Acessibilidade / Reportar erro

EVOLUÇÃO DA FIBROSE BILIAR SECUNDÁRIA EM RATOS TRATADOS MEDIANTE DERIVAÇÃO BÍLIO-DUODENAL OU BÍLIO-JEJUNAL COM ALÇA DE ROUX MEDINDO 5, 10 E 15 CM

EVOLUTION OF SECONDARY BILIARY FIBROSIS IN RATS TREATED WITH BILE-DUODENAL SHUNT OR ROUX-EN-Y BILE-JEJUNAL SHUNT WITH EXCLUDED LOOP OF 5, 10 AND 15 CENTIMETERS

Resumos

A modalidade de derivação bílio-digestiva empregada no tratamento da colestase extra-hepática crônica pode influenciar na reparação das lesões hepáticas. Avaliou-se o desempenho das derivações bílio-duodenal e bílio-jejunal em Y de Roux com alça exclusa de diferentes comprimentos na reparação das lesões morfológicas e funcionais do fígado de ratos com fibrose biliar secundária. Foram utilizados ratos Wistar, com 15 dias de obstrução biliar, alocados em 5 grupos de 6 animais. O grupo OB caracterizou as alterações da fibrose biliar. Os animais remanescentes foram tratados mediante derivação com o duodeno (grupo DBD), e com o jejuno, em alça exclusa de 5cm (grupo DBJ5), 10cm (grupo DBJ10) e 15cm (grupo DBJ15), sendo reavaliados 3 meses depois. Outros 6 animais foram submetidos à intervenção simulada e considerados grupo controle (IS). Todos animais foram submetidos à avaliação morfométrica do fígado, análise bioquímica do sangue e microbiológica da bile, estudo da função mitocondrial hepática e verificação do peso úmido do fígado e do baço. Na análise estatística adotou-se o nível de significância de 5%. Houve aumento significativo do peso estimado, em g/Kg de peso corporal, dos ductos biliares, da fibrose e dos hepatócitos nos animais do grupo OB (medianas de 1,30; 10,03 e 37,0) em relação aos animais controles (IS) (medianas de 0,03; zero e 29,37). Após tratamento, ocorreu regressão significativa do peso estimado dos ductos biliares e da fibrose, com valores medianos de 0,22 e 0,22 para o grupo DBD, 0,45 e 3,31 para o grupo DBJ5 e 0,22 e 5,0 para o grupo DBJ15. Houve regressão significativa do peso estimado dos hepatócitos apenas nos grupos derivados com o jejuno, com valores medianos de 31,93; 24,46 e 28,52. Ocorreu aumento significativo do peso úmido do fígado e do baço no grupo OB (medianas em g/Kg de peso corporal de 49,85 e 5,71) em relação ao grupo IS (30,0 e 3,04). Houve regressão significativa do peso do fígado em todos os tratamentos e do peso do baço nos animais tratados com derivação bílio-jejunal, (valores medianos de 35,59 e 2,53 para DBJ5, 37,54 e 2,82 para DBJ10 e 32,73 e 2,93 para DBJ15). Após o tratamento, surgiram infiltrado inflamatório misto, nos espaços portais, refluxo enterobiliar e contaminação bacteriana da bile. Houve aumento significativo no consumo de oxigênio pela mitocôndrias hepáticas nos estados 3 e 4 no grupo OB (medianas de 101,55 e 31,05 nanoátomos de O2/mgprot./min), em relação ao grupo IS (medianas de 57,22 e 15,51). Após o tratamento, normalizou-se o consumo energético apenas nos animais do grupo DBJ15 (medianas de 52,38 e 14,8). O desempenho da derivação bíilio-jejunal indica a importância de avaliar alternativas que possam minimizar o contato do conteúdo entérico com a via biliar.

