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Prevalência e fatores associados à obesidade abdominal em adolescentes

Prevalencia y factores asociados a la obesidad abdominal en adolescentes

Resumos

OBJETIVO: Verificar a prevalência de obesidade abdominal e sua associação com fatores demográficos, econômicos e estilo de vida em adolescentes. MÉTODOS: Estudo transversal conduzido em 644 adolescentes (397 do sexo feminino e 247 do masculino), de 15 a 19 anos. Foram coletadas informações demográficas (sexo e idade), econômicas (nível econômico) e comportamentais (atividade física, alimentação, tabagismo e etilismo). A obesidade abdominal (desfecho) foi determinada com base em pontos de corte para a circunferência de cintura, específicos ao sexo e à idade. A análise multivariada foi realizada por meio de regressão logística, estimando-se Odds Ratios (OR) brutas e ajustadas, com intervalo de confiança de 95%. RESULTADOS: A prevalência de obesidade abdominal foi de 7,5%. Adolescentes do sexo masculino (OR 2,34; IC95% 1,27-4,32), de nível econômico intermediário (OR 2,89; IC95% 1,35-6,19) e alto (OR 2,98; IC95% 1,31-6,77) e que consumiam bebida alcoólica de forma abusiva (OR 2,12; IC95% 1,10-4,09) apresentaram maior chance de possuírem obesidade abdominal. CONCLUSÕES: A prevalência de obesidade abdominal foi baixa em comparação aos estudos internacionais. Ademais, encontrou-se que o sexo, o nível econômico e o consumo abusivo de álcool se associaram à obesidade abdominal.

adolescente; circunferência da cintura; atividade física; hábitos alimentares


OBJETIVO: Verificar la prevalencia de obesidad abdominal y su asociación con factores demográficos, económicos y estilo de vida en adolescentes. MÉTODOS: Estudio transversal conducido en 644 adolescentes (397 del sexo masculino y 247 del femenino) de 15 a 18 años. Se recogieron informaciones demográficas (sexo, edad), económicas (nivel económico) y comportamentales (actividad física, alimentación, tabaquismo, alcoholismo). La obesidad abdominal (desfecho) fue determinada con base en puntos de corte para la circunferencia de la cintura, específicos al sexo y la edad. El análisis multivariado se realizó mediante regresión logística, estimando razones de odds (OR) brutas y ajustadas con intervalo de confianza de 95%. RESULTADOS: La prevalencia de obesidad abdominal fue de 7,5%. Adolescentes del sexo masculino (OR 2,34; IC95% 1,27-4,32), de nivel económico intermediario (OR 2,89; IC95% 1,35-6,59) y alto (OR 2,98; IC95% 1,31-6,77) y que consumían bebidas alcohólicas de modo abusivo (OR 2,12; IC95% 1,10-4,09) presentaron mayores posibilidades de tener obesidad abdominal. CONCLUSIONES: La prevalencia de obesidad abdominal fue baja en comparación a los estudios internacionales. Además, se encontró que el sexo, el nivel económico y el consumo abusivo de alcohol se asociaron a la obesidad abdominal.

adolescentes; circunferencia de la cintura; actividad física; hábitos alimentares


OBJECTIVE: To determine the prevalence of abdominal obesity in adolescents and its association with demographic, economic and lifestyle variables in adolescents. METHODS: This cross-sectional study enrolled 644 adolescents (397 girls and 247 boys) from 15 to 19 years old. Demographic (gender and age), economic (economic status), and lifestyle data (physical activity, diet, smoking, and alcohol consumption) were collected. Abdominal obesity (primary outcome) was evaluated based on the cut-off values for gender- and age-specific waist circumference. Data were analyzed using multivariate logistic regression, estimating the unadjusted and adjusted Odds Ratios (OR) with a 95% confidence interval. RESULTS: The prevalence of abdominal obesity was 7.5%. Boys (OR 2.34; 95%CI 1.27-4.32) of intermediate (OR 2.89; 95%CI 1.35-6.59) and high socioeconomic status (OR 2.98; 95%CI 1.31-6.77) who had an excessive consumption of alcohol (OR 2.12; 95%CI 1.10-4.09) presented the highest chance of abdominal obesity. CONCLUSIONS: The prevalence of abdominal obesity was low in the studied population compared to rates reported in international studies. Gender, economic status and excessive alcohol consumption were associated with abdominal obesity.

