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CUIDADO PERINATAL EM UM ESTADO DO NORDESTE BRASILEIRO: ESTRUTURA, PROCESSOS DE TRABALHO E AVALIAÇÃO DOS COMPONENTES DO ESSENTIAL NEWBORN CARE

Tubarão, 29 de janeiro de 2020.

Para: Revista Paulista de Pediatria

O artigo de Bezerra et al. evidencia distorções importantes acerca da assistência perinatal em Sergipe. Embora demonstre dados superiores à média nacional referente a aspectos como a presença de um pediatra de plantão durante 24 horas e a disponibilidade de equipamentos para a ressuscitação materna e neonatal em todas as maternidades, o estado ainda se mostra deficitário em diversas medidas ao essential newborn care (ENC).11. Bezerra FD, Menezes MA, Mendes RB, Santos JM, Leite DC, Kassar SB, et al. Perinatal care in a northeastern Brazilian state: structure, work processes, and evaluation of the components of essential newborn care. Rev Paul Pediatr. 2019;37:140-8. http://dx.doi.org/10.1590/1984-0462/;2019;37;2;00003
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No que se refere aos componentes do ENC, a presença de acompanhantes desde o pré-natal até o pós-parto foi observada em apenas 18% dos casos, e o contato pele a pele precoce foi visto em 41% dos partos, no entanto somente 33,1% das parturientes amamentaram na primeira hora de vida. Sendo assim, esta carta tem o intuito de elucidar dados de outros estados do Brasil a fim de incentivar melhorias nas ações para o cuidado com o recém-nascido propostas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).11. Bezerra FD, Menezes MA, Mendes RB, Santos JM, Leite DC, Kassar SB, et al. Perinatal care in a northeastern Brazilian state: structure, work processes, and evaluation of the components of essential newborn care. Rev Paul Pediatr. 2019;37:140-8. http://dx.doi.org/10.1590/1984-0462/;2019;37;2;00003
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Ressalta-se que a realidade do Nordeste brasileiro pertinente ao que preconiza o ENC difere da situação observada no sul do país, visto que o estudo de Velho et al. apresentou que 88,1% das parturientes foram acompanhadas em todos os momentos do parto por alguém de sua escolha e que 51,8% realizaram contato pele a pele com seu filho. Isso foi destacado pelo modelo de assistência obstétrica de boas práticas, que possui maior humanização da assistência ao nascimento por causa das maiores proporções de práticas baseadas em evidências.22. Velho MB, Brüggemann OM, McCourt C, Gama SG, Knobel R, Gonçalves AC, et al. Obstetric care models in the Southern Region of Brazil and associated factors. Cad Saude Publica. 2019;35:e00093118. http://dx.doi.org/10.1590/0102-311x00093118
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Entretanto, percebe-se que o aleitamento materno na primeira hora após o nascimento ainda apresenta dados insatisfatórios em todo o Brasil - taxas semelhantes às observadas em Sergipe (33,1%) - , já que não cumpre com a diretriz proposta pelo Ministério da Saúde, que recomenda a amamentação na primeira hora de vida, pois é a estratégia isolada que mais previne mortes infantis. Na primeira hora de vida a criança se encontra no estado quieto-alerta - quieta, mas alerta e com os olhos bem abertos - , como estivesse prestando atenção.33. Brazil - Ministério da Saúde [homepage on the Internet]. Secretaria de Atenção à Saúde - Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: aleitamento materno e alimentação complementar. Brasília: Ministério da Saúde; 2015 [cited 2019 Aug 21]. Available from:: <Available from:: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_aleitamento_materno_cab23.pdf >
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O estado de Sergipe apresenta assistência física e estrutural considerada adequada, e os componentes do ENC são inferiores ao que é proposto pela Organização Mundial da Saúde. A deficiência na prática do aleitamento materno na primeira hora de vida retrata a realidade não só do estado nordestino, mas também de todo o Brasil.11. Bezerra FD, Menezes MA, Mendes RB, Santos JM, Leite DC, Kassar SB, et al. Perinatal care in a northeastern Brazilian state: structure, work processes, and evaluation of the components of essential newborn care. Rev Paul Pediatr. 2019;37:140-8. http://dx.doi.org/10.1590/1984-0462/;2019;37;2;00003
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Diante da gravidade do exposto, é necessário que medidas de incentivo à humanização dos cuidados perinatais sejam implementadas para benefícios neonatais e maternos.

