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Antígeno MIB-1 em nefroblastomas

MIB-1 antigen in nephroblastomas

Resumo

Foram estudados 35 pacientes tratados com nefrectomia radical e quimioterapia, em 17 (48,5%) dos quais se associou também a radioterapia. A idade média dos pacientes foi de 38± 29 meses e o tempo de seguimento pós-operatório de 69± 66 meses. Óbito pela neoplasia ocorreu em 5 pacientes, todos com histologia favorável. As peças conservadas em formol ou blocos de parafina para imunhistoquímica com anticorpo MIB-1, método da avidina-biotina-peroxidase. Em 13/35 (37,1%) dos tumores a marcação para o MIB-1 foi positiva. As proporções respectivas de marcação para blastema, epitélio e estroma foram: 34,6%, 18,7% e 0%. Não houve diferença estatística entre a marcação imunohistoquímica e com o tipo histológico, estádio e sobrevida dos pacientes.

Ki-67; MIB-1; nefroblastoma; tumor de Wilms


ANTÍGENO MIB-1 EM NEFROBLASTOMAS

MIB-1 ANTIGEN IN NEPHROBLASTOMAS

Antonio Carlos Pereira Martins1 1 Professor Titular do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP 2 Doutorando do Curso de Medicina de Ribeirão Preto da FMRP-USP 3 Professor Doutor do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP 4 Médica Assistente do Departamento de Patologia da FMRP-USP 5 Professor adjunto - Departamento Medicina Social, FMRP - USP , Ricardo Iwakura2 1 Professor Titular do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP 2 Doutorando do Curso de Medicina de Ribeirão Preto da FMRP-USP 3 Professor Doutor do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP 4 Médica Assistente do Departamento de Patologia da FMRP-USP 5 Professor adjunto - Departamento Medicina Social, FMRP - USP , Silvio Tucci Jr3 1 Professor Titular do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP 2 Doutorando do Curso de Medicina de Ribeirão Preto da FMRP-USP 3 Professor Doutor do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP 4 Médica Assistente do Departamento de Patologia da FMRP-USP 5 Professor adjunto - Departamento Medicina Social, FMRP - USP , Haylton Jorge Suaid3 1 Professor Titular do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP 2 Doutorando do Curso de Medicina de Ribeirão Preto da FMRP-USP 3 Professor Doutor do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP 4 Médica Assistente do Departamento de Patologia da FMRP-USP 5 Professor adjunto - Departamento Medicina Social, FMRP - USP , Monica T Pastorello4 1 Professor Titular do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP 2 Doutorando do Curso de Medicina de Ribeirão Preto da FMRP-USP 3 Professor Doutor do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP 4 Médica Assistente do Departamento de Patologia da FMRP-USP 5 Professor adjunto - Departamento Medicina Social, FMRP - USP , Adauto José Cologna3 1 Professor Titular do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP 2 Doutorando do Curso de Medicina de Ribeirão Preto da FMRP-USP 3 Professor Doutor do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP 4 Médica Assistente do Departamento de Patologia da FMRP-USP 5 Professor adjunto - Departamento Medicina Social, FMRP - USP , Takachi Moriya3 1 Professor Titular do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP 2 Doutorando do Curso de Medicina de Ribeirão Preto da FMRP-USP 3 Professor Doutor do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP 4 Médica Assistente do Departamento de Patologia da FMRP-USP 5 Professor adjunto - Departamento Medicina Social, FMRP - USP , Jesualdo Cherri3 1 Professor Titular do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP 2 Doutorando do Curso de Medicina de Ribeirão Preto da FMRP-USP 3 Professor Doutor do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP 4 Médica Assistente do Departamento de Patologia da FMRP-USP 5 Professor adjunto - Departamento Medicina Social, FMRP - USP , João José Carneiro1 1 Professor Titular do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP 2 Doutorando do Curso de Medicina de Ribeirão Preto da FMRP-USP 3 Professor Doutor do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP 4 Médica Assistente do Departamento de Patologia da FMRP-USP 5 Professor adjunto - Departamento Medicina Social, FMRP - USP , Antonio D. Campos5 1 Professor Titular do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP 2 Doutorando do Curso de Medicina de Ribeirão Preto da FMRP-USP 3 Professor Doutor do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP 4 Médica Assistente do Departamento de Patologia da FMRP-USP 5 Professor adjunto - Departamento Medicina Social, FMRP - USP

FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO - USP

Departamento de Cirurgia – Disciplina de Urologia

Departamento de Patologia

Unitermos: Ki-67, MIB-1, nefroblastoma, tumor de Wilms

Key Words: Ki-67, MIB-1, nephroblastoma, Wilms’ tumor

Projeto financiado pela FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, e pela FAEPA – Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Assistência do HCFMRP-USP.

Resumo: Foram estudados 35 pacientes tratados com nefrectomia radical e quimioterapia, em 17 (48,5%) dos quais se associou também a radioterapia. A idade média dos pacientes foi de 38± 29 meses e o tempo de seguimento pós-operatório de 69± 66 meses. Óbito pela neoplasia ocorreu em 5 pacientes, todos com histologia favorável. As peças conservadas em formol ou blocos de parafina para imunhistoquímica com anticorpo MIB-1, método da avidina-biotina-peroxidase. Em 13/35 (37,1%) dos tumores a marcação para o MIB-1 foi positiva. As proporções respectivas de marcação para blastema, epitélio e estroma foram: 34,6%, 18,7% e 0%. Não houve diferença estatística entre a marcação imunohistoquímica e com o tipo histológico, estádio e sobrevida dos pacientes.

Introdução: Os nefroblastomas, também chamados de tumores de Wilms, são constituídos de 3 linhagens celulares derivadas do blastema metanefrogênico, epitélio tubular e do estroma. Nem sempre todos os componentes estão presentes no tumor e a proporção deles pode variar. A histologia pode ser favorável ou não. Os tumores de histologia desfavorável são aqueles com áreas de anaplasia, os tumores rabdóides e os sarcomatosos. Embora os tumores de histologia desfavorável se associem a prognóstico pior, a graduação histológica e o estádio nem sempre informam com precisão a evolução individual dos pacientes1. Isso possivelmente ocorre porque a graduação histológica pode ser subjetiva em casos limítrofes, além de nem sempre identificar clones celulares mais agressivos. Por essa razão, tanto em nefroblastomas como em outros tumores malignos, tem-se procurado estudar marcadores tumorais e sua relação com o prognóstico. Dentre os antígenos ou marcadores muito estudados em imunohistoquímica pode-se mencionar o p53, os antígenos de proliferação celular, como o PCNA e o Ki-67(MIB-1). Entretanto, os resultados publicados nem sempre são consistentes, quando não contraditórios, e muitas vezes dependem do tipo de tumor2,4,6,7. Há muito poucos trabalhos sobre antígenos de proliferação em nefroblastomas e os resultados são contraditórios2,5.

Tendo em vista o acima exposto, nossa intenção neste projeto de pesquisa foi a de estudar, por método imunohistoquímico, o MIB1 em tumores de Wilms com o objetivo de verificar se há relação entre a marcação e a agressividade biológica do tumor.

MATERIAL E MÉTODOS

Casuística: Foram estudados todos os pacientes portadores de nefroblastomas atendidos e operados no HCFMRP-USP no período de 1/1/79 a 31/12/98. Todos os 35 casos foram submetidos à nefrectomia e quimioterapia., e em 17 (48,5%) se associou a radioterapia. A idade média dos pacientes no momento do diagnóstico foi de 38± 29 meses. O seguimento pós-operatório variou de 6 a 240 meses, com média de 69± 66 meses.

