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Internacionalização de atividades de P&D: participação de afiliadas brasileiras mensuradas por indicadores de C&T

Resumos

Este artigo analisa a participação de subsidiárias de empresas transnacionais no processo de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) global. Para tanto, serão avaliados indicadores de Ciência e Tecnologia (C&T) de empresas pertencentes aos setores mais inovadores no Brasil, a fim de comparar os dados com as subsidiárias das mesmas empresas localizadas em países que competem diretamente com o Brasil.

Patentes; Dados bibliométricos; Tecnologia; Telecomunicação


This paper aims to analyse the participation of Brazilian subsidiaries of foreign transnational companies in their global R&D processes. For this, we analysed some Science and Technology (S&T) indicators from the widest companies of the most innovative industries in Brazil in order to compare data from their subsidiaries located in countries that directly compete to the Brazilian units.

Internationalization of R&D; Patents; Bibliometric data; Technology


Internacionalização de atividades de P&D participação de afiliadas brasileiras mensuradas por indicadores de C&T

Simone Vasconcelos Ribeiro Galina

Professora da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo — FEA-RP/USP (Ribeirão Preto — SP) (svgalina@usp.br)

RESUMO

Este artigo analisa a participação de subsidiárias de empresas transnacionais no processo de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) global. Para tanto, serão avaliados indicadores de Ciência e Tecnologia (C&T) de empresas pertencentes aos setores mais inovadores no Brasil, a fim de comparar os dados com as subsidiárias das mesmas empresas localizadas em países que competem diretamente com o Brasil.

Palavras-chave: Patentes. Dados bibliométricos. Tecnologia. Telecomunicação.

ABSTRACT

This paper aims to analyse the participation of Brazilian subsidiaries of foreign transnational companies in their global R&D processes. For this, we analysed some Science and Technology (S&T) indicators from the widest companies of the most innovative industries in Brazil in order to compare data from their subsidiaries located in countries that directly compete to the Brazilian units.

Key words: Internationalization of R&D. Patents. Bibliometric data. Technology.

Vivencia-se uma época de acirrada competitividade, impulsionada pela globalização, na qual o desenvolvimento tecnológico constitui-se num dos principais impulsionadores da competição industrial. A produtividade, a competitividade e o crescimento — tanto de empresas como até mesmo de países — estão intrinsecamente ligados à inovação. Desse modo, a participação das subsidiárias brasileiras nesse processo torna-se um importante medidor da capacidade de geração de valores tecnológicos do Brasil, uma vez que a presença de companhias transnacionais (TNCs) estrangeiras no país está cada vez mais acentuada.

Dessa forma, é importante avaliar quantitativamente o grau de envolvimento das unidades subsidiárias no desenvolvimento de tecnologia das empresas estrangeiras que atuam localmente, uma vez que, para setores dominados por essas companhias, o compartilhamento de conhecimento e a replicação desse para o sistema nacional de inovação apresentam uma forte dependência dessas companhias.

As atividades de P&D das TNCs têm seguido uma tendência de descentralização (Cantwell, 1989, Ghoshal; Bartlett, 1988; Reddy, 1997; Subramaniam et al., 1998; Dunning, 1999). Existem pesquisas que afirmam que subsidiárias brasileiras de algumas empresas TNCs estrangeiras estão envolvidas no desenvolvimento de alguns nichos de produtos globais (Dias; Galina, 2004; Galina; Plonski, 2002; Consoni; Quadros, 2002). No entanto, não é comum encontrar na literatura estudos que mostrem quantitativamente o resultado dessa participação.

Para tanto, existem indicadores de ciência e tecnologia (C&T) que podem ser utilizados (OECD, 1994). Deve-se salientar que a medição de inovação torna-se necessária, ainda que incompleta e imperfeita, devido à sua importância para o desenvolvimento nacional (Dogson; Sybille, 2000), pois, dessa maneira, o tema dos indicadores será inserido, definitivamente, nas agendas dos estudos e das políticas de inovação.

No entanto, é necessário destacar que nenhum indicador tem a capacidade de, sozinho, analisar a complexidade e abrangência da atuação de uma organização — e muito menos de um sistema de inovação. Os indicadores devem refletir características específicas e devidamente contextualizadas, para que possam ser alcançados os objetivos para os quais foram designados.

