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Resistência de união à dentina: efeito da umidade e da contaminação com saliva

Effects of moist and saliva contamination on bond strength to dentin

Resumos

Este estudo analisou, por meio de teste de tração in vitro, a resistência de união à dentina de 2 sistemas adesivos (SBMP-Plus/3M e Prime & Bond 2.0/Dentsply), que foram utilizados de 3 formas diferentes: 1) secando com ar após a lavagem do condicionamento ácido; 2) re-umedecendo com água destilada após a secagem, e 3) contaminando com saliva fresca após a secagem. Sessenta dentes molares humanos extraídos foram incluídos em resina acrílica incolor, desgastados com lixa de papel até exposição de dentina no sentido longitudinal e divididos em 6 grupos. Sobre esses dentes foram confeccionados cones de resina composta Z-100 (3M) aderidos com os 2 diferentes sistemas adesivos nas 3 condições descritas anteriormente. Os corpos-de-prova foram submetidos a testes de tração numa máquina de ensaios Universal Wolpert a uma velocidade de 0,5mm/min. Os resultados obtidos foram transformados em MPa de acordo com a área de adesão e submetidos a análise estatística pela ANOVA e teste de Tukey. Os resultados mostraram que os 2 sistemas adesivos não apresentaram diferença estatisticamente significante entre si (p>0,05); os dentes que foram secos (7,31±2,91) apresentaram a menor resistência à tração e aqueles que foram umedecidos com água destilada (12,74±6,59) apresentaram a maior resistência, sendo a diferença entre eles estatisticamente significante no nível de 1%. Os dentes que foram contaminados com saliva fresca (10,62±4,75) apresentaram um valor intermediário entre os dois anteriores, não sendo este estatisticamente diferente de nenhum dos outros dois tratamentos realizados

Adesão; Sistemas adesivos; Contaminação com saliva; Dentina úmida


This in vitro study examined dentin bond strength to dentin of two adhesive systems (SBMP-Plus/3M and Prime & Bond2.0/Dentsply) that were used in three different ways: 1) drying with compressed air after washing the etching solution used; 2) moistening with distilled water after drying; and 3) contaminating the dentin surface with fresh saliva after drying. Sixty extracted human molar teeth were embedded in acrylic resin, the buccal surface was ground with 400grit abrasive disks until dentin exposure and divided into 6 groups. The samples were obtained by bonding conical-shaped specimens made of composite resin to dentin (Z-100 - 3M) and submitted to tensile tests performed by a Wolpert Universal machine, at 0.5mm/min speed. The data obtained were transformed into MPa and submitted to statistical analysis with ANOVA and Tukey test. The results showed that the two adhesive systems were not statistically different one from the other (p>0.05) and that Group 1 (7.31±2.91) showed lower tensile strength; those moistened with distilled water (12.74±6.59) had the greatest tensile bond strength, being the difference between them statistically significant at 1% level. The teeth that were contaminated with fresh saliva (10.62±4.75) showed an intermediate value between the two other groups, and there was no statistical difference when compared to both of them

Adhesion; Adhesive systems; Contamination with saliva; Moist dentin


RESISTÊNCIA DE UNIÃO À DENTINA: EFEITO DA UMIDADEE DA CONTAMINAÇÃO COM SALIVA

EFFECTS OF MOIST AND SALIVA CONTAMINATION ON BOND STRENGTH TO DENTIN

Míriam Lacalle TURBINO** Professora Doutora,

Milton MALULY FILHO*** Professora Doutora,

Michel Nicolau YOUSSEF **** Professora Doutora,

Edmir MATSON ***** Professora Doutora,

TURBINO, M. L. et al. Resistência de união à dentina: efeito da umidade e da contaminação com saliva. Rev Odontol Univ São Paulo, v.11, p.21-26, 1997. Suplemento.