adolescent; waist circumference; physical activity; food habits


ARTIGO ORIGINAL

Prevalência e fatores associados à obesidade abdominal em adolescentes

Marcelo RomanziniI; Andreia PelegriniII; Edio Luiz PetroskiIII

Instituição: Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, SC, Brasil

IMestre em Educação Física pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Física da UFSC; Professor Assistente do Departamento de Educação Física da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Londrina, PR, Brasil

IIDoutora em Educação Física pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Física da UFSC; Professora do Centro de Ciências da Saúde e do Esporte da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), Florianópolis, SC, Brasil

IIIPós-Doutor pela Universidade de Montreal, Canadá; Professor Titular do Departamento de Educação Física daUFSC, Florianópolis, SC, Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Marcelo Romanzini Rodovia Celso Garcia Cid, km 380 - Campus Universitário CEP 86051-990 - Londrina/PR E-mail: mromanzini@hotmail.com

RESUMO

OBJETIVO: Verificar a prevalência de obesidade abdominal e sua associação com fatores demográficos, econômicos e estilo de vida em adolescentes.

MÉTODOS: Estudo transversal conduzido em 644 adolescentes (397 do sexo feminino e 247 do masculino), de 15 a 19 anos. Foram coletadas informações demográficas (sexo e idade), econômicas (nível econômico) e comportamentais (atividade física, alimentação, tabagismo e etilismo). A obesidade abdominal (desfecho) foi determinada com base em pontos de corte para a circunferência de cintura, específicos ao sexo e à idade. A análise multivariada foi realizada por meio de regressão logística, estimando-se Odds Ratios (OR) brutas e ajustadas, com intervalo de confiança de 95%.

RESULTADOS: A prevalência de obesidade abdominal foi de 7,5%. Adolescentes do sexo masculino (OR 2,34; IC95% 1,27-4,32), de nível econômico intermediário (OR 2,89; IC95% 1,35-6,19) e alto (OR 2,98; IC95% 1,31-6,77) e que consumiam bebida alcoólica de forma abusiva (OR 2,12; IC95% 1,10-4,09) apresentaram maior chance de possuírem obesidade abdominal.

CONCLUSÕES: A prevalência de obesidade abdominal foi baixa em comparação aos estudos internacionais. Ademais, encontrou-se que o sexo, o nível econômico e o consumo abusivo de álcool se associaram à obesidade abdominal.

Palavras-chave: adolescente; circunferência da cintura; atividade física; hábitos alimentares.

Introdução

Com o declínio das doenças infecciosas, o excesso de peso, nas formas de sobrepeso e obesidade, está se tornando um dos principais problemas de Saúde Pública mundial e, nos últimos anos, a sua prevalência tem aumentado(1). Entretanto, a preocupação com esse evento em idades mais jovens merece destaque, pois a obesidade adquirida durante a infância e a adolescência tende a persistir na idade adulta(1).

Pesquisas conduzidas em adultos demonstram que a obesidade abdominal está intimamente relacionada à resistência insulínica, diabetes tipo 2, hipertensão e dislipidemias, contribuindo para o aumento do risco cardiovascular e da síndrome metabólica(2-4). Em adolescentes, a gordura central é apontada como um fator de risco para a ocorrência de doenças cardiovasculares(5,6).

Evidências recentes indicam um aumento na obesidade abdominal em adolescentes(7,8), porém percebe-se uma escassez de informação relativas a sua prevalência e aos fatores associados em adolescentes. Portanto, conhecer os fatores associados à obesidade abdominal é de suma importância para subsidiar programas de intervenção em adolescentes.

No Brasil, poucas pesquisas foram conduzidas com a finalidade de verificar a prevalência de obesidade abdominal e fatores associados em adolescentes(9,10). Cavalcanti et al(9) notaram que o sexo, o excesso de peso e a prática de atividade física em níveis insuficientes estiveram associados à obesidade abdominal. Fernandes et al(10) verificaram que o estado nutricional da mãe e do pai esteve mais associado à obesidade abdominal do que os fatores demográficos.

