Acessibilidade / Reportar erro

A EXPERIÊNCIA FENOMENOLÓGICA E O TRABALHO EM GRUPO NA SAÚDE MENTAL

LA EXPERIENCIA FENOMENOLÓGICA Y EL TRABAJO EN GRUPO EN LA SALUD MENTAL

THE EXPERIENCE PHENOMENOLOGICAL AND THE GROUP WORK AT MENTAL HEALTH

Resumo

O objetivo do estudo foi compreender o potencial terapêutico da experiência vivida em uma prática em grupo de promoção à saúde mental, que se singulariza por ter a finalidade de atenção à experiência cotidiana. O corpus estudado formou-se pela observação participante por dois anos e seis meses e por nove entrevistas abertas em profundidade com participantes do grupo, fundamentando-se no referencial teórico metodológico da Fenomenologia. A pesquisa analisou como os participantes compreendem a proposta de atenção à experiência e disposição do coordenador no processo grupal, bem como a valorização da condição existencial em detrimento da doença. Essa sistematização pôde favorecer com um eixo terapêutico em saúde mental diferente das intervenções hermenêuticas e educativas clássicas, colaborando com alternativas de cuidado em saúde e comunidade via atenção à experiência.

Palavras-chave:
saúde mental; fenomenologia; grupo; experiência

Resumen

El objetivo del estudio fue comprender el potencial terapéutico de la experiencia vivida en una práctica en grupo de promoción de la salud mental que se singulariza por tener la finalidad de atención a la experiencia cotidiana. El corpus estudiado se formó por la observación participante por dos años y seis meses y por nueve entrevistas abiertas en profundidad con participantes del grupo, fundamentándose en el referencial teórico metodológico de la Fenomenología. La investigación analizó cómo comprenden los participantes la propuesta de atención a la experiencia y disposición del coordinador en el proceso grupal, así como la valorización de la condición existencial en detrimento de la enfermedad. Esa sistematización se puede favorecer con un eje terapéutico en salud mental diferente de las intervenciones hermenéuticas y educativas clásicas, colaborando con alternativas de cuidado en salud y comunidad.

Palabras clave:
salud mental; fenomenología; grupo; experiencia

Abstract

The objective of this research was to understand the therapeutic potential of Experience in a group of mental health that distinguishes for having the purpose of attention to everyday experience. The study corpus was formed by the participant observation for two years and six months and nine open interviews with the participants of the group, based on methodological theoretical framework of Phenomenology. Among its findings, the participants describe the proposal of attention to experience and the coordinator position, as well highlighting the existential condition rather than the disease. This study could collaborate with a therapeutic axis in mental health not centered in hermeneutic or education intervention and could favor with the understanding of care alternatives through attention in mental and community health.

Keywords:
mental health; phenomenology; group; experience

Introdução

A experiência fenomenológica como inspiração terapêutica

A atenção à experiência vivida é referenciada como objetivo de cuidado em um grupo de atendimento em saúde, que ocorre há dezesseis anos na rede de saúde de uma cidade do interior paulista, nomeado como Grupo Comunitário em Saúde Mental (GCSM). Nesse contexto, foi realizado um estudo em profundidade por meio do referencial teórico fenomenológico com o intuito de compreender a proposta e em que medida os participantes compreendem a atenção à experiência como possibilidade de cuidado.

O significado de experiência pela fenomenologia é enriquecido com os esforços de Husserl (1913/2006Husserl, E. (2006). Ideias para uma fenomenologia pura e para uma filosofia fenomenológica: introdução geral à fenomenologia pura (M. Suzuki, Trad.). Aparecida, SP: Idéias & Letras (Original publicado em 1913) ) em estabelecer a intencionalidade fenomenológica e compreender o conhecimento em um movimento correlativo entre o mundo tido como “visado” e seu componente intencional humano que apreende o sentido (Husserl, 1913/2006). A compreensão de uma intencionalidade implica considerar a experiência como originária do mundo, um mundo que pré-cientificamente existe como mundo, puramente a partir do que “aparece”. Assim, Husserl (1936/2012) ressignifica o sentido de empiria, por meio de uma redefinição do termo “experiência”, pelo retorno às coisas mesmas, experiência como uma vivência não ultrapassável, portanto, sem partir do pressuposto de “experiência” com o sentido de experimentação dualista da ciência tradicionalista, mas restituindo seu caráter gnosiológico, de uma abstração fundamental na relação entre homem e mundo.

Esse conceito recebeu um aprofundamento por Stein (1933/2000Stein, E. (2000). La struttura della persona umana. Roma: Città Nuova. (Original publicado em 1933). ), que indicou a relação entre experiência e vivência. O termo vivência pura foi explicitado como uma estrutura peculiar de todo o ser humano, relativa aos atos de pensar, imaginar e sentir. O conteúdo dessas vivências, por sua vez, é considerado como experiência vivida e se refere à relação intencional entre o sentir e o que é sentido, entre o pensar e o que é pensado para cada situação (Stein, 1933/2000). Ambas essas capacidades estão ligadas à dimensão do espírito que diz respeito ao que é especificamente humano, não sendo partilhada por outro ser, uma estrutura ontológica comum referente aos atos de refletir, decidir, criar, que por sua vez se expressa em experiências as mais diversas (Stein, 1933/2000).

O conceito de experiência também recebeu desdobramentos de teóricos da Fenomenologia da Religião com a intenção de compreender as dimensões intencionais entre homem e o sagrado como nos trabalhos de Geerardus van der Leeuw (1970Leeuw, V. D. G. (1970). La religion dans son essence et ses manifestations: phénoménologie de la religion. Paris: Payot.) e Luigi Giussani (2000Giussani, L. (2000). O senso religioso (P. A. E. Oliveira, Trad.). São Paulo: Nova Fronteira.). Na Fenomenologia da Religião houve um destaque à noção de experiência humana em relação àquilo que é tomado como sagrado (Leeuw, 1970; Usarski, 2004). Há uma compreensão de que cada ser humano possui uma instância própria que se liga à esfera divina transcendental de forma análoga a uma fonte de ressonância. Devido ao seu material “comum”, comunicam-se na mesma frequência (Usarski, 2004Ursaski, F. (2004). Os enganos sobre o sagrado: uma síntese da crítica ao ramo "clássico" da fenomenologia da religião e seus conceitos-chave. Revista de Estudos da Religião, 4, 73-95. Recuperado de http://www.pucsp.br/rever/rv4_2004/p_usarski.pdf
http://www.pucsp.br/rever/rv4_2004/p_usa...
). Luigi Giussani (2000), por sua vez, destaca o termo “experiência elementar”, relacionado à constituição do sujeito e sua vibração direta ou ímpeto presente para identificar o sentido último das vivências, ligado a temas como justiça, bondade, beleza, felicidade (Giussani, 2000; Mahfoud, 2012Mahfoud, M. (2012). Experiência elementar em Psicologia: aprendendo a reconhecer. Brasília, DF: Universa. ).

