Avaliação dos conteúdos relacionados à nutrição contidos nos livros didáticos de biologia do ensino médio

Evaluación de los contenidos relacionados a la nutrición contenidos en los libros didácticos de biología de la secundaria

Resumos

OBJETIVO: Analizar los temas de nutrición contenidos en los libros didácticos de biología de la secundaria, comparando la calidad de las informaciones frente a los conocimientos actuales. MÉTODOS: Estudio transversal descriptivo en el que se evaluaron, de modo estructurado, todos los libros de biología recomendados para la secundaria por el Ministerio de la Educación. El análisis de cada libro se realizó según su contenido de nutrición a partir de una ficha de evaluación. Las variables evaluadas fueron seleccionadas mediante revisión de literatura, y se pudo clasificarlas en: Suficiente: cuando las variables analizadas estuvieran totalmente presentes en los libros didácticos y en concordancia con los conocimientos actuales; Insuficiente: cuando las variables analizadas estuvieran parcialmente presentes en los libros didácticos, en concordancia con los conocimientos actuales; Ausente: cuando el contenido no fuera abordado en el libro didáctico. Variables presentes, pero desactualizadas o incorrectas, fueron analizadas individualmente y de modo descriptivo. La técnica de «análisis de contenido» guió a ese trabajo. RESULTADOS: Todos los libros didácticos contenían informaciones sobre nutrición, pero, en su mayoría, se presentaban insuficientes para promover elecciones alimentarias conscientes y/o cambios de hábitos. Algunas informaciones estaban ausentes en algunos libros, como: hipovitaminose A y deficiencia de folato (100%), anemia ferropénica (89%), obesidad, deficiencia de iodo y pirámide de los alimentos (78%). CONCLUSIONES: La inserción de la educación nutricional en el currículum escolar y la revisión periódica para adecuación de los contenidos sobre nutrición en los libros didácticos son medidas coadyuvantes a la prevención de agravio a la salud de los futuros adultos.

nutrición del adolescente; libros; enseñanza

OBJECTIVE:To analyze the nutrition-related issues of high school Biology textbooks by comparing the available information with the current knowledge. METHODS: A cross-sectional descriptive study was undertaken to evaluate all the Biology textbooks recommended by the Ministry of Education for high school classes. The data collection was performed by a structured assessment tool to evaluate the content of each book. The content was classified as "sufficient", when all the variables analyzed were presented in the textbooks and in consonance with the current scientific literature; "insufficient", when they were partially presented in the textbooks and in consonance with current scientific literature; "absent", when the content was not available in the textbook. Variables available but outdated or incorrect were individually and descriptively assessed. The content analysis technique was employed in the present study. RESULTS: All the textbooks had nutrition-related information. However, most of them were insufficient to promote awareness of food choices and/or change of lifestyle. The following information was not available in the books: vitamin A and folate deficiency (100%), anemia due to iron deficiency (89%), obesity, iodine deficiency and food pyramid (78%). CONCLUSIONS: The insertion of nutritional education in the academic curriculum and the periodical review of nutrition-related issues presented in the textbooks may help the prevention of health problems among children and youth.

adolescent nutrition; books; teaching

ARTIGO ORIGINAL

Avaliação dos conteúdos relacionados à nutrição contidos nos livros didáticos de biologia do ensino médio

Tatiana Cristina Teixeira^I; Dirce Maria Sigulem^II; Ingrid Chaves Correia^III

Instituição: Programa de Pós-Graduação em Nutrição da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), São Paulo, SP, Brasil

^IMestre pelo Programa de Pós-Graduação em Nutrição da Escola Paulista de Medicina da Unifesp, São Paulo, SP, Brasil

^IIPós-Doutora pela Columbia Univesity, New York, EUA; Professora Adjunta da Unifesp, São Paulo, SP, Brasil

^IIIDoutoranda do Programa de Pós-Graduação em Nutrição da Escola Paulista de Medicina da Unifesp, São Paulo, SP, Brasil

^{Endereço para correspondência}

RESUMO

OBJETIVO: Analisar os temas de nutrição contidos nos livros didáticos de Biologia do ensino médio, comparando a qualidade das informações com os conhecimentos atuais.