colestase; fibrose biliar; hipertensão portal; derivação bílio-digestiva


The type of bile-digestive shunt used for the treatment of cholestasis can be affect the process of repair of liver damage. We evaluated the performance of bile-duodenal and Roux-en-Y bile-jejunal shunts with excluded loop of different lengths in the process of liver repair in rats with secondary biliary fibrosis. Thirty Wistar rats, after 15 days of biliary obstruction (BO), were divided into 5 groups of 6 animals: the BO group, duodenal shunt group (BDS) and with jejunal shunt, with excluded loop of 5 cm (BJS5 group), 10 cm (BJS10 group) and 15 cm (BJS15 group), and reevaluated 3 months later. Six animals were submitted to sham surgery (SHAM group). All animals were submitted to qualitative and morphometric histological evaluations of the liver, to blood biochemical and to microbiological bile analysis, and to a study of hepatic mitochondrial function. Liver and spleen weights (g/kg body weight) were also determined. In the statistical analysis, the level of significance was set at 5%. The animals of the BO group showed a significant increase in median values of total bilirubins (9.6 mg/dl), alkaline phosphatase (AP) (296 U/ml) and aminotransferases (133 U/ml for ALT and 419 U/ml for AST) compared to the SHAM group.with normalization after all the shunt modalities used. A significant increase in liver and spleen weight occurred in the BO group (medians of 49.85 and 5.71, respectively) compared to the SHAM group (medians of 30.0 and 3.04 g/kg). There was a significant regression of liver weight in all the treatments, whereas spleen weight regressed only in the animals treated with a BJS (median values of 2.53 for BJS5, 2.82 for BJS10 and 2.93 for BJS15). There was a significant increase in estimated weight (g/kg body weight) of bile ducts, of fibrosis and of hepatocytes in animals of BO group (medians of 1.30; 10.03 and 37.0, respectively) compared to animals of SHAM group (medians of 0.03; zero and 29.37). There was a significant regression of estimated weight of bile ducts and of fibrosis, with respective median values of 0.22 and 0.22 in BDS group, of 0.45 and 3.31 in BJS5 group, and of 0.22 and 5.0 in BJS15 group. There was a significant regression of estimated hepatocyte weight only in BJS5, BJS10 and BJS15 groups, with median values of 31.93, 24.46 and 28.52 g/kg body weight. In all types of treatment a mixed inflammatory infiltrate occurred in the portal spaces, associated with enterobiliary reflux and with bacterial contamination of the bile. There was a significant increase in oxygen consumption by hepatic mitochondria in states 3 and 4 in BO group (respective medians of 101.55 and 31.05 nanoatoms O2/mg protein/min) compared to SHAM group (medians of 57.22 and 15.51). The O2 consumption normalized only in the animals of BJS15 group (medians of 52.38 and 14.8). The performance of the BJS indicates the importance of the evaluation of alternatives that might minimize the contact of enteric content with the biliary tree.

cholestasis; biliary fibrosis; portal hypertension; bile-digestive shunt


a15v16s1

EVOLUÇÃO DA FIBROSE BILIAR SECUNDÁRIA EM RATOS TRATADOS MEDIANTE DERIVAÇÃO BÍLIO-DUODENAL OU BÍLIO-JEJUNAL COM ALÇA DE ROUX MEDINDO 5, 10 E 15 CM1 1 Trabalho realizado no Laboratório de Clínica Cirúrgica e Cirurgia Experimental do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto da FMRP-USP 2 Pós Graduando na Clínica Cirúrgica da FMRP-USP 3 Professor Doutor do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP 4 Professor Titular do Departamento de Patologia da FMRP-USP 5 Professor Doutor do Departamento de Patologia da FMRP-USP 6 Professor Associado do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP 7 Professor Titular do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP

EVOLUTION OF SECONDARY BILIARY FIBROSIS IN RATS TREATED WITH BILE-DUODENAL SHUNT OR ROUX-EN-Y BILE-JEJUNAL SHUNT WITH EXCLUDED LOOP OF 5, 10 AND 15 CENTIMETERS

Pandolfi Jr., H.2 1 Trabalho realizado no Laboratório de Clínica Cirúrgica e Cirurgia Experimental do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto da FMRP-USP 2 Pós Graduando na Clínica Cirúrgica da FMRP-USP 3 Professor Doutor do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP 4 Professor Titular do Departamento de Patologia da FMRP-USP 5 Professor Doutor do Departamento de Patologia da FMRP-USP 6 Professor Associado do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP 7 Professor Titular do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP ; Santos, J.S.3 1 Trabalho realizado no Laboratório de Clínica Cirúrgica e Cirurgia Experimental do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto da FMRP-USP 2 Pós Graduando na Clínica Cirúrgica da FMRP-USP 3 Professor Doutor do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP 4 Professor Titular do Departamento de Patologia da FMRP-USP 5 Professor Doutor do Departamento de Patologia da FMRP-USP 6 Professor Associado do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP 7 Professor Titular do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP ; Zucoloto, S.4 1 Trabalho realizado no Laboratório de Clínica Cirúrgica e Cirurgia Experimental do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto da FMRP-USP 2 Pós Graduando na Clínica Cirúrgica da FMRP-USP 3 Professor Doutor do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP 4 Professor Titular do Departamento de Patologia da FMRP-USP 5 Professor Doutor do Departamento de Patologia da FMRP-USP 6 Professor Associado do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP 7 Professor Titular do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP ; Ramalho, L.N.Z.5 1 Trabalho realizado no Laboratório de Clínica Cirúrgica e Cirurgia Experimental do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto da FMRP-USP 2 Pós Graduando na Clínica Cirúrgica da FMRP-USP 3 Professor Doutor do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP 4 Professor Titular do Departamento de Patologia da FMRP-USP 5 Professor Doutor do Departamento de Patologia da FMRP-USP 6 Professor Associado do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP 7 Professor Titular do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP ; Castro e

