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Faringotonsilite estreptocócica: necessidade do uso de testes microbiológicos para diagnóstico preciso

EDITORIAL

Faringotonsilite estreptocócica: necessidade do uso de testes microbiológicos para diagnóstico preciso

Maria Isabel de Moraes-Pinto

Professora Livre Docente do Departamento de Pediatria; Chefe do Laboratório de Pesquisas da Disciplina de Infectologia Pediátrica da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), São Paulo, SP, Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Maria Isabel de M. Pinto Laboratório de Pesquisas Disciplina de Infectologia Pediátrica Rua Pedro de Toledo, 781, 9º andar CEP 04039-032 - São Paulo/SP E-mail: m.isabelmp@uol.com.br

Faringotonsilite aguda é uma infecção comum na faixa etária pediátrica, facilmente reconhecida por meio da anamnese e exame físico. É de etiologia viral, na maioria dos casos, sendo causada pelo estreptococo beta-hemolítico do grupo A (EBHA) somente em 20 a 30% dos quadros que ocorrem em crianças(1,2).

Devido à baixa sensibilidade e especificidade da avaliação clínica no diagnóstico etiológico de infecção pelo EBHA, diversas entidades médicas, tais como a Sociedade Brasileira de Pediatria e a Academia Americana de Pediatria, recomendam atualmente que o diagnóstico de faringotonsilite em pacientes com suspeita clínico-epidemiológica de infecção pelo EBHA seja confirmado por meio do uso de técnicas microbiológicas(3,4).

Esta necessidade é claramente demonstrada em estudo prospectivo publicado neste número da Revista Paulista de Pediatria, por Cardoso et al(5). Avaliando 650 crianças e adolescentes, os autores mostram que o diagnóstico etiológico de faringotonsilite causada pelo EBHA, se baseado unicamente em dados clínicos, tem baixa sensibilidade e especificidade, diferentemente do que acontece com o diagnóstico realizado por meio da prova rápida para pesquisa de EBHA em secreção de orofaringe(5).

Cardoso et al (2012) demonstram que, também em nosso meio, e à semelhança de outro trabalho realizado no Brasil(6), as técnicas microbiológicas têm utilidade para determinar a conduta frente a um caso de faringotonsilite aguda(5). Como se sabe, o tratamento com antibióticos visa à prevenção da febre reumática aguda, de complicações supurativas, como abscesso peritonsilar e linfadenite cervical, além de diminuir o tempo de doença e o período de transmissão para os contatos próximos(4). Por outro lado, o tratamento inapropriado da faringotonsilite aguda com antibióticos é um dos fatores que contribuem para o aumento da incidência de resistência antimicrobiana(7,8).

O estudo de Cardoso et al(5) está sendo publicado no momento em que a Sociedade Americana de Doenças Infecciosas acaba de lançar uma atualização da sua orientação de conduta para o diagnóstico e tratamento de faringite estreptocócica do grupo A, em que se reforça o uso do teste rápido e/ou da cultura de secreção de orofaringe para o correto diagnóstico etiológico da faringotonsilite estreptocócica(9).

Ao comentarem o uso indiscriminado de antibióticos em nossos dias, Gonzáles et al(10) sugerem que isto seja o resultado da falha em colocar uma evidência em prática. No caso da faringotonsilite estreptocócica, as evidências tanto fora do Brasil quanto em nosso meio(5,6) parecem apontar para a necessidade do uso de testes microbiológicos para a realização de um diagnóstico mais preciso.

Recebido em: 19/11/2012

Conflito de interesse: nada a declarar

  • 1. Bisno AL. Acute pharyngitis: etiology and diagnosis. Pediatrics 1996;97:949-54.
  • 2. Ebell MH, Smith MA, Barry HC, Ives K, Carey M. The rational clinical examination. Does this patient have strep throat? JAMA 2000;284:2912-8.
  • 3. Nascimento-Carvalho CM, Marques HH. Recomendação do departamento de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria para conduta de crianças e adolescentes com faringoamigdalites agudas. J Pediatr (Rio J) 2006;82:79-80.
  • 4. American Academy of Pediatrics. In: Pickering LK, Baker CJ, Kimberlin DW, Long SS, editors. Group A streptococcal infections. Red Book: 2012. Report of the Committee on Infectious Diseases. 29th ed. Elk Groove Village: American Academy of Pediatrics; 2012. p. 668-80.
  • 5. Cardoso DM, Gilio AE, Hsin SH, Machado BM, De Paulis M, Lotufo JP et al. Impacto do uso da prova rápida para estreptococo beta hemolítico do grupo A no diagnóstico e tratamento da faringotonsilite aguda em Pronto Socorro de Pediatria. Rev Paul Pediatr 2013;31:4-9.
  • 6. dos Santos AG, Berezin EN. Comparative analysis of clinical and laboratory methods for diagnosing streptococcal sore throat. J Pediatr (Rio J) 2005;81:23-8.
  • 7. Grijalva CG, Nuorti JP, Griffin MR. Antibiotic prescription rates for acute respiratory tract infections in US ambulatory settings. JAMA 2009;302:758-66.
  • 8. Butler CC, Simpson SA, Dunstan F, Rollnick S, Cohen D, Gillespie D et al Effectiveness of multifaceted educational programme to reduce antibiotic dispensing in primary care: practice based randomized controlled trial. BMJ 2012; 344:d8173.
  • 9. Shulman ST, Bisno AL, Clegg HW, Gerber MA, Kaplan EL, Lee G et al Clinical practice guideline for the diagnosis and management of group a streptococcal pharyngitis: 2012 update by the infectious diseases society of america. Clin Infect Dis 2012;55:e86-e102.
  • 10. Gonzales R, Ackerman S, Handley M. Can Implementation Science help to overcome challenges in translating judicious antibiotic use into practice? Arch Intern Med 2012;172:1471-3.
  • Endereço para correspondência:
    Maria Isabel de M. Pinto
    Laboratório de Pesquisas
    Disciplina de Infectologia Pediátrica
    Rua Pedro de Toledo, 781, 9º andar
    CEP 04039-032 - São Paulo/SP
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      19 Abr 2013
    • Data do Fascículo
      Mar 2013
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