MÉTODOS: Estudo transversal descritivo no qual foram avaliados, de forma estruturada, todos os livros de Biologia recomendados para o ensino médio pelo Ministério da Educação. A análise de cada livro foi realizada segundo o seu conteúdo de nutrição a partir de uma ficha de avaliação. As variáveis avaliadas foram selecionadas por meio de revisão de literatura, sendo classificadas em: "suficiente", quando estiveram totalmente presentes nos livros didáticos e em concordância com os conhecimentos atuais; "insuficiente", quando as variáveis analisadas estiveram parcialmente presentes nos livros didáticos, em concordância com os conhecimentos atuais; "ausente", quando o conteúdo não foi abordado no livro didático. Variáveis presentes, porém desatualizadas ou incorretas, foram analisadas individualmente e de forma descritiva. A técnica de "análise de conteúdo" norteou este trabalho.

RESULTADOS: Todos os livros didáticos continham informações sobre nutrição; porém, em sua maioria, apresentaram-se insuficientes para promover escolhas alimentares conscientes e/ou mudança de hábitos. Algumas informações estavam ausentes em alguns livros, como hipovitaminose A e deficiência de folato (100%), anemia ferropriva (89%), obesidade, deficiência de iodo e pirâmide dos alimentos (78%).

CONCLUSÕES: A inserção da educação nutricional no currículo escolar e a revisão periódica para adequação dos conteúdos sobre nutrição nos livros didáticos são medidas coadjuvantes à prevenção de agravos à saúde dos futuros adultos.

Palavras-chave: nutrição do adolescente; livros; ensino.

Introdução

A rápida urbanização do Brasil mudou completamente os modos tradicionais de vida da população⁽¹⁾. O hábito alimentar foi sendo modificado, caracterizando-se por padrões de consumo inadequados, com dietas ricas especialmente em gorduras saturadas, açúcar e sal^(2,3). Tais dietas, acompanhadas da inatividade física, contribuem para o desenvolvimento das doenças crônicas não transmissíveis^(3,4). Em paralelo, as doenças carenciais, como hipovitaminose A, anemia ferropriva, carência de ácido fólico e deficiência de iodo, ainda representam importante preocupação em Saúde Pública. Assim, a educação nutricional assume papel fundamental para reverter essa situação, sendo a escola o meio mais propício para promover a saúde⁽⁵⁾. A escola deve disseminar informações de saúde durante o curso fundamental e médio^(1,6).

O livro didático é um dos materiais educativos mais utilizados pelo professor e, muitas vezes, é a única fonte de conhecimento científico para o aluno; por isso, a avaliação de seu conteúdo é de extrema importância para analisar a situação de ensino no Brasil^(7,8). Nesse contexto, o objetivo deste estudo foi analisar os temas de nutrição contidos nos livros didáticos de Biologia do ensino médio, comparando a qualidade das informações frente aos atuais conhecimentos.

Método

Tratou-se de um estudo transversal descritivo, no qual se utilizou o método de análise de conteúdo, definido como um conjunto de técnicas de análise das comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos, objetivos e até quantitativos de descrição do conteúdo das mensagens^(9,10).

Para o desenvolvimento do estudo, realizou-se uma revisão de literatura, no período de novembro de 2006 a dezembro de 2008, referente aos hábitos de consumo, ao estado nutricional e à saúde da população brasileira, à transição nutricional, à alimentação saudável, à promoção de saúde e ao livro didático. Os idiomas utilizados para a pesquisa foram português, inglês e espanhol. As bases de dados pesquisadas foram: Medline, da National Library of Medicine, Scientific Eletronic Library Online (SciELO) e Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS).

A amostra do estudo foi constituída por 100% dos livros de Biologia (Quadro 1) que contemplam o universo dos livros recomendados para o ensino médio pelo Ministério de Educação, de acordo com a Portaria nº 501, de 14 de fevereiro de 2006⁽¹¹⁾, incluindo as nove coleções indicadas. Os livros didáticos inseridos no estudo foram doados pelas respectivas editoras ou comprados em livrarias.