Silva Jr. O.6 1 Trabalho realizado no Laboratório de Clínica Cirúrgica e Cirurgia Experimental do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto da FMRP-USP 2 Pós Graduando na Clínica Cirúrgica da FMRP-USP 3 Professor Doutor do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP 4 Professor Titular do Departamento de Patologia da FMRP-USP 5 Professor Doutor do Departamento de Patologia da FMRP-USP 6 Professor Associado do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP 7 Professor Titular do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP ; Ceneviva, R.7 1 Trabalho realizado no Laboratório de Clínica Cirúrgica e Cirurgia Experimental do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto da FMRP-USP 2 Pós Graduando na Clínica Cirúrgica da FMRP-USP 3 Professor Doutor do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP 4 Professor Titular do Departamento de Patologia da FMRP-USP 5 Professor Doutor do Departamento de Patologia da FMRP-USP 6 Professor Associado do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP 7 Professor Titular do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP

Resumo: A modalidade de derivação bílio-digestiva empregada no tratamento da colestase extra-hepática crônica pode influenciar na reparação das lesões hepáticas. Avaliou-se o desempenho das derivações bílio-duodenal e bílio-jejunal em Y de Roux com alça exclusa de diferentes comprimentos na reparação das lesões morfológicas e funcionais do fígado de ratos com fibrose biliar secundária. Foram utilizados ratos Wistar, com 15 dias de obstrução biliar, alocados em 5 grupos de 6 animais. O grupo OB caracterizou as alterações da fibrose biliar. Os animais remanescentes foram tratados mediante derivação com o duodeno (grupo DBD), e com o jejuno, em alça exclusa de 5cm (grupo DBJ5), 10cm (grupo DBJ10) e 15cm (grupo DBJ15), sendo reavaliados 3 meses depois. Outros 6 animais foram submetidos à intervenção simulada e considerados grupo controle (IS).

Todos animais foram submetidos à avaliação morfométrica do fígado, análise bioquímica do sangue e microbiológica da bile, estudo da função mitocondrial hepática e verificação do peso úmido do fígado e do baço. Na análise estatística adotou-se o nível de significância de 5%. Houve aumento significativo do peso estimado, em g/Kg de peso corporal, dos ductos biliares, da fibrose e dos hepatócitos nos animais do grupo OB (medianas de 1,30; 10,03 e 37,0) em relação aos animais controles (IS) (medianas de 0,03; zero e 29,37). Após tratamento, ocorreu regressão significativa do peso estimado dos ductos biliares e da fibrose, com valores medianos de 0,22 e 0,22 para o grupo DBD, 0,45 e 3,31 para o grupo DBJ5 e 0,22 e 5,0 para o grupo DBJ15. Houve regressão significativa do peso estimado dos hepatócitos apenas nos grupos derivados com o jejuno, com valores medianos de 31,93; 24,46 e 28,52. Ocorreu aumento significativo do peso úmido do fígado e do baço no grupo OB (medianas em g/Kg de peso corporal de 49,85 e 5,71) em relação ao grupo IS (30,0 e 3,04). Houve regressão significativa do peso do fígado em todos os tratamentos e do peso do baço nos animais tratados com derivação bílio-jejunal, (valores medianos de 35,59 e 2,53 para DBJ5, 37,54 e 2,82 para DBJ10 e 32,73 e 2,93 para DBJ15). Após o tratamento, surgiram infiltrado inflamatório misto, nos espaços portais, refluxo enterobiliar e contaminação bacteriana da bile. Houve aumento significativo no consumo de oxigênio pela mitocôndrias hepáticas nos estados 3 e 4 no grupo OB (medianas de 101,55 e 31,05 nanoátomos de O2/mgprot./min), em relação ao grupo IS (medianas de 57,22 e 15,51). Após o tratamento, normalizou-se o consumo energético apenas nos animais do grupo DBJ15 (medianas de 52,38 e 14,8). O desempenho da derivação bíilio-jejunal indica a importância de avaliar alternativas que possam minimizar o contato do conteúdo entérico com a via biliar.

