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Influência do buflomedil em retalhos cutâneos isquêmicos: estudo experimental em ratos

Effect of buflomedil on ischemic skin flaps: experimental study in rats

Resumos

Drogas vasoativas têm sido empregadas na tentativa de aumentar a viabilidade de retalhos cutâneos isquêmicos. O objetivo desse estudo foi avaliar os efeitos da droga vasoativa, buflomedil, na prevenção da isquemia de retalhos cutâneos em ratos. Utilizaram-se 20 ratos machos, que foram divididos em um grupo experimento (B) e um grupo controle (A). No grupo B foi administrado buflomedil na dose de 3mg/kg, via intraperitoneal a cada 12 horas por 2 dias antes da cirurgia e por 7 dias após a cirurgia. Utilizou-se um modelo de retalho cutâneo abdominal de 9 x 4cm com base cefálica. A avaliação consistiu na fluxometria a laser do retalho em pontos pré-determinados com leitura no pré e pós-operatório imediato e no 7.º dia de pós-operatório. Realizou-se análise planimétrica da área total do retalho, da área vascularizada e da área nécrotica no 7.º dia de pós-operatório. Observou-se presença de necrose inferior do retalho em todos os animais nos dois grupos. A análise estatística dos resultados obtidos não demonstrou na planimetria diferença significante entre os grupos controle e experimental. A fluxometria não apresentou diferença significante, em relação a média dos pontos, entre os dois grupos. Conclui-se que o buflomedil não é capaz de diminuir a necrose em retalhos cutâneos isquêmicos de ratos, da forma como utilizada neste experimento.

Retalhos cutâneos; Necrose; Buflomedil


Vasoactive drugs have been employed in an attempt to increase the viability of ischemic skin flaps. The aim of the present study was to evaluate the effects of the vasoactive drug, Buflomedil, in the prevention of ischemic skin flaps of rats. Twenty male rats were divided into na experimental group B and a control group A. In the animals of group B, 3mg/kg of Buflomedil was given intraperitoneally every 12 hours for 2 days before surgery and for 7 days after surgery. An abdominal skin flap was used as a model, with a cephalic base measuring 9 x 4cm. The viability of the flaps was evaluated with a laser fluxometer in predetermined points in the early pre and postoperative period and on the 7th post operative day Planimetric analysis of the total area of the flap, of the vascularized area, and of the necrotic area were done on the 7th day after the operation. Inferior necrosis of the flap was observed in all of the animals in both groups. The statistical analysis of the results obtained did not show a significant difference in the planimetry between the control and the experimental groups. Fluxometry did not show a significant difference in relation to the median points between the two groups. It was concluded that Buflomedil, in the manner in which it was used in this experiment, does not reduce necrosis in ischemic skin flaps of rats.

Skin flaps; Necrosis; Buflomedil


INFLUÊNCIA DO BUFLOMEDIL EM RETALHOS CUTÂNEOS ISQUÊMICOS - ESTUDO EXPERIMENTAL EM RATOS1 1 . Trabalho realizado na Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). 2. Professora Adjunta da Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da PUCPR. Coordenadora da Disciplina de Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental da UFPR e Professora Titular de Experimentação em Clínica e Cirurgia da FEMPAR. Doutora em Cirurgia Experimental pela UNIFESP-EPM. 3. Professor Titular e Coordenador da Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da PUCPR. Professor adjunto de Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental da UFPR. Doutor em Cirurgia Experimental pela UNIFESP-EPM 4. Professor Adjunto da Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da PUCPR 5. Alunos de Iniciação Científica da Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da PUCPR