Este estudo analisou, por meio de teste de tração in vitro, a resistência de união à dentina de 2 sistemas adesivos (SBMP-Plus/3M e Prime & Bond 2.0/Dentsply), que foram utilizados de 3 formas diferentes: 1) secando com ar após a lavagem do condicionamento ácido; 2) re-umedecendo com água destilada após a secagem, e 3) contaminando com saliva fresca após a secagem. Sessenta dentes molares humanos extraídos foram incluídos em resina acrílica incolor, desgastados com lixa de papel até exposição de dentina no sentido longitudinal e divididos em 6 grupos. Sobre esses dentes foram confeccionados cones de resina composta Z-100 (3M) aderidos com os 2 diferentes sistemas adesivos nas 3 condições descritas anteriormente. Os corpos-de-prova foram submetidos a testes de tração numa máquina de ensaios Universal Wolpert a uma velocidade de 0,5mm/min. Os resultados obtidos foram transformados em MPa de acordo com a área de adesão e submetidos a análise estatística pela ANOVA e teste de Tukey. Os resultados mostraram que os 2 sistemas adesivos não apresentaram diferença estatisticamente significante entre si (p>0,05); os dentes que foram secos (7,31±2,91) apresentaram a menor resistência à tração e aqueles que foram umedecidos com água destilada (12,74±6,59) apresentaram a maior resistência, sendo a diferença entre eles estatisticamente significante no nível de 1%. Os dentes que foram contaminados com saliva fresca (10,62±4,75) apresentaram um valor intermediário entre os dois anteriores, não sendo este estatisticamente diferente de nenhum dos outros dois tratamentos realizados.

UNITERMOS: Adesão; Sistemas adesivos; Contaminação com saliva; Dentina úmida.

INTRODUÇÃO

Desde a introdução da técnica de condicionamento ácido do esmalte (BUONOCORE4, 1955), a era da Odontologia Adesiva tem sofrido grandes transformações, com aumento significativo da capacidade adesiva dos materiais, primeiro em esmalte e, mais recentemente, em dentina (CHAIN et al.6, 1994). As propriedades adesivas variam em função de muitos fatores em testes laboratoriais (PASHLEY et al.19, 1995). A diferença da capacidade adesiva entre esmalte e dentina pode estar relacionada com as diferentes constituições desses tecidos, uma vez que o esmalte tem, na sua composição, 92% de hidroxiapatita (inorgânica) e a dentina, apenas 45%, além de esta estar intimamente relacionada com o tecido pulpar e apresentar fluido nos túbulos dentinários e processo odontoblástico (SWIFT Jr. et al.22, 1995).

A adesão entre resina e esmalte condicionado é principalmente de natureza micromecânica, enquanto que a adesão em dentina já foi supostamente promovida pela reação química entre a dentina e uma molécula bifuncional, contendo um grupo metacrilato e um grupo capaz de aderir aos constituintes orgânicos ou aos inorgânicos da dentina (ASMUSSEN; MUNKSGAARD2, 1985). Porém, atualmente, sabe-se que, mesmo em dentina, o principal responsável pelo mecanismo de retenção é o microembricamento, também chamado de retenção micromecânica, devido à formação da camada híbrida pela penetração e polimerização da resina entre o colágeno da dentina desmineralizada pelo condicionamento ácido (NAKABAYASHI16, 1992).

Muitos estudos têm sugerido que o sucesso clínico dos sistemas adesivos ao esmalte poderia ser prejudicado pela contaminação com fluidos como a saliva (HORMATI et al.12, 1980; THOMPSON et al.24, 1981; SILVERSTONE et al.21, 1985; O'BRIEN et al.18, 1987), porém, a contaminação da dentina tem provocado resultados menos claros quanto ao seu efeito prejudicial (HANSEN; MUNKSGAARD10, 1989; HITT; FEIGAL11, 1992; BOREN; FEIGAL3, 1992).