Pautada na intencionalidade homem-mundo, a experiência vivida, em seu fundamento, está associada à compreensão da realidade humana (Cambuy & Amatuzzi, 2012Cambuy, K. & Amatuzzi, M. M. (2012). Experiências comunitárias: repensando a clínica psicológica no SUS. Psicologia & Sociedade, 24(3), 574-683. DOI: 10.1590/S0102-71822012000300020
https://doi.org/10.1590/S0102-7182201200...
; Solymos, 2006Solymos, G. M. B. (2006). A centralidade da pessoa na intervenção em nutrição e saúde. Estudos Avançados, 20(58), 109-122. DOI: 10.1590/S0103-40142006000300013
https://doi.org/10.1590/S0103-4014200600...
). Conforme aponta Solymos (2006) em diálogo com Van der Leeuw (1970Leeuw, V. D. G. (1970). La religion dans son essence et ses manifestations: phénoménologie de la religion. Paris: Payot.), a pessoa conversa com a realidade segundo a compreensão que faz dela; em outras palavras, respondemos à vida a partir da experiência contemplada dentro de uma realidade. A experiência vivida forma uma unidade com a pessoa, pois é por meio da experiência que a vida se insere no eu e o eu se insere na vida. Dar atenção à experiência vivida envolve, com isso, reconhecer a maneira como uma pessoa interpreta, recebe, compreende e significa os eventos que ocorrem em seu cotidiano.

Em termos semânticos e etimológicos, a palavra experiência remete ao latim experiri, provar (experimentar), sua raiz indo-europeia é per, que revela a ideia central de travessia. Uma palavra comum em nosso vocabulário com a raiz per é peiratês ou pirata, indicando alguém que faz uma travessia. Em português a palavra experiência significa “o que nos acontece”, refere a “prática da vida” (Bondía, 2002Bondía, J. L. (2002). Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira de Educação, 19, 20-28. DOI: 10.1590/S1413-24782002000100003
https://doi.org/10.1590/S1413-2478200200...
). Bondía relembra, entretanto, que no cotidiano, muitas coisas se passam na vida, mas ao mesmo tempo, quase nada nos acontece. Para Bondía, a experiência, ou seja, a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque, “requer um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que correm: requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar” (Bondía, 2002, p. 24).

O conceito evidencia uma complexidade onde a pessoa e o mundo vivido correspondem-se mutuamente, a experiência não é reduzida ao psiquismo e à passividade de recepção externa que elimina qualquer movimento intersubjetivo, não se trata de restringir a experiência a uma experimentação de laboratório. O humano, em última instância, em um olhar fenomenológico, retoma a possibilidade de ser a fonte de um sentido, uma fonte abastecida pelo mundo intencionalmente possível pela existência temporal e espacial (Husserl, 1936/2012bHusserl, E. (2012b). A crise das ciências europeias e a fenomenologia transcendental: uma introdução à filosofia fenomenológica (D. F. Fereer, Trad., 1ª ed.). Rio de Janeiro: Forense Universitária . (Original publicado em 1936) ). Por sua vez, essa leitura distancia-se do conceito de experiência usado pela Psicologia Moderna com Wilhelm Wundt, em que o termo deixou de integrar uma categoria gnosiológica valorizada para acessar o humano, passando a ser o objeto científico, destituído da participação do sujeito em uma validade pautada na passividade e na neutralidade (Bello, 2004Bello, A. A. (2004). Fenomenologia e ciências humanas: psicologia, história e religião. São Paulo: Edusc.). Husserl (1936/2012b), em contrapartida, assinalou a relevância da experiência como uma revisão epistemológica necessária para construção do conhecimento sobre o humano.

A atenção à experiência vivida ressoou em diferentes campos do saber e também em modelos de cuidado na saúde dado seu caráter transcendental e intersubjetivo, especialmente em trabalhos que dialogam com a epistemologia fenomenológica na busca por enriquecer práticas em saúde mental e fundamentações conceituais clínicas, como, por exemplo, nos trabalhos de Amatuzzi (2009Amatuzzi, M. M. (2009). Psicologia fenomenológica: uma aproximação teórica humanista. Estudos de Psicologia (Campinas), 26(1), 93-100. DOI: 10.1590/S0103-166X2006000400001
https://doi.org/10.1590/S0103-166X200600...
), Bondía (2002Bondía, J. L. (2002). Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira de Educação, 19, 20-28. DOI: 10.1590/S1413-24782002000100003
https://doi.org/10.1590/S1413-2478200200...
), Mahfoud (2012Mahfoud, M. (2012). Experiência elementar em Psicologia: aprendendo a reconhecer. Brasília, DF: Universa. ), Moreira (2013Moreira, V. (2013). Revisitando as psicoterapias humanistas. São Paulo: Intermeios. ) e Solymos (2006Solymos, G. M. B. (2006). A centralidade da pessoa na intervenção em nutrição e saúde. Estudos Avançados, 20(58), 109-122. DOI: 10.1590/S0103-40142006000300013
https://doi.org/10.1590/S0103-4014200600...
).

A experiência envolve, pois, o reconhecimento essencial de uma intersubjetividade e da suspensão de conhecimentos diante da realidade, para que se possa contemplar o que habita, o que se supõe verdadeiro (Amatuzzi, 2009Amatuzzi, M. M. (2009). Psicologia fenomenológica: uma aproximação teórica humanista. Estudos de Psicologia (Campinas), 26(1), 93-100. DOI: 10.1590/S0103-166X2006000400001
https://doi.org/10.1590/S0103-166X200600...
). Dessa forma, ela aparece como um conceito que auxilia no entendimento sobre o humano em sua condição intencional com o mundo e, por sua vez, passou a ser incorporada pelo grupo-alvo do presente estudo, nomeado como Grupo Comunitário de Saúde Mental. Nessa prática grupal, ao longo de sua historicidade, passou-se a centralizar a atenção à experiência vivida no cotidiano e a dedicação ao encontro humano pela relevância das relações em sua imersão comunitária.

Sob esse olhar de valorização da experiência inerente à relação entre pessoa-pessoa, pessoa-mundo e pessoa-cotidiano, tem-se uma proposta de trabalho que tem buscado dar destaque àquilo que “acontece” na vida dos integrantes que imprimiu um campo potencial terapêutico a ser compreendido.

A experiência fenomenológica no grupo

Os atendimentos em grupo aparecem como metodologias importantes para as demandas substitutivas em saúde mental que atentam à multiplicidade e à sociabilidade dos usuários e profissionais (Ministério da Saúde, 2010Ministério da Saúde. (2010). Relatório Final da IV Conferência Nacional de Saúde Mental - Intersetorial. Brasília, DF: Autor. Recuperado de http://conselho.saude.gov.br/biblioteca/Relatorios/relatorio_final_IVcnsmi_cns.pdf
http://conselho.saude.gov.br/biblioteca/...
). Neste estudo, o trabalho em grupo com foco na vivência e no compartilhar cotidiano entre os participantes ganhou destaque, em especial, por promover uma compreensão sobre estar na companhia de pessoas e uma abertura criativa de novos fazeres na interface entre a saúde e o adoecimento.

Os grupos traduzem a possibilidade do surgimento de um sentido comum entre as distintas perspectivas, de gestores, trabalhadores, familiares e usuários da saúde. Essa característica é destacada nas proposições políticas de promoção e prevenção da saúde no país que, por sua vez, descrevem e garantem o financiamento dos atendimentos grupais em suas resoluções, desde a Portaria 224 de 1992 (Portaria 224, 1992Portaria n. 224, de 29 de janeiro de 1992. (1992). Estabelece diretrizes e normas para o atendimento em saúde mental. Brasília, DF: Ministério da Saúde. ).

