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ANÁLISE DA AÇÃO ANTIMICROBIANA DE CIMENTOS E PASTAS EMPREGADOS NA PRÁTICA ENDODÔNTICA

ANALYSIS OF THE ANTIMICROBIAL ACTION OF SEALERS AND PASTES USED IN ENDODONTIC PRACTICE

Resumos

Foi avaliado o poder antimicrobiano dos cimentos Endomethasone, AH26, Sealer 26, Sealer 26 acrescido de 5% de hexametilenotetramina, Sealer 26 acrescido de 10% de hexametilenotetramina, Sealapex e pasta aquosa de hidróxido de cálcio. Foram utilizados o método de difusão radial em placas ágar escavadas e cepas puras de microorganismos, sendo que as leituras foram efetuadas após 24 e 48 horas de incubação em aerobiose e microaerofilia. Os resultados mostraram que o Endomethasone apresentou os maiores halos de inibição do crescimento bacteriano e que o acréscimo de hexametilenotetramina acarretou um aumento nos halos proporcionados pelo Sealer 26. O cimento Sealapex e a pasta de hidróxido de cálcio não inibiram os microorganismos testados

Obturação do canal radicular; Meios de cultura


An evaluation of the antimicrobial action of the sealers Endomethasone, AH26, Sealapex, Sealer 26, Sealer 26 with 5% hexametilenotetramine, Sealer 26 with 10% hexametilenotetramine and aqueous calcium hydroxide paste was carried out. Microorganisms were spread over hollowed agar plates, by means of the radial diffusion method. Halo measurements were done after 24 and 48 hours of incubation under aerobic and microaerophilia conditions. The results showed bigger halos when Endomethasone was used, and the increment of hexametilenotetramine in the Sealer 26 increased the inhibition halos of this sealer. The Sealapex and the calcium hydroxide paste did not inhibit bacterial growth

Root canal obturation; Culture media


ANÁLISE DA AÇÃO ANTIMICROBIANA DE CIMENTOS E PASTAS EMPREGADOS NA PRÁTICA ENDODÔNTICA** Parte da Dissertação apresentada à Faculdade de Odontologia de Bauru - USP, para obtenção do grau de Mestre em Endodontia. Parte da Dissertação apresentada à Faculdade de Odontologia de Bauru - USP, para obtenção do grau de Mestre em Endodontia.** Professor de Endodontia da USC - Bauru.*** Professor de Microbiologia da USC - Bauru.**** Professor Doutor do Departamento de Dentística, Disciplina de Endodontia, da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo.***** American Type Culture Collection - 12301 Parklawn Drive, Rockville, Md. 20852. 25923);

ANALYSIS OF THE ANTIMICROBIAL ACTION OF SEALERS AND PASTES USED IN ENDODONTIC PRACTICE

Marco Antonio Hungaro DUARTE *** Parte da Dissertação apresentada à Faculdade de Odontologia de Bauru - USP, para obtenção do grau de Mestre em Endodontia. Parte da Dissertação apresentada à Faculdade de Odontologia de Bauru - USP, para obtenção do grau de Mestre em Endodontia.** Professor de Endodontia da USC - Bauru.*** Professor de Microbiologia da USC - Bauru.**** Professor Doutor do Departamento de Dentística, Disciplina de Endodontia, da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo.***** American Type Culture Collection - 12301 Parklawn Drive, Rockville, Md. 20852. 25923);

Paulo Henrique WECKWERTH **** Parte da Dissertação apresentada à Faculdade de Odontologia de Bauru - USP, para obtenção do grau de Mestre em Endodontia. Parte da Dissertação apresentada à Faculdade de Odontologia de Bauru - USP, para obtenção do grau de Mestre em Endodontia.** Professor de Endodontia da USC - Bauru.*** Professor de Microbiologia da USC - Bauru.**** Professor Doutor do Departamento de Dentística, Disciplina de Endodontia, da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo.***** American Type Culture Collection - 12301 Parklawn Drive, Rockville, Md. 20852. 25923);

Ivaldo Gomes de MORAES ***** Parte da Dissertação apresentada à Faculdade de Odontologia de Bauru - USP, para obtenção do grau de Mestre em Endodontia. Parte da Dissertação apresentada à Faculdade de Odontologia de Bauru - USP, para obtenção do grau de Mestre em Endodontia.** Professor de Endodontia da USC - Bauru.*** Professor de Microbiologia da USC - Bauru.**** Professor Doutor do Departamento de Dentística, Disciplina de Endodontia, da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo.***** American Type Culture Collection - 12301 Parklawn Drive, Rockville, Md. 20852. 25923);

DUARTE, M. A. H. et al. Análise da ação antimicrobiana de cimentos e pastas empregados na prática endodôntica. Rev Odontol Univ São Paulo, v. 11, n. 4, p. 299-305, out./dez. 1997.