Tem sido verificado na literatura que a adesão à dentina é facilitada quando o substrato é umedecido. KANCA14 (1992) e GWINNETT9 (1994) verificaram que a leve umidade da dentina favorecia a adesão. Já MIEARS Jr. et al.15 (1995) não encontraram diferença estatisticamente significante entre procedimentos adesivos realizados sobre dentina úmida ou seca. FINGER ; UNO7 (1996) avaliaram a resistência de união de resina composta à dentina e verificaram que a adesão era aumentada quando a dentina era mantida úmida e que, quando a dentina era re-umedecida, esses valores ainda eram superiores aos obtidos com dentina seca. TAY et al.23 (1995) afirmam que a microinfiltração em restaurações realizadas em dentina úmida é diminuída.

Segundo KANCA14 (1992), a presença de umidade não é apenas permitida e, sim, desejável para os sistemas adesivos. O autor supõe que isso possa estar relacionado com as propriedades da interação água-acetona.

A necessidade da umidade na dentina tem como finalidade a manutenção das fibras colágenas expostas pelo condicionamento ácido numa condição expandida, preservando os espaços interfibrilares e facilitando a difusão dos monômeros resinosos (GWINNETT9, 1994; ARENDS; RUBEN1, 1995). Esse fato foi confirmado por CARVALHO et al.5 (1996), que detectaram haver grande diminuição volumétrica da dentina desmineralizada após a sua secagem e que esse volume foi recuperado quando o tecido foi imerso em água novamente.

A contaminação da dentina pela saliva é um problema mais complexo. O contato adesivo entre essa molécula bifuncional e a superfície dentinária pode ser impedido por uma camada monomolecular da saliva (GLANTZ8, 1977).

JOHNSON et al.13 (1994) analisaram o efeito da contaminação com saliva em diferentes etapas da aplicação do agente adesivo e verificaram não haver influência negativa nessa adesão.

Este estudo teve como objetivo avaliar a influência da umidade com água destilada e da contaminação com saliva sobre a resistência de união da resina composta Z-100 (3M) à dentina humana sadia com o uso de 2 sistemas adesivos de diferentes formas de apresentações comerciais (SBMP-plus/3M e Prime & Bond 2.0/Dentsply) por meio de testes de tração.

Baseando-se nessas observações e julgando-se que uma das fases mais propensas à contaminação com saliva durante o procedimento clínico restaurador seria imediatamente após a lavagem para remoção do ácido, optou-se por provocar a contaminação com saliva ou água destilada nessa fase.

MATERIAL E MÉTODO

Foram utilizados 60 dentes molares humanos não cariados recentemente extraídos (máximo de 6meses) e armazenados em água destilada. Esses dentes foram incluídos em resina acrílica, desgastados no sentido do seu longo eixo até a exposição da dentina vestibular e divididos aleatoriamente em 6 grupos de 10 dentes cada, sendo 3 grupos para cada adesivo. O primeiro grupo de cada adesivo foi confeccionado com a aplicação de ácido fosfórico a 35% por 20 segundos, lavando-se e secando-se por 5 segundos com pressão máxima da seringa de ar. Em seguida, foi aplicado e fotopolimerizado o sistema adesivo conforme a orientação de cada fabricante, ou seja, para o SBMP-plus foi aplicado o "primer" e depois o "bond" e, para o Prime & Bond 2.0, aplicado o único líquido, que corresponde ao "primer" e ao "bond" juntos, por duas vezes. No segundo grupo de cada adesivo, após a lavagem e secagem que sucediam o condicionamento ácido, a dentina foi levemente umedecida com água destilada. A água destilada era aplicada com o uso de um pincel fino em apenas uma camada. Após 5segundos, era realizada a aplicação do adesivo da mesma forma que no grupo anterior. No terceiro grupo, a contaminação foi feita com saliva fresca, sempre do mesmo indivíduo, na mesma etapa do procedimento e também com o uso de um pincel de mesmo calibre. Era aplicada uma camada de saliva e, após 5 segundos, era inserido o sistema adesivo correspondente.