Imunohistoquímica: As peças operatórias fixadas em formol, ou em blocos de parafina, foram processadas para reação imunohistoquímica conforme padronização já definida na literatura4, após a revisão do diagnóstico hsitológico convencional. Por essa razão, apenas alguns passos serão especificados, como a recuperação antigênica, feita em forno microondas, na potência máxima por 7 minutos; a incubação das lâminas feita com anticorpo primário anti-MIB-1 (Immunotechâ ) diluído a 1/100; o anticorpo secundário que foi diluído a 1/50 (Mouse - Immunoglobulins Biotinylated); a contracoloração com hematoxilina de Harris sem ácido, desidratação em álcoóis, diafanização e montagem em entelan.

Realizamos a leitura contando o número de células marcadas para cada 500 células, utilizando campos aleatórios1, com uma videocâmera acoplada ao microscópio de luz (KS-400, Zeiss), utilizando um "software" para morfometria. O padrão de marcação foi considerado positivo quando a proporção células marcadas/não marcadas era superior a 10%. A análise estatística foi feita pelo teste exato de Fisher, fixando-se para nível de significância p<0,05.

Resultados: Dos 35 tumores, 28 (80%) apresentavam histologia favorável. Dos 28 com histologia favorável, 16 (57,1%) eram trifásicos, ou seja, contavam com os 3 componentes, blastema, epitélio e estroma. Em 6/16 (37,5%) deles a marcação foi positiva para o MIB-1. Em 5 ( 83,3%) desses somente o blastema corou, enquanto que dentre os 9 difásicos ou monofásicos a marcação foi positiva apenas para túbulo 1/9 (11,1%) e blastema 1/9 (11,1%). Ao se considerar o conjunto de tumores monofásicos, difásicos e trifásicos (28), as proporções de marcação positiva para o Ki-67 foram: blastema 9/26 (34,6%), túbulo 3/16 (18,7%) e estroma 0/19 (0%).

A Tabela 1 exibe as proporções entre a marcação imunohistoquímica e a caracterização histológica convencional. A imunoexpressão do MIB-1 não distinguiu os casos de histologia favorável 10/28 (35,7%) daqueles com histologia desfavorável 3/7 (42,8%) (p>0,05%).

A relação entre o estádio tumoral e a marcação imunohistoquímica do Ki-67 é apresentada na Tabela 2. As proporções de tumores com marcação positiva nos diferentes estádios foram: I – 6/26 (23%), II – 5/12 (41,6%) e >II 2/7 (28,5%). Não houve diferença estatística entre essas proporções (p>0,05).

A relação entre sobrevida e imunoexpressão do MIB-1 está exposta na Tabela 3. A sobrevida específica em relação à imunopostividade do marcador foi: vivos- 12/30 (40%), e mortos 1/5 (20%). Ou seja, não há relação entre a positividade e a taxa de positividade.

Discussão: Em nossa amostra, 7/35 (20%) dos tumores eram de histologia desfavorável, o que parece um pouco superior ao percentual referido em estudos multicêntricos (11%)1. Por outro lado, a sobrevida de 2 anos nos tumores de histologia favorável é referida como sendo de aproximadamente 89% enquanto que naqueles com histologia desfavorável é de 57 a 88%1. Na amostra deste estudo a sobrevida em período equivalente para portadores de tumores com histologia favorável foi de 25/30 (83,3%) e desfavorável 5/5 (100%). Se aceitarmos que a histologia desfavorável está realmente associada a pior prognóstico, essa discrepância poderia correr por conta das características da amostragem. Mas, conforme mencionado acima, nosso estudo não é o primeiro a mostrar que a sobrevida em tumores com a chamada histologia desfavorável é comparável à da histologia favorável, o que pode representar não apenas problemas de amostragem, mas também progresso do tratamento. Nada obstante, deve-se acrescentar que 13/35 casos da presente amostra foram tratados nas décadas de 70 e 80, com 2/13 (15,3%) evoluindo para óbito neste período, ao passo que no período subseqüente esse quociente foi 3/22 (13,6%). Ou seja, nos últimos 20 ou 30 anos, o propalado avanço no tratamento dos nefroblastomas parece não ter afetado de maneira importante a amostragem estudada, que em termos de sobrevida é comparável aos estudos multicêntricos mais recentes1, mas que destoa quanto ao prognóstico da graduação histológica.

