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POSSIBILIDADES PARA A PSICOLOGIA NA ECONOMIA SOLIDÁRIA: ATUAÇÃO NUMA ITCP

LAS POSIBILIDADES DE LA PSICOLOGÍA EN LA ECONOMÍA SOLIDARIA: ACTUACIÓN EN UNA ITCP

POSSIBILITIES FOR PSYCHOLOGY IN SOLIDARITY ECONOMY: ACTION IN AN TIPC

Resumos

Este artigo relata uma experiência de inserção da Psicologia no campo da economia solidária, utilizando as contribuições teórico-metodológicas da Psicologia do Trabalho e da Psicologia Comunitária. As atividades aqui descritas e discutidas constituíram-se como parte de um projeto de extensão universitária em que se buscou potencializar a atuação dos agentes de incubação de uma Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP) nos empreendimentos solidários em que estes iam intervir. Paralelamente, fez-se o acompanhamento de uma associação de coletores de material reciclável em processo de estruturação grupal e formalização jurídica. Com base nestes exemplos concretos, levantam-se tanto os aspectos positivos que a experiência trouxe quanto aqueles que podem ser aprimorados em futuras intervenções psicológicas no contexto da economia solidária. Assim e considerando os valores e as condições de cidadania que a economia solidária promove, acredita-se que a Psicologia deve se implicar e adotar uma atuação cada vez mais forte neste cenário.

economia solidária; extensão universitária, psicologia do trabalho; psicologia comunitária


Este artículo presenta una inserción de Psicología en el campo de la economía social, usando los aportes teóricos y metodológicos de la Psicología del Trabajo y Psicología Comunitaria. Las actividades descritas y analizadas se constituían como parte de un proyecto de extensión universitaria buscando maximizar el trabajo de los agentes de incubación de una Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP) en las organizaciones solidarias donde actuarían. Al mismo tiempo, hubo el seguimiento de la estructuración de grupo y proceso de formalización legal de una asociación de colectores de materiales reciclables. Sobre la base de estos ejemplos concretos, se comenta os aspectos positivos de la experiencia y los aspectos que pueden mejorar en futuras intervenciones psicológicas en el contexto de la economía solidaria. Por lo tanto, y teniendo en cuenta los valores y las condiciones de ciudadanía que la economía solidaria promueve, se cree que la psicología debe participar y adoptar una presencia cada vez mayor en este contexto.

economía social; extensión universitaria, psicología del trabajo; psicología comunitaria


This paper reports an experience of insertion of Psychology in the field of solidarity economy, using theoretical-methodological contributions of Work Psychology and Community Psychology. The activities described and discussed in this paper constituted part of a university extension project in which we sought to potentiate the agent's action in the solidarity enterprises of a Technology Incubator of Popular Cooperatives in which they would intervene. At the same time, there was the accompaniment of an association of collectors of a recyclable material as the group formed its organization and juridical formalization. Based on these concrete examples, we detected both positive aspects obtained by experience, and aspects that could be improved in future psychological interventions in solidarity economy. Therefore, considering the values and citizenship conditions promoted by solidarity economy, we believe psychology should become involved and adopt an increasing action in such a context.

solidarity economy; university extension project; work psychology; community psychology


Introdução

O trabalho é, indiscutivelmente, uma referência central na vida dos indivíduos e influencia, de maneira decisiva, a construção da autoimagem e da identidade pessoal, além de afetar a inserção das pessoas no mundo social. Sampaio (1998)Sampaio, J. R. (1998). Psicologia do trabalho em três faces. In I. B. Goulart (Org.), Psicologia do trabalho e gestão de recursos humanos: estudos contemporâneos (pp. 19-40). São Paulo: Casa do Psicólogo. destaca que a Psicologia, desde que começou a atuar no campo do trabalho no início do século XX, traçou uma história e um percurso diversificados na área, sendo que a evolução da prática psicológica, neste campo, pode ser caracterizada como composta por três momentos distintos.

Num primeiro momento, a chamada Psicologia Industrial aparece vinculada aos interesses das grandes empresas, servindo como instrumento das práticas tayloristas e fordistas e voltada, essencialmente, para a seleção de pessoal e a capacitação para o trabalho, visando ao aumento da produtividade/lucratividade dos donos dos meios de produção (Sampaio, 1998Sampaio, J. R. (1998). Psicologia do trabalho em três faces. In I. B. Goulart (Org.), Psicologia do trabalho e gestão de recursos humanos: estudos contemporâneos (pp. 19-40). São Paulo: Casa do Psicólogo.). Entretanto, no pós-guerra, diante de uma ineficiência das técnicas até então utilizadas, Sampaio (1998)Sampaio, J. R. (1998). Psicologia do trabalho em três faces. In I. B. Goulart (Org.), Psicologia do trabalho e gestão de recursos humanos: estudos contemporâneos (pp. 19-40). São Paulo: Casa do Psicólogo. assinala o início do momento designado de Psicologia Organizacional, em que esta se propõe a desenvolver recursos humanos e a repensar as estruturas da organização, mas mantendo o foco na produtividade das empresas. A partir de 1970 e após inúmeras críticas a este caráter instrumental, tem emergência uma terceira fase, denominada Psicologia do Trabalho, na qual a preocupação com a produtividade cede espaço para um olhar dirigido ao bem-estar do trabalhador e para uma compreensão do significado das relações estabelecidas pelo trabalho humano (Sampaio, 1998Sampaio, J. R. (1998). Psicologia do trabalho em três faces. In I. B. Goulart (Org.), Psicologia do trabalho e gestão de recursos humanos: estudos contemporâneos (pp. 19-40). São Paulo: Casa do Psicólogo.).

