Acessibilidade / Reportar erro

Cardiopatias congênitas e cromossomopatias detectadas por meio do cariótipo

Resumos

OBJETIVO:

Realizar uma revisão da literatura sobre a relação das cardiopatias congênitas com anormalidades cromossômicas detectadas por meio do exame de cariótipo.

FONTES DE DADOS:

Pesquisaram-se artigos científicos no portal MEDLINE, utilizando-se os descritores "karyotype" OR "chromosomal" OR "chromosome" AND "heart defects, congenital". A pesquisa limitou-se a artigos publicados em inglês a partir da década de 1980.

SÍNTESE DOS DADOS:

As cardiopatias congênitas são um grupo de lesões etiologicamente heterogêneo e pouco compreendido. Vários pesquisadores avaliaram a presença de anormalidades cromossômicas detectadas pelo exame de cariótipo em pacientes portadores de cardiopatia congênita. Porém, a maioria dos artigos era composta de trabalhos retrospectivos desenvolvidos na Europa, nos quais nem todos os pacientes foram submetidos à avaliação cariotípica. Nesta revisão, encontrou-se apenas um estudo desenvolvido na América Latina, no Brasil. Sabe-se que anormalidades cromossômicas são frequentes, estando presentes em cerca de um em cada dez pacientes com cardiopatia congênita. Dentre as alterações observadas, destaca-se a trissomia do cromossomo 21 (síndrome de Down). Esses pacientes frequentemente apresentam malformações extracardíacas associadas e risco maior de morbidade e mortalidade, tornando a cirurgia cardíaca ainda mais arriscada.

CONCLUSÕES:

Apesar de todos os avanços ocorridos nas últimas décadas na área da citogenética, o exame de cariótipo continua sendo uma ferramenta fundamental para se avaliarem pacientes com cardiopatia congênita. O exame físico dismorfológico minucioso é de grande importância para indicar a realização do cariótipo.

cardiopatias congênitas; cariótipo; síndrome de Down; trissomia; aberrações cromossômicas


OBJECTIVE:

To review the relationship between congenital heart defects and chromosomal abnormalities detected by the karyotype.

DATA SOURCES:

Scientific articles were searched in MEDLINE database, using the descriptors "karyotype" OR "chromosomal" OR "chromosome" AND "heart defects, congenital". The research was limited to articles published in English from 1980 on.

DATA SYNTHESIS:

Congenital heart disease is characterized by an etiologically heterogeneous and not well understood group of lesions. Several researchers have evaluated the presence of chromosomal abnormalities detected by the karyotype in patients with congenital heart disease. However, most of the articles were retrospective studies developed in Europe and only some of the studied patients had a karyotype exam. In this review, only one study was conducted in Latin America, in Brazil. It is known that chromosomal abnormalities are frequent, being present in about one in every ten patients with congenital heart disease. Among the karyotype alterations in these patients, the most important is the trisomy 21 (Down syndrome). These patients often have associated extra-cardiac malformations, with a higher risk of morbidity and mortality, which makes heart surgery even more risky.

CONCLUSIONS:

Despite all the progress made in recent decades in the field of cytogenetic, the karyotype remains an essential tool in order to evaluate patients with congenital heart disease. The detailed dysmorphological physical examination is of great importance to indicate the need of a karyotype.

heart defects, congenital; karyotype; Down syndrome; trisomy; chromosome aberrations


OBJETIVO:

Realizar una revisión de la literatura sobre la relación de las cardiopatías congénitas con anormalidades cromosómicas detectadas por medio del examen de cariotipo.

FUENTES DE DATOS:

Se investigaron artículos científicos en el portal MEDLINE, utilizándose los descriptores "karyotype", OR "chromosomal" OR "chromosome" AND "heart defects, congenital". La investigación se limitó a artículos publicados en inglés a partir de la década de los 1980.

SÍNTESIS DE LOS DATOS:

Las cardiopatías congénitas son un grupo de lesiones etiológicamente heterogéneo y poco comprendido. Varios investigadores evaluaron la presencia de anormalidades cromosómicas detectadas por el examen de cariotipo en pacientes portadores de cardiopatía congénita. Sin embargo, la mayoría de los artículos estaba compuesta por trabajos retrospectivos desarrollados en Europa, en los que no todos los pacientes fueron sometidos a la evaluación cariotípica. En esta revisión, se encontró solamente un estudio desarrollado en Latinoamérica, en Brasil. Se sabe que anormalidades cromosómicas son frecuentes, estando presentes en aproximadamente uno a cada diez pacientes con cardiopatía congénita. Entre las alteraciones observadas, se destaca la trisomía del cromosoma 21 (síndrome de Down). Esos pacientes frecuentemente presentan malformaciones extracardíacas asociadas y riesgo más grande de morbidez y mortalidad, lo que hace la cirugía cardíaca todavía más arriesgada.

CONCLUSIONES:

A pesar de todos avances ocurridos las últimas décadas en el área de la citogenética, el examen de cariotipo sigue siendo una herramienta fundamental para evaluar pacientes con cardiopatía congénita. El examen físico dismorfológico minucioso, realizado por un pediatra experimentado o por un geneticista, es de gran importancia para indicar la realización del examen.

cardiopatías congénitas; cariotipo; síndrome de Down; trisomía; anomalías cromosómicas


Introdução

As malformações congênitas são detectadas em aproximadamente 3 a 5% dos recém-nascidos( 11. Robinson A, Linden MG. Clinical genetics handbook. 2nd ed. Boston: Blackwell Science Inc; 1994. ), sendo que um em cada 33 possui anormalidades graves( 22. Amorim LF, Pires CA, Lana AM, Campos AS, Aguiar RA, Tibúrcio JD et al. Presentation of congenital heart disease diagnosed at birth: analysis of 29,770 newborn infants. J Pediatr (Rio J) 2008;84:83-90. ). Malformações maiores são aquelas que causam efeito adverso na aceitabilidade social do indivíduo ou na função de um determinado órgão ou sistema( 33. Kramer HH, Majewski F, Trampisch HJ, Rammos S, Bourgeois M. Malformation patterns in children with congenital heart disease. Am J Dis Child 1987;141:789-95. ). Por outro lado, malformações menores não apresentam significado estético ou funcional para o indivíduo afetado, sendo esse um achado estrutural visto em menos de 4% da população geral. Contudo, algumas anomalias menores podem ser marcadoras externas de anomalias maiores específicas, eventualmente ocultas. Dessa maneira, a maioria das síndromes poderia ser reconhecida pelo geneticista clínico se fossem levados em consideração esses padrões de anomalias menores. O exame dismorfológico, portanto, poderia auxiliar na decisão de se realizar investigação complementar, como, por exemplo, por meio do cariótipo( 44. Hoyme HE. Minor anomalies: diagnostic clues to aberrant human morphogenesis. Genetica 1993;89:307-15. ).

Dentre as malformações congênitas mais frequentes, destacam-se as cardiopatias congênitas, compostas por alterações estruturais e funcionais do coração presentes ao nascer, independentemente do momento do diagnóstico. As cardiopatias congênitas são um grupo heterogêneo de lesões com consequências hemodinâmicas variadas, necessitando de diferentes seguimentos e intervenções( 55. Van der Bom T, Zomer AC, Zwinderman AH, Meijboom FJ, Bouma BJ, Mulder BJ. The changing epidemiology of congenital heart disease. Nat Rev Cardiol 2011;8:50-60. ). Estudos demonstram que a incidência das cardiopatias congênitas pode variar de quatro a 14 por 1.000 nascidos vivos( 66. Hoffman JI, Kaplan S. The incidence of congenital heart disease. J Am Coll Cardiol 2002;39:1890-900.