Foi avaliado o poder antimicrobiano dos cimentos Endomethasone, AH26, Sealer 26, Sealer 26 acrescido de 5% de hexametilenotetramina, Sealer 26 acrescido de 10% de hexametilenotetramina, Sealapex e pasta aquosa de hidróxido de cálcio. Foram utilizados o método de difusão radial em placas ágar escavadas e cepas puras de microorganismos, sendo que as leituras foram efetuadas após 24 e 48 horas de incubação em aerobiose e microaerofilia. Os resultados mostraram que o Endomethasone apresentou os maiores halos de inibição do crescimento bacteriano e que o acréscimo de hexametilenotetramina acarretou um aumento nos halos proporcionados pelo Sealer 26. O cimento Sealapex e a pasta de hidróxido de cálcio não inibiram os microorganismos testados.

UNITERMOS: Obturação do canal radicular; Meios de cultura.

INTRODUÇÃO

Na luta pela obtenção da anti-sepsia dos canais radiculares com a instrumentação e a irrigação, procura-se a desinfecção e o saneamento, eliminando microorganismos presentes tanto na luz do canal principal, como no sistema de canais radiculares. Porém, a presença dos microorganismos em locais inacessíveis do sistema de canais e nas profundezas da massa dentinária faz com que eles persistam mesmo após um cuidadoso preparo biomecânico1,4.

Assim, o uso de substâncias anti-sépticas como curativos intracanais para o combate de microorganismos persistentes ao preparo biomecânico tem sido recomendado por muitos pesquisadores4,36. Contudo, tem-se constatado, ainda, resistência de alguns microorganismos, principalmente do Enterococcus faecalis e do Fusobacterium nucleatum, frente à ação anti-séptica da medicação intracanal1,4,15,27.

Diante do exposto, conclui-se que a obturação assume responsabilidade crucial na inativação desses microorganismos através de um bom selamento, que depende fundamentalmente da técnica e do material utilizados. É importante que a obturação preencha o mais tridimensionalmente possível o canal, ocupando todo o espaço previamente repleto pelo tecido pulpar, deixando, assim, confinados os possíveis microorganismos resistentes às etapas anteriores do preparo do canal, sem substrato para desenvolverem seu metabolismo.

Além dessa ação seladora muito importante, a obturação deve desempenhar, também, uma ação anti-séptica, que está na dependência das substâncias que compõem o cimento obturador e que possam desempenhar o efeito antimicrobiano desejado. Assim, os microorganismos remanescentes ao preparo biomecânico e ao curativo intracanal de demora poderiam também ser eliminados por essa ação anti-séptica, intrínseca ao próprio cimento obturador.

Como exemplo, tem-se o cimento Endomethasone, cujo pó é possuidor de paraformaldeído e timol; já o líquido é composto de eugenol; essas substâncias possuem ação anti-séptica realmente comprovada28,30,37. Outros exemplos são o cimento AH26, que libera o formaldeído durante a reação de polimerização39, e os cimentos que contêm hidróxido de cálcio, substância que desempenharia ação antimicrobiana9,17.

Diante do exposto, propusemo-nos a avaliar a capacidade anti-séptica in vitro, empregando o método de difusão radial, de alguns materiais empregados na rotina endodôntica, bem como verificar se o acréscimo de hexametilenotetramina ao pó do cimento Sealer 26 melhoraria sua capacidade anti-séptica.

MATERIAL E MÉTODO

Os materiais obturadores analisados neste trabalho foram:

  • Endomethasone (Spécialitês Septodont - Saint Main - Paris - França), sendo ele um derivado de óxido de zinco e eugenol;

  • AH26 (De Trey - Dentsply Ltda. - ASH - USA), um cimento resinoso;

  • Sealapex (Kerr Manufacturing Company - Michigan - USA), um cimento que contém óxido de cálcio, sendo classificado no grupo dos que contêm hidróxido de cálcio;

  • Sealer 26 (Dentsply Indústria e Comércio Ltda. - Rio de Janeiro - Brasil), um cimento derivado do

    AH26 acrescido de hidróxido de cálcio.