Segundo Veronese (2003)Veronese, M. V. (2003). Na direção de uma psicologia social crítica do trabalho. Acesso em 01 de agosto, 2011, em http://www.ces.uc.pt/publicacoes/oficina/index.php?id=2811
http://www.ces.uc.pt/publicacoes/oficina...
, ao se voltar para a subjetividade e a saúde do trabalhador, a Psicologia do Trabalho abre a possibilidade de crítica ao instituído e de enfrentamento de desafios diante da exploração do trabalhador em relações de trabalho injustas e desumanizantes ou da sua exclusão do mercado formal de trabalho. Esta compreensão da Psicologia do Trabalho reforça as argumentações de Coutinho, Beiras, Picinin e Lückmann (2005)Coutinho, M. C., Beiras, A., Picinin, D., & Lückmann, G. L. (2005). Novos caminhos, cooperação e solidariedade: a Psicologia em empreendimentos solidários. Psicologia & Sociedade, 17(1), 17-28. quando destacam que, nos empreendimentos solidários, a Psicologia pode contribuir para o desenvolvimento da autonomia e da solidariedade daqueles que trabalham, de modo que estes possam atribuir novos significados às suas identidades profissionais e resgatar suas experiências de trabalhadores, experienciando-as de novas formas. Campos (2003)Campos, R. H. F. (2003). Introdução: a psicologia social comunitária. In R. H. F. Campos (Org.), Psicologia social comunitária: da solidariedade à autonomia (9ª ed., pp. 9-16). Petrópolis, RJ: Vozes. argumenta que a Psicologia pode e deve auxiliar na construção de uma consciência crítica, possibilitando que as pessoas se reconheçam como sujeitos de sua própria história, reconheçam os determinantes sociopolíticos que interferem nas suas vivências cotidianas e, diante disso, sejam ativas na busca de soluções para os problemas enfrentados.

Veronese (2003)Veronese, M. V. (2003). Na direção de uma psicologia social crítica do trabalho. Acesso em 01 de agosto, 2011, em http://www.ces.uc.pt/publicacoes/oficina/index.php?id=2811
http://www.ces.uc.pt/publicacoes/oficina...
ressalta que a vivência de relações de trabalho cooperativo-solidárias e a inserção em redes comunitárias de aprendizado podem propiciar formas de educação conjunta e crítica, possibilitando à Psicologia auxiliar o sujeito não só a lidar com o seu contexto, mas a questionar e a transformar o próprio contexto. Além disso, num ambiente que tem por base o trabalho grupal, a cooperação e a solidariedade, a Psicologia pode fornecer um grande suporte no trabalho de aspectos que objetivem fortalecer o vínculo grupal e as relações interpessoais (Coutinho et al., 2005Coutinho, M. C., Beiras, A., Picinin, D., & Lückmann, G. L. (2005). Novos caminhos, cooperação e solidariedade: a Psicologia em empreendimentos solidários. Psicologia & Sociedade, 17(1), 17-28.). As reflexões de tais autores podem ser relacionadas e ajudam a reforçar as proposições da Psicologia Comunitária.

A Psicologia Comunitária, abordagem que teve início, no Brasil, no período posterior ao Golpe Militar de 1964 (Lane, 2003Lane, S. T. M. (2003). Histórico e fundamentos da psicologia comunitária no Brasil. In R. H. F. Campos (Org.), Psicologia social comunitária: da solidariedade à autonomia (9ª ed., pp. 17-34). Petrópolis, RJ: Vozes.), tem muito a contribuir no contexto da economia solidária. Ao identificar os impactos e as repercussões psicossociais das diferentes formas de opressão sobre a vida cotidiana de pessoas socialmente excluídas, a Psicologia Comunitária pode auxiliar na concretização de ações comunitárias e no desenvolvimento de núcleos solidários de trabalho (Freitas, 2005Freitas, M. F. Q. (2005). (In)Coerências entre práticas psicossociais em comunidade e projetos de transformação social: aproximações entre as Psicologias Sociais da Libertação e Comunitária. Psico, 36(1), 47-54.). Ademais, esta perspectiva traz a possibilidade de atividades comunitárias que visem à educação e ao desenvolvimento da consciência social de grupos diversos (Martins, 2007Martins, S. T. F. M. (2007). Psicologia social e processo grupal: a coerência entre fazer, pensar e sentir em Sílvia Lane. Psicologia & Sociedade, 19(2), 76-80.). Neste sentido, um conceito importante é o de empoderamento social, entendido, de acordo com Montero (2004)Montero, M. (2004). El fortalecimiento en la comunidad, sus dificultades y alcances. Psychosocial Intervention, 13(1), 5-19., como um processo em que os membros da comunidade desenvolvem e potencializam capacidades e recursos, de forma coletiva, a fim de controlar suas condições de vida e transformar o seu entorno, para o bem-estar coletivo e a superação das relações de opressão, submissão e exploração, conforme suas necessidades e aspirações, e de forma comprometida, consciente e crítica. Tendo em vista que o empoderamento relaciona-se à participação, à consciência crítica e política, à autogestão, ao controle comunitário, ao comprometimento, ao desenvolvimento pessoal e ao sentido de comunidade (Montero, 2004Montero, M. (2004). El fortalecimiento en la comunidad, sus dificultades y alcances. Psychosocial Intervention, 13(1), 5-19.), processos centrais da Psicologia Comunitária e necessários à economia solidária, entende-se o quanto os seus pressupostos teórico-metodológicos podem ser importantes para a atuação junto a este tipo de empreendimento. Também, segundo Campos (2003)Campos, R. H. F. (2003). Introdução: a psicologia social comunitária. In R. H. F. Campos (Org.), Psicologia social comunitária: da solidariedade à autonomia (9ª ed., pp. 9-16). Petrópolis, RJ: Vozes., a Psicologia Comunitária reforça o trabalho grupal, a ética da solidariedade, o exercício pleno da cidadania, a qualidade de vida vista de forma crítica e o respeito e a inclusão das diferenças.

A economia solidária surgiu como um modo de produção e distribuição dentro do sistema capitalista, organizada sob certos princípios, como a posse coletiva dos meios de produção, a gestão democrática, a distribuição da receita líquida entre os cooperados e a destinação do excedente anual (Singer, 2000aSinger, P. (2000a). Economia solidária: um modo de produção e distribuição. In P. Singer& A. R. Souza (Orgs.), A economia solidária no Brasil: a autogestão como resposta ao desemprego (pp. 11-28). São Paulo: Contexto.). As diversas definições do conceito de economia solidária primam pela ideia de solidariedade em oposição ao interesse individual e ao ganho material característicos das sociedades capitalistas contemporâneas (Laville & Gaiger, 2009Laville, J.-L. & Gaiger, L. I. (2009). Economia Solidária. In A. D. Cattani, J.-L. Laville, L. I. Gaiger, & P. Hespanha (Orgs.), Dicionário Internacional da Outra Economia (pp. 162-168). São Paulo: Almedina.). Por apresentar contradições em relação ao capitalismo, a economia solidária é vista tanto como uma alternativa ao sistema quanto como uma forma de superá-lo. Se, por um lado, ela se mostra como um modelo de economia capaz de proporcionar uma nova forma de sociabilidade, pautada na equidade e na democracia, por outro, não confronta o sistema de forma direta nem se articula politicamente de forma revolucionária, a fim de que possa superar o sistema e suas formas de exploração (Lemes, 2008Lemes, F. R. M. (2008). A inserção da economia solidária no mercado: contradições e possibilidades. Otra Economía, 2(2), 52-67.; Zuchetti, Moura, & Menezes, 2011Zuchetti, D. T, Moura, E. P. G, & Menezes, M. M. (2011). Economia Solidária: uma experiência intercultural. Economía, Sociedad y Territorio, 11(35), 1-17.). Para Singer (2002)Singer, P. (2002). Introdução à economia solidária. São Paulo: Fundação Perseu Abramo., a economia solidária pode ser compreendida como o conjunto de atividades econômicas (de produção, distribuição, consumo, poupança e crédito) organizadas e realizadas solidariamente pelos trabalhadores sob a forma coletiva e autogestionária. Desta maneira, segundo Singer (2002)Singer, P. (2002). Introdução à economia solidária. São Paulo: Fundação Perseu Abramo., destacam-se, na economia solidária, quatro importantes características: a cooperação, a viabilidade econômica, a solidariedade e a autogestão. Esta última pode ser definida, de acordo com Carvalho (1995, citado por Guerra, 2008Guerra, A. C. (2008). Gestão de Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares: uma análise comparativa. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-graduação em Administração, Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG.), como um modelo de organização em que as atividades econômicas e o relacionamento estão fundamentados na participação democrática da gestão e na propriedade e/ou no controle efetivo dos meios de produção.