Descritores: colestase, fibrose biliar, hipertensão portal, derivação bílio-digestiva.

Key Words: cholestasis, biliary fibrosis, portal hypertension, bile-digestive shunt.

Introdução: O processo de reparação das lesões do fígado, decorrentes da obstrução biliar extra-hepática crônica, pode ser influenciado pela modalidade de derivação bílio-digestiva empregada no tratamento da colestase. A derivação bílio-duodenal (DBD) empregada no tratamento da fibrose biliar(1) e da cirrose biliar secundária(2), em ratos, é acompanhada de refluxo duodeno biliar e infiltração inflamatória nos espaços portais do fígado(2). Há indícios de que estas complicações possam ser minimizadas com o tratamento mediante derivação bílio-jejunal (DBJ)(2).

Neste trabalho, avaliou-se a evolução comparativa das lesões morfofuncionais do fígado de ratos com fibrose biliar secundária, tratados mediante derivações bílio-duodenal ou bílio-jejunal em Y de Roux com alça exclusa de 5, 10 e 15 centímetros de comprimento.

Métodos: Foram utilizados 30 ratos machos Wistar com peso inicial variando entre 250 e 300 gramas, com 15 dias de obstrução biliar obtida pela técnica do enovelamento ductal(2), alocados em 5 grupos de 6 animais.

O grupo OB serviu para avaliar efeitos da obstrução biliar. Os animais remanescentes foram tratados mediante derivação com o duodeno (grupo DBD) ou com o jejuno com alça exclusa de 5cm (DBJ5), 10cm, (DBJ10) e 15 cm (DBJ15) sendo avaliados 3 meses depois (Fig. 1).


Todos os animais foram submetidos a avaliação histológica qualitativa e morfométrica do fígado, às análises bioquímica do sangue e microbiológica da bile, ao estudo da função mitocondrial hepática e à verificação do peso úmido do fígado e do baço. O consumo de oxigênio pelas mitocôndrias foi quantificado na sua condição basal de produção de energia para manutenção do potencial de membrana (estado 4), e mediante estímulo com Adenosina difosfato (estado 3). O índice obtido pela relação entre os valores do estado 3 e 4 corresponde à razão do controle respiratório (RCR) e representa o balanço entre a capacidade de produção de energia pela mitocôndria e o consumo energético da própria organela(3). O peso estimado dos componentes histológicos do fígado foI obtido mediante morfometria de 50 campos, com emprego de ocular integradora de 100 pontos. Adotou-se a equivalência entre a fração de volume ocupada pelos diferentes componentes teciduais e a respectiva massa obtendo-se a fração de peso estimada mediante produto da fração de volume pelo peso total do fígado calculado para 1 Kg de peso corporal(4) onde:

Fpx= Pt.fvx

Fpx= fração de peso de x

PT= peso total do fígado calculado para 1 Kg de peso corporal.

Fvx= fração de volume de x

A análise estatística foi feita mediante emprego do teste de Kruskal-Wallis, seguidos dos procedimentos de Miller e Dunn com nível de significância de 5%.

Resultados: Nos animais do grupo OB ocorreu aumento significativo dos valores medianos das bilirrubinas totais, da fosfatase alcalina e das aminotransferases que regrediram significativamente após todas as modalidades de tratamento empregadas (tabela1).

No grupo OB houve aumento significativo do peso úmido do fígado e do baço em relação ao grupo IS. Após tratamento houve regressão significativa do peso do fígado em todas as modalidades de derivação, enquanto o peso do baço regrediu de forma significativa apenas nos animais tratados com a derivação bílio-jejunal (gráfico 1).