No campo conceitual, apesar das tentativas de delimitar um arcabouço que organize as nomenclaturas e práticas grupais, há uma variedade de formas de manejo dos trabalhos com grupos, refletindo um exercício transgressor quanto à maior precisão dos conceitos (Rodrigues, 1999Rodrigues H. B. C.(1999). Sobre as histórias das práticas grupais: explorações quanto a um intricado problema. In A. M. Jacó-Vilela & D. Mancebo (Orgs.), Psicologia Social: abordagens sócio-históricas e desafio contemporâneo (pp. 111-165). Rio de Janeiro: EdUERJ.). Entretanto, distanciando-se dessa suposta imprecisão, o trabalho em grupo prevê fundamentações conceituais epistemologicamente ligadas a uma descrição científica de seus fundamentos, conforme aponta Moreno (1959/1974Moreno, J. L. (1974). Psicoterapia de grupo e psicodrama, introdução à teoria e à práxis. São Paulo: Mestre Jou. (Original publicado em 1959) ), na conceituação inaugural sobre o campo terapêutico com grupos. Nesse sentido, a impossibilidade de existência de um objeto “grupo” específico, frente às múltiplas terminologias, ressalta a importância em considerá-lo como um emblema misto, construído historicamente segundo concepções epistemológicas distintas, mas que devem ser explicitadas e bem descritas, ao compor uma modalidade significativa de atendimento nos serviços.

O objeto “grupo”, fluido e histórico em si mesmo, é, por consequência, redimensionado permanentemente pelas resoluções governamentais e por práticas profissionais, especialmente quando ligado a termos como “intervenções comunitárias”, “grupos de sala de espera” e “visitas domiciliares”, que incrementam o sentido de grupo como prática de cuidado, o que demanda permanente explicitação e descrição dessas modalidades.

A prática grupal na saúde associada à experiência vivida vem se desenvolvendo no país em um serviço de referência em saúde mental no interior paulista. Esse grupo ocorre desde 1998, com o objetivo de ampliar o repertório de práticas de cuidado e tem vivenciado um movimento de ampliação para outros espaços. Naquele momento, o trabalho destacava o acesso de informações, por parte de usuários e dos familiares, sobre doenças mentais e seus respectivos tratamentos. Ao longo dos anos e das discussões decorrentes em relação ao grupo, o foco foi se alterando, os temas, de forma processual, foram ampliados para além do foco educativo e passaram a dialogar diretamente com a epistemologia fenomenológica por meio do foco à atenção às experiências vividas entre os participantes (Ishara & Cardoso, 2013Ishara, S. & Cardoso, L. C. (2013). Delineamento do Grupo Comunitário de Saúde Mental. In S. Ishara, C. L. Cardoso, & S. R. Loureiro (Orgs.), Grupo Comunitário de Saúde Mental: conceitos, delineamento metodológico e estudos (pp. 19-43, 1ª ed.). Ribeirão Preto, SP: Nova Enfim. ). Concomitantemente, houve um processo de inclusão como participantes do grupo de profissionais, estudantes e participantes da comunidade geral, junto aos usuários e familiares, sem delimitar atribuições diferenciadas em tal participação. Nessa perspectiva, ocorreu um processo de equiparação dos participantes à condição comum entre si: a qualidade de serem pessoas que compartilham de uma experiência. Essa característica singularizou o grupo por incluir em um cuidado de saúde mental diferentes agentes: usuários do serviço, familiares, residentes de psiquiatria, estudantes da área de saúde, profissionais de saúde, entre outros, sem delimitação de funções. Tal característica distancia-se do formato de trabalho em grupo em que os usuários são o foco do cuidado em saúde e o profissional aquele que exerce o cuidado.

Essa metodologia de trabalho dialoga com fundamentos pós-reformistas em saúde mental brasileiros num paradigma biopsicossocial. Nesse processo, o trabalho, atualmente, vem se desenvolvendo por meio dos seguintes objetivos gerais (Ishara & Cardoso, 2013Ishara, S. & Cardoso, L. C. (2013). Delineamento do Grupo Comunitário de Saúde Mental. In S. Ishara, C. L. Cardoso, & S. R. Loureiro (Orgs.), Grupo Comunitário de Saúde Mental: conceitos, delineamento metodológico e estudos (pp. 19-43, 1ª ed.). Ribeirão Preto, SP: Nova Enfim. ): (a) fomentar um exercício contínuo e pessoal de atenção e reflexão sobre a vida cotidiana, de forma a ser expresso no trabalho grupal, com vistas à promoção da saúde mental e do crescimento pessoal; (b) oferecer uma modalidade de cuidado à saúde mental com ênfase no acesso da comunidade e na atenção aos múltiplos favorecedores no processo de ajuda, e (c) desenvolver uma rede de pessoas articuladas em um movimento de atenção compartilhada no cuidado da saúde mental (Cardoso, 2012).

Sob esse olhar de valorização da experiência inerente à relação entre pessoa-pessoa, pessoa-mundo e pessoa-cotidiano, o grupo acontece com duração de aproximadamente uma hora e trinta minutos, em que o coordenador o inicia com a função de descrever o grupo e suas etapas com vistas a dar destaque àquilo que “acontece”, tendo em vista o paradigma fenomenológico. Contabilizam-se, aproximadamente, vinte e cinco pessoas na composição do grupo por semana. As etapas que compõem o Grupo são: (a) sarau, (b) relato de experiências e, por fim, (c) elaboração do trabalho grupal. No sarau, inicialmente, os participantes relatam experiências vividas a partir do contato com textos, imagens, músicas, produções artísticas, fotografias, produções literárias, jornalísticas, remontando ao valor de uma apropriação e percepção do mundo humano em seu caráter estético. O relato de experiências, por sua vez, é o espaço para a partilha de experiências propriamente ditas, ou seja, momentos vivenciados e que tiveram algum impacto na existência do participante. A busca envolve compartilhar um acontecimento, mediante uma receptividade ao mundo e a si. Na última etapa, de elaboração do trabalho grupal, as pessoas têm um espaço para expressar a experiência vivida no grupo, ou seja, se algo “aconteceu” em alguma medida experiencial nos momentos anteriores do processo (Ishara & Cardoso, 2013Ishara, S. & Cardoso, L. C. (2013). Delineamento do Grupo Comunitário de Saúde Mental. In S. Ishara, C. L. Cardoso, & S. R. Loureiro (Orgs.), Grupo Comunitário de Saúde Mental: conceitos, delineamento metodológico e estudos (pp. 19-43, 1ª ed.). Ribeirão Preto, SP: Nova Enfim. ).

Essa proposta de trabalho em grupo, por sua vez, imprime um olhar sobre a “prática da vida cotidiana”, singularizando os participantes a compartilharem o que possuem na condição de pessoa. Um fundamento que pode vir a potencializar as formas de compreender a participação e o uso terapêutico do grupo no contexto de saúde mental pela influência de uma epistemologia fenomenológica.