Em estudos epidemiológicos, a antropometria tem sido considerada um método eficiente(11,12). O índice de massa corpórea (IMC) é usado frequentemente como indicador de obesidade geral, enquanto a circunferência da cintura (CC) indica a obesidade abdominal. Alguns pesquisadores apontam que a CC possui melhor capacidade de predição de fatores de risco cardiovascular do que o IMC(13). Em contraposição, outros autores relatam que o efeito preditivo da CC é igual ao do IMC(14). Esses achados sugerem que a CC deveria ser levada em consideração no estudo da associação entre obesidade e seus fatores de risco.

Em decorrência da ausência de informações provenientes da associação entre obesidade abdominal e fatores associados, o presente estudo teve como objetivo verificar a prevalência de obesidade abdominal e sua associação com fatores demográficos, econômicos e comportamentais em adolescentes.

Método

Entre julho e setembro de 2005, realizou-se um estudo transversal em estabelecimentos escolares da rede pública de ensino do município de Londrina (PR). Indivíduos de ambos os sexos, matriculados em escolas da zona urbana e nas séries do ensino médio diurno foram elegíveis. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina, de acordo com a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.

O processo de seleção da amostra contou com dois estágios. Primeiro, realizou-se uma estratificação proporcional das escolas em relação à área geográfica da cidade (norte, sul, leste, oeste, centro e anel periférico) e seis escolas foram sorteadas (uma de cada região). Em seguida, selecionaram-se as turmas de forma aleatória simples, de tal modo que alcançassem a representatividade percentual de sua área geográfica em relação ao município como um todo.

O cálculo do tamanho da amostra levou em consideração uma prevalência de obesidade abdominal de 6%(9), intervalo de confiança de 95%, erro de 2,25 pontos percentuais, efeito de delineamento de 1,5 e acréscimos de 10% para perdas e recusas. Nesse contexto, 719 adolescentes foram recrutados para participar do estudo, sendo considerados elegíveis todos aqueles que estavam em sala de aula no dia da coleta. Escolares com idade superior a 19,5 anos e adolescentes grávidas foram excluídos das análises. Os dados foram coletados nas dependências dos estabelecimentos escolares, no período matutino.

Medidas de CC (cm) foram coletadas por um único avaliador no ponto correspondente à distância média entre a última costela e a crista-ilíaca(15), mediante a utilização de uma fita métrica metálica inextensível (Sanny®) com dois metros de extensão. Em seguida, a variável desfecho "obesidade abdominal" foi determinada por meio de pontos de corte para a CC específicos para o sexo e a idade, conforme proposto por Taylor et al(16) (Quadro 1).


Os fatores associados à obesidade abdominal analisados no presente estudo foram: sexo, idade (15 a 19 anos), nível econômico, consumo de frutas e de verduras, tabagismo, consumo abusivo de álcool e nível de atividade física. O nível econômico foi obtido mediante o Critério de Classificação Econômica do Brasil(17), sendo expresso arbitrariamente nas seguintes categorias: a) baixo (classes C, D, E); b) intermediário (classe B2); e c) alto (classes A1, A2 e B1). A frequência do consumo semanal de frutas e verduras foi estimada a partir do instrumento Global School-based Student Health Survey(18). O consumo inadequado de frutas e de verduras foi definido como uma ingestão inferior a quatro dias por semana. O instrumento Youth Risk Behavior Survey(19) foi utilizado para obter a frequência mensal do consumo de cigarros e do uso abusivo de álcool. O tabagismo foi definido como o consumo de um ou mais cigarros nos últimos 30 dias. O uso abusivo de álcool foi estabelecido como o consumo de cinco ou mais doses em uma única ocasião, nos últimos 30 dias. O nível de atividade física foi estimado pelo Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ), em sua versão curta(20). Para tanto, computaram-se apenas os minutos de atividades físicas relacionadas aos esforços de intensidades moderadas e vigorosas. Foram considerados com atividade física insuficiente os estudantes com escore de atividade física inferior a 300 minutos/semana(21).

Previamente às análises, o banco de dados foi revisado e eventuais erros foram corrigidos. Os resultados foram analisados no programa estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 17.0. Os fatores associados à obesidade abdominal foram analisados por meio da utilização da regressão logística, controlando-se para os potenciais fatores de confusão. Dessa forma, foi possível estimar as razões de chances (Odds ratio - OR) brutas e ajustadas, bem como seus respectivos intervalos de confiança de 95% (IC95%). As variáveis independentes foram inseridas de acordo com o seguinte modelo hierárquico: sexo, idade e nível econômico no primeiro nível, consumo de frutas, consumo de verduras, consumo de cigarros, uso abusivo de bebidas alcoólicas e nível de atividade física no segundo nível. Todas as variáveis que apresentaram valor p<0,25 no teste do qui-quadrado foram inseridas no modelo multivariável, permanecendo caso continuassem significantes (p<0,05) e/ou ajustassem o modelo.