A partir dessas considerações, o objetivo deste artigo é avaliar a relevância da participação das subsidiárias brasileiras no processo de desenvolvimento tecnológico, por meio dos resultados das atividades realizadas localmente. Tais resultados serão analisados por meio de dados quantitativos (especificamente a partir de dois dos mais importantes indicadores de C&T: estudos sobre patentes e estudos bibliométricos), considerando-se alguns dos setores mais inovadores (Ibge, 2002) que sejam dominados por TNCs. Estes dados serão comparados ainda com os provenientes de subsidiárias das mesmas transnacionais consideradas, localizadas em outros países que competem diretamente com o Brasil em cada um dos setores analisados. Dessa forma, aborda-se um tema de significativa importância para a avaliação de C&T no país — e que ainda foi pouco explorado.

Vale considerar que um importante indicador faz referência a solicitações de patentes, que podem ser efetuadas em âmbito nacional ou internacional dependendo de onde as empresas pretendem fabricar e comercializar seus produtos. Entretanto, deve-se destacar que os resultados estabelecidos apenas a partir de análises estatísticas com patentes são frágeis, visto que tais estudos podem ser indicadores imperfeitos se utilizados isoladamente (Pavitt, 1988). Portanto, torna-se necessário e prudente combiná-los com outros indicadores de C&T, como informações bibliométricas.

Assim, este artigo combina os dois indicadores mencionados, com o intuito de explorar a representatividade da participação de subsidiárias brasileiras no desenvolvimento tecnológico de algumas indústrias — majoritariamente companhias estrangeiras. A seguir, é apresentada a metodologia utilizada para o desenvolvimento do trabalho, os dados obtidos e algumas considerações finais, com levantamento de questões importantes a serem ainda investigadas.

METODOLOGIA

Os estudos foram realizados com empresas transnacionais dos setores de telecomunicação, informática e eletrônico que possuem subsidiárias instaladas no Brasil. Trata-se de indústrias dominadas por empresas transnacionais estrangeiras. Participaram do estudo as norte-americanas Lucent e Motorola, a japonesa NEC, a sueca Ericsson, a francesa Alcatel, a alemã Siemens, a finlandesa Nokia e a canadense Nortel, classificadas no setor de telecomunicações. Para o setor de informática, foram selecionadas as norte-americanas Cisco, Compaq, Dell, HP, IBM, Unisys e Xerox, e a sul coreana Samsung. No que diz respeito ao setor eletrônico, selecionamos a sueca Electrolux, as japonesas Furukawa e Toshiba, as norte-americanas GE, Intel e Tyco, a sul-coreana LG e a holandesa Philips. Essas empresas são as maiores em cada indústria considerada (Valor Econômico, 2004). Portanto, foram selecionados os setores mais inovadores e, dentro deles, as empresas que podem realizar mais inovações, já que, quanto maiores, mais inovadoras elas são (Ibge, 2002).

O levantamento de patentes foi feito nacional e internacionalmente. Para tanto, as consultas foram realizadas nas bases de dados disponibilizadas pelo Instituto Nacional de Propriedade Intelectual — INPI; e, para analisar a participação brasileira nas patentes requeridas internacionalmente, foi utilizada a base do United States Patent and Trademark Office — USPTO. Ambas as organizações disponibilizam informações pela Internet. É importante ressaltar que foram contemplados dados dos últimos dez anos.

A base do USPTO foi escolhida porque o sistema norte-americano é o que realiza o maior número de registros de patentes de empresas estrangeiras do mundo — daí sua relevância. Os dados sobre patentes disponíveis para consulta na base do USPTO são bem mais detalhados do que os provenientes da base disponibilizada pelo INPI. Isso representa uma flexibilidade muito maior da base norte-americana se comparada à brasileira — o que significa que no USPTO é possível fazer diferentes tipos de consultas e receber um conjunto de dados mais específico do que pelo INPI.

Por outro lado, a consulta à base de dados de patentes domésticas foi fundamental para os resultados desta pesquisa. Isso porque ela possui uma quantidade muito maior de dados relevantes a serem tratados aqui e, por isso, possibilita uma análise mais fundamentada e, conseqüentemente, conclusões mais aprofundadas.

Geralmente, quando uma empresa transnacional solicita patentes internacionais, isso significa que o produto patenteado é inovador e relevante para a companhia assim como a equipe envolvida no processo de inovação. Quando a equipe conta com a participação de funcionários ligados a alguma subsidiária, esse pode ser um indício de que há envolvimento entre tal subsidiária e a rede global de desenvolvimento tecnológico da TNC, mesmo que a patente não tenha sido solicitada em nome da subsidiária. Dessa forma, a análise cobrirá a solicitação de patente em nome da subsidiária e também a existência de pelo menos um inventor oriundo da subsidiária.