Método

O objetivo foi compreender a proposta de atenção à experiência cotidiana presente em um grupo de saúde mental nomeado como Grupo Comunitário de Saúde Mental (GCSM), na perspectiva dos seus participantes. O estudo foi submetido ao Comitê de Ética, para apreciação segundo a Resolução 466/12 (Resolução n. 466, 2012Resolução n. 466, de 12 de dezembro de 2012. (2012). Diretrizes e normas de pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília, DF: Conselho Nacional de Saúde.), com aprovação datada em 28 de fevereiro de 2013. Para tanto, o corpus do estudo foi delimitado com a utilização de dois procedimentos, a saber: (a) entrevistas abertas em profundidade, com a colaboração de nove participantes (três usuários, três profissionais e três familiares), a partir da questão norteadora: “Conte sobre a sua vivência no Grupo” e (b) observação participante, que consistiu na inserção do pesquisador ao longo de dois anos e seis meses no contexto grupal, com o objetivo de vivenciar o seu cotidiano e estar presente nas diversas situações, numa epistemologia fenomenológica (Katz & Csordas, 2003Katz, J. & Csordas, T. (2003). Phenomenological ethnography in sociology and anthropology. Ethnography, 4(3), 275-288.). As impressões foram registradas no caderno de campo como instrumento que demarca a interlocução entre pesquisadora, participantes, contendo informações literais, sentimentos e impressões sobre os momentos vividos durante a participação nos grupos e após a realização das entrevistas.

O fundamento epistemológico e metodológico que conduziu a pesquisa se pautou na Fenomenologia (Husserl, 1936/2012) que, em sua complexidade, convida ao retorno às coisas, buscando o significado sobre o conhecimento pelo fundamento na consciência intencional e sua característica relacional com o mundo vivido dos participantes. A postura do pesquisador ressalta o viés descritivo e compreensivo do fenômeno estudado, ou seja, a análise reitera a autoria e a subjetividade dos envolvidos no estudo. A singularidade da aplicação do método fenomenológico à pesquisa empírica é alvo de aprimoramentos, uma vez que parte da inspiração Husserliana em um campo filosófico. A concretização da análise está pautada na busca do significado baseada na descrição parentetizada (epoché ou redução fenomenológica) e na postura intersubjetiva/intencional ao longo do processo de construção de um conhecimento (Husserl, 1913/2006). Não se trata de realizar uma objetivação da subjetividade, e nem de finalizar o estudo com a singularidade dos informes de cada sujeito, mas de realizar a busca pelos traços comuns e passar da singularidade a um exercício de generalidade da experiência em tema (Barreira & Raniere, 2013Barreira, C. R. A. & Ranieri, L. P. (2013). Aplicação de contribuições de Edith Stein à sistematização de pesquisa fenomenológica em Psicologia: a entrevista como fonte de acesso às vivências. In M. Mahfoud & M. Massimi (Orgs.), Edith Stein e a Psicologia: teoria e pesquisa (1ª ed., pp. 449-466). Belo Horizonte: Artesã.), sem perder a dimensão de que se trata de um recorte temporal e espacial do fenômeno. Seguimos, para tanto, os seguintes passos de análise: (a) análise prévia: transcrição, aproximação e correções das entrevistas realizadas, com respaldo da atenção suspensiva; (b) análise contemplativa: leitura atenta das transcrições das entrevistas e dos registros do caderno de campo, visando a uma aproximação com as experiências dos participantes, sem buscar a inclusão de um sentido interpretativo às experiências; (c) análise descritiva: compilação descritiva das entrevistas com cada participante. Momento de contato com a descrição sintética das vivências dos participantes e pesquisador, com a finalidade precípua de dar visibilidade ao fenômeno vivido acerca do GCSM; (d) análise compreensiva: o corpus da pesquisa foi analisado por meio da construção de unidades de sentidos analíticos, com o intuito de construir um caminho de significação e compreensão do GCSM. Nesse momento, o pesquisador que até então se pautava na suspensão sobre o fenômeno GCSM abandona, momentaneamente, o parêntese da redução fenomenológica para retomar possibilidades analíticas intencionalmente construídas e em diálogos com pressuposições teóricas. No escopo do presente artigo, será ressaltada a significação do grupo em seu potencial terapêutico com base na experiência.

Resultados e discussão: a compreensão do cuidado em grupo pela experiência

O grupo-alvo do presente estudo foi descrito pelos participantes quanto aos seus aspectos estruturais, a sua finalidade, benefícios, limitações e por relatos que exemplificavam momentos vividos na prática, ou seja, ao serem mobilizados a discorrer livremente sobre o trabalho, apontavam o que diferencia o mesmo em relação às outras modalidades de trabalho, em especial aquelas desenvolvidas no serviço de referência em que está localizado.

Segundo a ótica dos participantes, a prática em grupo está ligada à proposta de reconhecimento e significado da vida, uma atenção a si mesmo e ao mundo que se associa a um sentido de cuidado pela via de significação sobre o cotidiano vivido:

Uns fala mais da vida, como o comunitário, fala mais da vida. O sentido da vida. Como é a vida lá fora ou aqui dentro. Então assim... A vida, né? Acontecendo a vida... Caminhando. A vida em si, né? Viver mesmo. (Ana, usuária do serviço)

Tem a ver muito com a maneira que eu vejo... Que você se olha mais... Essa questão de ver o sentido nas coisas. (Antônio, médico residente)

A gente prestar mais atenção numas coisas, né? Na vida. Que às vezes a gente deixa passar despercebido. Muitas coisas, né? Eu acho que eu levo pra mim, né? No meu dia a dia, e prestar mais atenção nas coisas, né? É ficar atento. (Fábia, familiar)

O trabalho é reconhecido, por seus participantes, como um espaço de busca pelo “sentido da vida”, condição que passa a inserir o grupo como veículo de atenção aos acontecimentos cotidianos, onde não se foca a doença e o saber etiológico sobre ela, mas a compreensão das experiências vividas, a inspiração que a vida fornece quando se presta atenção aos acontecimentos e aos diferentes interlocutores com os quais convivemos. A expressão “a vida em si, né? Viver mesmo”, conforme aponta Ana, é tida como algo que não tem muito a ser teorizado, angaria sentido sem maiores esforços explicativos. A descrição dos participantes está voltada para o “olhar mais”, prestar mais atenção, como relata Fábia, ainda que essa significação venha acompanhada de certa dúvida quanto ao que seriam as “muitas coisas” despertadas por essa atenção diante da vida e o efeito terapêutico que isso promove, conforme traz Antônio.