Maria de Lourdes Pessole Biondo-Simões2 1 . Trabalho realizado na Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). 2. Professora Adjunta da Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da PUCPR. Coordenadora da Disciplina de Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental da UFPR e Professora Titular de Experimentação em Clínica e Cirurgia da FEMPAR. Doutora em Cirurgia Experimental pela UNIFESP-EPM. 3. Professor Titular e Coordenador da Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da PUCPR. Professor adjunto de Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental da UFPR. Doutor em Cirurgia Experimental pela UNIFESP-EPM 4. Professor Adjunto da Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da PUCPR 5. Alunos de Iniciação Científica da Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da PUCPR , Fernando Hintz Greca3 1 . Trabalho realizado na Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). 2. Professora Adjunta da Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da PUCPR. Coordenadora da Disciplina de Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental da UFPR e Professora Titular de Experimentação em Clínica e Cirurgia da FEMPAR. Doutora em Cirurgia Experimental pela UNIFESP-EPM. 3. Professor Titular e Coordenador da Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da PUCPR. Professor adjunto de Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental da UFPR. Doutor em Cirurgia Experimental pela UNIFESP-EPM 4. Professor Adjunto da Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da PUCPR 5. Alunos de Iniciação Científica da Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da PUCPR , Josuê Bruginski de Paula4 1 . Trabalho realizado na Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). 2. Professora Adjunta da Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da PUCPR. Coordenadora da Disciplina de Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental da UFPR e Professora Titular de Experimentação em Clínica e Cirurgia da FEMPAR. Doutora em Cirurgia Experimental pela UNIFESP-EPM. 3. Professor Titular e Coordenador da Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da PUCPR. Professor adjunto de Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental da UFPR. Doutor em Cirurgia Experimental pela UNIFESP-EPM 4. Professor Adjunto da Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da PUCPR 5. Alunos de Iniciação Científica da Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da PUCPR , Eduardo Wei Kin Chin5 1 . Trabalho realizado na Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). 2. Professora Adjunta da Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da PUCPR. Coordenadora da Disciplina de Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental da UFPR e Professora Titular de Experimentação em Clínica e Cirurgia da FEMPAR. Doutora em Cirurgia Experimental pela UNIFESP-EPM. 3. Professor Titular e Coordenador da Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da PUCPR. Professor adjunto de Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental da UFPR. Doutor em Cirurgia Experimental pela UNIFESP-EPM 4. Professor Adjunto da Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da PUCPR 5. Alunos de Iniciação Científica da Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da PUCPR , Eduardo Antônio Andrade dos Santos5 1 . Trabalho realizado na Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). 2. Professora Adjunta da Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da PUCPR. Coordenadora da Disciplina de Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental da UFPR e Professora Titular de Experimentação em Clínica e Cirurgia da FEMPAR. Doutora em Cirurgia Experimental pela UNIFESP-EPM. 3. Professor Titular e Coordenador da Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da PUCPR. Professor adjunto de Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental da UFPR. Doutor em Cirurgia Experimental pela UNIFESP-EPM 4. Professor Adjunto da Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da PUCPR 5. Alunos de Iniciação Científica da Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da PUCPR , Fábio Lúcio Stalhschmidt5 1 . Trabalho realizado na Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). 2. Professora Adjunta da Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da PUCPR. Coordenadora da Disciplina de Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental da UFPR e Professora Titular de Experimentação em Clínica e Cirurgia da FEMPAR. Doutora em Cirurgia Experimental pela UNIFESP-EPM. 3. Professor Titular e Coordenador da Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da PUCPR. Professor adjunto de Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental da UFPR. Doutor em Cirurgia Experimental pela UNIFESP-EPM 4. Professor Adjunto da Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da PUCPR 5. Alunos de Iniciação Científica da Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da PUCPR

Biondo-Simões MLP, Greca FH, Paula JB, Chin EWK, Santos EAA, Stalhschmidt FL. Influência do buflomedil em retalhos cutâneos isquêmicos: estudo experimental em ratos. Acta Cir Bras 2000; 15 (supl 3): 36-40.