Com esse último cimento, foram preparadas outras duas versões experimentais acrescendo mais hexametilenotetramina ao seu pó. No experimental 1, foram acrescidos 5%, o que, em peso, correspondeu a 0,421 g, e no experimental 2, 10%, correspondendo a 0,888 g; em relação à embalagem corresponde a 8 gramas. Além dos cimentos citados acima, também foi avaliada a pasta de hidróxido de cálcio com soro fisiológico.

O método de escolha para a avaliação da ação antimicrobiana das substâncias em estudo foi a difusão do agente de forma radial no ágar de cultura. A sensibilidade dos microorganismos foi detectada pela presença ou não dos halos de inibição, os quais foram medidos utilizando-se de uma régua milimetrada e bastante luminosidade.

Os microorganismos utilizados para a avaliação foram:

  • Staphylococcus aureus (

    S. aureus ATCC

    ****** Parte da Dissertação apresentada à Faculdade de Odontologia de Bauru - USP, para obtenção do grau de Mestre em Endodontia. Parte da Dissertação apresentada à Faculdade de Odontologia de Bauru - USP, para obtenção do grau de Mestre em Endodontia.** Professor de Endodontia da USC - Bauru.*** Professor de Microbiologia da USC - Bauru.**** Professor Doutor do Departamento de Dentística, Disciplina de Endodontia, da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo.***** American Type Culture Collection - 12301 Parklawn Drive, Rockville, Md. 20852. 25923); 25923);

  • Enterococcus faecalis (

    E. faecalis ATCC

    ****** Parte da Dissertação apresentada à Faculdade de Odontologia de Bauru - USP, para obtenção do grau de Mestre em Endodontia. Parte da Dissertação apresentada à Faculdade de Odontologia de Bauru - USP, para obtenção do grau de Mestre em Endodontia.** Professor de Endodontia da USC - Bauru.*** Professor de Microbiologia da USC - Bauru.**** Professor Doutor do Departamento de Dentística, Disciplina de Endodontia, da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo.***** American Type Culture Collection - 12301 Parklawn Drive, Rockville, Md. 20852. 25923); 29212);

  • Streptococcus mutans;

  • Pseudomonas aeruginosa (

    P. aeruginosa ATCC

    ****** Parte da Dissertação apresentada à Faculdade de Odontologia de Bauru - USP, para obtenção do grau de Mestre em Endodontia. Parte da Dissertação apresentada à Faculdade de Odontologia de Bauru - USP, para obtenção do grau de Mestre em Endodontia.** Professor de Endodontia da USC - Bauru.*** Professor de Microbiologia da USC - Bauru.**** Professor Doutor do Departamento de Dentística, Disciplina de Endodontia, da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo.***** American Type Culture Collection - 12301 Parklawn Drive, Rockville, Md. 20852. 25923); 27853);

  • Klebsiella s.p.;

  • Candida albicans.

Com relação ao meio de cultura, utilizou-se o "Brain Heart Infusion - Ágar - MERCK", para as bactérias, e o "Sabouraud - Dextrose - MERCK", para a levedura (Candida albicans).

Os microorganismos da coleção conservados em "Tryptic Soy Agar - DIFCO" foram cultivados em "Tryptic Soy Broth - DIFCO". As culturas de 18 e 24 horas de incubação foram, então, diluídas em solução fisiológica estéril, até se obter uma turbidez visualmente comparada ao padrão 0,5 da escala de Mac Farland (aproximadamente 108 microorganismos/ml). Essa diluição era imediatamente semeada, com auxílio de uma zaragota de algodão estéril umedecida sobre o meio de cultura ágar, já com as escavações para receber as substâncias em teste em placas de Petri de 15 x 150 mm. Cada escavação possuía 6 mm de diâmetro e 3 mm de altura. Durante a semeadura, foi tomado o cuidado de não se contaminar o interior das escavações. Um período de 30 minutos se aguardou após a semeadura.