Essa característica de valorização da vida reverbera na maneira como o grupo está desvinculado da noção clássica de prática em saúde mental voltada aos padrões psiquiátricos e nosográficos, em especial no que se refere à finalidade e à composição grupal, conforme aponta o participante José:

E... no grupo, isso fica... a gente praticamente exclui a questão de... que sintoma que a pessoa tem. Que que ela tem de diagnóstico. O tratamento que ela faz. Não interessa. Interessa nem se é doente mental ou se é considerado doente mental. Ou se é uma pessoa considerada mentalmente sã. Mas o que importa é a pessoa estar ali, com a... com a intenção de... de compartilhar alguma coisa com as outras pessoas. E de... e... receber a coisa de outras pessoas também... (José, médico residente)

Para José, o sentido de atenção à vida, a disposição de estar “ali” para compartilhar e receber entre si, está sobreposto ao interesse e à aproximação com vistas a um tratamento específico de doenças e à construção de um diagnóstico. No grupo em questão, o “doente mental” não participa por ser “doente mental”, e aquele tido como “mentalmente são” participa em um lugar que não prevê a sobreposição ou a ação educativa de alguém que vai para testemunhar a saúde, características que, segundo o residente José, trazem um entendimento de que o grupo é para “pessoas”. Os participantes convergem no sentido de que compor o grupo envolve ter uma experiência, em um aspecto genérico compartilhado por todas as pessoas. Nessa compreensão, esse trabalho abarca em seu escopo pessoas em geral, que vão intencionadas a compartilhar e receber experiências. A proposta de “a atenção à vida” traduz um aspecto que não requer um saber especializado, ou uma condição de participação. Em outros termos, estar no grupo envolve dispor-se a uma condição primária, anterior às explicações de qual é o papel ou vínculo institucional de seus componentes, o que, por sua vez, desperta novas posições diante de si e da própria vida.

Essa possibilidade faz referência ao sentido terapêutico das práticas de grupo e na saúde, inicialmente conceituado por Moreno (1959/1974). Trata-se, no grupo analisado por este estudo, de um terapêutico que pode surgir nos intermédios, nos encontros pouco sistematizados que, por sua vez, sinalizam a importância e o potencial de incluí-los na promoção de cuidado acerca do humano. A dicotomia entre psicoterapêutico, como uma prática amparada cientificamente em moldes clássicos, e o terapêutico, como um cuidado que surge em qualquer espaço sem uma finalidade prévia (Moreno, 1959/1974), contribuiu para atenuar a atenção sobre os encontros que ocorrem nos bastidores das metodologias em saúde, e que, neste estudo, aparecem entre os participantes como relevantes no conjunto do processo. Essa dimensão mais ampla de terapêutico ressoa também na colocação de Cassia: “Acredito que começo com minhas orações. Às vezes é pequena. Eu não tenho estudo... Igual todo mundo tem muito estudo. Mas eu tenho outra coisa, que é a minha vivência. É a minha vivência do dia a dia...” (Cassia, ex-usuária). Cassia aponta a maneira como entende sua participação no grupo. Reconhece um lugar de protagonismo quando legitima sua participação por deter a própria vivência, não importando o grau de escolaridade ou o conhecimento técnico. O empoderamento e protagonismo da usuária começam a ser exercidos nas orações e no compartilhar das vivências do dia a dia, instrumentalizando uma oferta ao outro e restituindo para Cassia o lugar de alguém que colabora, que mobiliza e contribui com algo de si.

Para os participantes, o cerne da diferenciação entre o grupo estudado e os demais trabalhos que integram no padrão clássico está nesse foco dado à “vida” e seus acontecimentos. Por outro lado, o compartilhar em uma dimensão coletiva e comum, que é tida como premissa em outros trabalhos em grupo (Osório, 2007Osório, L. C. (2007). Grupoterapias: abordagens atuais. Porto Alegre: Artmed.; Yalom & Leszcz, 2006Yalom, I. D. & Leszcz, M. (2006). Psicoterapia de Grupo: teoria e prática (R. C. Costa, Trad., 5ª ed.). Porto Alegre: Artmed .), recebe uma clareza singular para o grupo em questão.

Que nem é, você, quando consegue enxergar a experiência de outra pessoa... Assim, consegue ver através dos olhos dessa pessoa, essas experiências que ela passou, que ela tá relatando. E às vezes você consegue sentir, né? É... o que que ela sentiu nesse relato. Pode ser uma coisa simples assim. E quando isso acontece. Acho que aí que tem, faz a diferença no grupo, né? Quando você consegue participar dessa forma. Mesmo que não diga nada, não participa, não traga nada... Mais se você conseguir sentir isso, né? É... um... é o que eu acho que faz a diferença no grupo comunitário, né? Em vários momentos eu senti isso assim... (Davi, médico residente)

Davi explora a abertura à experiência do outro, estar aberto para que consiga “olhar pelos olhos de alguém”. Mas esse movimento envolve “conseguir fazer”, “conseguir participar”, “e às vezes, você consegue”, não é algo natural. Estar aberto em um movimento dativo é uma dimensão que realiza a saída de uma subjetividade intencionada ao outro, essa saída pode se dar superficialmente ou em um domínio mais “detido” à coisa mesma. A profundidade, nesse aspecto, não é teorizar sobre o dito, ou aconselhar sobre o compartilhado, mas vivenciá-lo na condição de intropatia (Husserl, 1936/2012b). Essa visão intersubjetiva é resgatada mais explicitamente por Antônio e por Joana:

Uma das palavras é a empatia, né? Toca muito quando você vê a posição. Se vê na posição do outro. Ah, por exemplo, é o que o [nome de paciente] contou hoje, por exemplo, me fez pensar, né? Eu conhecia um pouquinho dele. O que o cara já passou, né? E o cara escreve um texto sobre esperança. Depois de tanta coisa que ele perdeu, tentar pensar como é que seria isso comigo, né? Não só, mas olhar a janela do outro, né? Olhar na janela do outro. Acho que é isso. (Antônio, médico residente)

Essas reuniões da terça... Muita coisa ali ajuda muito a gente, né? Que a gente vê que tem gente que fala, que... igualzinho tá acontecendo com a gente. Mesma coisa tá acontecendo com a gente. (Joana, familiar)

A empatia explicitada numa dimensão conceituada como “olhar pela janela do outro”, “olhar com os olhos do outro”, sem, no entanto, perder de vista a própria subjetividade, angaria na fala dos profissionais uma articulação mais rebuscada do que a que ressoa na expressão da familiar Joana, quando expressa acontecer com o outro “igualzinho” acontece com a gente. Há nas colocações o encontro de afetos, potencialmente favorecido pela atenção à vida e ao seu compartilhamento mediante uma abertura para se deixar tocar. A dimensão empática foi ressaltada por Cardoso (2012Cardoso, C. L. (2012). Grupo Comunitário de Saúde Mental: uma análise fenomenológica. Tese de Livre Docência, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, SP. ) sobre o GCSM, em especial, com destaque à capacidade ontológica que o homem detém de entrar em contato com o outro em um sentido de alteridade, singularizando-se e comparando suas vivências.