Houve aumento significativo do peso estimado, em g/Kg de peso corporal dos ductos biliares, da fibrose e dos hepatócitos no grupo OB, em relação do grupo IS. Após tratamento, ocorreu regressão significativa do peso estimado dos ductos biliares e da fibrose no Grupo DBD, DBJ5 e DBJ15. Houve regressão significativa do peso estimado dos hepatócitos apenas nos animais submetidos à derivação bílio-jejunal (Tabela 2).

Houve aumento significativo do consumo de oxigênio pelas mitocôndrias hepáticas nos estados 3 e 4, no grupo OB (medianas respectivas de 101,55 e 31,05 nanoátomos de 02/mg proteína/min) em relação ao Grupo IS (medianas de 57,22 e 15,51). Após os tratamentos, houve normalização do consumo de 02 apenas nos animais do Grupo DBJ 15 (medianas de 53,28, para o estado 3 e de 14,8 para o estado 4). Não houve diferença significativa entre os valores da razão de controle respiratório entre os grupos avaliados.

Em todas as formas de tratamento surgiu infiltrado inflamatório misto, nos espaços portais, associado ao refluxo enterobiliar e à contaminação bacteriana da bile por germes gram negativos.

Discussão: As alterações clínicas, bioquímicas e morfológica dos animais submetidos à obstrução biliar e selecionados para este estudo foram significativas e compatíveis com o quadro de colestase crônica e fibrose biliar secundária. A hepatoesplenomegalia esteve associada ao aumento do peso estimado dos hepatócitos, da fibrose e dos ductos biliares. As lesões do fígado foram acompanhadas do aumento da capacidade de provimento energético, o que pode indicar a existência de mecanismos de reparo das lesões da membrana mitocondrial e do hepatócito. O aumento do peso do baço, na ausência de colangite, é sugestivo de hipertensão portal.

Os tratamentos da obstrução biliar extra-hepática empregados, neste experimento, tiveram a finalidade de minimizar os efeitos do contato do conteúdo digestivo com a via biliar e suas conseqüências sobre a reparação das lesões hepatocelulares mediante aumento progressivo do comprimento da alça de Roux.

O comprimento da alça exclusa, empregado nas reconstruções do trânsito degestivo e biliar do homem, varia de 10 a 15% da extensão do intestino delgado. Neste experimento, empregaram-se três diferentes comprimentos de alça exclusa, que corresponderam a 5, 10 e 15% do intestino delgado do rato, que tem em média 1 metro de comprimento.

Com base na evolução dos níveis séricos das bilirrubinas, das enzimas canaliculares e celulares, deduz-se que os métodos de derivação empregados, têm efeitos semelhantes. Todavia, alguns animais, em todas as modalidades de derivação empregada, apresentaram valores de dosagem enzimática acima dos registrados no grupo controle. Este evento é associado ao aparecimento de inflamação mista nos espaços portais do fígado, à presença de restos alimentares, na via biliar, e contaminação bacteriana da bile em todos os tratamentos. Desta forma, há indícios de que o refluxo enterobiliar, com obstrução intermitente, possa induzir à colangiohepatite em todas as modalidades de derivação bílio-digestiva empregadas.

Por outro lado, a intensidade do refluxo deve ser heterogênea, visto que o peso estimado dos hepatócitos, a regressão do peso do baço e a recuperação do metabolismo energético ocorreram nos animais submetidos à derivação bilio jejunal com alça exclusa de 15 cm. A derivação bílio-duodenal apresentou melhor desempenho na recuperação da proliferação ductal e da fibrose em relação às derivações com o jejuno, todavia não foi suficiente para restabelecer o peso estimado dos hepatócitos, promover a regressão da esplenomegalia e restaurar o metabolismo energético mitocondrial.

Assim, pode se inferir que, apesar das quatro modalidades de derivação biliar estudadas serem equivalentes na resolução da colestase e todas predisporem ao refluxo enterobiliar e a contaminação bacteriana da via biliar, as derivações com o jejuno, especialmente a que mantém o fluxo de alimentos mais distantes da via biliar, apresentam melhor desempenho no reparo morfológico e metabólico do fígado.