Em seguida, os materiais foram espatulados em placas de vidro com espátula de aço inoxidável, ambos estéreis, seguindo-se as seguintes proporções: Endomethasone, 6 g pó para 1 ml de líquido; AH26, 2 : 1 em peso; Sealapex, em porções iguais; Sealer 26 e seus derivados, 2,1/1 em peso22, e pasta de hidróxido de cálcio na proporção de 1 g pó/1 ml soro. Foi estipulado um período de 90 segundos para a espatulação. Após a manipulação, as misturas eram colocadas em seringas tipo Luer Look e, então, levadas às escavações. Após a complementação do preenchimento, aguardou-se um período de 30 minutos e, então, as placas foram levadas à estufa a 37ºC. Em geral, o ambiente utilizado para a cultura foi em aerobiose. Para o Streptococcus mutans e o Staphylococcus aureus, além da aerobiose, o experimento foi efetuado, também, em microaerofilia. A leitura e medição dos halos de inibição foram realizadas após 24 e 48 horas.

RESULTADOS

Na Tabela 1, constam as médias dos halos (em mm) de inibição propiciados pelos materiais em função do microorganismo nas condições de aerobiose medidos em 24 e 48 horas. Na Tabela 2, estão expressas as médias dos halos em condições de microaerofilia medidos em 24 e 48 horas.

MaterialMicroorganismo/TempoStaphylococcus aureusStreptococcus mutansEnterococcus faecalisPseudomonas aeruginosaKlebsiellaCandida albicans24h48h24h48h24h48h24h48h24h48h24h48hEndomethasone2118,62523,220,620,215,214,621,421,021,020,4AH615,614,820,420,213,212,010,29,812,212,011,010,6Sealer 2610,69,814,213,09,08,27,2011,011,29,00Sealer 26 - 5%12,611,415,814,210,49,68,2011,411,49,00Sealer 26 - 10%12,812,015,814,212,010,49,2011,812,09,00Sealapex000000000000Ca(OH)2 + soro fisiológico000000000000
TABELA 1 - Média dos halos (em mm) proporcionados pelos materiais, em função dos microorganismos nas condições de aerobiose.

MaterialMicroorganismo/TempoStaphylococcus aureusStreptococcus mutans24h48h24h48hEndomethasone24,424,617,217,2AH2619,819,414,214,2Sealer 2617,818,012,812,8Sealer 26 - 5%17,417,415,815,8Sealer 26 - 10%17,617,414,815,2Sealapex0000Ca(OH)2 +soro fisiológico0000
TABELA 2 - Média dos halos (em mm), proporcionados pelos materiais, em função dos microorganismos em condições de microaerofilia.

DISCUSSÃO

A análise dos halos formados mostra que o Endomethasone foi o material que apresentou maior difusibilidade, corroborando com os achados de PUPO et al.26 (1983) e PUMAROLA et al.25 (1992). O seu poder anti-séptico é atribuído ao paramonoformaldeído, fato comprovado por GROSSMAN14 em 1980. Segundo CWIKLA6, a sua ação se dá por vaporização. Outro componente do seu pó responsável pela ação antimicrobiana é o timol. SHAPIRO; GUGGENHEIN29, em 1995, comprovaram que a ação do timol é atribuída à perfuração da membrana bacteriana, pois essa substância possui um efeito membranotrófico. O terceiro componente presente no Endomethasone que apresenta ação antimicrobiana é o eugenol30,37. Há que ressaltar que a ação do timol e do eugenol é maior sobre anaeróbios estritos em relação a facultativos30. Já o eugenol pode ter sua ação potencializada quando associado à formalina, o que foi constatado por SEOW28 (1990).

As medidas dos halos após 24 e 48 horas foram efetuadas na mesma placa, ditando o efeito antimicrobiano do cimento durante a sua reação de presa. Quanto à sua ação antimicrobiana pós-presa, tem sido demonstrada na literatura a ocorrência de uma queda drástica da mesma26.

O AH26, a exemplo do Endomethasone, apresentou inibição frente a todos os microorganismos, corroborando com outros achados25,26. Porém, nossos resultados discordam daqueles que não constataram seu efeito antimicrobiano sobre a Candida albicans5.

A ação antimicrobiana do AH26 provavelmente se deve à liberação de formaldeído, que ocorre devido à reação de polimerização observada entre a resina bisfenol A e a hexametilenotetramina. Aliás, esta é conhecida, também, como urotropina, um anti-séptico das vias urinárias. Ela é obtida a partir da condensação do amoníaco com o formaldeído. Assim, de acordo com MORAES22 (1984), o escurecimento do AH26, inclusive de outros cimentos compostos de bismuto e hexametilenotetramina — como é o caso do AH26 Silver Free e do próprio Sealer 26 testado neste trabalho, ambos da Dentsply —, ocorre devido a uma reação de redução, causada pela ação do formaldeído, transformando o bismuto do material em bismuto metálico, que é negro. A liberação do formaldeído foi constatada33, sendo que ocorre em maior escala nas primeiras 48 horas, isto é, durante a sua reação de polimerização. Isso explicaria a queda na ação antimicrobiana após o endurecimento, constatada por outros autores26.