RESUMO: Drogas vasoativas têm sido empregadas na tentativa de aumentar a viabilidade de retalhos cutâneos isquêmicos. O objetivo desse estudo foi avaliar os efeitos da droga vasoativa, buflomedil, na prevenção da isquemia de retalhos cutâneos em ratos. Utilizaram-se 20 ratos machos, que foram divididos em um grupo experimento (B) e um grupo controle (A). No grupo B foi administrado buflomedil na dose de 3mg/kg, via intraperitoneal a cada 12 horas por 2 dias antes da cirurgia e por 7 dias após a cirurgia. Utilizou-se um modelo de retalho cutâneo abdominal de 9 x 4cm com base cefálica. A avaliação consistiu na fluxometria a laser do retalho em pontos pré-determinados com leitura no pré e pós-operatório imediato e no 7.º dia de pós-operatório. Realizou-se análise planimétrica da área total do retalho, da área vascularizada e da área nécrotica no 7.º dia de pós-operatório. Observou-se presença de necrose inferior do retalho em todos os animais nos dois grupos. A análise estatística dos resultados obtidos não demonstrou na planimetria diferença significante entre os grupos controle e experimental. A fluxometria não apresentou diferença significante, em relação a média dos pontos, entre os dois grupos. Conclui-se que o buflomedil não é capaz de diminuir a necrose em retalhos cutâneos isquêmicos de ratos, da forma como utilizada neste experimento.

DESCRITORES: Retalhos cutâneos. Necrose. Buflomedil.

Biondo-Simões MLP, Greca FH, Paula JB, Chin EWK, Santos EAA, Stalhschmidt FL. Effect of buflomedil on ischemic skin flaps:experimental study in rats. Acta Cir Bras 2000; 15 (supl 3): 36-40.

SUMMARY: Vasoactive drugs have been employed in an attempt to increase the viability of ischemic skin flaps. The aim of the present study was to evaluate the effects of the vasoactive drug, Buflomedil, in the prevention of ischemic skin flaps of rats. Twenty male rats were divided into na experimental group B and a control group A. In the animals of group B, 3mg/kg of Buflomedil was given intraperitoneally every 12 hours for 2 days before surgery and for 7 days after surgery. An abdominal skin flap was used as a model, with a cephalic base measuring 9 x 4cm. The viability of the flaps was evaluated with a laser fluxometer in predetermined points in the early pre and postoperative period and on the 7th post operative day Planimetric analysis of the total area of the flap, of the vascularized area, and of the necrotic area were done on the 7th day after the operation. Inferior necrosis of the flap was observed in all of the animals in both groups. The statistical analysis of the results obtained did not show a significant difference in the planimetry between the control and the experimental groups. Fluxometry did not show a significant difference in relation to the median points between the two groups. It was concluded that Buflomedil, in the manner in which it was used in this experiment, does not reduce necrosis in ischemic skin flaps of rats.

SUBJECT HEADINGS: Skin flaps. Necrosis. Buflomedil.

INTRODUÇÃO

Os retalhos cutâneos, muitas vezes, representam oportunidade única para o reparo cirúrgico após a ressecção de lesões de pele, tumores ou quando é necessária uma reconstrução mais extensa. Os retalhos dependem de um excesso de tecido adjacente o qual possa ser mobilizado para uma falha de proteção cutânea. Incisões secundárias, que se estendem além da incisão primária, permitem ao tecido ser avançado, rodado ou transposto para o local desejado. Estes procedimentos podem fornecer ao paciente com perda cirúrgica de tecido um excelente resultado tanto funcional quanto estético.

Dentre as complicações após um procedimento reconstrutivo, a necrose do retalho é a mais temida. Pacientes fumantes, portadores de doença pulmonar crônica, ou portadores de inadequada perfusão tecidual são particularmente suscetíveis a esta complicação. Outra situação que concorre para a gravidade do problema é a abdominoplastia em paciente com anastomose epigástrico-mamária incompleta. Têm-se ainda as situações de desenluvamento de extensas áreas após trauma. Nestas ocasiões, os retalhos podem não apresentar um fluxo sangüíneo adequado e desenvolver diferentes intensidades de isquemia até a necrose 3,9,22.