No Brasil, observa Azambuja (2009)Azambuja, L. R. (2009). Os valores da economia solidária. Sociologias, 11(21), 282-317., o desenvolvimento dos empreendimentos de economia solidária se intensificou a partir de 1980, em função, principalmente, do aumento do desemprego e do consequente avanço da pobreza, abrangendo pessoas em busca de alternativas para a geração de renda. Existem ainda outras razões para a expansão de tais iniciativas, como o suporte proporcionado por movimentos sociais, ONGs, igrejas e governos de esquerda, a experiências autogestionárias e solidárias (Oliveira, Alves, Reis, Martins, & Pontelo, 2007Oliveira, A. L., Alves, J. C. M., Reis, M. F. C., Martins, P. L. & Pontelo, T. C. (2007). Economia solidária: a quem pertence esse movimento. In J. C. Abreu (Org.). Cooperativismo popular e redes solidárias (pp. 67-78). São Paulo: All Print.). Por fim, cabe enfatizar o apoio que alguns sindicatos deram a operários para que estes se apossassem da massa falida da empresa que antes os empregava e assim formassem cooperativas de produção (Singer, 2000aSinger, P. (2000a). Economia solidária: um modo de produção e distribuição. In P. Singer& A. R. Souza (Orgs.), A economia solidária no Brasil: a autogestão como resposta ao desemprego (pp. 11-28). São Paulo: Contexto.).

No contexto das organizações de economia solidária, Oliveira, Alves e Pontelo (2007)Oliveira, B. A. M., Alves, F. K., & Pontelo, T. C. (2007). As contribuições das Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares para o desenvolvimento da economia solidária e para a construção de um novo modelo de extensão universitária. In J. C. Abreu (Org.), Cooperativismo popular e redes solidárias (pp. 67-78). São Paulo: All Print. afirmam que as universidades têm se apresentado como instrumentos de grande importância para o desenvolvimento destes empreendimentos, devido à atuação das Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares (ITCP's). As ITCP's são compostas por professores, técnicos administrativos, profissionais voluntários e estudantes e, como menciona Guimarães (2000)Guimarães, G. (2000). Incubadoras tecnológicas de cooperativas populares: contribuição para um modelo alternativo de geração de trabalho e renda. In P. Singer & A. R. Souza (Orgs.), A economia solidária no Brasil: a autogestão como resposta ao desemprego (pp. 111-122). São Paulo: Contexto., trabalham no sentido de utilizar os recursos humanos e o conhecimento universitário na formação, qualificação e assessoria de trabalhadores para a construção de atividades autogestionárias, com o objetivo de incluí-los no mercado de trabalho. Desse modo, as ITCP's abarcam, de maneira plena, os preceitos de extensão universitária, ao propor e executar projetos de intervenção econômica e de geração de trabalho e renda (Guimarães, 2000Guimarães, G. (2000). Incubadoras tecnológicas de cooperativas populares: contribuição para um modelo alternativo de geração de trabalho e renda. In P. Singer & A. R. Souza (Orgs.), A economia solidária no Brasil: a autogestão como resposta ao desemprego (pp. 111-122). São Paulo: Contexto.).

Kirsch (2007)Kirsch, R. (2007). Incubação de empreendimentos da economia solidária e as implicações das relações de reciprocidade. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-graduação em sociologia, Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Brasília, Brasília, DF. assinala que a primeira ITCP foi criada em 1995, vinculada à Coordenação dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ITCP/COPPE/UFRJ), no contexto das atividades da Ação da Cidadania contra a Miséria e pela Vida. Em 1999, seis incubadoras organizaram a Rede de Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares (Rede ITCP's) objetivando trocas de experiências, tecnologias e conhecimentos e também a colaboração mútua em diferentes áreas (Kirsch, 2007Kirsch, R. (2007). Incubação de empreendimentos da economia solidária e as implicações das relações de reciprocidade. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-graduação em sociologia, Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Brasília, Brasília, DF.). A ITCP da Universidade Federal de São João del-Rei (ITCP-UFSJ), formalizada e filiada à Rede de ITCP's em 1999, vem buscando, desde então, inserir pessoas excluídas ou em vias de exclusão do mercado formal de trabalho, além de pessoas historicamente excluídas pertencentes às classes populares (Abreu, 2007Abreu, J. C. (2007). O processo compartilhado, autodeterminado e solidário de incubação: uma introdução. In J. C. Abreu (Org.), Cooperativismo popular e redes solidárias (pp. 10-33). São Paulo: All Print Editora.).

Singer (2002)Singer, P. (2002). Introdução à economia solidária. São Paulo: Fundação Perseu Abramo. diz que a incubação de uma iniciativa de economia solidária é um processo complexo de formação, mas que possibilita que práticas tradicionais de solidariedade se tornem instrumentos de emancipação. Como Guerra (2008)Guerra, A. C. (2008). Gestão de Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares: uma análise comparativa. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-graduação em Administração, Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG. aborda, um processo de incubação compreende toda a interação da ITCP com o grupo a ser incubado, desde o contato inicial, a decisão de aceitar a demanda, as etapas de mobilização, formação, assessoria, acompanhamento e treinamento para empreender na economia solidária, até o momento no qual a Incubadora se desliga do grupo.