De acordo com participantes, para que haja um aprofundamento no encontro empático, é necessária uma abertura, o que implica responder o convite de dispor-se a estar atento e compreender o que está sendo exposto em um nível inteligível para si. A ocorrência de um encontro, ainda que a relação eu-outro e eu-mundo seja reconhecida como ontologicamente compartilhada pelas pessoas (Husserl 1936/2012), demanda uma disposição atenta para que o encontro efetivamente possa ocorrer:

Eu acho que é alguns assuntos que eu não acho muito interessante não. Assim. Quero assim... Pode ser pra mim. Pros pacientes. Que às vezes o paciente fala pra mim, né? Sabe essas coisas? Eu nunca falo nada do que eu acho, né? Pra não desencorajar eles. ... Porque livro. Ninguém muito tem o hábito, né? De ler, né? Muitos pacientes. Muitos que tão ali, não tem nada. Eu não tenho hábito, né? Já tive muito isso. Mas muito tempo atrás. Então eu não tenho hábito. Tem coisas que você nem, não entende. Começa o... Nesse assunto não tem nada a ver. Porque eu não entendo. Fala de, de, ator... Gente... Dos atores do livro ali. Nem sei como fala isso. O que escreve lá... De música até ponho pra escutar. Mas as músicas que eu, que às vezes eu ponho pra escutar, não têm nada a ver da gente falar. (Fábia, familiar)

Fábia aponta encontrar dificuldades de participar nas vezes que não compreende o que o outro compartilha, “nem sei como fala isso” ao se referir ao nome de autores de livros. O encontro com a experiência no grupo implica, nesse aspecto, uma abertura ao outro, mas também uma “afinidade” de olhar que dialoga com a capacidade de compreender se aquilo o que é mostrado correspondente ao seu gosto, ao seu costume e a sua natureza. Se o outro traz um trecho de um livro, e a pessoa não tem o “hábito” de ler, ela pode não compreendê-lo. Essa disposição convida à reflexão de um aprimoramento da proposta do GCSM no sentido de aproximar-se dessa falta de compreensão, mediando se há uma busca e intenção de se aproximar do que está supostamente distante do cotidiano. Além disso, Fábia expõe a dificuldade em valorizar, em encontrar algum mediador que possa ser compartilhado sobre seu cotidiano, exprimindo uma ressalva sobre seus próprios gostos “que não têm nada a ver da gente falar”. O dia a dia de Fábia não aparece legitimado e valorizado, suficientemente, para ser compartilhado. Ela teria uma experiência para compartilhar, mas sofre uma interdição de si para apresentá-lo. Essas dimensões apontadas entre os participantes e também identificadas na observação participante de estar aberto para si e para o outro envolvem a possibilidade de explorar a inteligibilidade da proposta terapêutica de atenção à experiência de maneira acessível e em colaboração conjunta para que os participantes “consigam” (como expressa Davi) compreender o proposto e sintam legitimidade para dar atenção à própria vida.

Os participantes constroem também uma compreensão em torno da estrutura do trabalho, dividida em três momentos: (a) sarau; (b) relato de experiências; e (c) elaboração do trabalho grupal. Reconhecem uma caracterização geral do grupo e retomam, em especial, a figura do coordenador para promover um sentido ao trabalho desenvolvido:

Ah eu acho a única coisa diretiva é assim. Então vamos fazer nossa primeira parte. Aí faz a primeira parte. Aliás o [nome do coordenador] desde que começou pra... até agora. Ele mudou demais da conta. Ele era muito mais diretivo. Ele era bem mais. Que agora ele tá mais assim, tá mais do grupo. (Márcia, familiar)

Que eu vejo no comunitário, eu tô ali como todas as pessoas. Eu não vejo o (nome do coordenador), inclusive fazer como coordenador, ele organiza o negócio. Mais ele também se põe como participante, né? (Antônio, médico residente)

Nas expressões de Márcia e Antônio, a organização do grupo não tem se mostrado enrijecida e vem se redimensionando ao longo do tempo. Perceber que o coordenador “mudou” ou tem uma postura diferente, menos diretiva, conforme expõe Márcia, aponta para um ganho no sentido de que o coordenador “está mais do grupo”, ele “pertence” ao trabalho. Antônio, no mesmo sentido, atribui o papel de “quem organiza” para o coordenador, com vistas a dar evidência à forma como esse se inclui no processo e, assim, distancia-o do sentido de uma coordenação clássica de grupo, que pressupõe isenção e não participação pessoal no processo. Em outras palavras, o coordenador abrir-se ao outro, participando e compartilhando experiências, traduziu um elemento peculiar, em especial observado na expressão de Márcia, “desde que começou pra... até agora”, atribuindo uma temporalidade ao relato sobre o GCSM. Nessa perspectiva, o foco passa a ser o compartilhar, inclusive para aquele que supostamente apenas conduziria as etapas, sem delas participar.

Nesse contexto, o sentido tradicional de ter algo a ser cumprido no grupo, mediado por alguém que coordena como nos modelos clássicos cujas relações são marcadas pela assimetria coordenador-pacientes, não aparece constituindo a visão de estrutura do GCSM, sendo ele mesmo compreendido pelos participantes como um grupo aberto, voltado para todas as pessoas, em que se trata de reconhecer os acontecimentos da vida (seja pela via da experiência de vida, de um texto, de uma música) que tenham provocado um significado que outrora não havia sido dado ou valorizado:

Quando [nome de uma usuária] falou, trouxe aqueles poemas que ela traz que falava do pai dela. Aí eu me lembrei... Eu acho que ali você tá aberto pro grupo, né? Isso é mais, isso facilita quando você tá aberto, quando você tá fechado, que nem eu tava hoje, não, não, num facilita nada. Quando ela trouxe aqui, eu lembrei da, da minha infância... Que ela falou alguma coisa da seca, né? Que o pai dela, acho que é de [nome de um estado brasileiro], e tal. Ela falando da seca, eu lembrei, quando eu tinha oito anos, teve uma seca grande lá em [ano] e meu pai batalhando pra salvar o gado dele, não deixou nenhuma cabeça morrer, e saiu transportando o gado, então ele trabalhava dia e noite assim, lidando com o gado pra não deixar... Ele quase faliu, né? Então eu lembrei disso tudo, é? Desse período que foi difícil. Na hora que isso aconteceu eu... Não tava nem na hora de falar de experiências, né? Tava na hora das poesias. Foi meio sem pensar... . Eu acho isso foi engraçado. Se eu tivesse falado depois talvez não tivesse tido o mesmo efeito assim, que teve pra mim... Eu acho que reproduziu algum efeito no grupo assim... (Davi, médico residente)

Davi relembra na entrevista a experiência compartilhada no GCSM, motivado por outra participação. A “seca” tinha um significado para a usuária que tocou Davi e promoveu um retrospecto na sua vivência, um sentido espontâneo e afetivamente intenso da experiência com a seca, fomentando um “efeito” benéfico ao participante, com ressonâncias, segundo o participante, para o grupo: “acho que reproduziu algum efeito no grupo”. A significação de uma abertura para estar atento ao outro, ressaltada por Davi, mobiliza uma atenção sobre si. O fechar-se implica, porém, atenuar a condição empática, expressa pela via da inteligibilidade do que é compartilhado como colocado por Fábia e também pela via de como estou disposto a me “entregar” ao grupo naquele dia. A disposição para uma “entrega” media a possibilidade de construir um efeito de reciprocidade no GCSM. No cenário do grupo, pode não se conhecer intimamente quem ajuda, e esse alguém que ajuda desconhece os outros que possivelmente ajudou, mas eles passam a se “reconhecer” na medida em que tocam uns aos outros. Para compreender esse movimento, podemos retomar o relato de Davi: foi a “usuária” que compartilhou sobre a seca e ajudou “Davi” a se olhar, Davi não sabe maiores detalhes sobre a usuária, mas ela passou a compor a descrição de Davi sobre a experiência de si quando se toca no tema: “seca”.