7. Pinto Junior VC, Daher CV, Sallum FS, Jatene MB, Croti UA. The situation of congenital heart surgeries in Brazil. Braz J Cardiovasc Surg 2004;19:3-6.
- 88. Ransom J, Srivastava D. The genetics of cardiac birth defects. Semin Cell Dev Biol 2007;18:132-9. ). No Brasil, descreveu-se uma prevalência que varia de cinco a 12 por 1.000 nascidos vivos( 22. Amorim LF, Pires CA, Lana AM, Campos AS, Aguiar RA, Tibúrcio JD et al. Presentation of congenital heart disease diagnosed at birth: analysis of 29,770 newborn infants. J Pediatr (Rio J) 2008;84:83-90. , 99. Guitti JC. Epidemiological characteristics of congenital heart diseases in Londrina, Paraná south Brazil. Arq Bras Cardiol 2000;74:395-404. , 1010. Hagemann LL, Zielinsky P. Rastreamento populacional de anormalidades cardíacas fetais por ecocardiografia pré-natal em gestações de baixo risco no município de Porto Alegre. Arq Bras Cardiol 2004;82:313-9. ). Essas variações podem ser explicadas por diversos fatores, como a ocorrência de defeitos letais que impossibilitam o nascimento vivo do concepto e a não inclusão de defeitos cardíacos menores. Estudos demonstram que a cardiopatia congênita pode ser responsável por cerca de 40% de todos os defeitos congênitos, sendo considerada uma das malformações mais frequentes( 1111. Acharya G, Sitras V, Maltau JM, Dahl LB, Kaaresen PI, Hanssen TA et al. Major congenital heart disease in Northern Norway: shortcomings of pre- and postnatal diagnosis. Acta Obstet Gynecol Scand 2004;83:1124-9. , 1212. Jenkins KJ, Correa A, Feinstein JA, Botto L, Britt AE, Daniels SR et al. Noninherited risk factors and congenital cardiovascular defects: current knowledge: a scientific statement from the American Heart Association Council on Cardiovascular Disease in the Young: endorsed by the American Academy of Pediatrics. Circulation 2007;115:2995-3014. ). No Brasil, apesar de sua grande extensão geográfica, dispõem-se de 12 centros especializados tanto no diagnóstico quanto no tratamento de pacientes com cardiopatia congênita( 1313. Pedra CA, Haddad J, Pedra SF, Peirone A, Pilla CB, Marin-Neto JA. Paediatric and congenital heart disease in South America: an overview. Heart 2009;95:1385-92. ). A necessidade média de cirurgia cardiovascular em congênitos no Brasil é da ordem de 23.077 procedimentos por ano. Contudo, a rede de saúde instalada não é suficiente e, em 2002, por exemplo, houve um déficit de cirurgias que chegou a 65%( 77. Pinto Junior VC, Daher CV, Sallum FS, Jatene MB, Croti UA. The situation of congenital heart surgeries in Brazil. Braz J Cardiovasc Surg 2004;19:3-6. ).

Assim, as cardiopatias congênitas ainda representam um problema maior de Saúde Pública pelo mundo, sendo a principal causa de morte entre malformações congênitas( 1212. Jenkins KJ, Correa A, Feinstein JA, Botto L, Britt AE, Daniels SR et al. Noninherited risk factors and congenital cardiovascular defects: current knowledge: a scientific statement from the American Heart Association Council on Cardiovascular Disease in the Young: endorsed by the American Academy of Pediatrics. Circulation 2007;115:2995-3014. ). Defeitos cardíacos graves e moderadamente graves perfazem cerca de três a seis em cada 1.000 nascidos vivos e caracterizam-se pela necessidade de cuidados intensivos e cirúrgicos mais complexos( 66. Hoffman JI, Kaplan S. The incidence of congenital heart disease. J Am Coll Cardiol 2002;39:1890-900. , 1111. Acharya G, Sitras V, Maltau JM, Dahl LB, Kaaresen PI, Hanssen TA et al. Major congenital heart disease in Northern Norway: shortcomings of pre- and postnatal diagnosis. Acta Obstet Gynecol Scand 2004;83:1124-9. , 1414. Dolk H, Loane M, Garne E; European Surveillance of Congenital Anomalies (EUROCAT) Working Group. Congenital heart defects in Europe: prevalence and perinatal mortality, 2000 to 2005. Circulation 2011;123:841-9. ). Esses defeitos representam uma importante causa de admissão e de mortalidade em unidades pediátricas de tratamento intensivo( 1515. Thulstrup AM, Bonde JP. Maternal occupational exposure and risk of specific birth defects. Occup Med (Lond) 2006;56:532-43. ). No Rio Grande do Sul, contudo, a maioria das unidades de tratamento intensivo encontra-se superlotada e, muitas vezes, não possui equipamentos e profissionais especializados para o diagnóstico diferencial, nem condições para o tratamento cirúrgico de pacientes portadores de cardiopatia congênita( 1010. Hagemann LL, Zielinsky P. Rastreamento populacional de anormalidades cardíacas fetais por ecocardiografia pré-natal em gestações de baixo risco no município de Porto Alegre. Arq Bras Cardiol 2004;82:313-9. ). Isso pode dever-se ao fato de que países menos desenvolvidos possuem outras prioridades relacionadas à saúde, incluindo a prevenção da desnutrição e promoção de campanhas de vacinação( 1313. Pedra CA, Haddad J, Pedra SF, Peirone A, Pilla CB, Marin-Neto JA. Paediatric and congenital heart disease in South America: an overview. Heart 2009;95:1385-92. ).

Sabe-se que o coração é o primeiro órgão a ser formado no embrião, sendo fundamental para o provimento de oxigênio e nutrientes para o desenvolvimento fetal( 88. Ransom J, Srivastava D. The genetics of cardiac birth defects. Semin Cell Dev Biol 2007;18:132-9. ). Sua formação é complexa e ocorre durante diversas semanas da vida embrionária, tornando-o vulnerável à ocorrência de falhas no desenvolvimento( 1515. Thulstrup AM, Bonde JP. Maternal occupational exposure and risk of specific birth defects. Occup Med (Lond) 2006;56:532-43. ). As cardiopatias congênitas são consideradas malformações etiologicamente heterogêneas e pouco compreendidas( 1616. Harris JA, Francannet C, Pradat P, Robert E. The epidemiology of cardiovascular defects, part 2: a study based on data from three large registries of congenital malformations. Pediatr Cardiol 2003;24:222-35. , 1717. Fahed AC, Gelb BD, Seidman JG, Seidman CE. Genetics of congenital heart disease: the glass half empty. Circ Res 2013;112:707-20. ). Apenas cerca de 15-20% dos casos são atribuídos a causas conhecidas( 55. Van der Bom T, Zomer AC, Zwinderman AH, Meijboom FJ, Bouma BJ, Mulder BJ. The changing epidemiology of congenital heart disease. Nat Rev Cardiol 2011;8:50-60. , 1818. Blue GM, Kirk EP, Sholler GF, Harvey RP, Winlaw DS. Congenital heart disease: current knowledge about causes and inheritance. Med J Aust 2012;197:155-9. ) e, dentre elas, destacam-se as anormalidades cromossômicas( 1717. Fahed AC, Gelb BD, Seidman JG, Seidman CE. Genetics of congenital heart disease: the glass half empty. Circ Res 2013;112:707-20. , 1919. Stoll C, Alembik Y, Roth MP, Dott B, De Geeter B. Risk factors in congenital heart disease. Eur J Epidemiol 1989;5:382-91. ), que são mais frequentes em pacientes com cardiopatia congênita do que na população em geral( 1616. Harris JA, Francannet C, Pradat P, Robert E. The epidemiology of cardiovascular defects, part 2: a study based on data from three large registries of congenital malformations. Pediatr Cardiol 2003;24:222-35. , 2020. Marino B, Digilio MC. Congenital heart disease and genetic syndromes: specific correlation between cardiac phenotype and genotype. Cardiovasc Pathol 2000;9:303-15. , 2121. Prasad C, Chudley AE. Genetics and cardiac anomalies: the heart of the matter. Indian J Pediatr 2002;69:321-32. ).