A viabilidade dos retalhos cutâneos é prejudicada pela redução do fluxo sangüíneo. Como causas do comprometimento deste fluxo, pode-se encontrar fatores sistêmicos como infecção, arterioesclerose, hipotensão, má nutrição e déficit de oxigenação como ocorre nas doenças pulmonares, e fatores locais como compressão do retalho, trombose e torção do pedículo vascular 11,13,20.

Diferentes drogas com efeitos na microcirculação têm sido usadas na tentativa de melhorar o resultado dos retalhos cutâneos sujeitos a complicações 14,18. Dentre elas o cloridrato de buflomedil é uma droga bem conhecida por melhorar o fluxo sangüíneo em extremidades isquêmicas e na insuficiência cerebrovascular 1,4.

O mecanismo de ação do buflomedil consiste no impedimento da entrada de íons cálcio para o interior das células musculares lisas da metarteríola ocasionando seu relaxamento e a passagem do sangue para os capilares2. Além disso, o buflomedil age como antiagregante plaquetário e eritrocitário diminuindo a formação de ateromas e capacitando as hemácias em transportar e desprender oxigênio em locais de difícil acesso 2,6,7. Deste modo, o buflomedil melhoraria a perfusão dos leitos vasculares comprometidos com mínimo efeito hemodinâmico central.

Em estudos experimentais o buflomedil demonstrou resultados controversos de eficácia em melhorar a microcirculação dos retalhos cutâneos isquêmicos5,10,16,19,23.

O presente estudo visa, através de análise experimental esclarecer os efeitos do fármaco cloridrato de buflomedil na prevenção da isquemia, em retalhos cutâneos.

MÉTODOS

A amostra consistiu de 20 ratos (Rattus norvegicus albinus, Rodentia mammalia) Wistar-PUCPR, machos com idade de 100 a 120 dias pesando entre 300 a 380 g mantidos em regime alimentar livre no Biotério Central da PUCPR. Dividiu-se a amostra em dois grupos com 20 ratos: A - grupo controle e B - grupo experimento. O grupo B recebeu a medicação (3 mg/Kg de peso de cloridrato de buflomedil diluído em 0,9 ml de solução salina isotônica) enquanto que o grupo A recebeu o placebo (solução salina isotônica em volume correspondente à diluição da medicação). Em ambos os grupos a via de administração foi intraperitoneal a cada 12 horas por 2 dias, antes da cirurgia (administração pré-operatória) e por 7 dias após a cirurgia (administração pós-operatória).

Obteve-se a anestesia dos ratos por injeção intraperitoneal de pentobarbital na dose de 40 mg/kg. Realizou-se a depilação da região abdominal ventral do animal. Obteve-se o retalho cutâneo conforme modelo descrito por Petry & Wortham (1984), modificado. Marcou-se a linha média abdominal do processo xifóide à púbis, as linhas transversais perpendiculares à linha mediana ao nível do processo xifóide e da púbis conforme molde de 9 por 4 cm no qual também estavam demarcados os pontos de tomada da medida da fluxometria (figura 1). Realizou-se a incisão da pele e da tela subcutânea na linha média e na linha transversal inferior direita até a localização dos vasos epigástricos caudais. Descolou-se a pele da fáscia da musculatura abdominal ventral até ser visibilizado por transiluminação o tronco principal da artéria epigástrica caudal bem como seus ramos lateral e medial. Procedeu-se à ligadura e à secção da artéria e veia epigástricas caudais direitas. Prolongou-se a incisão transversal inferior até o limite lateral à anastomose do ramo lateral da artéria epigástrica lateral com a artéria torácica lateral. Realizou-se a incisão longitudinal lateral do retalho, paralela à linha mediana, respeitando o molde traçado na pele (em estudo piloto previamente realizado, a linha longitudinal lateral não ultrapassou 4 cm da linha mediana). Incisou-se a linha transversal superior com a preservação da anastomose entre o ramo medial da artéria epigástrica cranial e a artéria mamária externa direita, porém com ligadura e secção da anastomose lateral. Fez-se o reparo primário do retalho com sutura de fio monofilamentar de náilon 6.0 em pontos separados (figura 1).