MateriaisTratamentosSBMP-Plus Prime & Bond 2.0Água destilada11,97 ± 7,25ns13,51 ± 6,14Saliva10,47 ± 7,25ns10,77 ± 5,60Secos8,08 ± 3,42ns6,55 ± 2,21
TABELA 1 - Médias das resistências de união (MPa). Interação materiais versus tratamentos (n=10).

Os valores unidos por colchetes não foram diferentes estatisticamente (p>0,05).

Após a aplicação e polimerização do adesivo, posicionava-se sobre a dentina uma matriz de silicona com uma cavidade do formato de um cone, com o diâmetro menor igual a 2mm. Dentro dessa cavidade, era inserida resina composta Z-100 na cor A-2 e fotopolimerizada em 3 incrementos por 40 segundos cada incremento, com aparelho fotopolimerizador 3M, modelo XL-1500. Em seguida, essa matriz de silicona foi removida por meio de um corte feito em sua lateral e os corpos-de-prova foram armazenados por duas horas em estufa a 37ºC, em recipiente com água sem atingir a área de união dente/resina composta. Após esse período, foram realizados os testes de tração, com garra apropriada para esse tamanho de corpo-de-prova, em máquina de ensaios Universal Wolpert, com velocidade de 0,5mm/min. Os dados obtidos foram transformados em MPa de acordo com a área de união e, em seguida, submetidos a análise estatística adequada.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os valores originais consistiam num total de 60valores de resistência de união em MPa, que foram submetidos a análise estatística com auxílio do "software" GMC versão 7.0, desenvolvido pelo Prof. Dr. Geraldo Maia Campos, da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto/USP. Submetidos a testes preliminares de normalidade, detectou-se, com esses valores, tratar de distribuição que poderia ser considerada normal, possibilitando assim o uso de testes paramétricos, a análise de variância. Pelos resultados dessa análise, verificou-se que os 2sistemas adesivos se comportaram de forma semelhante no tocante à resistência de união (F=0,01). Quanto ao fator tratamentos, ou seja, umidade ou contaminação, o teste mostrou haver diferença estatisticamente significante no nível de 1% entre os 3 tratamentos (F=5,79), sendo que, com o teste complementar de Tukey, para comparação entre as médias, pôde-se verificar que os grupos 1 (secos) e 2 (re-umedecidos com água destilada) apresentaram diferença estatisticamente significante entre si (T=4,88); com os dentes secos, obtiveram-se valores menores de resistência de união (m=7,31 ± 2,91) do que quando os dentes foram re-umedecidos com água destilada (m=12,74±6,59). Os dentes contaminados com saliva (m=10,62±4,75) apresentaram valores de resistência de união intermediários em relação aos outros 2 grupos.

Na análise da interação materiais versus tratamentos, a ANOVA mostrou não haver diferença estatisticamente significante (F=0,46). Os valores das médias dessa interação podem ser observados na Tabela 1 e no Gráfico 1.

Analisando o gráfico, pode-se notar o comportamento semelhante entre os 2 sistemas adesivos utilizados, pois as duas linhas caminham muito próximas uma da outra. Pelas diferentes alturas com os 3 diferentes tratamentos, observa-se que a adesão úmida foi superior à seca, sendo que os valores da contaminação com saliva são intermediários para os 2 sistemas adesivos.

GRÁFICO 1
- Interação materiais versus tratamentos.

A obtenção da camada híbrida, descrita por NAKABAYASHI et al.17 (1982), parece ser o principal responsável pela retenção micromecânica das restaurações adesivas, tanto diretas como indiretas. Durante algum tempo, acreditou-se que os "tags", túbulos dentinários preenchidos por resinas de baixa viscosidade (adesivos), fossem os mais importantes no sistema retentivo. As evidências científicas, apoiadas no microscópio eletrônico de varredura, têm mostrado, entretanto, que a camada híbrida é mais importante nesse contexto do que os próprios "tags" (PERDIGÃO; SWIFT Jr.20, 1994).