Os primeiros passos para o desenvolvimento do cariótipo começaram a ser dados com o entendimento da ação da colchicina e do tratamento hipotônico sobre as células, ocorridos na primeira metade do século 20. A determinação do número correto de cromossomos humanos nas células somáticas (n=46) por Tjio e Levan, em 1959( 2222. 22. Tjio JH, Levan A. The chromosome number of man. Hereditas 1956;42:1-6. ), foi a base para se identificarem as síndromes cromossômicas. Em 1959, Lejeune et al descreveram a primeira trissomia de cromossomos autossômicos, em um caso de síndrome de Down( 2323. Lejeune J, Gautier M, Turpin R. Étude des chromosomes somatiques de neuf enfants mongoliens. C R Hebd Seances Acad Sci 1959;248:1721-2. ). Algumas décadas depois, a introdução das técnicas de coloração longitudinal dos cromossomos, conhecidas como "bandamento"( 2424. Caspersson T, Zech L, Johansson C. Differential binding of alkylating fluorochromes in human chromosomes. Exp Cell Res 1970;60:315-9. ), e o surgimento das técnicas de alta resolução cromossômica( 2525. Yunis JJ. New chromosomes techniques in the study of human neoplasia. Hum Pathol 1981;12:540-9. ) fizeram com que as alterações cromossômicas numéricas e estruturais passassem a ser mais bem reconhecidas e diagnosticadas. Como visto pela sua descrição histórica, o cariótipo é um exame considerado quase artesanal, baseado no cultivo de células (usualmente do sangue), que possui inúmeras etapas e, por isso, é potencialmente sujeito a falhas (devido, por exemplo, à forma de coleta do material), além de os resultados serem obtidos algumas semanas depois da coleta do exame( 2626. Smeets DF. Historical prospective of human cytogenetics: from microscope to microarray. Clin Biochem 2004;37:439-46. ).

Com o desenvolvimento das sondas de DNA e das técnicas de hibridização in situ fluorescente (fluorescence in situ hybridization - FISH), cariotipagem espectral (SKY) e hibridização genômica comparativa (CGH), a partir da década de 1980, criou-se um novo conceito, o da citogenética molecular( 2626. Smeets DF. Historical prospective of human cytogenetics: from microscope to microarray. Clin Biochem 2004;37:439-46. , 2727. Jauch A, Daumer C, Lichter P, Murken J, Schroeder-Kurth T, Cremer T. Chromosomal in situ suppression hybridization of human gonosomes and autosomes and its use in clinical cytogenetics. Hum Genet 1990;85:145-50. ). Essas novas técnicas possibilitaram a identificação de alterações complexas e sutis, como deleções e duplicações muito pequenas (microdeleções e microduplicações, respectivamente), que podem escapar à análise cromossômica padrão por meio do cariótipo. Outra vantagem em relação ao exame de cariótipo é que muitas delas podem não necessitar de cultivo celular para análise, agilizando os resultados( 2626. Smeets DF. Historical prospective of human cytogenetics: from microscope to microarray. Clin Biochem 2004;37:439-46. , 2828. Bejjani BA, Shaffer LG. Clinical utility of contemporary molecular cytogenetics. Annu Rev Genomics Hum Genet 2008;9:71-86. ). Essas técnicas apresentam alto custo, superior ao do cariótipo, porém sua implementação permitiu a identificação de novas condições, como a síndrome de deleção 22q11, também conhecida como síndrome velocardiofacial ou DiGeorge, uma doença genética bastante relacionada às cardiopatias congênitas e que, na maioria das vezes, escapa à detecção por meio do cariótipo( 2929. Rosa RF, Pilla CB, Pereira VL, Flores JA, Golendziner E, Koshiyama DB et al. 22q11.2 deletion syndrome in patients admitted to a cardiac pediatric intensive care unit in Brazil. Am J Med Genet A 2008;146A:1655-61.

30. Rosa RF, Zen PR, Roman T, Graziadio C, Paskulin GA. 22q11.2 deletion syndrome: catching the CATCH22. Rev Paul Pediatr 2009;27:211-20.

31. Rosa RF, Trevisan P, Koshiyama DB, Pilla CB, Zen PR, Varella-Garcia M et al. 22q11.2 deletion syndrome and complex congenital heart defects. Rev Assoc Med Bras 2011;57:62-5.
- 3232. Rosa RFM, Zen PRG, Graziadio C, Paskulin GA. Síndrome de deleção 22q11.2 e cardiopatias congênitas. Rev Paul Pediatr 2011;29:251-60. ).

Contudo, apesar de todos os avanços, o cariótipo, mesmo com suas limitações, continua a ser uma ferramenta fundamental na avaliação genética dos pacientes, incluindo aqueles com cardiopatia congênita. O cariótipo se aplica principalmente àqueles pacientes que apresentam anomalias menores ou outras alterações maiores extracardíacas. Como visto, estas podem ser marcadoras de condições eventualmente ocultas, como algumas síndromes. Daí a importância da avaliação dismorfológica para melhor selecionar os casos a serem testados. Em nosso meio, o cariótipo também é um dos únicos exames de avaliação dos cromossomos disponível na rede pública de atendimento em saúde, o Sistema Único de Saúde (SUS). O Estado de Santa Catarina disponibiliza também a avaliação por meio da CGH. Infelizmente, a disponibilidade de realização de cariótipo no âmbito do SUS é muito aquém das necessidades da população brasileira.

Nesse contexto, o objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão da literatura sobre a relação das cardiopatias congênitas com anormalidades cromossômicas detectadas por meio do exame de cariótipo.

Método

Vários pesquisadores avaliaram, em diferentes estudos, a presença de anormalidades cromossômicas detectadas por meio do exame de cariótipo em pacientes portadores de cardiopatia congênita. Assim, realizou-se uma revisão dos artigos científicos presentes no portal MEDLINE, utilizando-se os descritores: "karyotype" OR "chromosomal" OR "chromosome" AND "heart defects, congenital". A revisão englobou estudos tanto retrospectivos quanto prospectivos, nos quais todos os participantes eram portadores de cardiopatia congênita. Nestes, não deveria haver seleção quanto ao tipo de defeito cardíaco, ou seja, deveriam envolver somente malformações cardíacas em geral. Quanto à faixa etária dos participantes, incluíram-se apenas estudos que envolveram crianças e adolescentes. A pesquisa delimitou-se a artigos publicados em inglês a partir da década de 1980. Estudos mais antigos, realizados antes dessa década, apresentam importantes limitações, pois foram desenvolvidos em uma época em que ainda não existia a avaliação dos cromossomos por técnicas de bandamento e de alta resolução e, por isso, foram excluídos da análise. Excluíram-se também relatos de caso, pequenas séries de caso ou revisões, bem como estudos desenvolvidos no período pré-natal. Diante de diferentes pesquisas desenvolvidas com a mesma amostra, optou-se por incluir apenas o estudo principal.