Um outro indicador escolhido para medir o envolvimento entre matrizes e subsidiárias brasileiras refere-se a dados bibliométricos, ou seja, a quantidade de artigos científicos publicados em periódicos de destaque. Vale citar que, enquanto as patentes estão ligadas à pesquisa aplicada e ao desenvolvimento experimental (para posterior produção e comercialização do produto), as publicações científicas geralmente se referem à pesquisa básica e aplicada. Dessa forma, com esses dois indicadores de resultados de C&T, cobrem-se todos os tipos de atividades realizadas em P&D (Oecd, 1994).

Os dados bibliométricos são provenientes do Science Citation Index — SCI, editado pelo instituto norte-americano Institute for Scientific Information — ISI, também por intermédio da base disponível na internet. O SCI é multidisciplinar e compreende cerca de 5.300 periódicos relacionados a ciências humanas, meio ambiente, tecnologia e medicina. Além disso, ele é a base multidisciplinar que compreende o número mais significativo de publicações da América Latina. Em 1997, as publicações da região representaram 2,3% do total das publicações registradas no SCI (Ricyt; Cyted; Oea, 1999).

Para qualquer um dos indicadores selecionados, os dados encontrados para a participação do Brasil foram confrontados com os dados de outros países, tanto os em desenvolvimento quanto os desenvolvidos. Na escolha desses países, foi considerada a relevância das subsidiárias como prováveis participantes do desenvolvimento de produtos das TNCs — o que as torna importantes concorrentes das subsidiárias brasileiras.

RESULTADOS OBTIDOS

Patentes Internacionais

A busca de dados na base do USPTO foi feita em dois períodos de cinco anos distintos: de 1994 a 1998 e de 1999 a 2003. A flexibilidade para a combinação de diferentes buscas nessa base nos levou a informações diversificadas e a análises importantes. Em uma dessas análises, o número de patentes foi obtido considerando o Brasil como o país de origem das patentes (inventores ou empresas), com o objetivo de mostrar a situação geral do país em termos de patentes recebidas, sem considerar cada companhia especificamente. Os resultados, mostrados na Tabela 1, não são muito animadores. Eles indicam que, mesmo com um aumento de 80% de um período para outro, a participação do país é baixa. E isso, não somente se o considerado como "país de origem do inventor", mas também como "país onde está localizada a empresa que fez a requisição da patente". Os números absolutos provenientes da Rússia, Hungria, Chile, México, Tailândia e Malásia são ainda piores.

No entanto, nas comparações com Índia, Israel, China, Irlanda, Cingapura, Coréia do Sul e Taiwan, o Brasil está numa posição absolutamente inferior. Entre os países analisados, as melhores posições são as de Taiwan e da Coréia do Sul, que têm números muito mais impressivos de patentes obtidas. Entretanto, com exceção desses dois, os números que representam países inteiros em geral são baixos, uma vez que várias das companhias estudadas os superam — especialmente no segundo período, conforme visto na Tabela 2.

É importante diferenciar a participação de inventores e subsidiárias no processo de desenvolvimento que acabou por gerar o produto patenteado. Quando existe participação de um inventor local mas a unidade dele não é a solicitante da patente, esse fato pode indicar que a equipe local de desenvolvimento não está envolvida na pesquisa e que provavelmente, esta é realizada fora da unidade. Uma outra possível razão para isso é que a subsidiária pode não ter autonomia ou poder para competir com a matriz na solicitação da patente. Assim, quanto a buscas realizadas nas bases de dados, sempre que possível foram separadas as informações relacionadas a subsidiárias ou a inventores.

A partir dos nomes de cada companhia estudada e de seus respectivos países, foi feito um levantamento mais específico na base da USPTO. Assim, foram identificadas as patentes solicitadas por várias subsidiárias. O resultado é apresentado na Tabela 2 e mostra claramente que as subsidiárias de países em desenvolvimento têm poucas patentes em seus nomes. No caso do Brasil, identificamos Ericsson, Lucent, GE, Philips, Tyco e Xerox, com pouquíssimas patentes cada uma.

Quanto ao setor de telecomunicações, o Brasil apresenta o pior desempenho quando comparado aos demais países em desenvolvimento considerados. Quando analisa-se o total de patentes por país, Israel se destaca — especialmente no segundo período e para as norte-americanas Motorola e Lucent. No entanto, esse país não tem patente solicitada em seu nome. Na Tabela 2, destacam-se os dados da Coréia do Sul, principalmente em função das sul-coreanas LG e Samsung. Como a Philips também apresentava números significativos para o país, especialmente no segundo período,verificou-se que o resultado extremamente positivo foi influenciado por uma joint venture com a Samsung.