Realizou-se a avaliação da irrigação do retalho com fluxograma a laser (DopplerFlo, Vasamedics®) nos 12 pontos pré-determinados após a depilação, no pré e pós-operatório imediato e no sétimo dia do pós-operatório. Cinco pontos de mensuração estavam situados a 1,5 cm da linha média da região abdominal ventral do animal e cinco pontos a 2,5 cm da mesma linha. Mediram-se ainda dois pontos adicionais, o mais próximo de cada um dos vértices distais do retalho (figura 1). A perfusão microvascular foi avaliada pelo fluxo de células vermelhas captadas pelo sensor do fluxômetro, posicionado de forma suspensa sobre cada um dos pontos delimitados na região abdominal do animal de modo que a leitura não fosse prejudicada pelos movimentos respiratórios.

Outro método de avaliação utilizado foi a análise planimétrica da área do retalho obtida no sétimo dia de pós-operatório. Observava-se o tecido vascularizado viável e o com necrose, conhecendo-se assim o porcentual de tecido viável. Comparou-se a área final com a área inicial do retalho (9 x 4cm) com objetivo de conhecer o grau de retração em ambos os grupos estudados. Obteu-se o cálculo das áreas através do software Optimas para Windows 98.

Trataram-se os resultados estatisticamente através dos testes paramétrico "t de student", não-paramétricos "Mann-Whitney" para amostras independentes e "Wilcoxon" para amostras relacionadas, obtidos através do software "Primer of Biostatistics". Adotou-se p £ 0,05 ou 5% como nível de rejeição da hipótese de nulidade.

RESULTADOS

Os resultados obtidos na fluxometria são demonstrados no quadro 1. Não se observou diferença significante (p<0,05) entre os resultados dos grupos controle e buflomedil, em relação aos valores pós-operatórios imediatos e no sétimo dia. Encontrou-se, nos dois grupos, áreas de necrose, que em extensão e freqüência foram semelhantes nos dois grupos. Os resultados obtidos na planimetria são demonstrados nas figuras 2 e 3.




Pode-se verificar que a artéria preservada no retalho para sua vascularização mostrava-se no sétimo dia de pós-operatório muito dilatada em ambos os grupos.

Teste de Mann-Whitney:

Tecido Necrótico: controle x experimento p=0,521

Teste t de Student:

Tecido vascularizado: controle x experimento p=0,342

Retração: controle x experimento p=0,409

DISCUSSÃO

Os métodos atualmente utilizados para melhorar a vascularização de retalhos cutâneos são baseados na denervação e desvascularização parcial do retalho e criação de inflamação na cicatrização normal da ferida, num procedimento denominado autonomização cirúrgica8,21,24. Os efeitos produzidos por este método são de relaxamento da musculatura lisa vascular resultando em vasodilatação mantida. A utilização de fármacos que regulassem o músculo liso nos pequenos vasos seria capaz de distribuir o sangue na microcirculação e prevenir a necrose do retalho. Estudos de drogas com possível atuação na microcirculação demonstraram resultados variáveis14,16, 18.