No trabalho aqui relatado, os estudantes preparados para a atuação na ITCP-UFSJ serão chamados de agentes de incubação. Neste contexto, Abreu (2007)Abreu, J. C. (2007). O processo compartilhado, autodeterminado e solidário de incubação: uma introdução. In J. C. Abreu (Org.), Cooperativismo popular e redes solidárias (pp. 10-33). São Paulo: All Print Editora. destaca que os projetos da Incubadora ocorrem por meio da ação de estudantes e que, em virtude da transitoriedade destes na universidade, a ITCP-UFSJ acaba passando por constantes mudanças no grupo de agentes de incubação. Além disso, os recursos financeiros da Incubadora são adquiridos mediante editais que impõem limites de tempo para a execução das ações (Abreu, 2007Abreu, J. C. (2007). O processo compartilhado, autodeterminado e solidário de incubação: uma introdução. In J. C. Abreu (Org.), Cooperativismo popular e redes solidárias (pp. 10-33). São Paulo: All Print Editora.). Esses dois fatores, em particular, trazem consequências que podem afetar a manutenção e a continuidade de alguns dos trabalhos desenvolvidos pela ITCP-UFSJ nas organizações solidárias. O projeto de extensão da Psicologia, aqui apresentado, estruturou-se à parte da ITCP e contou com recursos do Ministério da Educação.

O presente artigo visa exemplificar uma prática, entre outras inúmeras possibilidades, da Psicologia no campo da economia solidária, especialmente, numa ITCP, em que a atuação foi pautada na formação dos agentes de incubação. Tal conduta buscou capacitar os agentes, a fim de que eles pudessem ser multiplicadores de alguns dos princípios da economia solidária, entre outros aspectos formativos, e também transmitir conhecimentos sobre o que de fato conhecessem, após ter tido a oportunidade de vivenciá-los durante as intervenções de Psicologia. Os elementos disparadores adotados em cada intervenção, os seus objetivos, os aspectos mais relevantes de cada encontro, bem como algumas falas, consideradas mais expressivas, são relatados. Destaca-se ainda, apesar da principal frente de ação ter se dado na Incubadora, o acompanhamento de um empreendimento solidário, em fase de estruturação, que também será analisado aqui.

Caracterização dos grupos

O grupo de agentes de incubação da ITCP-UFSJ era composto por sete alunos de diversos cursos de graduação da Universidade Federal de São João del-Rei, dos quais seis mulheres e um homem, na faixa etária de 18 a 25 anos, sendo cinco bolsistas e dois voluntários. Os estudantes foram selecionados por meio de edital aberto no início do ano acadêmico, num processo composto por quatro etapas: (a) elaboração de um texto no qual o candidato devia expor seus conhecimentos sobre economia solidária, (b) participação em dinâmicas de grupo, em que foram avaliados por alunas de Psicologia já integrantes da Incubadora, (c) entrevista com o coordenador da ITCP-UFSJ e (d) um treinamento básico. Os agentes selecionados passaram, então, por um treinamento mais completo, em que puderam conhecer os procedimentos e as orientações necessárias para o procedimento de incubação de empreendimentos solidários. O contrato dos agentes com a ITCP tinha duração de um ano, com possibilidade de renovação.

A associação de coletores de material reciclável de um município próximo à cidade de São João del-Rei (MG) era atendida pela ITCP-UFSJ e, no início do acompanhamento aqui relatado, recebia um suporte muito grande da assistente social vinculada à Prefeitura Municipal da cidade. A associação estava em fase de oficialização e possuía estatuto, sede própria e equipamentos necessários para o seu funcionamento, como prensa e balança. No entanto, devido a um atraso para emitir os documentos da presidente - que não os possuía - o processo de formalização estava paralisado. Ademais, a associação tinha acabado de passar por uma reestruturação, uma vez que muitos membros haviam saído no ano anterior, restando apenas três pessoas (de, aproximadamente, 20) para coletar o material reciclável em toda a cidade. Diante disso, foi realizado um acordo judicial que autorizou seis detentos, que apresentavam bom comportamento no presídio do município, a permanecer no local onde o material coletado era separado, fazendo a triagem do mesmo, e/ou a sair no caminhão de coleta para recolher material nas ruas. Estes detentos passaram a fazer parte da associação e o dinheiro da venda do material referente ao trabalho realizado por eles era encaminhado para as suas respectivas famílias. Além disso, a cada três dias trabalhados, os detentos ganhavam um dia de redução da pena. A associação era, portanto, formada por nove pessoas, todas na faixa etária de 25 a 40 anos, aproximadamente, sendo três mulheres, que se dedicavam exclusivamente à coleta de material reciclável nas ruas, e seis homens. De acordo com a assistente social, um trabalho de Psicologia poderia ser feito com o grupo, mas "disfarçadamente", porque, segundo ela, os membros não gostavam deste tipo de intervenção.

Procedimentos metodológicos

A experiência aqui descrita fez parte das atividades de um projeto de extensão universitária e, a partir de uma abordagem qualitativa, fundamentou-se nos pressupostos teórico-metodológicos da Psicologia do Trabalho e da Psicologia Comunitária, com foco especial na compreensão crítica dos processos de trabalho e do funcionamento de grupos. Tais pressupostos foram desdobrados nos seguintes instrumentos: observações e diários de campo, escuta qualificada das demandas e intervenções com base nas necessidades dos grupos.

O projeto teve a duração de um ano e adotou linhas de atuação, um tanto distintas, em cada semestre, a fim de alcançar o seu maior objetivo, que era o de potencializar a ação desenvolvida pela ITCP-UFSJ junto a empreendimentos de economia solidária. Nos primeiros seis meses, as ações do projeto se concentraram sobre os agentes de incubação da ITCP, considerando que eles ainda estavam se familiarizando com os processos internos da Incubadora e se preparando para a atuação nas organizações solidárias. Assim, as atividades foram voltadas, por um lado, para a constituição psicossocial do grupo recém-formado, buscando a integração e o fortalecimento do vínculo grupal. Por outro lado, procurou-se também possibilitar a reflexão e a discussão sobre as origens da economia solidária, visando proporcionar embasamento teórico para o trabalho dos agentes nos empreendimentos solidários. No segundo semestre, período que será mais bem detalhado aqui, ainda foram feitas intervenções objetivando o fortalecimento do grupo de agentes, com foco nos processos grupais e nas demandas que os membros manifestavam, mas passou-se a trabalhar, especialmente, sobre a instrumentalização dos mesmos quanto aos principais aspectos com os quais eles teriam que lidar nas organizações solidárias. Paralelo a tais intervenções, foi feito o acompanhamento da fase de estruturação da associação de coletores de material reciclável.