O instrumento de coleta de dados foi elaborado após revisão de literatura, o que possibilitou a escolha de 16 variáveis fundamentais à aquisição de informações suficientes para promover práticas alimentares saudáveis. Essas variáveis foram divididas em dois grupos:

• Grupo 1 - variáveis consideradas essenciais ao entendimento e à prática da alimentação saudável (carboidratos, proteínas, gorduras, vitaminas, minerais, água, fibras, pirâmide dos alimentos e aleitamento materno).

• Grupo 2 - variáveis que podem motivar os indivíduos a modificarem suas práticas alimentares (doenças cardiovasculares, diabetes, obesidade, hipovitaminose A, deficiência de ácido fólico, anemia ferropriva e deficiência de iodo).

A análise de cada livro foi realizada segundo o seu conteúdo de nutrição, no qual foram avaliadas todas as informações referentes ao tema, na forma escrita, na ilustração e nos textos complementares. A análise ocorreu de forma estruturada, a partir da ficha de avaliação com as variáveis dos Grupos 1 e 2, as quais corresponderam às que agregam conhecimentos suficientes para promover escolhas alimentares conscientes. Tal ficha de avaliação dos livros didáticos foi elaborada a partir dos estudos de Rigodanzo e Unfer⁽¹²⁾, de Campos⁽¹³⁾ e de Silva et al⁽¹⁴⁾, que dão diretrizes e exemplos da utilização do método de análise de conteúdo. Cada variável do Grupo 1 foi analisada e considerou-se a presença ou a ausência do tema e das informações sobre Química/Bioquímica, consumo diário, fontes alimentares e funções de macro e micronutrientes, bem como sua relevância. As variáveis do Grupo 2 foram analisadas de acordo com a presença ou ausência de informações, etiologia, dietoterapia e relevância das variáveis. A relevância das variáveis de ambos os grupos foi classificada em três condições: "suficiente", "insuficiente" e "ausente", de acordo com a seguinte definição: Suficiente (variáveis analisadas presentes nos livros didáticos e em concordância com os conhecimentos atuais); Insuficiente (variáveis parcialmente presentes nos livros didáticos, em concordância com os conhecimentos atuais) e Ausente(conteúdo não foi abordado no livro didático). Variáveis presentes, porém desatualizadas ou incorretas, foram analisadas individualmente e de forma descritiva.

Os dados coletados foram analisados com base na abordagem quanti-qualitativa. A partir da ficha de avaliação, os dados brutos foram organizados em tabelas de contingência, e utilizou-se a estatística descritiva, com distribuição de frequência simples e cálculo da frequência relativa. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Resultados

Do total dos livros analisados (nove coleções), todos apresentaram tópicos referentes ao tema "nutrição", porém algumas informações consideradas essenciais à aquisição de conhecimentos sobre alimentação saudável, como minerais e fibras, apareceram com menor frequência.

As variáveis vitaminas e minerais estiveram presentes em apenas 33% dos livros analisados. Em relação às fibras, 89% dos livros não apresentaram alimentos fonte e 78% não indicaram o consumo diário de água. Quanto às funções, 100% dos livros relataram as funções das gorduras e apenas 22% relataram as funções das fibras (Tabela 1).

Quanto ao grau de relevância do conteúdo, foram classificadas como "suficiente" as informações relacionadas à água em apenas 11% dos livros analisados. As variáveis "carboidratos", "proteínas", "gorduras" e "vitaminas" foram consideradas 100% insuficientes e, em 67% dos livros, informações sobre fibras estiveram ausentes (Tabela 2). Já as variáveis "pirâmide dos alimentos" e "aleitamento materno" apresentaram, respectivamente,78 e 56% de ausência de informações (Tabelas 1 e 2).

Para as variáveis do Grupo 2, consideradas importantes para motivar a modificação de hábitos alimentares, o tema mais citado foi "doenças cardiovasculares", seguido de "diabetes", "obesidade", "deficiência de iodo" e "anemia ferropriva", sendo que os temas "hipovitaminose A" e "deficiência de ácido fólico" não foram citados em nenhuma das coleções analisadas (Tabela 3). Em relação à relevância das variáveis do Grupo 2, 33% dos livros abordaram suficientemente o tema "doenças cardiovasculares" e 11%, os temas "obesidade", "anemia ferropriva" e "deficiência de iodo" (Tabela 4).