É necessário mencionar que realizou-se a busca de dados para todos os países citados na Tabela 1. No entanto, alguns países mostraram dar pouca importância a certos setores. Por isso, considerou-se apenas as informações dos que apresentavam maior participação. É o caso da Rússia, por exemplo.

É possível confirmar que os resultados encontrados para cada país e apresentados na Tabela 2 são realmente baixos (exceto pela Coréia do Sul, por razões já mencionadas), se considerados com uma outra análise feita com dados de subsidiárias localizadas em países desenvolvidos.

Uma das limitações para essa análise é a impossibilidade de obter dados dos Estados Unidos como inventor ou país solicitante da patente na base do USPTO. Assim, nenhum dado foi encontrado nem para as companhias norte-americanas nem para as subsidiárias de outras empresas que sejam localizadas nos EUA. Essas seriam informações muito úteis, uma vez que as subsidiárias norte-americanas geralmente estão muito envolvidas no desenvolvimento de produtos em todas as companhias estudadas.

As Tabelas 3 e 4 mostram os dados obtidos para algumas subsidiárias de países desenvolvidos, tanto para patentes solicitadas quanto para inventores residentes em outros países que não os de sede das companhias. Pela verificação dos dados, especialmente na coluna HQ (Headquarters — matrizes), as empresas têm, sim, a prática de solicitar patentes em nome de subsidiárias e de ter inventores residentes em outros países, mas, conforme discutido anteriormente, o Brasil não é um deles.

Patentes Domésticas

Buscas na base de dados do INPI foram também feitas em dois períodos (1994-1998 e 1999-2003). Em ambos, o número de patentes solicitadas/obtidas pelas companhias estudadas variou amplamente (Tabela 5). Algumas delas aumentaram suas solicitações de patentes locais, enquanto outras as diminuíram. Nortel e Lucent, por exemplo, aumentaram respectivamente 269% e 190% suas participações de um período a outro. Essas companhias intensificaram seus negócios no Brasil após a privatização do sistema Telebrás; a Nortel, em telefonia móvel; e a Lucent, em fixa (com aquisição de duas empresas brasileiras — Batik e Zetax). É notável o crescimento da GE e da Xerox, — sendo que esta última apresenta números bastante significativos. É preciso também observar que são necessários mais estudos para identificar a ausência de solicitações pela Cisco e a existência de apenas uma pela IBM.

As pesquisas na base do INPI são menos flexíveis que na do USPTO, mas isso não é relevante para o propósito deste trabalho e para a análise dos resultados. Quando se usa a base do INPI, uma das principais dificuldades é descobrir o endereço do inventor ou da companhia — ou seja, seu país específico. Não é possível fazer buscas por esse campo na base on-line. Assim, já que é praticamente impossível relacionar os nomes dos inventores de cada produto em determinada companhia e seus respectivos países, não foi possível obter o número de patentes registradas no instituto por nacionalidade dos inventores.

No entanto, apesar da impossibilidade em obter dados por meio de consulta pelo campo "país", foi mais fácil encontrar a localização das companhias (ou de suas unidades) porque é possível conhecer os nomes de suas subsidiárias. Assim, a participação de unidades locais foi identificada pelos nomes das unidades brasileiras de cada companhia.

Bibliométricos

Dados bibliométricos são geralmente usados como indicadores da posição de um país em termos de publicações científicas relevantes. Quando se faz a comparação entre diferentes regiões, usualmente a busca de dados é feita a partir de diversas bases. Assim, os pesquisadores podem tratar com um número significativo de periódicos e analisar diferentes campos da ciência. O Brasil e cada um dos outros países citados também foram analisados quanto à cooperação entre companhias e países com vistas à produção científica.

Os dados bibliométricos aqui utilizados têm como fonte artigos científicos e técnicos listados pela base ISI/SCI. Tal base foi escolhida por ser multidisciplinar e porque é a mais importante fonte de publicações científicas nos campos de engenharia e tecnologia, principais segmentos para geração de inovação tecnológica dos setores estudados. Foram considerados os dados de dois períodos: o de 1994 a 1998 (período A) e o de 1999 a 2003 (período B), apresentados na Tabela 6.

Esses dados mostram as publicações de pelo menos um dos autores provenientes das companhias estudadas e um de uma instituição ou de uma companhia localizada nos países selecionados. Dessa forma, foi possível encontrar cooperação em pesquisas científicas realizadas pelas companhias estudadas e instituições ou companhias de outros países.

A partir das buscas realizadas nessa base de dados, foi possível encontrar várias "falsas" referências relacionadas a GE, LG e Dell, ou seja, papers publicados que não são escritos pelas empresas citadas, mas por outras homônimas. Assim, optou-se por excluí-las das tabelas relacionadas neste artigo.