Os encontros de Psicologia com os agentes de incubação da ITCP-UFSJ tinham a duração aproximada de uma hora e meia e ocorriam às quartas-feiras, antes das reuniões entre os agentes e o coordenador da Incubadora, com uma frequência, geralmente, quinzenal. Estas reuniões também eram acompanhadas a fim de se observar a interação grupal e se compreender melhor o andamento do trabalho dos agentes. Vale ressaltar que, devido a alguns feriados ao longo do semestre, alguns encontros com os agentes tiveram de ser realizados em semanas consecutivas a fim de se evitar um intervalo muito longo entre as intervenções.

Foram realizados nove encontros estruturados sobre um texto ou artigo acadêmico, disponibilizado com antecedência para leitura prévia dos agentes, e que abordava o tema a ser trabalhado em cada intervenção. Dinâmicas e vivências grupais, algumas relacionadas aos temas e outras focadas nas relações interpessoais do grupo, também foram preparadas e utilizadas em alguns encontros a fim de aprofundar um pouco mais nas questões propostas. Todavia, embora a importância e a necessidade da presença de todos fossem constantemente ressaltadas para um bom aproveitamento dos temas em discussão, a frequência dos agentes aos encontros oscilou bastante ao longo do semestre. Cada encontro contou com a presença, em média, de cinco membros do grupo, sendo que chegou a ser realizado um encontro com somente dois agentes e em apenas dois encontros contou-se com a presença de todos os agentes. Além disso, nem todos os que compareciam às intervenções haviam lido os textos sugeridos.

As assembleias dos coletores da associação de material reciclável, acompanhadas também por uma agente de incubação, duravam cerca de uma hora e eram realizadas às segundas-feiras. Algumas reuniões ocorreram em semanas consecutivas, enquanto outras tiveram um intervalo quinzenal, já que eram realizadas sob a demanda dos coletores ou da assistente social que dava suporte à associação. Foi feito o acompanhamento de seis encontros.

Em todos os encontros, tanto com os agentes de incubação quanto com a associação de coletores, foram feitos diários de campo com o registro dos acontecimentos e das falas mais significativas. Os diários de campo possibilitaram que as observações fossem, posteriormente, sistematizadas e analisadas.

Resultados e discussões

O trabalho com o Grupo de Agentes de Incubação

Nos dois primeiros encontros com os agentes, foram discutidos dois textos de base socialista, visando levar o grupo à reflexão sobre o fundamento teórico das ações no campo da economia solidária. Como aponta Singer (2000a)Singer, P. (2000a). Economia solidária: um modo de produção e distribuição. In P. Singer& A. R. Souza (Orgs.), A economia solidária no Brasil: a autogestão como resposta ao desemprego (pp. 11-28). São Paulo: Contexto., é de grande importância que se entenda a crítica operária e socialista ao capitalismo para que se compreenda, assim, a estrutura e o funcionamento da economia solidária. No primeiro encontro, foi ainda realizada uma dinâmica com o objetivo de trabalhar a demonstração de afeto, visto que se observou que os membros não se relacionavam como um grupo nem se sentiam parte deste todo. No segundo encontro, foi proposta uma vivência voltada para a prática do trabalho na ITCP, em que se pediu aos agentes que escrevessem, numa folha, quatro palavras que identificassem o trabalho feito por eles na Incubadora. Logo após, foi realizada uma discussão a respeito do significado daquelas palavras para os agentes e também do que os motivava a continuar trabalhando ali. Em seguida, pediu-se que os agentes efetuassem uma autoavaliação, por escrito, acerca de como eles se sentiam em relação às tarefas executadas até aquele momento.

Tais atividades foram muito produtivas e, por meio delas, foi possível observar que os agentes possuíam muitos objetivos em comum e tinham percorrido um caminho semelhante dentro da Incubadora. Percebeu-se que, após um momento de grandes expectativas por causa da entrada na ITCP-UFSJ, seguiu-se uma fase de desmotivação em decorrência da frustração de não ir aos empreendimentos solidários e de ter que se dedicar a funções mais "burocráticas", às vezes, não relacionadas às atividades esperadas por eles. Observou-se também que, naquele momento, os membros passavam por uma fase na qual pretendiam se empenhar mais nas tarefas e, principalmente, estavam empolgados por, finalmente, ir a campo. Neste contexto, destaca-se a fala de um agente que ilustra esta disposição em desenvolver um bom trabalho, além da grande vontade de aprender cada vez mais e de trabalhar em prol de uma sociedade melhor: "Minha avaliação é que cresci e estou crescendo a cada encontro, profissionalmente e, mais ainda, pessoalmente. Porém, posso e tenho que estudar mais, porque os objetivos de vários aqui, e meu também, é fazer valer, é ajudar, é a busca pela mudança". Notou-se ainda que os agentes estavam caminhando para uma integração cada vez maior como grupo a partir dos trabalhos que estavam sendo desenvolvidos por eles, como a visita aos empreendimentos solidários, a participação na confecção de relatórios e o desenvolvimento de atividades de divulgação da Incubadora.

O conteúdo da intervenção do terceiro encontro foi escolhido mediante a percepção de que os agentes de incubação pareciam ainda não entender a real utilidade ou finalidade de um trabalho de Psicologia dentro da ITCP ou nas organizações solidárias. Assim, foi discutido um artigo de Martín-Baró (1996)Martín-Baró, I. (1996). O papel do psicólogo. Estudos de Psicologia, 2(1), 7-27., em que o autor aborda a prática do psicólogo com a de alguém que deve trabalhar a favor da construção de uma sociedade mais justa. Logo após, foi solicitado aos agentes que ilustrassem o princípio da economia solidária com o qual mais se identificavam, abrindo-se depois para discussão e reflexão sobre os desenhos produzidos e focando-se na formação dos agentes para o trabalho nos empreendimentos solidários.

Do quarto encontro em diante, as intervenções passaram a se estruturar especificamente em cima de uma maior formação dos agentes de incubação, no sentido de contribuir teoricamente para a prática destes nas organizações solidárias. Tendo isto em vista, foi trabalhado o documento com as orientações metodológicas para o procedimento de incubação que norteiam as ações da ITCP-UFSJ. Como resultado do debate acerca do texto, os agentes reconheceram a importância da fundamentação teórica e vincularam-na com o que já havia sido feito por eles desde o início do trabalho na Incubadora. Ao final, foi feita uma dinâmica para abordar a afetividade e o fortalecimento do vínculo grupal entre os agentes, com a finalidade de ressaltar a importância do trabalho coletivo, mesmo que, às vezes, fosse necessário que eles trabalhassem individualmente ou em subgrupos.