Das variáveis analisadas, algumas foram abordadas nos livros didáticos sob a forma de "leitura complementar", tais como "aleitamento materno" em três coleções, "anemia ferropriva" e "fibras" em uma coleção, "obesidade", "deficiência de iodo" e "diabetes" em duas coleções e "doenças cardiovasculares" em cinco coleções. Em uma única coleção, a definição de alimentos diet foi abordada de forma incorreta: "Os alimentos diet são voltados para o público diabético e não apresentam açúcar em sua composição..."

Discussão

A reforma do ensino médio em 1996 e sua regulamentação em 1998 propuseram que este deveria educar para a vida, criando um elo entre o cotidiano e o processo de ensino-aprendizagem⁽¹⁵⁾. Visto que a alimentação é parte integrante e primordial do cotidiano de qualquer indivíduo e que erros implicam em inúmeros problemas à saúde, a alimentação deveria ser um tema fundamental para gerar conhecimentos e promover o desenvolvimento de práticas alimentares conscientes.

Os temas "minerais" e "fibras" são os que apareceram com menor frequência nos livros didáticos analisados. A anemia por deficiência de ferro é a alteração carencial de maior magnitude mundial, atingindo, atualmente, cerca de 35% da população humana⁽¹⁶⁾. Vieira e Ferreira⁽¹⁷⁾, em revisão sistemática de literatura seguida de metanálise, analisaram a prevalência de anemia ferropriva em crianças brasileiras e obtiveram, para crianças em escolas ou creches, prevalência de 35 a 68,8%, com média ponderada de 52%. Ou seja, a anemia ferropriva continua sendo uma das doenças mais prevalentes nas populações humanas⁽¹⁸⁾. Os adolescentes, por apresentarem necessidade nutricional aumentada, são grupo de risco para o desenvolvimento da anemia ferropriva, o que apoia a necessidade de relacionar o dia-a-dia do aluno ao conhecimento adquirido na escola.

As fibras solúveis, devido à sua viscosidade, retardam o esvaziamento gástrico, aumentando a sua distensão e prolongando a sensação de saciedade, o que favorece a menor ingestão de alimentos e, consequentemente, previne a obesidade⁽¹⁹⁾. É importante lembrar que, a cada ano, 2,6 milhões de pessoas morrem por estarem acima do peso ou por serem obesas⁽²⁰⁾. Além disso, as fibras solúveis são importantes para o controle do diabetes, pois tornam o trânsito intestinal mais lento, o que promove uma redução na absorção de glicose, diminuindo a sua taxa de difusão para a mucosa absorvente. As fibras também parecem impedir a interação enzima-substrato no lúmen, principalmente em relação à amilase pancreática⁽²¹⁾. Nesse sentido, a projeção para 2030 é de que 11,3 milhões de pessoas apresentarão diabetes no Brasil, passando da oitava para a sexta colocação entre os dez países com maiores índices de diabetes do mundo⁽²²⁾.

Vale ressaltar que as fibras também reduzem a absorção intestinal do colesterol dietético, aumentando a excreção fecal dos ácidos biliares e reduzindo a reabsorção destes, sendo o fígado forçado a degradar mais colesterol para produzir novos ácidos biliares⁽²³⁾. Os níveis totais de colesterol elevados são responsáveis pela morte de 4,4 milhões de pessoas a cada ano. A redução dos níveis de colesterol sanguíneo protege, de forma substancial, contra as doenças do coração. Uma redução de 10% nos níveis de colesterol em homens com 40 anos de idade pode diminuir em 50% o risco para as doenças do coração e, para 70 anos de idade, a média de redução é de 20%⁽²⁰⁾.

