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Cirurgia de revascularização do miocárdio através de minitoracotomia ântero-lateral esquerda

Myocardial revascularization surgery through left anterolateral minithoracotomy

Resumos

No período de outubro de 1995 a fevereiro de 1996, 16 pacientes selecionados foram submetidos a cirurgia de revascularização do miocárdio através de minitoracotomia ântero-lateral esquerda. Em todos os casos a artéria torácica interna esquerda foi dissecada, para posterior anastomose com o ramo interventricular anterior (RIA) sem a utilização de circulação extracorpórea. A idade variou de 43 a 77, com média de 60 anos. Sessenta e dois por cento dos pacientes eram do sexo masculino. Não houve complicações tais como: hemorragias, acidente vascular cerebral, insuficiência renal aguda, mediastinite ou infarto agudo do miocárdio. Não houve mortalidade no grupo em questão. Em 4 (25%) pacientes foi realizado estudo hemodinâmico, que demostrou uma normalidade da anastomose da artéria torácica interna para o ramo interventricular anterior. Devido aos excelentes resultados iniciais, acreditamos que este procedimento possa ser empregado com maior freqüência e com a familiarização dos grupos cirúrgicos, e que as artérias diagonais e marginais da circunflexa possam ser beneficiadas com este tipo de procedimento.

Revascularização do miocárdio; Toracotomia; Artérias torácicas


Between October 1995 and February 1996, sixteen patients were selected to undergo to surgical myocardial revascularization through left anterolateral minithoracotomy. The left internal thoracic artery was dissected in all patients, for consecutive anastomosis with interventricular anterior artery, without using extracorporeal circulation. Patients age ranged from 43 to 77, average 60 years. Sixty-two percent of them were men. There were no complications such as: acute myocardial infarction, mediastinitis, acute renal failure, hemorrhagy or stroke. There were no deaths. Four (25%) patients were submitted to cardiac catheterization that showed patency of grafts and grafted native arteries. Due to excellent initial results, the authors believe that this technique can be employed with greater frequency and that its use can be extended to the treatment of diagonal branches of the interventricular anterior artery and marginal branches of the circunflex, as soon as the surgical teams become more familiarized with it.

Myocardial revascularization; Thoracotomy; Thoracic arteries


ARTIGOS ORIGINAIS

Cirurgia de revascularização do miocárdio através de minitoracotomia ântero-lateral esquerda

Myocardial revascularization surgery through left anterolateral minithoracotomy

J. Glauco Lobo FilhoI; Francisco M. de OliveiraI; Ciro CiarlineI; J. Acácio FeitosaI; Ana Virginia RolimI; J. Erirtônio FaçanhaI; Roberto A. C. de M. LoboI; M. Chirstian B. R. DantasI; Ricardo de Carvalho LimaII; Mozart A. S. de EscobarII; José Teles de MendonçaIII; José Wanderley NetoIV

Ido ICORP

IIdo UNITORAX

IIIda Unidade Cardiotorácica de Sergipe

IVdo IDC

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: J. Glauco Lobo Filho Rua Dr. José Lourenço, 625 Fortaleza, Ceará, Brasil. CEP: 60115-280

RESUMO

No período de outubro de 1995 a fevereiro de 1996, 16 pacientes selecionados foram submetidos a cirurgia de revascularização do miocárdio através de minitoracotomia ântero-lateral esquerda. Em todos os casos a artéria torácica interna esquerda foi dissecada, para posterior anastomose com o ramo interventricular anterior (RIA) sem a utilização de circulação extracorpórea. A idade variou de 43 a 77, com média de 60 anos. Sessenta e dois por cento dos pacientes eram do sexo masculino. Não houve complicações tais como: hemorragias, acidente vascular cerebral, insuficiência renal aguda, mediastinite ou infarto agudo do miocárdio. Não houve mortalidade no grupo em questão. Em 4 (25%) pacientes foi realizado estudo hemodinâmico, que demostrou uma normalidade da anastomose da artéria torácica interna para o ramo interventricular anterior. Devido aos excelentes resultados iniciais, acreditamos que este procedimento possa ser empregado com maior freqüência e com a familiarização dos grupos cirúrgicos, e que as artérias diagonais e marginais da circunflexa possam ser beneficiadas com este tipo de procedimento.

Descritores: Revascularização do miocárdio, métodos. Toracotomia, métodos. Artérias torácicas, cirurgia.

ABSTRACT

Between October 1995 and February 1996, sixteen patients were selected to undergo to surgical myocardial revascularization through left anterolateral minithoracotomy. The left internal thoracic artery was dissected in all patients, for consecutive anastomosis with interventricular anterior artery, without using extracorporeal circulation. Patients age ranged from 43 to 77, average 60 years. Sixty-two percent of them were men. There were no complications such as: acute myocardial infarction, mediastinitis, acute renal failure, hemorrhagy or stroke. There were no deaths. Four (25%) patients were submitted to cardiac catheterization that showed patency of grafts and grafted native arteries. Due to excellent initial results, the authors believe that this technique can be employed with greater frequency and that its use can be extended to the treatment of diagonal branches of the interventricular anterior artery and marginal branches of the circunflex, as soon as the surgical teams become more familiarized with it.