No quinto encontro, procurou-se provocar a reflexão sobre um aspecto importante presente na realidade de um empreendimento solidário: a tomada de decisão coletiva. Antes da discussão de um texto relativo ao tema, propôs-se uma vivência para a prática desta questão, que permitiu a discussão sobre os aspectos fáceis e difíceis de se chegar a um consenso. Em seguida, debateu-se um texto que abordava os processos de decisão consensual na economia solidária, tendo os agentes argumentado a respeito de pontos importantes, como a postura do mediador num empreendimento solidário, a necessidade de se fomentar o diálogo entre todos os que compõem o empreendimento e a importância de se promover, gradativamente, a independência dos associados/cooperados em relação ao mediador.

O sexto encontro teve como pauta o debate de um texto sobre comprometimento no trabalho devido à importância deste fator no contexto solidário. Destaca-se que, neste ponto das intervenções, percebia-se um baixo comparecimento dos agentes às reuniões realizadas entre eles e o coordenador da ITCP e, sobretudo, aos encontros de Psicologia. As ausências dos agentes nem sempre tinham justificativas plausíveis, sendo que, às vezes, ocorria o adiamento de decisões a serem tomadas nas reuniões em virtude das faltas de alguns dos responsáveis pela efetivação das mesmas. Frente a tais acontecimentos, durante a intervenção de Psicologia que neste dia contava com apenas três agentes, dos quais apenas um tinha lido o texto indicado para o encontro, focou-se bastante sobre como estava se dando, no ponto de vista dos agentes, o comprometimento destes dentro da Incubadora. Na fala de um agente, que parecia refletir o momento pelo qual o grupo todo estava passando e o que vinha acontecendo nas reuniões, comprometimento é "engajamento, é ter responsabilidade com os outros. É estar presente sempre, independentemente se gosta ou não do que está sendo feito. É respeito com os outros". No entanto, observou-se que o comprometimento ou não dos agentes em relação ao trabalho que eles desenvolviam na ITCP estava relacionado ao fato de que pouquíssimos agentes já haviam tido a oportunidade de visitar um empreendimento de economia solidária como agente de incubação, e os que já haviam feito visitas estavam ainda na fase de observação ou fazendo intervenções pontuais. Percebeu-se que este aspecto frustrava os agentes e, na fala de um deles, a motivação em desempenhar um trabalho dentro da Incubadora vinha de poder "fazer acontecer, criar laços com as pessoas, ver que seu papel pode fazer a diferença". Entende-se que os agentes não devem ser considerados os únicos culpados pela falta de comprometimento que vinha sendo observada dentro da Incubadora. Considerando-se também que a atuação dos agentes nos empreendimentos solidários depende de questões internas e, às vezes, burocráticas da Incubadora, acredita-se que o comprometimento deve ser um aspecto continuamente abordado com eles, mas levando em conta sempre as circunstâncias nas quais o trabalho dentro da ITCP é desenvolvido.

No sétimo encontro, foi abordada a possibilidade de a economia solidária, em contraste com o modo de trabalho capitalista, revelar um trabalho mais humanizado. Numa discussão produtiva, em que os pontos colocados para reflexão foram muito comentados, os agentes debateram a necessidade de se reforçar os valores da economia solidária em organizações nestes moldes, bem como o resgate da autoestima que pode ser propiciado por elas. A necessidade de o trabalho dos agentes provocar a incorporação de princípios solidários e de comportamentos mais humanos e cooperativos também foram aspectos pontuados pelo grupo.

Os dois últimos encontros já estavam voltados para a interrupção/conclusão das intervenções de Psicologia desenvolvidas até aquele momento, uma vez que o prazo determinado para o término das atividades do projeto de extensão já se aproximava, apesar de se considerar que o processo de formação e aprendizado não termina nunca. O tema escolhido para os dois encontros finais foi a autogestão, com o objetivo de levar os agentes a refletirem sobre este princípio tão central para a economia solidária e que apresenta tantas dificuldades para ser vivenciado. Veronese (2008)Veronese, M. V. (2008). Psicologia social e economia solidária. Aparecida, SP: Ideias & Letras. aponta que a autogestão constitui-se num desafio no contexto dos empreendimentos solidários, pois interpela o indivíduo a ser seu próprio gestor, geralmente, após ter tido experiências de trabalho baseadas na heterogestão e no autoritarismo. Considerando que existe uma tendência de se repetir o modelo heterogestionário já conhecido, a autogestão deve ser, constantemente, problematizada e questionada (Veronese, 2008Veronese, M. V. (2008). Psicologia social e economia solidária. Aparecida, SP: Ideias & Letras.). Para a leitura dos agentes, foram propostos dois textos sobre o tema. Como ponto levantado ao longo da discussão do penúltimo encontro, ressalta-se a necessidade do comprometimento de todos os envolvidos numa organização solidária para que ocorra, de fato, a autogestão, tendo em vista que não se pode nem se deve deixar que tudo seja decidido pelo "líder". De acordo com o objetivo das intervenções, os agentes de incubação foram questionados acerca de como eles sentiam que a autogestão se dava dentro da ITCP. Na fala de um agente, "falta comprometimento de alguns membros. O grupo está muito solto, pois as pessoas faltam, perdem a discussão e não assumem responsabilidades". Foi pedido aos agentes, então, que pontuassem os itens que eles acreditavam ser necessários para resolver os impasses dentro da ITCP, de forma que ali ocorresse a autogestão. De modo geral, os agentes apontaram que era preciso mais união e comunicação entre eles, além de comprometimento e interesse pelo que estava sendo feito. Na última intervenção, propôs-se que os agentes presentes no encontro anterior retomassem o que já havia sido discutido e conduzissem aquele encontro. Estes, então, pontuaram que, dentro da ITCP, "um procura ajudar o outro e construir junto, mas que falta comprometimento e que a autogestão ainda não é vivida plenamente". Os agentes discutiram bastante a respeito desta questão, sendo que um agente, que não participou do encontro anterior, argumentou que a autogestão era um processo que estava em construção ali dentro. Já ao final, este mesmo agente sugeriu a criação de um grupo de estudos entre eles, no próximo semestre, para a discussão de textos.