REFERENCES

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    Bezerra FD, Menezes MA, Mendes RB, Santos JM, Leite DC, Kassar SB, et al. Perinatal care in a northeastern Brazilian state: structure, work processes, and evaluation of the components of essential newborn care. Rev Paul Pediatr. 2019;37:140-8. http://dx.doi.org/10.1590/1984-0462/;2019;37;2;00003
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    Velho MB, Brüggemann OM, McCourt C, Gama SG, Knobel R, Gonçalves AC, et al. Obstetric care models in the Southern Region of Brazil and associated factors. Cad Saude Publica. 2019;35:e00093118. http://dx.doi.org/10.1590/0102-311x00093118
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    Brazil - Ministério da Saúde [homepage on the Internet]. Secretaria de Atenção à Saúde - Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: aleitamento materno e alimentação complementar. Brasília: Ministério da Saúde; 2015 [cited 2019 Aug 21]. Available from:: <Available from:: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_aleitamento_materno_cab23.pdf >
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CARTA-RESPOSTA

Autoria SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

Prezados colegas, ficamos muito contentes em receber os comentários sobre nosso artigo. Concordamos que Sergipe, assim como a maior parte do Brasil, está aquém do que deveria em relação aos cuidados de atenção ao recém-nascido que compõem o essential newborn care (ENC).

Um dos paradoxos apresentados em nosso artigo é a presença de adequada estrutura hospitalar para assistência perinatal (presença de equipamentos para reanimação e de pediatras para atendimento em sala de parto, por exemplo) associada à pequena frequência de aleitamento materno na primeira hora de vida e de contato pele a pele precoce.11. Bezerra FD, Menezes MA, Mendes RB, Santos JM, Leite DC, Kassar SB, et al. Perinatal care in a northeastern Brazilian state: structure, work processes, and evaluation of the components of essential newborn care. Rev Paul Pediatr. 2019;37:140-8. http://dx.doi.org/10.1590/1984-0462/;2019;37;2;00003
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Outro estudo com dados nacionais que avaliou as práticas do ENC evidenciou o efeito negativo do parto cesáreo sobre a realização de contato pele a pele precoce e aleitamento materno na primeira hora de vida, independentemente de características maternas e da estrutura hospitalar. As altas taxas de cesárea parecem contribuir, sim, para o atraso no contato mãe-recém-nascido. Ruim saber disso, pois essas são medidas importantes para a redução da mortalidade infantil.

Esses dados enfatizam a necessidade urgente de mudanças na assistência à gestação, trabalho de parto e parto. Outro ponto de destaque é que foi baixa a adesão aos componentes do ENC em Sergipe, compatível com resultados encontrados nas regiões Norte e Nordeste.22. Menezes MA, Gurgel R, Bittencourt SD, Pacheco VE, Cipolotti R, Leal MC. Health facility structure and maternal characteristics related to essential newborn care in Brazil: a cross-sectional study. BMJ Open. 2018;8:e021431. http://dx.doi.org/10.1136/bmjopen-2017-021431
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No Brasil o cenário não é muito diferente, porém há disparidades regionais. Estudo de Velho et al. concluiu que, da mesma forma que ocorre em Sergipe, na região Sul predomina ainda a assistência obstétrica intervencionista, com elevadas taxas de cesárea, mas com maiores taxas de adesão às práticas do ENC em hospitais públicos.33. Velho MB, Brüggemann OM, McCourt C, Gama SG, Knobel R, Gonçalves AC, et al. Obstetric care models in the Southern Region of Brazil and associated factors. Cad Saude Publica. 2019;35:e00093118. http://dx.doi.org/10.1590/0102-311x00093118
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Como a frequência de parto cesáreo no Brasil se mantém elevada, faz-se necessária mudança no modelo assistencial perinatal praticado atualmente. As recomendações da Organização Mundial da Saúde contidas no ENC são simples e baratas, todas com efeito positivo na redução da mortalidade neonatal, mostrando que a implementação das boas práticas está mais relacionada ao empenho das equipes multiprofissionais em querer modificar o cenário perinatal brasileiro do que ao investimento em tecnologias.

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    Bezerra FD, Menezes MA, Mendes RB, Santos JM, Leite DC, Kassar SB, et al. Perinatal care in a northeastern Brazilian state: structure, work processes, and evaluation of the components of essential newborn care. Rev Paul Pediatr. 2019;37:140-8. http://dx.doi.org/10.1590/1984-0462/;2019;37;2;00003
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    Menezes MA, Gurgel R, Bittencourt SD, Pacheco VE, Cipolotti R, Leal MC. Health facility structure and maternal characteristics related to essential newborn care in Brazil: a cross-sectional study. BMJ Open. 2018;8:e021431. http://dx.doi.org/10.1136/bmjopen-2017-021431
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    Velho MB, Brüggemann OM, McCourt C, Gama SG, Knobel R, Gonçalves AC, et al. Obstetric care models in the Southern Region of Brazil and associated factors. Cad Saude Publica. 2019;35:e00093118. http://dx.doi.org/10.1590/0102-311x00093118
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Nov 2020
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    11 Out 2019
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