Com a utilização dos descritores no portal MEDLINE, obtiveram-se 2.079 artigos científicos. Após a aplicação dos critérios de exclusão (idioma diferente do inglês, relatos de caso, pequenas séries de caso, revisões, publicações antes de 1980, amostras selecionadas de cardiopatia congênita e estudos desenvolvidos no período pré-natal), restaram apenas 13 artigos.

Estudos que avaliaram a frequência de anormalidades cromossômicas identificadas por meio do exame de cariótipo em pacientes com cardiopatia congênita

Conforme a Tabela 1 ( 1616. Harris JA, Francannet C, Pradat P, Robert E. The epidemiology of cardiovascular defects, part 2: a study based on data from three large registries of congenital malformations. Pediatr Cardiol 2003;24:222-35. , 1919. Stoll C, Alembik Y, Roth MP, Dott B, De Geeter B. Risk factors in congenital heart disease. Eur J Epidemiol 1989;5:382-91. , 2929. Rosa RF, Pilla CB, Pereira VL, Flores JA, Golendziner E, Koshiyama DB et al. 22q11.2 deletion syndrome in patients admitted to a cardiac pediatric intensive care unit in Brazil. Am J Med Genet A 2008;146A:1655-61. , 3333. Ferencz C, Neill CA, Boughman JA, Rubin JD, Brenner JI, Perry LW. Congenital cardiovascular malformations associated with chromosome abnormalities: an epidemiologic study. J Pediatr 1989;114:79-86.

34. Pradat P. Epidemiology of major congenital heart defects in Sweden, 1981-1986. J Epidemiol Community Health 1992;46:211-5.

35. Hanna EF, Nevin NC, Nelson J. Genetic study of congenital heart defects in Northern Ireland (1974-1978). J Med Genet 1994;31:858-63.

36. Goodship J, Cross I, Liling J, Wren C. A population study of chromosome 22q11 deletions in infancy. Arch Dis Child 1998;79:348-51.

37. Grech V, Gatt M. Syndromes and malformations associated with congenital heart disease in a population-based study. Int J Cardiol 1999;68:151-6.

38. Meberg A, Otterstad JE, Frøland G, Lindberg H, Sørland SJ. Outcome of congenital heart defects - a population-based study. Acta Paediatr 2000;89:1344-51.

39. Roodpeyma S, Kamali Z, Afshar F, Naraghi S. Risk factors in congenital heart disease. Clin Pediatr 2002;41:653-8.

40. Calzolari E, Garani G, Cocchi G, Magnani C, Rivieri F, Neville A et al. Congenital heart defects: 15 years of experience of the Emilia-Romagna Registry (Italy). Eur J Epidemiol 2003;18:773-80.

41. Dadvand P, Rankin J, Shirley MD, Rushton S, Pless-Mulloli T. Descriptive epidemiology of congenital heart disease in Northern England. Paediatr Perinat Epidemiol 2009;23:58-65.
- 4242. Hartman RJ, Rasmussen SA, Botto LD, Riehle-Colarusso T, Martin CL, Cragan JD et al. The contribution of chromosomal abnormalities to congenital heart defects: a population-based study. Pediatr Cardiol 2011;32:1147-57. ), não houve um estudo que avaliou todos os pacientes do mesmo modo. Estes se caracterizaram por serem, na sua maioria, retrospectivos, desenvolvidos na Europa e nem todos os pacientes das amostras estudadas foram submetidos à avaliação cariotípica (a maioria não descreve quantos pacientes foram avaliados por meio desse exame). Obteve-se apenas um estudo desenvolvido na América Latina, no caso, no Brasil( 2929. Rosa RF, Pilla CB, Pereira VL, Flores JA, Golendziner E, Koshiyama DB et al. 22q11.2 deletion syndrome in patients admitted to a cardiac pediatric intensive care unit in Brazil. Am J Med Genet A 2008;146A:1655-61. ). Os tamanhos amostrais dos trabalhos também são variáveis, sendo menores naqueles desenvolvidos prospectivamente( 2929. Rosa RF, Pilla CB, Pereira VL, Flores JA, Golendziner E, Koshiyama DB et al. 22q11.2 deletion syndrome in patients admitted to a cardiac pediatric intensive care unit in Brazil. Am J Med Genet A 2008;146A:1655-61. , 3636. Goodship J, Cross I, Liling J, Wren C. A population study of chromosome 22q11 deletions in infancy. Arch Dis Child 1998;79:348-51. ).

Tabela 1
Comparação entre os diferentes estudos descritos na literatura mundial

A idade dos pacientes em avaliação também variou bastante. Alguns estudos incluíram abortamentos espontâneos e natimortos. O limite superior de idade observado foi de 18 anos( 3838. Meberg A, Otterstad JE, Frøland G, Lindberg H, Sørland SJ. Outcome of congenital heart defects - a population-based study. Acta Paediatr 2000;89:1344-51. ). Quanto à avaliação cardiológica dos pacientes, na maioria dos trabalhos, houve a descrição de ecocardiografia, cateterismo cardíaco, cirurgia e autópsia. Apesar da classificação de sindrômico ou não observada em alguns trabalhos, não foram recuperados dados que descrevessem a realização de exame físico dismorfológico por um geneticista clínico. A classificação dos pacientes em sindrômicos variou de 10 a 25,8% das amostras analisadas(16,19,29,33-42) (Tabela 1).

A frequência de anormalidades cromossômicas detectadas por meio do cariótipo em pacientes com cardiopatia congênita variou de 3 a 23% (em geral, em torno de 9%)(16,19,29,33-42) (Tabela 1). Assim, elas estão presentes em cerca de um em cada 10 pacientes com cardiopatia congênita, ou seja, sua frequência é cerca de 12 vezes maior entre indivíduos com cardiopatia congênita do que na população em geral, na qual a frequência é de em um em cada 120 recém-nascidos( 1818. Blue GM, Kirk EP, Sholler GF, Harvey RP, Winlaw DS. Congenital heart disease: current knowledge about causes and inheritance. Med J Aust 2012;197:155-9. ). As principais alterações cromossômicas observadas são numéricas e correspondem à presença adicional ou à falta de um cromossomo. Estas foram as primeiras anormalidades genéticas a serem descritas em pacientes com cardiopatia congênita( 1717. Fahed AC, Gelb BD, Seidman JG, Seidman CE. Genetics of congenital heart disease: the glass half empty. Circ Res 2013;112:707-20. ) e usualmente correspondem a mais de 80% das anormalidades observadas( 1616. Harris JA, Francannet C, Pradat P, Robert E. The epidemiology of cardiovascular defects, part 2: a study based on data from three large registries of congenital malformations. Pediatr Cardiol 2003;24:222-35. , 1919. Stoll C, Alembik Y, Roth MP, Dott B, De Geeter B. Risk factors in congenital heart disease. Eur J Epidemiol 1989;5:382-91. , 2929. Rosa RF, Pilla CB, Pereira VL, Flores JA, Golendziner E, Koshiyama DB et al. 22q11.2 deletion syndrome in patients admitted to a cardiac pediatric intensive care unit in Brazil. Am J Med Genet A 2008;146A:1655-61. , 3333. Ferencz C, Neill CA, Boughman JA, Rubin JD, Brenner JI, Perry LW. Congenital cardiovascular malformations associated with chromosome abnormalities: an epidemiologic study. J Pediatr 1989;114:79-86.