Observamos que Lucent, NEC, Siemens, Toshiba, Philips e IBM apresentam um total significativo de publicações, apesar de diminuírem suas porcentagens de um período para outro. Também é importante notar que a Intel teve o maior crescimento entre as empresas estudadas, apesar dos valores serem menos representativos.

Alguns números chamam a atenção mais uma vez. É o caso da Coréia do Sul, que se destaca entre os países — mas os números são extremamente dependentes da sul-coreana Samsung. Israel também apresenta números representativos quando comparados com os demais países, e mais uma vez por influência da norte-americana Lucent (vale destacar que, neste caso, Motorola tem menor participação), mas também com significativa participação da NEC.

Ainda observando comparativamente os países da amostra, vale destacar os crescimentos dos percentuais de Hungria, China, Índia, Taiwan (apesar de pequena diminuição no setor de informática) e Cingapura. O Brasil, mais uma vez, tem uma representatividade ínfima (a não ser quando comparado a países sul-americanos), sendo que no setor de eletrônicos ela é praticamente nula.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com os indicadores quantitativos obtidos, é possível concluir que as subsidiárias brasileiras não estão muito envolvidas no desenvolvimento tecnológico de produtos globais. Os dados bibliométricos e de patentes — nacionais ou internacionais — mostram um panorama desfavorável para as unidades locais quando comparados aos de subsidiárias localizadas em outros países em desenvolvimento que competem diretamente com o Brasil.

O pior resultado foi encontrado na base USPTO, que mostra que a participação das unidades brasileiras é realmente pequena. A partir da base do INPI, observou-se que a participação das subsidiárias brasileiras na solicitação de patentes locais é melhor, mas que em geral tem caído nos últimos anos — fato que não foi anteriormente apresentado nesse artigo.

Vale ressaltar que as matrizes das companhias têm descentralizado as tarefas de desenvolvimento de produtos e envolvido suas subsidiárias: os dados de patentes aqui apresentados mostram timidamente esse fato. No entanto, outros estudos indicam claramente que o envolvimento de países desenvolvidos é significativo e tem aumentado (Galina; Bortoloti, 2004). Por outro lado, os dados de patentes nacionais e internacionais mostram que a participação das unidades brasileiras é insignificante.

Um resultado melhor é o referente aos indicadores bibliométricos, mas, mesmo assim, é pior que os dados de outros países em desenvolvimento estudados, como citado na seção anterior. A lei de informática,1Antiga Lei nº 8.248/1991, que deu origem à Lei nº 10.176/2001, alterada pela Lei nº 10.664/2003. da qual a maioria das companhias estudadas se beneficiam, deve ter influenciado este resultado. Essa lei exige que as empresas beneficiadas tenham parcerias com universidades ou centros de pesquisa no Brasil — o que acaba gerando publicações científicas.

Por essa razão, os indicadores de C&T analisados e apresentados aqui não mostram evidências significativas da participação do Brasil no desenvolvimento tecnológico dos fornecedores mundiais de equipamentos e serviços de telecomunicações, informática e eletrônicos. Essa é uma conclusão relevante, uma vez que tais indicadores são amplamente utilizados para medir resultados de C&T, para comparar desenvolvimento tecnológico de países e para estimar resultados de formulação de políticas públicas.

Os dados quantitativos aqui apresentados possibilitam o desenho de um panorama da participação brasileira nos setores analisados, uma vez que afinal, foram estudadas as maiores empresas presentes no Brasil em cada um dos segmentos. No entanto, eles devem ser combinados com outras informações a respeito dessas indústrias por meio de outras pesquisas. O intuito é que os dados quantitativos possam ser utilizados para fortalecer estudos qualitativos, numa tentativa de melhor caracterizar os setores mais inovadores da indústria brasileira.

Um desses estudos visa ao setor de telecomunicações (Galina; Plonski, 2005; Galina; Bortoloti, 2004) e indica que há desenvolvimento local de produtos, mas que a inovação está mais voltada para a adaptação ao mercado local. Também mostra que há participação de subsidiárias locais no desenvolvimento global, porém as tarefas que cabem às unidades brasileiras são pouco inovadoras e não chegam a gerar patentes. Também estão sendo realizadas outras investigações dessa natureza, que serão divulgadas em futuro próximo.

NOTA

1.

Artigo recebido em 14 de junho de 2005

Aprovado em 30 de junho de 2005

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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      01 Out 2007
    • Data do Fascículo
      Jun 2005

    Histórico

    • Aceito
      30 Jun 2005
    • Recebido
      14 Jun 2005
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