Diante dos dados sobre obesidade, diabetes e dislipidemias, pode-se verificar a importância do conhecimento sobre fibras e suas funções no organismo humano, bem como alimentos fonte e recomendações de consumo. Doenças cardiovasculares, diabetes e obesidade fazem parte do grupo das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e apresentaram índice elevado de ausência nos livros analisados. Quando o tema esteve presente, a informação foi considerada insuficiente para motivar escolhas alimentares conscientes. Estima-se que, em 2015, 388 milhões de pessoas morrerão de alguma doença crônica. E, ao contrário do que muitos pensam, um quarto das mortes por doenças crônicas ocorre em pessoas abaixo dos 60 anos de idade⁽²⁰⁾. Tal projeção poderia ser mudada a partir da aquisição de hábitos de vida saudável. O consumo diário recomendado para carboidratos, lipídios e proteínas, visto serem nutrientes energéticos, poderia ser abordado a partir da pirâmide alimentar, um instrumento que, se corretamente compreendido, orienta e informa a população, promovendo escolhas alimentares saudáveis; porém, esse tema esteve ausente da maioria dos livros didáticos⁽²⁴⁾.

Pessoas que se alimentam corretamente estão menos suscetíveis a doenças e conseguem manter o peso adequado sem precisar de restrições alimentares rigorosas⁽²⁴⁾. A pirâmide alimentar poderia atuar como instrumento para a seleção adequada de alimentos e propiciar meios para motivar a mudança das práticas alimentares entre os adolescentes, com o intuito de promover mudanças nos perfis de saúde da população futura.

O tema "hipovitaminose A" esteve ausente nos livros didáticos analisados. A deficiência de vitamina A é reconhecida não apenas pelos danos que pode causar à visão, mas por aumentar a mortalidade infantil e materna. Cerca de 21% das crianças do mundo apresentam hipovitaminose A e, aproximadamente, 800 mil mortes de crianças e mulheres em idade reprodutiva são atribuídas à deficiência de vitamina A⁽²⁵⁾.

A deficiência de iodo foi abordada em apenas 22% dos livros. Atualmente, a mesma, está controlada; porém, em regiões isoladas, existem indivíduos que apresentam bócio como consequência dessa deficiência, provavelmente pelo consumo de sal destinado à alimentação animal. Em 2006, havia 47 países nos quais os distúrbios relacionados à deficiência de iodo representavam um problema de Saúde Pública, caracterizando um decréscimo em comparação com 54 países em 2004 e 126, em 1993⁽²⁶⁾.

O ácido fólico é essencial para reações metabólicas, porém implicações de sua deficiência não foram citadas em nenhum dos livros analisados. Mulheres grávidas e em idade reprodutiva são classificadas como grupo de risco para carência do folato, sendo os defeitos do tubo neural - tais como anencefalia e a espinha bífida - os mais graves defeitos do nascimento⁽²⁷⁾. Deve-se ressaltar que as carências nutricionais no Brasil ainda são preocupantes e têm consequências, muitas vezes, irreversíveis. A preocupação com o hábito alimentar inadequado na infância e na adolescência, além dos problemas causados, reside também na sua manutenção na idade adulta⁽²⁸⁾.

Quanto a outro tema de extrema importância - a água -, embora presente em todos os livros, notou-se recomendação de consumo diário em apenas 22% deles. A ingestão diária de água é crucial para a saúde humana, desempenhando papel fundamental na regulação do organismo, podendo-se citar o controle da temperatura, o transporte de nutrientes, a eliminação de substâncias tóxicas ou aquelas não utilizadas pelo organismo e a participação nos processos digestivo, respiratório, cardiovascular e renal. Recomenda-se para adultos o consumo de 1mL/kcal de energia gasta e, para crianças, de 1,5mL/kcal de energia gasta por dia⁽¹⁾.

Conceitos básicos sobre aleitamento materno estavam ausentes em mais da metade dos livros analisados. Embora a prevalência de aleitamento materno em nosso país esteja aumentando ao longo dos anos, 35% das crianças até o sexto mês de idade ainda não são amamentadas⁽²⁹⁾. O aleitamento materno deveria ser a primeira prática alimentar a ser estimulada para a promoção da saúde, formação de hábitos alimentares saudáveis e prevenção de muitas doenças⁽¹⁾, pois o leite materno tem uma composição nutricional específica que acompanha as necessidades da criança durante o seu crescimento, confere proteção contra infecções e diarreia, fortalece a musculatura facial e da boca - prevenindo futuros problemas na fala e na oclusão dos dentes⁽²⁸⁾, melhora a velocidade de crescimento do lactente e parece ter efeito protetor contra a obesidade infantil, reduzindo suas repercussões na adolescência e na idade adulta^(30,31). A inserção de maneira mais efetiva desse tema nos livros didáticos atuaria como meio para a prevenção de doenças.