Abstract: The type of bile-digestive shunt used for the treatment of cholestasis can be affect the process of repair of liver damage. We evaluated the performance of bile-duodenal and Roux-en-Y bile-jejunal shunts with excluded loop of different lengths in the process of liver repair in rats with secondary biliary fibrosis. Thirty Wistar rats, after 15 days of biliary obstruction (BO), were divided into 5 groups of 6 animals: the BO group, duodenal shunt group (BDS) and with jejunal shunt, with excluded loop of 5 cm (BJS5 group), 10 cm (BJS10 group) and 15 cm (BJS15 group), and reevaluated 3 months later. Six animals were submitted to sham surgery (SHAM group). All animals were submitted to qualitative and morphometric histological evaluations of the liver, to blood biochemical and to microbiological bile analysis, and to a study of hepatic mitochondrial function. Liver and spleen weights (g/kg body weight) were also determined. In the statistical analysis, the level of significance was set at 5%. The animals of the BO group showed a significant increase in median values of total bilirubins (9.6 mg/dl), alkaline phosphatase (AP) (296 U/ml) and aminotransferases (133 U/ml for ALT and 419 U/ml for AST) compared to the SHAM group.with normalization after all the shunt modalities used. A significant increase in liver and spleen weight occurred in the BO group (medians of 49.85 and 5.71, respectively) compared to the SHAM group (medians of 30.0 and 3.04 g/kg). There was a significant regression of liver weight in all the treatments, whereas spleen weight regressed only in the animals treated with a BJS (median values of 2.53 for BJS5, 2.82 for BJS10 and 2.93 for BJS15). There was a significant increase in estimated weight (g/kg body weight) of bile ducts, of fibrosis and of hepatocytes in animals of BO group (medians of 1.30; 10.03 and 37.0, respectively) compared to animals of SHAM group (medians of 0.03; zero and 29.37). There was a significant regression of estimated weight of bile ducts and of fibrosis, with respective median values of 0.22 and 0.22 in BDS group, of 0.45 and 3.31 in BJS5 group, and of 0.22 and 5.0 in BJS15 group. There was a significant regression of estimated hepatocyte weight only in BJS5, BJS10 and BJS15 groups, with median values of 31.93, 24.46 and 28.52 g/kg body weight. In all types of treatment a mixed inflammatory infiltrate occurred in the portal spaces, associated with enterobiliary reflux and with bacterial contamination of the bile. There was a significant increase in oxygen consumption by hepatic mitochondria in states 3 and 4 in BO group (respective medians of 101.55 and 31.05 nanoatoms O2/mg protein/min) compared to SHAM group (medians of 57.22 and 15.51). The O2 consumption normalized only in the animals of BJS15 group (medians of 52.38 and 14.8). The performance of the BJS indicates the importance of the evaluation of alternatives that might minimize the contact of enteric content with the biliary tree.

  • 1. Franco, D.; Gigou, M.; Szekely, A.M.; Bismuth, H. Portal hypertension after bile duct obstruction. Arch Surg. 114: 1064-6, 1979.
  • 2. Santos, J.S.; Ceneviva, R.; Castro e Silva Jr, O.; Salgado Jr., W.; Garcia, A.M.C. Evoluçăo da Cirrose Biliar Secundária após derivaçăo bílio duodenal em ratos. Acta Cir. Bras. Supl. I: 45-6, 1996.
  • 3. Santos, J.S.; Ceneviva, R.; Castro e Silva Jr.,O.; Zucoloto, S.; Cabrera, A.M. Evolution of secondary bile cirrhosis by comparyng the effects of bilio duodenal and bilio jejunal shunts. Digestion, v. 59, p. 554, 1998.
  • 4. Chance, B.; Williams, G.R.; Respiratory enzymes in oxidative phosphorylation. J. Biol. Chem. v. 217: 409-27, 1956.
  • 5. Zimmermann, H.; Reichen, J.; Zimmermann, A.; Sagester, H.; Thenisch, B.; Hoflin, F. Reversibility of secondary biliary fibrosis by biliodigestive anastomosis in the rat. Gastroenterology. v. 103, p. 579-89, 1992.
  • 1
    Trabalho realizado no Laboratório de Clínica Cirúrgica e Cirurgia Experimental do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto da FMRP-USP
    2
    Pós Graduando na Clínica Cirúrgica da FMRP-USP
    3
    Professor Doutor do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP
    4
    Professor Titular do Departamento de Patologia da FMRP-USP
    5
    Professor Doutor do Departamento de Patologia da FMRP-USP
    6
    Professor Associado do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP
    7
    Professor Titular do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      11 Jun 2002
    • Data do Fascículo
      2001
    Sociedade Brasileira para o Desenvolvimento da Pesquisa em Cirurgia https://actacirbras.com.br/ - São Paulo - SP - Brazil
    E-mail: actacirbras@gmail.com