Por tudo o que foi colocado em debate pelos próprios agentes de incubação, ao longo das intervenções, e pelas observações das reuniões entre os agentes e o coordenador da ITCP-UFSJ, percebeu-se o amadurecimento e o surgimento de aspectos autogestionários dentro do grupo. Acredita-se que os agentes conseguiram apreender os princípios discutidos e estão mais capacitados para colocá-los em prática, nos empreendimentos solidários. Espera-se também que os agentes possam inserir, neste exercício, os agentes que não se envolveram tanto nos conteúdos dos encontros, bem como levar o que foi discutido para os futuros membros da ITCP-UFSJ e que passarão a fazer parte do referido grupo.

O trabalho com a Associação de Coletores de Material Reciclável

Durante o período de acompanhamento da associação de coletores de material reciclável, realizado juntamente com uma agente de incubação, algumas questões perpassaram as assembleias entre os associados e a assistente social que dava suporte ao grupo. Foi possível verificar que algumas destas questões, como a compra de materiais necessários para o desenvolvimento do trabalho na associação, como bags (sacos grandes e reforçados destinados à coleta de material nas ruas) e cordas (destinadas à amarração dos fardos de material já separado e pronto para a venda), e as dificuldades de pagamento do comprador, eram resolvidas por meio de consenso entre os coletores e a assistente social. Em algumas ocasiões, observou-se que a assistente social já chegava às assembleias com a opinião formada sobre as decisões a serem tomadas, porém, os associados tinham voz e participavam da discussão e da exposição de motivos sobre as alternativas possíveis em cada situação. Os coletores não se intimidavam com a assistente social e demonstravam descontentamento quando o sentiam. A assistente social dava liberdade aos coletores e, nos momentos em que a opinião destes divergia da opinião dela, era acatada a decisão dos coletores.

Uma questão muito discutida referia-se a uma das mulheres que recolhia material para a associação, mas que não cobria toda a sua área de coleta, o que gerava reclamações de moradores e prejuízos para a associação. Tal mulher, que não frequentava as assembleias apesar de ser constantemente chamada a comparecer, dizia estar interessada somente em receber a cesta básica (fornecida a todos os associados por uma instituição filantrópica do município) e, por isso, só fazia o suficiente para obter este auxílio. A sua saída da associação chegou a ser decidida numa votação unânime entre os membros presentes, contudo, na reunião seguinte, o grupo reviu a decisão, consentindo que ela participasse da coleta. Para tomar esta nova decisão, o grupo levou em conta a opinião da assistente social, que se referiu à ajuda que esta mulher deu no momento no qual a associação estava precisando de mais pessoas para recolher material nas ruas e que, então, não seria justo forçar a saída dela só porque agora os associados não estavam mais precisando de ajuda.

Outra questão polêmica dizia respeito à divisão do dinheiro das vendas de material entre os membros da associação, que era feita pela assistente social, conforme as horas trabalhadas e registradas em caderno de ponto. Os detentos chegaram a argumentar que, se fosse para comparar, eles teriam que ganhar bem mais do que as mulheres que faziam coleta nas ruas, pois, ao contrário delas, eles trabalhavam todos os dias em um ritmo muito maior. Diante disso, os detentos sugeriram então que, "para ser mais justo", o valor total da venda fosse dividido igualmente entre as pessoas que integravam o grupo há mais tempo, referindo-se a eles próprios e às duas mulheres que faziam a coleta nas ruas e cumpriam toda a área estabelecida. Segundo eles, agindo assim, as mulheres "não sairiam prejudicadas e as pessoas que não são comprometidas com o trabalho não ganhariam igual" às demais. Esta medida ia ser colocada em prática pelos associados e pela assistente social no mês seguinte.

Ao final do acompanhamento, a oficialização da associação tinha sido adiada, uma vez que não existia, no grupo, um número suficiente de pessoas para ocupar os cinco cargos necessários para a formalização da mesma, considerando-se que os detentos não poderiam ocupá-los. Como resultado de tal acompanhamento, foi possível perceber que o grupo ainda caminhava lentamente nos princípios da economia solidária, tendo em vista que, apesar de todos terem o igual direito a voto, fazia-se necessário que os conceitos e os valores da economia solidária fossem mais trabalhados, de modo a se formar uma base para a associação que futuramente poderá se constituir. Naquele momento, o suporte da assistente social ainda era essencial para o desenvolvimento do empreendimento, mas era preciso que fosse realizado um trabalho que favorecesse a independência do grupo em relação a ela.

Considerando-se esta experiência, cabe ressaltar que, para Singer (2000a)Singer, P. (2000a). Economia solidária: um modo de produção e distribuição. In P. Singer& A. R. Souza (Orgs.), A economia solidária no Brasil: a autogestão como resposta ao desemprego (pp. 11-28). São Paulo: Contexto., a participação em empreendimentos solidários pode representar o resgate pleno da cidadania e o exercício de direitos iguais, principalmente, para pessoas humildes, que sempre foram estigmatizadas por serem pobres - sobretudo mulheres e negros. Conforme Goffman (1982)Goffman, E. (1982). Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada (4ª ed.). Rio de Janeiro: Zahar., estigmas são características tipicamente vistas como depreciativas, mesmo que não sejam imediatamente visíveis, e que inabilitam certos grupos sociais para a aceitação social plena, como é o caso, em especial, do grupo de detentos. Assim, considera-se bastante válida a iniciativa de se promover um empreendimento de economia solidária que integre desempregadas e detentos, pois mais do que uma fonte de renda, uma associação, nestes moldes, representa uma forma de superação e de reinserção social.

Com o decorrer das observações, chegou a ser elaborado um roteiro de intervenções baseado na metodologia das oficinas de dinâmicas de grupo e estruturado em duas fases. Nos encontros iniciais, o objetivo seria trabalhar o pertencimento, o vínculo e a integração grupais, de forma que os membros ficassem mais unidos. Posteriormente, pretendia-se abordar alguns temas, como: cooperação, comunicação, liderança, solidariedade, preconceito, identificação, de acordo com as demandas e as necessidades do momento. No entanto, devido a outros afazeres, o grupo não podia se reunir por semanas consecutivas, sendo que, nas vezes em que isto ocorreu, alguns membros não puderam comparecer às reuniões. Além disso, percebeu-se a necessidade de que as intervenções de Psicologia ocorressem em cima de questões práticas da associação, antes ou após as assembleias, visto que os membros não se mostravam dispostos a se reunirem "apenas" para encontros com tal temática. As intervenções teriam que acompanhar, assim, a frequência das assembleias. Considerando que, nestas condições, não haveria tempo hábil para se realizar um trabalho coerente de Psicologia com os coletores, embora a realização de intervenções fizesse parte do objetivo inicial do acompanhamento feito à associação, decidiu-se, então, que este não seria realizado, em virtude da proximidade do término do projeto de extensão. No ano seguinte, o contato entre a associação de coletores e a ITCP foi retomado e deu-se início efetivo ao processo de incubação, com a realização de reuniões periódicas entre agentes e associados, sendo que um dos objetivos consistia em promover a valorização do trabalho reciclado pelas pessoas apoiadas.