O buflomedil já foi investigado em alguns estudos experimentais em relação a sua capacidade de prevenir a necrose de retalhos cutâneos. Dias e col. (1990) observaram que o buflomedil reduziu a área de necrose em três modelos de retalhos cutâneos no sétimo dia de pós-operatório. Galla e col. (1991) constataram que ratos tratados com buflomedil tiveram reduzidos o comprimento de necrose em pequenos retalhos cutâneos (6 x 16mm) no sétimo dia de pós-operatório e houve um aumento funcional nos vasos distais do retalho observados através de um capilaroscópio 24 horas após a elevação do retalho. Segundo Quirina e col. (1996) o buflomedil em ratos não foi capaz de diminuir a necrose em retalhos cutâneos isquêmicos. UHL e col. (1998) observaram que a aplicação intradérmica do buflomedil e sua retenção pelos lipossomas era eficiente no tratamento de tecidos isquêmicos, incluindo retalhos cutâneos. Não houve nenhum ensaio clínico demonstrando que o buflomedil fosse capaz de prevenir a necrose em retalhos cutâneos na literatura científica revisada.

Os autores citados empregaram em seus estudos diferentes modelos de retalhos cutâneos e diferentes formas de avaliação. A escolha do modelo de retalho cutâneo neste estudo foi fundamental para os corretos parâmetros de avaliação, baseado em estudo especializado de anatomia e viabilidade de retalhos em ratos15 e em estudo piloto previamente realizado na disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, que demonstrou ser este retalho de fácil e segura confecção. A quantidade de droga administrada foi a estabelecida em outros estudos5,10,16. Para avaliar os efeitos da droga na perfusão do retalho adotou-se uma mensuração dinâmica, através da leitura imediata do fluxo sangüíneo com o fluxômetro a laser, método este já empregado por outros pesquisadores para avaliar a viabilidade de retalhos cutâneos e com eficácia semelhante ao uso da fluoresceína12,23. A análise do retalho cutâneo final complementou a nossa forma de avaliação, sendo este método o mais confiável, uma vez que traduz os possíveis efeitos da droga de reduzir o grau de necrose.

Os resultados obtidos em relação a fluxometria demonstraram que a aplicação da droga iniciando-se dois dias antes do procedimento cirúrgico e mantendo-se por sete dias no pós-operatório não foi capaz de aumentar o fluxo sangüíneo no retalho cutâneo, ou seja, em relação ao grupo controle, o fluxo manteve-se num mesmo padrão. A análise estatística comparou primeiramente os resultados obtidos no pré-operatório, pós-operatório imediato e no sétimo dia de pós-operatório procurando observar uma possível alteração no fluxo sangüíneo em cada grupo separadamente e depois comparou os mesmos valores entre os dois grupos. A análise planimétrica entre ambos os grupos demonstrou a existência de necrose tecidual com dimensões semelhantes, tanto nos que receberam o cloridrato de buflomedil como naqueles que receberam o placebo, não havendo portanto vantagens na sua administração. É possível contudo argumentar que as necroses só não foram maiores graças à vasodilatação sofrida pela artéria e seus ramos que, como existente nos dois grupos, parece não depender do emprego desta droga.

CONCLUSÃO

Conclui-se que o buflomedil não é capaz de diminuir a necrose em retalhos cutâneos isquêmicos de ratos, da forma como utilizada neste experimento.

NOTAS

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    . Trabalho realizado na Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
    2. Professora Adjunta da Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da PUCPR. Coordenadora da Disciplina de Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental da UFPR e Professora Titular de Experimentação em Clínica e Cirurgia da FEMPAR. Doutora em Cirurgia Experimental pela UNIFESP-EPM.
    3. Professor Titular e Coordenador da Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da PUCPR. Professor adjunto de Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental da UFPR. Doutor em Cirurgia Experimental pela UNIFESP-EPM
    4. Professor Adjunto da Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da PUCPR
    5. Alunos de Iniciação Científica da Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da PUCPR
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      18 Abr 2001
    • Data do Fascículo
      2000
    Sociedade Brasileira para o Desenvolvimento da Pesquisa em Cirurgia https://actacirbras.com.br/ - São Paulo - SP - Brazil
    E-mail: actacirbras@gmail.com