Em relação aos temas abordados sob a forma de leitura complementar, fica um questionamento: "Será que esses temas são citados e discutidos em sala de aula ou são apenas indicados como leitura para casa, sem cobrança posterior?" A resposta para tal questionamento pode mudar completamente a forma de assimilação desse conceito e diminuir a possibilidade de mudança de hábitos, pois a tarefa de casa pode não ser realizada.

A definição de alimentos diet, de acordo com a Portaria nº 29, de 13 de janeiro de 1998⁽³²⁾, é: "O termo diet pode, opcionalmente, ser utilizado em duas situações, para alimentos com restrição de nutrientes e para alimentos destinados à ingestão controlada de nutrientes, nos casos de controle de peso ou dietas de ingestão controlada de açúcar." Dessa forma, verifica-se que a informação sobre alimentos diet apresentada em uma das coleções analisadas está incorreta, pois, além de alimentos diet não estarem relacionados somente à restrição de açúcares, também não são alimentos destinados exclusivamente a diabéticos.

Por representarem importante veículo de informações a todos os alunos da rede pública de ensino, devido ao Programa Nacional do Livro Didático⁽³³⁾, os livros didáticos, especialmente os de Biologia, deveriam conter conceitos relevantes para aquisição de conhecimento e talvez para a prática de hábitos saudáveis. É nesse sentido que o livro didático assume real importância em um processo de educação nutricional na escola, já que esse ambiente é propício para promover a saúde de adolescentes. A meta da educação nutricional é desenvolver estratégias sistematizadas para valorizar a alimentação, além de modificar crenças, valores, atitudes, representações, práticas e relações sociais que se estabelecem em torno da alimentação^(5,34). Neumark-Sztainer et al⁽³⁵⁾ relatam que os professores podem facilitar a educação nutricional e o desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis por disseminação de informações nutricionais, a partir de interações formais, e servir como modelo, por meio de interações informais. Porém, muitos professores não têm treinamento em nutrição e podem transmitir informações incorretas ou modelos de comportamentos dietéticos inadequados. Os indivíduos, enquanto cidadãos, necessitam e têm o direito de receber informações sobre saúde, o que inclui nutrição, para atuarem positivamente nos programas governamentais de combate às carências nutricionais e às doenças relacionadas à Saúde Pública. Além da responsabilidade do governo, o indivíduo exerce a sua cidadania quando bem informado.

Diante dos fatos apresentados e dos resultados obtidos com o estudo, concluiu-se que as informações sobre nutrição contidas nos livros didáticos de Biologia do ensino médio são insuficientes para influenciar a mudança de hábitos alimentares por meio da aquisição de conhecimentos. Paradoxalmente, o livro didático, uma importante ferramenta para disseminar conhecimentos sobre nutrição (ao alcance de milhões de adolescentes), não está sendo suficientemente utilizado no processo de educação nutricional e de promoção da saúde. Os adolescentes de nosso país ainda carecem de orientações suficientes para mudar a tendência ao crescimento das DCNT e das carências nutricionais, o que potencializa os agravos à saúde da população futura. Medidas coadjuvantes à prevenção de agravos à saúde dos futuros adultos precisam ser adotadas com urgência por meio da inserção da educação nutricional no currículo escolar e da revisão dos conteúdos contidos nos livros didáticos, visto ser o conhecimento um degrau para o exercício da cidadania, efetivando ações governamentais no que se refere à Saúde Pública.

Conflito de interesse: nada a declarar

Recebido em: 29/9/2010

Aprovado em: 2/2/2011

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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  17 Fev 2012
• Data do Fascículo
  Dez 2011

Histórico

• Recebido
  29 Set 2010
• Aceito
  02 Fev 2011