entende que a escolarização possibilita uma melhor inserção futura no mercado de trabalho (Heilborn et al., 2002). Contudo, a necessidade de auxiliar na renda familiar fez com que alguns dos participantes trabalhassem, diminuindo sua dedicação às atividades escolares. A esse respeito, segundo Heilborn et al. (2002), diferentemente das classes média e alta, em que se espera haver uma sequência entre finalizar a escola e ingressar no mercado de trabalho, nas classes populares muitos adolescentes dividem suas rotinas entre essas duas ocupações. Como há uma valorização social do trabalho nesse contexto, diversos adolescentes abandonam projetos de vida quanto à escola ou, muitas vezes, acabam nem os elaborando. Em síntese, a classe social e as condições socioeconômicas influenciam expressivamente nas decisões dos jovens sobre o futuro (Souza et al., 2007). Por outro lado, dois outros participantes mostraram uma definição maior quanto aos projetos de vida, além de apresentarem maneiras para realizá-los. Esses dados parecem se aproximar daquilo que Bohoslavsky (1998) nomeia de "projeto", ou seja, a união dos anseios individuais com a possibilidade de concretizá-los, diferentemente dos relatos de alguns adolescentes em relação às aspirações ou desejos, o que se constituiria em "expectativas".

Apesar de os participantes não mostrarem projetos muito estruturados quanto ao tipo de trabalho que planejavam exercer no futuro, de modo geral seus relatos focaram-se nas profissões que gostariam de seguir. Assim, como comenta Locatelli et al. (2007), os projetos de vida podem ser estruturados para um tempo mais próximo, como concluir a escola ou passar no vestibular, ou para um tempo mais longo, como visualizar-se na profissão escolhida. Do mesmo modo, os projetos de vida quanto à família incluíram casar ou apenas coabitar com a companheira, além de ter filhos; contudo, todos esses planos estavam associados a um futuro mais distante, depois que já tivessem concluído a escolarização e estivessem trabalhando, para poder sustentá-los. Essas percepções também parecem refletir a ideia do desenvolvimento humano como sendo uma sequência, com funções específicas para cada etapa (Oliveira, 2008). Desse modo, a gravidez seria um evento que alteraria esse ciclo (Dadoorian, 2003) por antecipar funções da idade adulta, como apontaram diversos autores (Belsky & Miller, 1986; Esteves & Menandro, 2005; Levandowski & Piccinini, 2006).

Embora os projetos de vida em relação à moradia fossem pouco estruturados, aqueles que o tinham planejavam morar em algum local perto de onde residiam, ou seja, da casa de seus pais. Esses projetos de vida parecem refletir uma característica típica da adolescência: ao mesmo tempo em que está no processo de individualização, o adolescente ainda necessita sentir-se próximo de suas referências - geralmente seus pais. Sob esse prisma, ao mesmo tempo em que morar em outra residência mostraria a autonomia e a individualização, o fato de a mesma ser próxima à casa de seus familiares traria segurança (Silveira & Wagner, 2006). As relações afetivas que o adolescente estabelece com sua família (Scelza, 2006), bem como o contexto em que se insere (Günther & Günther, 1998; Heilborn et al., 2002; Lerner et al., 2001) também influenciam nos elementos que farão parte de seu projeto de vida.

No que tange aos esforços dos adolescentes em relação à concretização de seus projetos de vida, todos destacaram que a escolarização seria o principal meio para realizá-los. Esse dado reforça a importância singular da escola na estruturação dos projetos de vida, como referido anteriormente. Outros aspectos apontados como importantes à realização de seus projetos de vida corroboram a literatura na área: esforços individuais e dedicação (Oliveira et al., 2001), obedecer aos pais, ajudar os amigos, poupar dinheiro (Souza et al., 2007) e trabalhar.

Embora, muitas vezes, não ocorra concordância entre o que os jovens planejam e o que seus pais esperam de seu futuro (Günther, 1996), os resultados deste estudo indicaram tendência oposta: as percepções dos adolescentes sobre as expectativas de seus pais mostram-se bastante semelhantes aos seus projetos de vida, uma vez que se focaram na preocupação com a escolarização, em conquistar um trabalho e ter uma família. Esses resultados refletem a literatura sobre a importância dos valores e das crenças familiares nos projetos de vida dos adolescentes (Locatelli et al., 2007). Os adolescentes também destacaram que o apoio dos pais e, muitas vezes, da família extensa é fundamental à concretização de seus projetos de vida (Dallas, 2004; Esteves & Menandro, 2005; Herrmann, 2008; Silva & Tonete, 2006).

Em síntese, a análise geral dos projetos de vida mostrou que os participantes já apresentavam indícios de tentar unir as ações do presente àquilo que queriam ser ou ter no futuro (Inhelder & Piaget, 1976), o que pode estar associado ao surgimento do pensamento abstrato no adolescente. É a partir do pensamento hipotético e da construção de hipóteses que o adolescente desenvolve condições de construir um projeto de vida (Steinberg, 1993). Desse modo, os projetos de vida aqui destacados retrataram a variedade de opções a que o adolescente é exposto diariamente (tanto as possibilidades como os problemas), sendo que a elaboração de projetos de vida pode ser uma tentativa de organizar não apenas sua rotina, mas também de apaziguar a angústia de sua incerteza diante do mundo (Scelza, 2006).