Descriptors: Myocardial revascularization, methods. Thoracotomy, methods. Thoracic arteries, surgery.

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Trabalho realizado no Institutlo do Coração e Pulmão - ICORP - em cooperação corn o Hospital Prontocárdio, Hospital Antônio Prudente - Fortaleza, Ceará - UNITORAX, Pernambuco - Unidade Cardiotorácica de Serigipe e IDC, Alagoas. Brasil.

Apresentado ao 23º Congresso Nacional de Cirurgia Cardíaca. Recife, PE, 20 a 23 de março, 1996.

Discussão

DR. SÉRGIO ALMEIDA DE OLIVEIRA

São Paulo, SP

Parabéns ao Dr. Glauco e colaboradores, pelo ótimo trabalho. Eu gostaria de fazer duas perguntas e um comentário. Por que houve necessidade de homoenxerto em 3 dos seus pacientes? Por que não realizou estudo cineangiográfico pós-operatório em todos os pacientes? Creio que, no início de uma experiência, precisamos de ter informações apuradas sobre as condições funcionais e técnicas do enxerto e da anastomose. Desde novembro de 95, realizamos, em nosso Serviço no Hospital da Beneficência Portuguesa e no Hospital Albert Einstein, uma série de 15 casos de revascularização com minitoracotomia e sem circulação extracorpórea. Em 14 lesões eram isoladas e proximais da artéria interventricular anterior (AIA) e, em 1 caso, a lesão proximal da artéria coronária direita (CD). Este último fora submetido a prévia angioplastia com implante de "stent", sem sucesso. Não houve complicação cardiovascular, ocorrendo apenas, em 1 paciente, um pneumotórax espotâneo no lado oposto ao da toracotomia, curado após drenagem pleural. Treze pacientes [12 com anastomose de artéria torácica interna esquerda (ATIE) para a artéria interventricular anterior e 1 com anastomose da ATID para a CD] foram reoperados, com angiografia pós-operatória. Todas as ATI estavam pérvias e com bom fluxo para as artérias coronárias. Em 2 pacientes o estudo do fluxo com Eco-Doppler ao nível dos 2º e 3º espaços intercostais direito e esquerdo mostrou sinais patognomônicos e funcionantes da anastomose; não houve redução do fluxo sistólico e aumento do fluxo diastólico, comparativamente às artérias torácicas internas. Portanto, estamos até agora contentes com os resultados desta técnica iniciada por Benetti e que nos foi divulgada por Calafiori, no ano passado, durante o Congresso da SBC. Para casos selecionados, esta técnica é uma boa alternativa cirúrgica. Resta-nos saber se, a longo prazo, esta técnica terá os mesmos bons resultados que obtivemos com a anastomose da ATIE com a artéria IVA .No estudo Mass (J. Am. Coll. Cardiol 26 (7): 1600, 1995, que publicamos recentemente, os 70 pacientes do grupo cirúrgico, mais os 15 que passaram dos outros grupos para posterior cirurgia, vimos que, na cinecoronariografia realizada ao final de 2 anos de pósoperatório, em todos os pacientes havia apenas uma artéria torácica interna ocluída, dando 98,9% de perviabilidade. Muito Obrigado.

DR. GLAUCO

(Encerrando)

Em relação à hemotransfusão, é rotina, no nosso Serviço, a administração de concentrado de hemácias nos pacientes com hemoglobina menor ou igual a 9 mg/dl. Tendo em vista o reestudo hemodinâmico, realmente não houve uma grande preocupação nesse sentido, uma vez que, ao iniciarmos este procedimento, já havíamos realizado 174 enxertos de ATIE para DA sem CEC, através de esternotomia mediana. Hoje, contudo, a fim de mostrarmos de maneira mais concreta a eficácia deste método, passamos a estudar o máximo possível todos os pacientes. Tanto isso é fato que, dos 43 pacientes operados até a presente data (12 meses), dos 27 últimos, 20 (75%) foram reestudados, com somente 1 caso apresentando obstrução ao nível da anastomose. Por fim, parabenizamos o Dr. Sérgio Almeida pelos seus comentários e resultados iniciais, e acreditamos que a bem sucedida experiência nacional iniciada por Buffolo e colaboradores, em setembro de 1995, e por nossa equipe em outubro do mesmo ano, nos encoraja a pensar num futuro muito promissor para esta técnica cirúrgica, como também para a operação de RM sem CEC de uma maneira geral.

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  • Endereço para correspondência:

    J. Glauco Lobo Filho
    Rua Dr. José Lourenço, 625
    Fortaleza, Ceará, Brasil. CEP: 60115-280
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      07 Dez 2010
    • Data do Fascículo
      Set 1996
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