Resultados

Dos 719 escolares incialmente selecionados para o estudo, 644 foram incluídos nas análises. Foram excluídos cinco escolares com idade superior a 19,5 anos, três gestantes, 37 devido ao fornecimento incompleto de informações demográficas e/ou comportamentais e 30 que se recusaram a participar do estudo. A amostra foi predominantemente composta por moças (61,6%) e por escolares com idades de 15 e 16 anos (66,6%). Os níveis econômicos A e B foram os mais prevalentes na amostra estudada (57,6%). A prevalência de obesidade abdominal foi observada em 7,5% dos escolares.

Observa-se na Tabela 1, que a maior prevalência de obesidade abdominal foi observada nos escolares de sexo masculino, de alto nível econômico e entre aqueles que consomiam bebidas alcoólicas em excesso. Destaca-se a tendência de aumento na prevalência de obesidade abdominal de acordo com o aumento no nível econômico (p=0,01). Os hábitos alimentares, o consumo de cigarros e o nível de atividade física não se mostraram associados à presença de obesidade abdominal.

Na análise multivariável (Tabela 2), verificou-se que, após o ajuste para as variáveis do primeiro nível, o sexo e o nível econômico se mantiveram associados à presença de obesidade abdominal. Rapazes apresentaram 2,3 vezes mais chances de possuírem excesso de adiposidade na cintura quando comparados às moças, enquanto escolares pertencentes aos níveis econômicos intermediário e alto apresentaram mais chances de possuírem obesidade abdominal, quando comparados aos seus pares de baixo nível econômico (OR 2,8 e 2,9, respectivamente). Após o ajuste para as variáveis do primeiro e do segundo nível, o consumo de bebidas alcoólicas se manteve associado à obesidade abdominal. Adolescentes que relataram consumir bebidas alcoólicas de forma abusiva apresentaram duas vezes mais chances de obesidade abdominal quando comparados àqueles que não adotavam esse comportamento.

Discussão

Até o momento, poucos estudos investigaram a prevalência de obesidade abdominal em adolescentes brasileiros. No presente estudo, a prevalência de obesidade abdominal (7,5%) foi relativamente baixa e se assemelhou àquela verificada por Cavalcanti et al(9) em estudantes (14-19 anos) da rede pública de ensino do estado de Pernambuco (6%). Por outro lado, Fernandes et al(10) verificaram que 14,8% dos escolares (11-17 anos) da rede pública e privada de Presidente Prudente (SP) apresentaram obesidade abdominal.

Apesar de os estudos citados terem utilizado o mesmo procedimento de identificação da obesidade abdominal, as comparações entre as prevalências encontradas devem ser vistas com cautela, particularmente, em virtude das diferenças relacionadas à composição da amostra. No presente estudo, não foram incluídos escolares da rede particular e do período noturno. Considerando-se que a prevalência de obesidade abdominal parece ser duas vezes maior nos estudantes da rede privada de ensino(10), a taxa obtida no presente estudo pode ter sido subestimada.

A obesidade abdominal foi independentemente associada ao sexo. Comparados às moças, os rapazes apresentaram 2,3 vezes (OR 2,3; IC95% 1,27-4,32) mais chances de possuírem obesidade abdominal. Aparentemente, essa relação é controversa em estudos com adolescentes brasileiros. Fernandes et al(10) verificaram que a prevalência de obesidade abdominal em adolescentes da região Sudeste foi similar em ambos os sexos (17,7 e 12,9% para rapazes e moças, respectivamente). No entanto, em uma amostra de adolescentes da região Nordeste, Cavalcanti et al(9) encontraram uma proporção significativamente maior de moças (6,7%) com obesidade abdominal quando comparadas aos rapazes (4,9%). Esses achados sugerem que a relação entre a obesidade abdominal e o sexo pode variar dependendo da região geográfica à qual pertence a amostra, sendo, portanto, suscetível aos aspectos ambientais e culturais de cada região. Vale ressaltar que esse quadro também é observado em relação à prevalência de excesso de peso corporal. Magalhães et al(22) verificaram que o risco de exposição ao excesso de peso foi notável em moças nordestinas, enquanto na região Sudeste, as moças apresentaram menor risco de possuírem excesso de peso quando comparadas aos rapazes.