A caracterização de ajuda por meio da atenção ao vivido, seja do próprio cotidiano ou por mediação do outro via uma ajuda mútua, é construída entre os interlocutores e, por sua vez, possibilita uma inspiração metodológica para o grupo estudado. Podemos associar a palavra método em seu sentido etimológico de alcance de um fim, que, pela perspectiva dos participantes, envolve obter uma disposição benéfica pela via da contemplação, da atenção aos acontecimentos da vida, seja na própria história, seja na história do outro. A disposição pode ser ou não expressa oralmente; ainda que o participante não compartilhe uma experiência, pode se beneficiar do grupo, pois também está a receber e a observar empaticamente:

Ele falava [nome coordenador], de que a gente tem que falar. Primeiro que me deu uma impressão. “Pó. Quem diz que eu tenho que falar... às vezes é um acontecimento não ter nada.” eu achava que tava acontecendo muita coisa... (Antônio, médico residente)

Participar pela escuta ou pela fala implica perceber algo acontecendo, conforme expressa Antônio que, mesmo não falando no grupo, reconhecia que muita coisa estava “acontecendo”. Para tanto, compreender o grupo pelo vivido dos participantes remete a um movimento de atenção à coisa mesma, uma postura de acolher a vida e o mundo, sem prendê-los a interpretações, ou suposições sobre o que é compartilhado. A experiência alcança um espaço genuíno, por si, não sendo previstas sobre ela explicações e interpretações técnicas do próprio coordenador ou de outros participantes.

Parar um pouco, sair um pouco desse circuito interminável de estar sempre envolvido com alguma coisa, ter um momento pra parar e perceber alguma coisa que aconteceu que foi relevante, como que isso foi relevante, que sentimento tava gravado nisso, como que isso significa pra mim. Não costumo fazer isto espontaneamente. Do ponto de vista pessoal, acho que esse é o grande impacto que tem pra mim. (José, médico residente)

O grupo, mediante a proposta de atenção à experiência, fornece reconhecimento do humano, ao ter como premissa a suspensão do que está naturalizado no “circuito interminável”, como explicita José, potencializando uma ressignificação constante do correlato sujeito-mundo, mediante a atenção e abertura à experiência.

A proposta de atenção ao cotidiano vem ao encontro da inspiração fenomenológica de realização de uma epoché. A associação da atitude fenomenológica ao grupo foi pontuada por Ishara e Cardoso (2013Ishara, S. & Cardoso, L. C. (2013). Delineamento do Grupo Comunitário de Saúde Mental. In S. Ishara, C. L. Cardoso, & S. R. Loureiro (Orgs.), Grupo Comunitário de Saúde Mental: conceitos, delineamento metodológico e estudos (pp. 19-43, 1ª ed.). Ribeirão Preto, SP: Nova Enfim. ) em dois momentos: o primeiro por suspender precedentes tipológicos, ou seja, considerar a condição última de pessoa humana entre profissionais, usuários, familiares e estudantes para participarem no grupo. E a segunda de atenção à experiência de vida, na busca de um sentido que se mostra à consciência. A “parentetização” proposta por Husserl (1913/2006) parece ocorrer, ao passo que busca colocar em suspenso o teorizado e validado na visão clássica de grupo. Não se trata de uma negação das expectativas, mas da busca por vivenciar a experiência mesma, sem pretensão de substituir o que é compartilhado como experiência no grupo por interpretações, conselhos ou sugestões. Há, nesse aspecto, a valorização da experiência pela experiência.

Essa inspiração é uma forma de vincular o método ao contexto empírico possibilitado pela premissa da intencionalidade no correlato consciência/mundo vivido, ainda que Husserl não tenha problematizado tais aplicações clínicas (Husserl, 1936/2012b). Parte-se da valorização dos significados à maneira como se apresentam, centrando-se a atenção ao mundo-vivido (Lebenswelt), ligada intrinsecamente a uma disposição humana natural, uma perspectiva padrão e automática que temos diante do mundo. A dimensão humana da atitude natural é reconhecida e legitimada para, então, promover uma nova disposição, atentiva e suspensa, no sentido de recuperar um mundo “óbvio”, que deixa de sê-lo a partir do momento em que se pode retomá-lo, novamente, por outra perspectiva (Husserl, 1900/2012aHusserl, E. (2012a). Investigações lógicas fenomenologia e teoria do conhecimento (C. A. Morujão & P. M. S. Alves, Trads., 1ª ed.). Rio de Janeiro: Forense Universitária. (Original publicado em 1900)). Fundamenta-se, com isso, um exercício questionador, atentivo em uma correlação inseparável entre sujeito e mundo. Por essa perspectiva, a experiência pautada pela relação entre consciência e mundo vivido colabora na fundamentação de um significado que está associado ao objetivo geral desse grupo como uma ferramenta que visa a “um exercício pessoal continuado de atenção e reflexão sobre a vida cotidiana” (Ishara & Cardoso, 2013Ishara, S. & Cardoso, L. C. (2013). Delineamento do Grupo Comunitário de Saúde Mental. In S. Ishara, C. L. Cardoso, & S. R. Loureiro (Orgs.), Grupo Comunitário de Saúde Mental: conceitos, delineamento metodológico e estudos (pp. 19-43, 1ª ed.). Ribeirão Preto, SP: Nova Enfim. , p. 27). Atenção refletida e legitimada nas experiências dos participantes, conforme traduziu José no relato anterior e Fábia ao destacar a atenção diante das coisas, “que às vezes a gente deixa passar despercebido”.

Nesse destaque, o grupo analisado no presente estudo, em um enquadre teórico e metodológico, recebe contornos de um trabalho influenciado pela perspectiva fenomenológica em diálogo com a diversidade empírica dos trabalhos clínicos ao se inspirar em um caminho de valorização da experiência cotidiana (Gomes & Castro, 2010Gomes, W. B. & Castro, T. G. (2010). Clínica fenomenológica: do método de pesquisa para a prática psicoterapêutica. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 26(n. spe.), 81-93. DOI: 10.1590/S0102-37722010000500007
https://doi.org/10.1590/S0102-3772201000...
; Moreira, 2013Moreira, V. (2013). Revisitando as psicoterapias humanistas. São Paulo: Intermeios. ). Segundo a perspectiva dos participantes, não há um foco hermenêutico/interpretativo e nem psicoeducativo na prática. Alcançar, porém, uma disposição atentiva sobre as experiências compartilhadas no GCSM em uma intencionalidade dativa e empática envolve, para os participantes, aprimorar a inteligibilidade sobre o que é proposto e uma “abertura” para fazê-lo, o que pode tornar o processo mais proveitoso.

Considerações finais

A compreensão da experiência como uma possibilidade de aproximação com o mundo vivido do outro e de si mesmo, por influência de uma epistemologia fenomenológica, aparece como um recurso de atenção em saúde mental, que vem oferecendo estrutura para fundamentar um trabalho em grupo que integra usuários, familiares e profissionais.

Trata-se com isso de uma abertura a outras formas de aprimorar terapêuticas que não centradas no aspecto educativo ou hermenêutico/interpretativo, mas valorizando a experiência pela experiência em seu caráter antepredicativo (Husserl, 1900/2012a).

