EDITORIAL
Pesquisa em animais: um assunto controverso
O debate sobre pesquisas com a utilização de animais está hoje mais acirrado do que nunca.
Assim, para certos grupos, a pesquisa em animais considerada vital para numerosas reas das cincias biológicas, principalmente a Medicina. Várias especialidades têm se beneficiado com experiências em animais, exemplificadas por cirurgia cardíaca, transplantes, implantes valvulares, entre tantas outras. Testes possibilitaram o desenvolvimento de drogas anti-hipertensivas, antibióticos, vacinas, insulina e de inúmeros outros medicamentos que tiveram sua história ligada aos animais de laboratório. Tudo isso, aliado a outros progressos, indica que alguns pesquisadores não vislumbram ainda como evoluir na ciência biológica e médica sem esses recursos. Para eles, a restrição da pesquisa em animais impediria novas descobertas que poderiam trazer benefícios para a humanidade.
Por outro lado, outros grupos consideram que tais pesquisas podem até levar a conclusões enganosas e que vários substitutivos existem para o progresso da ciência, indo desde observações clínicas e epidemiológicas, cultura de células de tecidos humanos e análise das necrópsias, até recentes métodos de imagem, tudo isso aliado à emergência da pesquisa molecular correlacionada a genética, fatores metabólicos e bioquímicos, que poder oferecer condições para uma melhor identificação da etiologia de inúmeras doenças humanas.
Discute-se muito sobre alguns modelos animais que, no máximo, são análogos às condições humanas. São citadas, entre muitos outros aspectos, as alteraçõeses evolucionais, as diferenças entre as espécies, as diversas reações às drogas e, até mesmo, a dificuldade de recriar doenças humanas nesses modelos. Assim, algumas drogas consideradas sem contra-indicações em animais foram aprovadas e, depois, consideradas perigosas para humanos. Essas divergências quanto a validade desses testes existem até hoje e, como exemplo, são lembrados os efeitos da talidomida.
Tudo isso e muito mais vem sendo discutido. Talvez seja necessário reformular idéias e admitir que também existe um dilema ético a ser resolvido. Todos nós que vivemos em universidades, centros de ensino e pesquisa e que já utilizamos animais em nossos estudos devemos nos envolver nessa questão, opinando e discutindo, para chegarmos a um consenso, em que a ética seja respeitada e o desenvolvimento científico continue evoluindo. Você já refletiu a respeito?
Esther Goldenberg Birman
Coordenadora Científica
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
17 Mar 1999 -
Data do Fascículo
Abr 1997