A sua difusibilidade, quando comparada com a do Endomethasone, foi menor, corroborando com outros achados25,26 que empregaram similar metodologia. Porém, outros estudos revelaram uma ação maior do AH26, atingindo extensões mais profundas nos túbulos dentinários em blocos de dentina de boi infectados com Enterococcus faecalis23. Tal fato pode ser atribuído a uma maior adesividade às paredes dentinárias, por ser ele um cimento resinoso12, e também ao tempo de presa muito maior do que o do Endomethasone, o qual está em torno de 115 minutos2; no AH26, o tempo é de aproximadamente 43 horas, tornando, assim, a liberação do formaldeído mais prolongada. Outro fator a ser considerado é que o maior halo não significa uma ação mais efetiva do material21.

O Sealer 26, um derivado do AH26 acrescido de hidróxido de cálcio, apresentou alguma ação frente a todos os microorganismos, principalmente no período de 24 horas, corroborando com o estudo de SIQUEIRA JÚNIOR; GONÇALVEZ32 (1992) e discordando do de ESTRELA et al.10 (1995). Sua ação, nesse caso, provavelmente não se deve ao hidróxido de cálcio e, sim, ao formaldeído liberado da hexametilenotetramina. Com a adição do hidróxido de cálcio para formar o pó do Sealer 26, certamente a porcentagem de hexametilenotetramina tenha sido diminuída em relação ao cimento AH26, explicando o seu menor halo em relação a esse material. Tal fato pode ser comprovado com os achados deste trabalho, pois, quando se adicionou 5% ou 10% de hexametilenotetramina ao pó do Sealer 26, ocorreu um ligeiro aumento no tamanho do halo formado.

O Sealapex, outro material avaliado, possui no pó o óxido de cálcio, que, em contato com o fluido tissular, é convertido em hidróxido de cálcio. Não se constatou inibição bacteriana com esse cimento, corroborando com os achados de ESTRELA et al.10 (1995) e SIQUEIRA JÚNIOR; GONÇALVES32 (1992). Porém, outros estudos também constataram efeito inibidor do Sealapex ao utilizar o método de difusão radial5,27. Nesses estudos, os halos sempre se apresentaram pequenos. Já CANALDA; PUMAROLA5 (1990) não encontraram ação do Sealapex em relação à Volinella. A não concordância de resultados entre as pesquisas pode ser atribuída à variabilidade das características do ágar, à contração do material testado, à viscosidade do gel ágar, à temperatura e à concentração iônica do meio38, bem como à variabilidade de resistência das cepas de uma mesma espécie20. ORSTAVIK23 (1988) verificou ausência de inibição do Enterococcus faecalis, localizado no interior dos túbulos dentinários, quando o Sealapex foi colocado em bloco de dentina bovina. Já HELLING; CHANDLER16 (1996), utilizando metodologia similar a de ORSTAVIK23 (1988), encontraram algum efeito, sendo esse maior após 7 dias, porém, aqueles autores16 mantiveram os dentes em ambiente úmido. No meio ágar, provavelmente, não deve ter ocorrido a transformação do óxido em hidróxido de cálcio e nem a solubilização do material, cuja solubilidade é grande13, não ocorrendo, portanto, a liberação de íons hidroxila, responsável pela ação antimicrobiana. Já ESBERARD et al.8 (1996) mostraram que o Sealapex não tem capacidade de alcalinizar dentina; com isso, as bactérias confinadas no interior dos túbulos dentinários ficariam livres da sua possível ação anti-séptica. LEONARDO et al.19 (1994), quando obturaram dentes de cães em uma única sessão, utilizando o Sealapex, constataram insucesso no tratamento, comprovando, por método histobacteriológico, grande contingente de microorganismos. Já TANOMARU FILHO36 (1996) encontrou maior sucesso com o Sealapex, porém, o tratamento foi efetuado em duas sessões, sendo que, entre uma e outra, foi utilizado curativo com pasta de hidróxido de cálcio. No entanto, mesmo havendo reparo, constataram-se, ainda, bactérias remanescentes no interior dos túbulos dentinários.