34. Pradat P. Epidemiology of major congenital heart defects in Sweden, 1981-1986. J Epidemiol Community Health 1992;46:211-5.

35. Hanna EF, Nevin NC, Nelson J. Genetic study of congenital heart defects in Northern Ireland (1974-1978). J Med Genet 1994;31:858-63.

36. Goodship J, Cross I, Liling J, Wren C. A population study of chromosome 22q11 deletions in infancy. Arch Dis Child 1998;79:348-51.

37. Grech V, Gatt M. Syndromes and malformations associated with congenital heart disease in a population-based study. Int J Cardiol 1999;68:151-6.

38. Meberg A, Otterstad JE, Frøland G, Lindberg H, Sørland SJ. Outcome of congenital heart defects - a population-based study. Acta Paediatr 2000;89:1344-51.

39. Roodpeyma S, Kamali Z, Afshar F, Naraghi S. Risk factors in congenital heart disease. Clin Pediatr 2002;41:653-8.

40. Calzolari E, Garani G, Cocchi G, Magnani C, Rivieri F, Neville A et al. Congenital heart defects: 15 years of experience of the Emilia-Romagna Registry (Italy). Eur J Epidemiol 2003;18:773-80.

41. Dadvand P, Rankin J, Shirley MD, Rushton S, Pless-Mulloli T. Descriptive epidemiology of congenital heart disease in Northern England. Paediatr Perinat Epidemiol 2009;23:58-65.
- 4242. Hartman RJ, Rasmussen SA, Botto LD, Riehle-Colarusso T, Martin CL, Cragan JD et al. The contribution of chromosomal abnormalities to congenital heart defects: a population-based study. Pediatr Cardiol 2011;32:1147-57. ). Dentre elas, destaca-se a trissomia livre do cromossomo 21 (+21), a principal constituição cromossômica observada em indivíduos com síndrome de Down (Figura 1). Outra alteração relativamente comum foi a trissomia livre do cromossomo 18 (+18), responsável pela síndrome de Edwards. Anormalidades recorrentes, mas menos frequentes, consistiram da trissomia livre do cromossomo 13 (síndrome de Patau), da monossomia do cromossomo X (síndrome de Turner), da síndrome de Klinefelter e da triploidia(16,19,29,33-42) (Tabela 1).

Figura 1
Cariótipo por bandas GTG (banda G por tripsina e Giemsa) evidenciando trissomia livre do cromossomo 21, compatível com síndrome de Down. Essa é a principal anormalidade cromossômica observada entre pacientes com cardiopatia congênita

Um percentual menor das alterações cromossômicas verificadas em pacientes com cardiopatia congênita consistiu de anormalidades estruturais. As principais anormalidades correspondem àquelas com perda (deleção) ou ganho (duplicação) de parte de um cromossomo. Dentre elas, destacam-se a deleção do braço curto do cromossomo 4 (síndrome de Wolf-Hirschhorn) e do cromossomo 5 (síndrome do Cri-du-Chat). O isocromossomo do braço longo (cromossomo com perda do braço curto e duplicação do longo) do cromossomo 21, causa menos comum de síndrome de Down, também foi frequentemente descrito(16,19,29,33-42) (Tabela 1 e Figura 2).

Figura 2
Cariótipo parcial por bandas GTG (banda G por tripsina e Giemsa) e ideogramas evidenciando, respectivamente, uma translocação Robertsoniana entre os cromossomos 14 e 21 [der(14;21)], um isocromossomo do braço longo (q) do cromossomo 21 [i(21q)] e uma deleção parcial e intersticial do braço curto do cromossomo 5 [del(5p)]. As duas primeiras alterações representam formas associadas à síndrome de Down e a terceira, à síndrome do Cri-du-Chat

As anormalidades cromossômicas mais frequentemente observadas e citadas caracterizam-se por apresentar alto percentual de acometimento cardíaco. Por exemplo, a frequência de cardiopatias congênitas entre indivíduos com síndrome de Edwards e de Patau varia de 80 a 100%( 4343. Rosa RF, Rosa RC, Lorenzen MB, de Moraes FN, Graziadio C, Zen PR et al. Trisomy 18: experience of a reference hospital from the south of Brazil. Am J Med Genet A. 2011;155A:1529-35.

44. Rosa RF, Rosa RC, Lorenzen MB, de Oliveira CA, Graziadio C, Zen PR et al. Trisomy 18: frequency, types, and prognosis of congenital heart defects in a Brazilian cohort. Am J Med Genet A 2012;158A:2358-61.

45. Petry P, Polli JB, Mattos VF, Rosa RC, Zen PR, Graziadio C et al. Clinical features and prognosis of a sample of patients with trisomy 13 (Patau syndrome) from Brazil. Am J Med Genet A 2013;161:1278-83.
- 4646. Rosa RF, Rosa RC, Zen PR, Graziadio C, Paskulin GA. Trisomy 18: review of the clinical, etiologic, prognostic, and ethical aspects. Rev Paul Pediatr 2013;31:111-20. ). Além disso, cerca de 40 a 50% dos pacientes com síndrome de Down possuem essa malformação(16,17,20) (Tabela 2). Outra característica importante é a relação de certas anormalidades cromossômicas com defeitos cardíacos específicos. A síndrome de Down, por exemplo, apresenta associação com defeitos do septo atrioventricular( 4747. Nisli K. Prevalence of congenital heart defects in patients with Down's syndrome. J Pediatr (Rio J) 2009;85:377-8. , 4848. Vilas Boas LT, Albernaz EP, Costa RG. Prevalence of congenital heart defects in patients with Down syndrome in the municipality of Pelotas, Brazil. J Pediatr (Rio J) 2009;85:403-7. ); as síndromes de Edwards e de Patau, com defeitos septais, como a comunicação interventricular e a comunicação atrial. A doença polivalvular é também comum entre esses indivíduos( 4343. Rosa RF, Rosa RC, Lorenzen MB, de Moraes FN, Graziadio C, Zen PR et al. Trisomy 18: experience of a reference hospital from the south of Brazil. Am J Med Genet A. 2011;155A:1529-35.

44. Rosa RF, Rosa RC, Lorenzen MB, de Oliveira CA, Graziadio C, Zen PR et al. Trisomy 18: frequency, types, and prognosis of congenital heart defects in a Brazilian cohort. Am J Med Genet A 2012;158A:2358-61.

45. Petry P, Polli JB, Mattos VF, Rosa RC, Zen PR, Graziadio C et al. Clinical features and prognosis of a sample of patients with trisomy 13 (Patau syndrome) from Brazil. Am J Med Genet A 2013;161:1278-83.
- 4646. Rosa RF, Rosa RC, Zen PR, Graziadio C, Paskulin GA. Trisomy 18: review of the clinical, etiologic, prognostic, and ethical aspects. Rev Paul Pediatr 2013;31:111-20. ). Pacientes com síndrome de Turner apresentam mais frequentemente válvula aórtica bicúspide e coarctação de aorta( 4949. Carvalho AB, Guerra Júnior G, Baptista MT, de Faria AP, Marini SH, Guerra AT. Cardiovascular and renal anomalies in Turner syndrome. Rev Assoc Med Bras 2010;56:655-9. ). A deleção 22q11 possui grande associação com defeitos que envolvem as vias de saída do coração (conotruncais), como a interrupção do arco aórtico do tipo B, o truncus arteriosus e a tetralogia de Fallot(16,17,20,29-32) (Tabela 2).