Dessa forma, na experiência dos participantes entre usuários, familiares e profissionais, o GCSM pode servir como uma ajuda, na medida em que possibilita um exercício de suspensão da suposta obviedade do cotidiano e legitima o dia a dia como instrumento que retoma a autoria da pessoa, conforme apontou Cassia: “Não tenho estudo, mas tenho a minha vivência”. Para tanto, a compreensão dessa suspensão e da abertura para tal é decisiva para o exercício proposto que ganha legitimidade por valorizar a experiência como um fator terapêutico que amplia significações sobre si, o outro e o mundo.

A partir do estudo foi possível vislumbrar como pessoas que participam de uma proposta com foco na atenção à experiência significam a possibilidade de um cuidado. A consolidação de uma prática terapêutica influenciada por essa perspectiva insere-se em um paradigma de valorização da condição compartilhada de ser pessoa, independente do seu papel institucional.

Agências de fomento

CAPES/CNPQ - Bolsa de Doutorado, Demanda Social, Programa de Pós-graduação em Psicologia; Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto.

Referências

  • Amatuzzi, M. M. (2009). Psicologia fenomenológica: uma aproximação teórica humanista. Estudos de Psicologia (Campinas), 26(1), 93-100. DOI: 10.1590/S0103-166X2006000400001
    » https://doi.org/10.1590/S0103-166X2006000400001
  • Barreira, C. R. A. & Ranieri, L. P. (2013). Aplicação de contribuições de Edith Stein à sistematização de pesquisa fenomenológica em Psicologia: a entrevista como fonte de acesso às vivências. In M. Mahfoud & M. Massimi (Orgs.), Edith Stein e a Psicologia: teoria e pesquisa (1ª ed., pp. 449-466). Belo Horizonte: Artesã.
  • Bello, A. A. (2004). Fenomenologia e ciências humanas: psicologia, história e religião São Paulo: Edusc.
  • Bondía, J. L. (2002). Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira de Educação, 19, 20-28. DOI: 10.1590/S1413-24782002000100003
    » https://doi.org/10.1590/S1413-24782002000100003
  • Cambuy, K. & Amatuzzi, M. M. (2012). Experiências comunitárias: repensando a clínica psicológica no SUS. Psicologia & Sociedade, 24(3), 574-683. DOI: 10.1590/S0102-71822012000300020
    » https://doi.org/10.1590/S0102-71822012000300020
  • Cardoso, C. L. (2012). Grupo Comunitário de Saúde Mental: uma análise fenomenológica Tese de Livre Docência, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, SP.
  • Giussani, L. (2000). O senso religioso (P. A. E. Oliveira, Trad.). São Paulo: Nova Fronteira.
  • Gomes, W. B. & Castro, T. G. (2010). Clínica fenomenológica: do método de pesquisa para a prática psicoterapêutica. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 26(n. spe.), 81-93. DOI: 10.1590/S0102-37722010000500007
    » https://doi.org/10.1590/S0102-37722010000500007
  • Husserl, E. (2006). Ideias para uma fenomenologia pura e para uma filosofia fenomenológica: introdução geral à fenomenologia pura (M. Suzuki, Trad.). Aparecida, SP: Idéias & Letras (Original publicado em 1913)
  • Husserl, E. (2012a). Investigações lógicas fenomenologia e teoria do conhecimento (C. A. Morujão & P. M. S. Alves, Trads., 1ª ed.). Rio de Janeiro: Forense Universitária. (Original publicado em 1900)
  • Husserl, E. (2012b). A crise das ciências europeias e a fenomenologia transcendental: uma introdução à filosofia fenomenológica (D. F. Fereer, Trad., 1ª ed.). Rio de Janeiro: Forense Universitária . (Original publicado em 1936)
  • Ishara, S. & Cardoso, L. C. (2013). Delineamento do Grupo Comunitário de Saúde Mental. In S. Ishara, C. L. Cardoso, & S. R. Loureiro (Orgs.), Grupo Comunitário de Saúde Mental: conceitos, delineamento metodológico e estudos (pp. 19-43, 1ª ed.). Ribeirão Preto, SP: Nova Enfim.
  • Katz, J. & Csordas, T. (2003). Phenomenological ethnography in sociology and anthropology. Ethnography, 4(3), 275-288.
  • Leeuw, V. D. G. (1970). La religion dans son essence et ses manifestations: phénoménologie de la religion Paris: Payot.
  • Mahfoud, M. (2012). Experiência elementar em Psicologia: aprendendo a reconhecer Brasília, DF: Universa.
  • Ministério da Saúde. (2010). Relatório Final da IV Conferência Nacional de Saúde Mental - Intersetorial. Brasília, DF: Autor. Recuperado de http://conselho.saude.gov.br/biblioteca/Relatorios/relatorio_final_IVcnsmi_cns.pdf
    » http://conselho.saude.gov.br/biblioteca/Relatorios/relatorio_final_IVcnsmi_cns.pdf
  • Moreira, V. (2013). Revisitando as psicoterapias humanistas São Paulo: Intermeios.
  • Moreno, J. L. (1974). Psicoterapia de grupo e psicodrama, introdução à teoria e à práxis São Paulo: Mestre Jou. (Original publicado em 1959)
  • Osório, L. C. (2007). Grupoterapias: abordagens atuais. Porto Alegre: Artmed.
  • Portaria n. 224, de 29 de janeiro de 1992. (1992). Estabelece diretrizes e normas para o atendimento em saúde mental. Brasília, DF: Ministério da Saúde.
  • Resolução n. 466, de 12 de dezembro de 2012. (2012). Diretrizes e normas de pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília, DF: Conselho Nacional de Saúde.
  • Rodrigues H. B. C.(1999). Sobre as histórias das práticas grupais: explorações quanto a um intricado problema. In A. M. Jacó-Vilela & D. Mancebo (Orgs.), Psicologia Social: abordagens sócio-históricas e desafio contemporâneo (pp. 111-165). Rio de Janeiro: EdUERJ.
  • Solymos, G. M. B. (2006). A centralidade da pessoa na intervenção em nutrição e saúde. Estudos Avançados, 20(58), 109-122. DOI: 10.1590/S0103-40142006000300013
    » https://doi.org/10.1590/S0103-40142006000300013
  • Stein, E. (2000). La struttura della persona umana Roma: Città Nuova. (Original publicado em 1933).
  • Ursaski, F. (2004). Os enganos sobre o sagrado: uma síntese da crítica ao ramo "clássico" da fenomenologia da religião e seus conceitos-chave. Revista de Estudos da Religião, 4, 73-95. Recuperado de http://www.pucsp.br/rever/rv4_2004/p_usarski.pdf
    » http://www.pucsp.br/rever/rv4_2004/p_usarski.pdf
  • Yalom, I. D. & Leszcz, M. (2006). Psicoterapia de Grupo: teoria e prática (R. C. Costa, Trad., 5ª ed.). Porto Alegre: Artmed .

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2017

Histórico

  • Recebido
    13 Jun 2016
  • Revisado
    01 Jun 2017
  • Aceito
    30 Jun 2017
Associação Brasileira de Psicologia Social Programa de Pós-graduação em Psicologia, Universidade Federal de Pernambuco, Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), Av. da Arquitetura S/N - 7º Andar - Cidade Universitária, Recife - PE - CEP: 50740-550 - Belo Horizonte - MG - Brazil
E-mail: revistapsisoc@gmail.com