Para a pasta de hidróxido de cálcio com soro fisiológico, não foi constatada inibição em nenhuma das espécies bacterianas, concordando com resultados de outros autores que empregaram também o método de difusão radial7,18,31. Já STEVENS; GROSSMAN34 (1983) verificaram ação efetiva in vitro, porém, insatisfatória in vivo. ESTRELA et al.11 (1995) também constataram ação do hidróxido de cálcio em meio ágar, porém, a pasta aquosa apresentou menor difusibilidade do que a pasta com paramonoclorofenol canforado. A inefetividade antimicrobiana do hidróxido de cálcio em placas ágar pode estar relacionada com o tamanho de suas moléculas, o que é prejudicial à sua difusibilidade7, ou à não solubilização da pasta, para que ocorra a dissociação de íon cálcio e hidroxila, responsáveis pela ação anti-séptica9,17. A avaliação em meio ágar de substâncias que necessitam de solubilização para liberação dos produtos anti-sépticos é uma grande desvantagem do método38. A falta de umidade para solubilização da pasta prejudica a ação anti-séptica do hidróxido de cálcio, mesmo em dentina15. A confirmação da necessidade do meio úmido para que a pasta de hidróxido de cálcio seja solubilizada é comprovada pela sua efetividade em meios de cultura líquidos4,18 ou em dentes in vitro que foram mantidos em ambiente úmido35. Além disso, estudos in vivo, em que os fluidos tissulares estão presentes, têm consolidado o efeito antimicrobiano e biológico do hidróxido de cálcio4,24. Um outro aspecto importante é o fator tempo, visto que os métodos de difusão radial medem o halo após 24 ou 48 horas. No entanto, o hidróxido de cálcio necessita de tempos maiores para sua ação anti-séptica1,4,36.

CONCLUSÕES

Diante dos resultados obtidos e da discussão pertinente, chegamos às seguintes conclusões:

1. O cimento Endomethasone apresentou ação contra todos os microorganismos testados, tendo a melhor performance dos materiais utilizados neste estudo.

2. O cimento AH26 foi mais efetivo do que o Sealer 26.

3. A adição de 5 ou 10% de hexametilenotetramina ao pó do Sealer 26 aumentou seus valores de inibição, principalmente com 10%.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Universidade do Sagrado Coração de Bauru, por ter cedido o espaço e colaborado para elaboração deste trabalho, e à Profª Drª Isabel Yoko Ito, por ter cedido duas cepas de microorganismos.

DUARTE, M. A. H. et al. Analysis of the antimicrobial action of sealers and pastes used in endodontic practice. Rev Odontol Univ São Paulo, v. 11, n. 4, p. 299-305, out./dez. 1997.

An evaluation of the antimicrobial action of the sealers Endomethasone, AH26, Sealapex, Sealer 26, Sealer 26 with 5% hexametilenotetramine, Sealer 26 with 10% hexametilenotetramine and aqueous calcium hydroxide paste was carried out. Microorganisms were spread over hollowed agar plates, by means of the radial diffusion method. Halo measurements were done after 24 and 48 hours of incubation under aerobic and microaerophilia conditions. The results showed bigger halos when Endomethasone was used, and the increment of hexametilenotetramine in the Sealer 26 increased the inhibition halos of this sealer. The Sealapex and the calcium hydroxide paste did not inhibit bacterial growth.

UNITERMS: Root canal obturation; Culture media.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Recebido para publicação em 27/03/97

Aceito para publicação em 04/06/97

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  • * Parte da Dissertação apresentada à Faculdade de Odontologia de Bauru - USP, para obtenção do grau de Mestre em Endodontia.
    Parte da Dissertação apresentada à Faculdade de Odontologia de Bauru - USP, para obtenção do grau de Mestre em Endodontia.
    ** Professor de Endodontia da USC - Bauru.
    *** Professor de Microbiologia da USC - Bauru.
    **** Professor Doutor do Departamento de Dentística, Disciplina de Endodontia, da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo.
    ***** American Type Culture Collection - 12301 Parklawn Drive, Rockville, Md. 20852. 25923);
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      23 Nov 1998
    • Data do Fascículo
      Out 1997

    Histórico

    • Aceito
      04 Jun 1997
    • Recebido
      27 Mar 1997
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