Tabela 2
Principais anormalidades cromossômicas associadas com malformações cardíacas potencialmente detectadas por meio do exame de cariótipo

Por outro lado, alguns tipos de defeitos cardíacos apresentaram maior associação com anormalidades cromossômicas (Tabela 3)( 5050. Manning N, Kaufman L, Roberts P. Genetics of cardiological disorders. Semin Fetal Neonatal Med 2005;10:259-69. ). Dentre eles, destacam-se o defeito de septo atrioventricular (frequência superior a 50%, devido, principalmente, à síndrome de Down), bem como a interrupção do arco aórtico do tipo B, o truncus arteriosus e a tetralogia de Fallot (como já citado, são bastante associados à deleção 22q11) (Tabela 3)( 5050. Manning N, Kaufman L, Roberts P. Genetics of cardiological disorders. Semin Fetal Neonatal Med 2005;10:259-69. ). O acometimento de algumas regiões cromossômicas em decorrência de deleções e duplicações é bem relatado na literatura, conforme a Tabela 4 ( 5151. Brewer C, Holloway S, Zawalnyski P, Schinzel A, FitzPatrick D. A chromosomal deletion map of human malformations. Am J Hum Genet 1998;63:1153-9. ).

Tabela 3
Malformações cardíacas e suas associações com alterações cromossômicas
Tabela 4
Regiões de deleção cromossômica estatisticamente significantes associadas com malformações cardíacas congênitas específicas.

Importância da identificação de anormalidades cromossômicas em pacientes com cardiopatia congênita

Como visto, cerca de 15 a 20% dos pacientes com cardiopatias congênitas apresentam etiologia conhecida, destacando-se as alterações cromossômicas identificadas por meio do cariótipo( 55. Van der Bom T, Zomer AC, Zwinderman AH, Meijboom FJ, Bouma BJ, Mulder BJ. The changing epidemiology of congenital heart disease. Nat Rev Cardiol 2011;8:50-60. , 1818. Blue GM, Kirk EP, Sholler GF, Harvey RP, Winlaw DS. Congenital heart disease: current knowledge about causes and inheritance. Med J Aust 2012;197:155-9. ). Estas são comuns em indivíduos portadores de cardiopatia congênita, com frequência de 3 a 23%, o que salienta a importância do cariótipo para essa população( 1616. Harris JA, Francannet C, Pradat P, Robert E. The epidemiology of cardiovascular defects, part 2: a study based on data from three large registries of congenital malformations. Pediatr Cardiol 2003;24:222-35. , 1919. Stoll C, Alembik Y, Roth MP, Dott B, De Geeter B. Risk factors in congenital heart disease. Eur J Epidemiol 1989;5:382-91. , 2929. Rosa RF, Pilla CB, Pereira VL, Flores JA, Golendziner E, Koshiyama DB et al. 22q11.2 deletion syndrome in patients admitted to a cardiac pediatric intensive care unit in Brazil. Am J Med Genet A 2008;146A:1655-61. , 3333. Ferencz C, Neill CA, Boughman JA, Rubin JD, Brenner JI, Perry LW. Congenital cardiovascular malformations associated with chromosome abnormalities: an epidemiologic study. J Pediatr 1989;114:79-86.

34. Pradat P. Epidemiology of major congenital heart defects in Sweden, 1981-1986. J Epidemiol Community Health 1992;46:211-5.

35. Hanna EF, Nevin NC, Nelson J. Genetic study of congenital heart defects in Northern Ireland (1974-1978). J Med Genet 1994;31:858-63.

36. Goodship J, Cross I, Liling J, Wren C. A population study of chromosome 22q11 deletions in infancy. Arch Dis Child 1998;79:348-51.

37. Grech V, Gatt M. Syndromes and malformations associated with congenital heart disease in a population-based study. Int J Cardiol 1999;68:151-6.

38. Meberg A, Otterstad JE, Frøland G, Lindberg H, Sørland SJ. Outcome of congenital heart defects - a population-based study. Acta Paediatr 2000;89:1344-51.

39. Roodpeyma S, Kamali Z, Afshar F, Naraghi S. Risk factors in congenital heart disease. Clin Pediatr 2002;41:653-8.

40. Calzolari E, Garani G, Cocchi G, Magnani C, Rivieri F, Neville A et al. Congenital heart defects: 15 years of experience of the Emilia-Romagna Registry (Italy). Eur J Epidemiol 2003;18:773-80.

41. Dadvand P, Rankin J, Shirley MD, Rushton S, Pless-Mulloli T. Descriptive epidemiology of congenital heart disease in Northern England. Paediatr Perinat Epidemiol 2009;23:58-65.
- 4242. Hartman RJ, Rasmussen SA, Botto LD, Riehle-Colarusso T, Martin CL, Cragan JD et al. The contribution of chromosomal abnormalities to congenital heart defects: a population-based study. Pediatr Cardiol 2011;32:1147-57. ).

Indivíduos portadores de cromossomopatia usualmente apresentam um aspecto considerado sindrômico, ou seja, possuem um quadro de dismorfias, tanto menores quanto maiores, associado a outras deficiências (como intelectual) e alterações comportamentais. Essas dismorfias podem ser identificadas por meio de um exame físico (exame dismorfológico) realizado por um profissional treinado, como o geneticista clínico ou mesmo um pediatra com experiência. Assim, esse profissional é fundamental para a melhor escolha dos indivíduos a serem submetidos à avaliação genética por meio do exame de cariótipo.

Pacientes portadores de anormalidade cromossômica frequentemente apresentam malformações extracardíacas associadas, possuindo, assim, maior risco de morbidade e de mortalidade, o que torna a cirurgia cardíaca mais arriscada( 2020. Marino B, Digilio MC. Congenital heart disease and genetic syndromes: specific correlation between cardiac phenotype and genotype. Cardiovasc Pathol 2000;9:303-15. , 3535. Hanna EF, Nevin NC, Nelson J. Genetic study of congenital heart defects in Northern Ireland (1974-1978). J Med Genet 1994;31:858-63. , 5252. Begic H, Tahirovic H, Mesihovic-Dinarevic S, Ferkovic V, Atic N, Latifagic A. Epidemiological and clinical aspects of congenital heart disease in children in Tuzla Canton, Bosnia-Herzegovina. Eur J Pediatr 2003;162:191-3. , 5353. Gonzalez JH, Shirali GS, Atz AM, Taylor SN, Forbus GA, Zyblewski SC et al. Universal screening for extracardiac abnormalities in neonates with congenital heart disease. Pediatr Cardiol 2009;30:269-73. ). Além disso, tais pacientes podem necessitar de procedimento cirúrgico ou intensivo clínico independentemente da doença cardíaca( 3737. Grech V, Gatt M. Syndromes and malformations associated with congenital heart disease in a population-based study. Int J Cardiol 1999;68:151-6. ). Assim, nesses casos, usualmente há necessidade de avaliação e acompanhamento multidisciplinar, envolvendo não só as áreas da Cardiologia e da Genética Médica. Cabe ressaltar também que algumas anormalidades cromossômicas, como a trissomia do cromossomo 13 (síndrome de Patau) e a trissomia do cromossomo 18 (síndrome de Edwards), são associadas a um prognóstico bastante grave, discutindo-se na literatura se tais pacientes poderiam de fato se beneficiar do tratamento cirúrgico do coração( 4444. Rosa RF, Rosa RC, Lorenzen MB, de Oliveira CA, Graziadio C, Zen PR et al. Trisomy 18: frequency, types, and prognosis of congenital heart defects in a Brazilian cohort. Am J Med Genet A 2012;158A:2358-61. , 4545. Petry P, Polli JB, Mattos VF, Rosa RC, Zen PR, Graziadio C et al. Clinical features and prognosis of a sample of patients with trisomy 13 (Patau syndrome) from Brazil. Am J Med Genet A 2013;161:1278-83. ). Assim, todas essas informações são fundamentais para o adequado manejo e avaliação de riscos/prognóstico dos pacientes.