Quanto às reações frente à notícia da gravidez de um pai adolescente, os participantes salientaram, basicamente, os aspectos negativos, como a falta de responsabilidade e as perdas decorrentes desse evento. Essas reações parecem refletir uma tendência da sociedade e da mídia em ressaltar os estereótipos negativos associados à gravidez na adolescência (Heilborn et al., 2002; Herrmann, 2008; Levandowski, 2001), como ao considerá-la um evento indesejável (Lyra, 1997), a qual, muitas vezes, pode afastar o pai adolescente do convívio social (Camarena et al., 1998). Do mesmo modo, as opiniões dos participantes sobre as repercussões negativas da gravidez na adolescência refletem a literatura, que destaca alguns impactos sociais associados à mesma, como a diminuição do tempo destinado ao lazer e ao convívio com os amigos (Herrmann, 2008), algumas renúncias (Frizzo, Kahl & Oliveira, 2005), e o aumento de responsabilidades (Folle & Geib, 2004) e da maturidade dos pais adolescentes (Trindade & Menandro, 2002). Por outro lado, os adolescentes não-pais também referiram que essas repercussões negativas poderiam ser amenizadas pelo apoio familiar aos pais adolescentes. Embora esses também contassem com o apoio dos amigos, o maior suporte era o da própria família. Esse resultado corrobora a importância primária do apoio familiar ao pai adolescente (Dallas, 2004; Falcão & Salomão, 2005).

Os resultados associados às percepções dos participantes sobre as consequências da paternidade nos projetos de vida aproximaram-se do que já foi retratado sobre as implicações da gravidez adolescente. Esses dados reforçam achados de outros estudos quanto à postergação ou restrição dos projetos de vida, das atividades individuais e de lazer, o aumento das responsabilidades, devido à necessidade de se dedicar ao trabalho e aos cuidados com o bebê (Folle & Geib, 2004; Herrmann, 2008; Trindade & Menandro, 2002). Para Camarena et al. (1998), as percepções dos adolescentes não-pais podem levar ao desânimo de pais adolescentes na manutenção das relações com seus amigos, além de desmotivá-los a iniciar novas amizades, criarem novos projetos ou conservarem aqueles que tinham antes da gestação. Desse modo, esses jovens pais permaneceriam acompanhados de estereótipos negativos e de críticas a esse evento (Herrmann, 2008; Lyra, 1997). Além disso, as entrevistas mostraram a visão tradicional de que ao pai está reservado o lugar de provedor, sendo essa a sua função prioritária em detrimento da visão mais afetiva, a qual é papel da mãe. Esse aspecto corrobora achados de outros estudos que também estudaram os papéis familiares e as distinções quanto ao gênero nas relações familiares (Herrmann, 2008; Lyra & Medrado, 2000; Trindade, & Menandro, 2002; Wagner, Predtebon, Mosmann, & Verza, 2005).

É oportuno destacar que, em função do pequeno número de participantes, pode-se esperar que outros adolescentes não-pais, vivendo em diferentes contextos, apresentem formas particulares de perceber a paternidade na adolescência, bem como podem ter projetos de vida diferentes dos aqui considerados. As singularidades individuais e contextuais de cada sujeito influenciam nos significados atribuídos às suas vivências e na maneira de perceber os fenômenos sociais (Vygotski, 1984), como a paternidade na adolescência. Isso reflete a necessidade de ampliar as investigações a respeito deste tema, que é bastante oportuno à realidade brasileira. É necessário, sobretudo, ao serem analisados os altos índices de gravidez e de paternidade na adolescência, destacarem-se suas implicações familiares, econômicas, sociais, nos projetos de vida, entre outros.

O presente estudo contribui para ampliar o conhecimento sobre as percepções em relação à paternidade na adolescência e sobre os projetos de vida, assunto pouco investigado na literatura nacional. Nesse sentido, estudos empíricos e teóricos tornam-se necessários e podem ampliar a compreensão desse tema, a fim de promover programas de intervenção não apenas para os adolescentes que já vivenciaram a gravidez, mas também como estratégias preventivas para outros adolescentes que podem estar vulneráveis a esse evento.

Nota

Agradecimento

Ao CNPq pelo apoio financeiro - Edital/Chamada: Edital MCT/CNPq nº 70/2008 - Mestrado/Doutorado. Número do processo: 554390/2009-4.

Submissão em: 18/11/2010

Revisão em: 14/06/2012

Aceite em: 12/10/2012

Ana Paula Cargnelutti Venturini é Psicóloga pela Universidade Federal de Santa Maria, mestre em Psicologia pelo PPG-Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS (bolsista do CNPq) e graduanda em Medicina pela Universidade de Passo Fundo - UPF. E-mail: anaventurini@gmail.com

Cesar Augusto Piccinini é Psicólogo, com doutorado e pós-doutorado na University College London (Inglaterra). É professor do PPG-Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS e pesquisador do CNPq. Endereço para correspondência: Rua Ramiro Barcelos, 2600, sala 111. Bairro Santana. Porto Alegre/RS, Brasil. CEP 90035-003. E-mail: piccinini@portoweb.com.br

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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      08 Ago 2014
    • Data do Fascículo
      2014

    Histórico

    • Recebido
      18 Nov 2010
    • Aceito
      12 Out 2012
    • Revisado
      14 Jun 2012
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