Adolescentes pertencentes aos estratos econômicos intermediário e elevado apresentaram maiores chances de possuírem obesidade abdominal quando comparados aos seus pares de baixo nível econômico (OR 2,89 e 2,98, respectivamente). Fernandes et al(10) não observaram relação entre nível econômico e obesidade abdominal em escolares da cidade de Presidente Prudente (SP) (OR 1,89; IC95% 0,93-3,83). Entretanto, esses mesmos autores, ao analisarem uma variável proxy do nível econômico (tipo de escola), constataram que escolares da rede privada de ensino apresentaram um risco quase quatro vezes maior para a obesidade abdominal em relação aos escolares da rede pública.

Dentre as variáveis comportamentais, apenas o uso abusivo de bebidas alcoólicas se mostrou positiva e independenemente associada à obesidade abdominal (OR 2,12; IC95% 1,10-4,09). Um estudo internacional verificou que, em adolescentes do sexo feminino, o consumo de álcool, mesmo em baixos níveis, parece estar associado com o aumento do tecido adiposo visceral(23). Resultados similares também são observados em adultos, nos quais as investigações sugerem que o consumo excessivo de álcool está associado positivamente com a obesidade central(24,25).

Não foi verificada associação entre obesidade abdominal e atividade física nos adolescentes de Londrina (PR). Entretanto, a literatura tem apontado associação entre essas variáveis(26). Ortega et al(26), ao analisarem o nível de atividade física de crianças e adolescentes suecos por acelerometria, identificaram que jovens que praticavam atividade física de intensidade vigorosa apresentaram valores de CC inferiores aos dos jovens que exerciam atividades leves e moderadas.

Alguns aspectos metodológicos desse estudo devem ser considerados. Os pontos de corte utilizados para a identificação da obesidade abdominal são provenientes de uma amostra de crianças e de adolescentes neozelandeses. Entretanto, tais critérios vêm sendo empregados em outros estudos com essa temática, envolvendo adolescentes brasileiros(9,10). A utilização de um delineamento transversal não permite estabelecer uma relação de causa e efeito entre as variáveis de exposição (notadamente as variáveis comportamentais como o nível de atividade física e os hábitos alimentares) e o desfecho, podendo ocasionar possíveis causalidades reversas entre as associações. A utilização de questionários pode ter induzido algum viés de informação das exposições investigadas, o que, de certa forma, pode confundir algumas das associações entre as exposições e a variável desfecho. No presente estudo, esse confundimento pode ter afetado principalmente a relação entre a obesidade abdominal e o nível de atividade física, visto que a maioria dos instrumentos do tipo self-report disponíveis na literatura para a medida da atividade física em crianças e adolescentes apresenta pouca validade(27). Finalmente, a ingestão adequada de frutas e de verduras não representa necessariamente um consumo adequado de todos os macronutrientes de uma dieta, bem como uma ingestão calórica equilibrada. Portanto, a falta de associação entre a obesidade abdominal e o consumo de frutas e verduras não deve ser extrapolado para essas variáveis.

Em conclusão, os resultados apresentados indicam que a obesidade abdominal é ainda pouco prevalente em escolares do ensino médio diurno da cidade de Londrina (PR). Além disso, constatou-se que adolescentes do sexo masculino, de nível econômico intermediário e alto e que consomem bebida alcoólica em excesso possuem maiores chances de serem abdominalmente obesos. A implementação de programas de saúde em ambiente escolar pode auxiliar na prevenção do desenvolvimento da obesidade abdominal em escolares de diferentes faixas etárias.

Fonte financiadora: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) - bolsa de estudo outorgada

Conflito de interesse: nada a declarar

Recebido em: 17/8/2010

Aprovado em: 21/2/2011

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  • Endereço para correspondência:
    Marcelo Romanzini
    Rodovia Celso Garcia Cid, km 380 - Campus Universitário
    CEP 86051-990 - Londrina/PR
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      17 Fev 2012
    • Data do Fascículo
      Dez 2011

    Histórico

    • Aceito
      21 Fev 2011
    • Recebido
      17 Ago 2010
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