A importância de se estabelecer um diagnóstico preciso para a etiologia da cardiopatia congênita reside também no fato de que as famílias necessitam de aconselhamento genético com informação acurada sobre os riscos de recorrência( 2121. Prasad C, Chudley AE. Genetics and cardiac anomalies: the heart of the matter. Indian J Pediatr 2002;69:321-32. ). Estudos mais antigos sobre a recorrência da doença cardíaca congênita sugeriam herança multifatorial( 2020. Marino B, Digilio MC. Congenital heart disease and genetic syndromes: specific correlation between cardiac phenotype and genotype. Cardiovasc Pathol 2000;9:303-15. ), pois simplesmente mensuravam a agregação familiar e não distinguiam entre os fatores genéticos e não genéticos que poderiam contribuir para um risco aumentado aos familiares. No caso das alterações cromossômicas, sua identificação e definição são extremamente importantes, pois, dependendo do tipo de anormalidade observada, pode haver necessidade de avaliação também de outros membros da família e um risco aumentado de recorrência para a prole. Nos casos de anormalidades numéricas por trissomia livre ou mesmo monossomia total de um cromossomo, não existe indicação de avaliação cariotípica dos pais, pois usualmente são decorrentes de erros ocorridos durante a gametogênese. Por outro lado, nos casos de anormalidades estruturais, como deleções e duplicações, sempre há indicação de cariótipo dos pais, a fim de excluir a hipótese de algum deles ser portador de alteração cromossômica equilibrada relacionada àquela observada na criança( 1818. Blue GM, Kirk EP, Sholler GF, Harvey RP, Winlaw DS. Congenital heart disease: current knowledge about causes and inheritance. Med J Aust 2012;197:155-9. ).

Cabe ressaltar, contudo, que o resultado de um exame de cariótipo normal não exclui o fato de que o paciente ainda pode apresentar uma síndrome. Como mostrado anteriormente, alterações microscópicas (como microdeleções ou microduplicações) ou mutações gênicas não são detectadas por meio desse exame. Nesses casos, a avaliação clínica do paciente, especialmente pelo médico geneticista, é fundamental para gerar hipóteses e, consequentemente, escolher os exames apropriados para o diagnóstico.

Com base nesta revisão, os autores acreditam que o exame físico dismorfológico minucioso, realizado por um pediatra experiente ou por um geneticista, seja muito importante para indicar a realização do cariótipo em pacientes com cardiopatia congênita. Isso ajudaria tanto a poupar custos com a realização do exame quanto a identificar precocemente pacientes portadores de anormalidades cromossômicas, o que poderia se refletir em melhor manejo e aconselhamento genético.

Agradecimentos

Agradecemos à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela bolsa de estudos recebida.