Considerações finais

Acredita-se que os encontros de Psicologia com os agentes de incubação da ITCP-UFSJ foram bem-sucedidos e cumpriram com os seus objetivos, pois facilitaram o desenvolvimento do grupo, além de qualificar os agentes e torná-los multiplicadores de alguns dos princípios da economia solidária. Neste sentido, observa-se que as ações da Psicologia contribuíram para o processo de empoderamento dos agentes no próprio grupo da ITCP, ao facilitar a emergência de uma consciência crítica e política, de práticas autogestionárias e do comprometimento individual em relação ao grupo (Montero, 2004Montero, M. (2004). El fortalecimiento en la comunidad, sus dificultades y alcances. Psychosocial Intervention, 13(1), 5-19.), num movimento que pode ser levado para os empreendimentos de atuação de cada um. Ao longo das intervenções, foi possível notar que o grupo se tornou mais maduro, tanto em relação à formação para a prática quanto à afetividade e pertença grupais, fatores que também colaboram para uma atuação coletiva mais eficiente. Este trabalho ocupou uma lacuna do grupo, que era a de formação e aprendizado contínuos, preparando-o mais para a atuação prática e propiciando um momento de encontro entre todos os membros. Nas palavras de um agente, "os encontros de Psicologia são o momento em que mais se cria vínculo com os membros do grupo", uma vez que, além da assembleia, as intervenções de Psicologia constituíam os únicos momentos nos quais os agentes se reuniam em grupo. Eram nestes momentos que os agentes podiam falar de suas dificuldades e de outros fatores relacionados ao desenvolvimento do trabalho dentro da Incubadora, tendo em vista que o contato mais frequente entre eles era feito por e-mail.

Apesar dos pontos positivos observados com a realização deste trabalho, é preciso considerar também que outras características da economia solidária, do relacionamento grupal, bem como os diversos aspectos relacionados a estes, poderiam/deveriam ter sido trabalhados e, por limitações de tempo, não foram possíveis. Faz-se necessário destacar ainda que alguns fatores externos afetaram o comprometimento e a motivação do grupo de agentes, o que, consequentemente, interferiu no desempenho deles na Incubadora e no rendimento das intervenções de Psicologia. Entre os referidos fatores, pode-se citar que a sede física da ITCP-UFSJ passou por reformas, o que inviabilizou, por semanas, a realização de plantões e de atividades administrativas próprias da Incubadora. Entretanto, acredita-se que o que mais afetou a motivação grupal refere-se ao fato de que parte dos agentes não pôde ir a campo, ou seja, visitar e atuar diretamente nas organizações solidárias, sendo que os que foram, por razões diversas, só puderam fazer observações de acompanhamento ou não puderam intervir de maneira eficaz. Pensa-se que este era um ponto que poderia ter sido trabalhado com os agentes nos encontros de Psicologia, mas para o qual, infelizmente, não se atentou a tempo.

Durante o acompanhamento feito à associação de coletores de material reciclável, foi possível observar o quanto a experiência de trabalho em cooperativas e associações proporciona aos indivíduos excluídos socialmente a oportunidade de se expressar, de ser ouvido e de ter suas opiniões respeitadas e influentes no destino do coletivo, tal como proposto por Singer (2000a)Singer, P. (2000a). Economia solidária: um modo de produção e distribuição. In P. Singer& A. R. Souza (Orgs.), A economia solidária no Brasil: a autogestão como resposta ao desemprego (pp. 11-28). São Paulo: Contexto.. Todavia, como o grupo tinha muito suporte da assistente social vinculada à Prefeitura do município, o trabalho da ITCP-UFSJ ainda não tinha manifestado uma forte atuação. A presença da Psicologia também não pôde se fazer mais efetiva devido ao limite concreto de tempo, já que, pelas características do trabalho a ser desenvolvido, este não poderia ser começado e interrompido sem a perspectiva de ser retomado posteriormente. Pelas observações realizadas, notou-se, nitidamente, a necessidade de se trabalhar a coesão e a identidade grupais, mas, principalmente, a valorização da opinião de todos e o engajamento na resolução dos conflitos e dos problemas da própria associação, para que esta não estivesse tão concentrada na figura do mediador que vem de fora.

No trabalho aqui descrito, o referencial teórico da Psicologia do Trabalho e da Psicologia Comunitária possibilitou um olhar voltado para a subjetividade e as relações grupais vivenciadas no contexto de uma ITCP e de uma organização solidária em constituição, proporcionando um ponto de vista específico para as questões e circunstâncias aqui relatadas. Neste sentido, os procedimentos metodológicos partiram destas perspectivas e, em conjunto, forneceram um aporte para o planejamento e a efetivação do presente trabalho.

O que se pretende, portanto, por meio deste relato, é ilustrar um exemplo concreto de como a Psicologia pode atuar no contexto de economia solidária, seja nos empreendimentos ou na formação de agentes de incubação. Considera-se, deste modo, que a prática aqui descrita pode ser esclarecedora para a intervenção da Psicologia em outras ITCP's, levando-se em conta, obviamente, que nem tudo pode ser generalizado, pois cada grupo e cada Incubadora possuem suas peculiaridades. Além disso, as organizações mudam e, assim, ressalta-se a necessidade sempre presente de se produzir conhecimentos na área, bem como relatar experiências que visem a contribuir com novas perspectivas para a prática de agentes de incubação ou para pessoas que atuem junto a empreendimentos de economia solidária, como também propiciar a ampliação dos referenciais dos quais se dispõe neste campo. Tendo em vista que a economia solidária pressupõe novas formas de produção, de relação e de vida, considera-se que a Psicologia deve buscar, cada vez mais, se inserir neste campo a fim de que seus saberes teóricos e práticos possam contribuir efetivamente para uma sociedade mais justa e igualitária.

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PROEXT UFSJ - Edital nº 05/2010.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Ago 2015

Histórico

  • Recebido
    24 Jun 2013
  • Revisado
    29 Set 2014
  • Aceito
    25 Out 2014
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