A positividade da marcação imunohistoquímica foi decrescente para marcação do MIB-1 em blastema, túbulo e estroma, mas na amostra estudada essa curiosidade científica não mostrou ou sugeriu importância prática. Mas, nossos resultados contradizem os achados com outro antígeno de proliferação celular, o antígeno nuclear de proliferação celular (PCNA), em que a freqüência de marcação dos diversos componentes decresceram na ordem túbulo, blastema e estroma3. A coincidência é apenas quanto ao estroma.

Em 13/35 (37,1%) dos tumores a marcação foi positiva para o MIB-1, o que é inferior ao índice (62,5%) relatado anteriormente para essa neoplasia3. Mas, no estudo referido foram avaliados apenas 8 casos.

A comparação entre a imunoexpressão do antígeno com o tipo de histologia, o estádio e a sobrevida dos pacientes não mostrou relação estatisticamente significante. Em outro estudo envolvendo 23 pacientes, usando o PCNA e o MIB-1 como marcadores de proliferação, encontrou-se relação significante entre a positividade da reação e o tipo histológico, mas não com a sobrevida dos pacientes, e que embora o percentual de positividade para os marcadores seja diferente, ambos apresentam comportamento semelhante5. Outro estudo do PCNA em 35 pacientes com nefroblastoma mostrou relação positiva entre a marcação imunohistoquímica e o índice mitótico da neoplasia, assim como com a sobrevida dos pacientes2. Tanto em nossa pesquisa, como nas demais referidas, o número de pacientes é relativamente pequeno, o que talvez contribua para a controvérsia. Assim, no presente não se pode afirmar que os antígenos de proliferação celular tenham importância para o prognóstico dos nefroblastomas.

Conclusão: A imunoexpressão do MIB-1 foi positiva em 37,1% dos nefroblastomas, mas não pode ser relacionada com o tipo histológico e o estádio tumoral, assim como com a sobrevida dos pacientes.

  • 1 - Argani P, Oerlman EJ, Breslow NE, Browning NG, Grenn DM, DAngio GJ, Beckwith JB. Clear Cell Sarcoma of the Kidney, A Review of 351 Cases from the NWTSG Pathology Center. Am J Pathol 2000;24:4-18.
  • 2 - Chen F, Liu G, Zhang Z, Li Z, Cai W. Expression of proliferating cell nuclear antigen in Wilms tumor. Chin Med 1997;110:352-3.
  • 3 Khine MM, Aung W, Sibbons PD, Howard CV, Clapham E, McGill F, Van Velzen D. Analysis of relative proliferation rates of Wilms tumor components using proliferating cell nuclear antigen and MIB-1 (Ki-67 equivalent antigen) immunostaining and assessment of mitotic index. Lab Invest 1994;70:125-9.
  • 4 - Martins ACP, Faria SM, Velludo MAL, Tucci Jr S, Suaid HJ, Colgona AJ. Antígeno nuclear de proliferaçăo celular em câncer peniano. Acta Cir Bras 1998; 13(supl):43-6.
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  • 1
    Professor Titular do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP
    2 Doutorando do Curso de Medicina de Ribeirão Preto da FMRP-USP
    3 Professor Doutor do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP
    4 Médica Assistente do Departamento de Patologia da FMRP-USP
    5 Professor adjunto - Departamento Medicina Social, FMRP - USP
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      26 Mar 2001
    • Data do Fascículo
      2000
    Sociedade Brasileira para o Desenvolvimento da Pesquisa em Cirurgia https://actacirbras.com.br/ - São Paulo - SP - Brazil
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