References

  • 1
    Robinson A, Linden MG. Clinical genetics handbook. 2nd ed. Boston: Blackwell Science Inc; 1994.
  • 2
    Amorim LF, Pires CA, Lana AM, Campos AS, Aguiar RA, Tibúrcio JD et al. Presentation of congenital heart disease diagnosed at birth: analysis of 29,770 newborn infants. J Pediatr (Rio J) 2008;84:83-90.
  • 3
    Kramer HH, Majewski F, Trampisch HJ, Rammos S, Bourgeois M. Malformation patterns in children with congenital heart disease. Am J Dis Child 1987;141:789-95.
  • 4
    Hoyme HE. Minor anomalies: diagnostic clues to aberrant human morphogenesis. Genetica 1993;89:307-15.
  • 5
    Van der Bom T, Zomer AC, Zwinderman AH, Meijboom FJ, Bouma BJ, Mulder BJ. The changing epidemiology of congenital heart disease. Nat Rev Cardiol 2011;8:50-60.
  • 6
    Hoffman JI, Kaplan S. The incidence of congenital heart disease. J Am Coll Cardiol 2002;39:1890-900.
  • 7
    Pinto Junior VC, Daher CV, Sallum FS, Jatene MB, Croti UA. The situation of congenital heart surgeries in Brazil. Braz J Cardiovasc Surg 2004;19:3-6.
  • 8
    Ransom J, Srivastava D. The genetics of cardiac birth defects. Semin Cell Dev Biol 2007;18:132-9.
  • 9
    Guitti JC. Epidemiological characteristics of congenital heart diseases in Londrina, Paraná south Brazil. Arq Bras Cardiol 2000;74:395-404.
  • 10
    Hagemann LL, Zielinsky P. Rastreamento populacional de anormalidades cardíacas fetais por ecocardiografia pré-natal em gestações de baixo risco no município de Porto Alegre. Arq Bras Cardiol 2004;82:313-9.
  • 11
    Acharya G, Sitras V, Maltau JM, Dahl LB, Kaaresen PI, Hanssen TA et al. Major congenital heart disease in Northern Norway: shortcomings of pre- and postnatal diagnosis. Acta Obstet Gynecol Scand 2004;83:1124-9.
  • 12
    Jenkins KJ, Correa A, Feinstein JA, Botto L, Britt AE, Daniels SR et al. Noninherited risk factors and congenital cardiovascular defects: current knowledge: a scientific statement from the American Heart Association Council on Cardiovascular Disease in the Young: endorsed by the American Academy of Pediatrics. Circulation 2007;115:2995-3014.
  • 13
    Pedra CA, Haddad J, Pedra SF, Peirone A, Pilla CB, Marin-Neto JA. Paediatric and congenital heart disease in South America: an overview. Heart 2009;95:1385-92.
  • 14
    Dolk H, Loane M, Garne E; European Surveillance of Congenital Anomalies (EUROCAT) Working Group. Congenital heart defects in Europe: prevalence and perinatal mortality, 2000 to 2005. Circulation 2011;123:841-9.
  • 15
    Thulstrup AM, Bonde JP. Maternal occupational exposure and risk of specific birth defects. Occup Med (Lond) 2006;56:532-43.
  • 16
    Harris JA, Francannet C, Pradat P, Robert E. The epidemiology of cardiovascular defects, part 2: a study based on data from three large registries of congenital malformations. Pediatr Cardiol 2003;24:222-35.
  • 17
    Fahed AC, Gelb BD, Seidman JG, Seidman CE. Genetics of congenital heart disease: the glass half empty. Circ Res 2013;112:707-20.
  • 18
    Blue GM, Kirk EP, Sholler GF, Harvey RP, Winlaw DS. Congenital heart disease: current knowledge about causes and inheritance. Med J Aust 2012;197:155-9.
  • 19
    Stoll C, Alembik Y, Roth MP, Dott B, De Geeter B. Risk factors in congenital heart disease. Eur J Epidemiol 1989;5:382-91.
  • 20
    Marino B, Digilio MC. Congenital heart disease and genetic syndromes: specific correlation between cardiac phenotype and genotype. Cardiovasc Pathol 2000;9:303-15.
  • 21
    Prasad C, Chudley AE. Genetics and cardiac anomalies: the heart of the matter. Indian J Pediatr 2002;69:321-32.
  • 22
    22. Tjio JH, Levan A. The chromosome number of man. Hereditas 1956;42:1-6.
  • 23
    Lejeune J, Gautier M, Turpin R. Étude des chromosomes somatiques de neuf enfants mongoliens. C R Hebd Seances Acad Sci 1959;248:1721-2.
  • 24
    Caspersson T, Zech L, Johansson C. Differential binding of alkylating fluorochromes in human chromosomes. Exp Cell Res 1970;60:315-9.
  • 25
    Yunis JJ. New chromosomes techniques in the study of human neoplasia. Hum Pathol 1981;12:540-9.
  • 26
    Smeets DF. Historical prospective of human cytogenetics: from microscope to microarray. Clin Biochem 2004;37:439-46.
  • 27
    Jauch A, Daumer C, Lichter P, Murken J, Schroeder-Kurth T, Cremer T. Chromosomal in situ suppression hybridization of human gonosomes and autosomes and its use in clinical cytogenetics. Hum Genet 1990;85:145-50.
  • 28
    Bejjani BA, Shaffer LG. Clinical utility of contemporary molecular cytogenetics. Annu Rev Genomics Hum Genet 2008;9:71-86.
  • 29
    Rosa RF, Pilla CB, Pereira VL, Flores JA, Golendziner E, Koshiyama DB et al. 22q11.2 deletion syndrome in patients admitted to a cardiac pediatric intensive care unit in Brazil. Am J Med Genet A 2008;146A:1655-61.
  • 30
    Rosa RF, Zen PR, Roman T, Graziadio C, Paskulin GA. 22q11.2 deletion syndrome: catching the CATCH22. Rev Paul Pediatr 2009;27:211-20.
  • 31
    Rosa RF, Trevisan P, Koshiyama DB, Pilla CB, Zen PR, Varella-Garcia M et al. 22q11.2 deletion syndrome and complex congenital heart defects. Rev Assoc Med Bras 2011;57:62-5.
  • 32
    Rosa RFM, Zen PRG, Graziadio C, Paskulin GA. Síndrome de deleção 22q11.2 e cardiopatias congênitas. Rev Paul Pediatr 2011;29:251-60.
  • 33
    Ferencz C, Neill CA, Boughman JA, Rubin JD, Brenner JI, Perry LW. Congenital cardiovascular malformations associated with chromosome abnormalities: an epidemiologic study. J Pediatr 1989;114:79-86.
  • 34
    Pradat P. Epidemiology of major congenital heart defects in Sweden, 1981-1986. J Epidemiol Community Health 1992;46:211-5.
  • 35
    Hanna EF, Nevin NC, Nelson J. Genetic study of congenital heart defects in Northern Ireland (1974-1978). J Med Genet 1994;31:858-63.
  • 36
    Goodship J, Cross I, Liling J, Wren C. A population study of chromosome 22q11 deletions in infancy. Arch Dis Child 1998;79:348-51.
  • 37
    Grech V, Gatt M. Syndromes and malformations associated with congenital heart disease in a population-based study. Int J Cardiol 1999;68:151-6.
  • 38
    Meberg A, Otterstad JE, Frøland G, Lindberg H, Sørland SJ. Outcome of congenital heart defects - a population-based study. Acta Paediatr 2000;89:1344-51.
  • 39
    Roodpeyma S, Kamali Z, Afshar F, Naraghi S. Risk factors in congenital heart disease. Clin Pediatr 2002;41:653-8.
  • 40
    Calzolari E, Garani G, Cocchi G, Magnani C, Rivieri F, Neville A et al. Congenital heart defects: 15 years of experience of the Emilia-Romagna Registry (Italy). Eur J Epidemiol 2003;18:773-80.
  • 41
    Dadvand P, Rankin J, Shirley MD, Rushton S, Pless-Mulloli T. Descriptive epidemiology of congenital heart disease in Northern England. Paediatr Perinat Epidemiol 2009;23:58-65.
  • 42
    Hartman RJ, Rasmussen SA, Botto LD, Riehle-Colarusso T, Martin CL, Cragan JD et al. The contribution of chromosomal abnormalities to congenital heart defects: a population-based study. Pediatr Cardiol 2011;32:1147-57.
  • 43
    Rosa RF, Rosa RC, Lorenzen MB, de Moraes FN, Graziadio C, Zen PR et al. Trisomy 18: experience of a reference hospital from the south of Brazil. Am J Med Genet A. 2011;155A:1529-35.
  • 44
    Rosa RF, Rosa RC, Lorenzen MB, de Oliveira CA, Graziadio C, Zen PR et al. Trisomy 18: frequency, types, and prognosis of congenital heart defects in a Brazilian cohort. Am J Med Genet A 2012;158A:2358-61.
  • 45
    Petry P, Polli JB, Mattos VF, Rosa RC, Zen PR, Graziadio C et al. Clinical features and prognosis of a sample of patients with trisomy 13 (Patau syndrome) from Brazil. Am J Med Genet A 2013;161:1278-83.
  • 46
    Rosa RF, Rosa RC, Zen PR, Graziadio C, Paskulin GA. Trisomy 18: review of the clinical, etiologic, prognostic, and ethical aspects. Rev Paul Pediatr 2013;31:111-20.
  • 47
    Nisli K. Prevalence of congenital heart defects in patients with Down's syndrome. J Pediatr (Rio J) 2009;85:377-8.
  • 48
    Vilas Boas LT, Albernaz EP, Costa RG. Prevalence of congenital heart defects in patients with Down syndrome in the municipality of Pelotas, Brazil. J Pediatr (Rio J) 2009;85:403-7.
  • 49
    Carvalho AB, Guerra Júnior G, Baptista MT, de Faria AP, Marini SH, Guerra AT. Cardiovascular and renal anomalies in Turner syndrome. Rev Assoc Med Bras 2010;56:655-9.
  • 50
    Manning N, Kaufman L, Roberts P. Genetics of cardiological disorders. Semin Fetal Neonatal Med 2005;10:259-69.
  • 51
    Brewer C, Holloway S, Zawalnyski P, Schinzel A, FitzPatrick D. A chromosomal deletion map of human malformations. Am J Hum Genet 1998;63:1153-9.
  • 52
    Begic H, Tahirovic H, Mesihovic-Dinarevic S, Ferkovic V, Atic N, Latifagic A. Epidemiological and clinical aspects of congenital heart disease in children in Tuzla Canton, Bosnia-Herzegovina. Eur J Pediatr 2003;162:191-3.
  • 53
    Gonzalez JH, Shirali GS, Atz AM, Taylor SN, Forbus GA, Zyblewski SC et al. Universal screening for extracardiac abnormalities in neonates with congenital heart disease. Pediatr Cardiol 2009;30:269-73.
  • Fonte financiadora: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes)

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jun 2014

Histórico

  • Recebido
    21 Ago 2013
  • Aceito
    17 Out 2013
Sociedade de Pediatria de São Paulo R. Maria Figueiredo, 595 - 10o andar, 04002-003 São Paulo - SP - Brasil, Tel./Fax: (11 55) 3284-0308; 3289-9809; 3284-0051 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: rpp@spsp.org.br