Os sistemas adesivos têm apresentado, ao longo dos anos, uma constante evolução em sua eficiência. Por um lado, esse aspecto é muito animador mas, por outro lado, evidencia que ainda não existe um sistema completamente aprovado; por esse motivo, há o constante estudo da questão.

A resistência de união obtida com os dois sistemas adesivos por nós testados não apresentou diferença estatisticamente significante. Apesar de serem adesivos de quarta geração, o SBMP-Plus é do tipo convencional, ou seja, "primer" e adesivo estão em frascos diferentes, e o Prime & Bond 2.0 é do tipo frasco único.

A dentina é uma superfície constantemente umedecida. Sabe-se hoje que a mais eficiente forma de adesão é conseguida na superfície úmida da dentina. A tentativa de secá-la, através de jatos de ar intensos, somada aos estímulos do preparo cavitário e ao eventual erro de diagnóstico do estado de vitalidade pulpar, pode levar a traumatismos físicos que posteriormente poderão desencadear sensibilidade pós-operatória e eventuais injúrias pulpares.

Os trabalhos de KANCA14 (1992) mostram forças de adesão significantemente maiores em superfícies úmidas do que em superfícies secas. Essa opinião, hoje, é compartilhada pela maioria dos autores, embora MIEARS et al.15 (1995) não tenham chegado aos mesmos resultados que KANCA14 (1992).

Nossos resultados mostraram que a resistência de união foi menor quando a dentina era seca com jato de ar do que quando foi umedecida com água destilada. Isso confirma os resultados obtidos anteriormente por KANCA14 (1992); GWINNETT9 (1994) e FINGER; UNO7 (1996).

De acordo com GWINNETT9 (1994), ARENDS; RUBEN1 (1995), a presença de umidade é importante para manter a estrutura das fibras de colágeno da dentina em uma condição expandida após a sua desmineralização e prevenir a coalescência e o colapso das mesmas pela secagem excessiva.

Pelos achados de CARVALHO et al.5 (1996), a secagem da dentina desmineralizada diminuiu o seu volume; isso provavelmente está associado a esse colapso das fibras colágenas, e esse volume foi recuperado com a imersão em água após essa secagem.

Os valores de resistência de união obtidos com a dentina contaminada com saliva foram intermediários, não se diferenciando nem dos dentes secos nem dos umedecidos com água destilada. Podemos associar esses resultados ao fato de que, apesar de contaminar, a saliva também umedeceu a dentina, devolvendo, em parte, a estrutura mais satisfatória para a adesão. Os altos valores de desvio padrão obtidos mostram também a grande variação dos resultados dentro dos mesmos grupos, o que dificulta a diferenciação dos grupos entre si.

Alguns autores, como HORMATI et al.12 (1980); THOMPSON et al.24 (1981); SILVERSTONE et al.21 (1985); O'BRIEN et al.18 (1987), sugerem que a contaminação da dentina com fluidos pode prejudicar o sucesso dos sistemas adesivos. Outros autores como JOHNSON et al.13 (1994) verificaram não haver influência negativa na forma de adesão quando a dentina era contaminada com saliva.

É importante considerar o tipo de saliva que promoveu a contaminação. Em nosso trabalho foi utilizada saliva fresca. HANSEN; MUNKSGAARD10 (1989); HITT; FEIGAL11 (1992) afirmam que a saliva fresca tem sido aceita para contaminação em pesquisas.

Os trabalhos in vitro normalmente não se utilizam de saliva contaminada com proteínas ou de produtos sangüíneos, como é freqüentemente encontrado em um campo contaminado in vivo. Parece não haver dúvidas de que superfície dentinária coberta por saliva impede a ação do "primer" dos sistemas adesivos. Essa opinião de GLANTZ8 (1977) é compartilhada pelos autores de modo geral. PASHLEY et al.19 (1995) sugerem que a dentina contaminada seja recondicionada, favorecendo, assim, a ação dos "primers". Os estudos de HANSEN; MUNKSGAARD10 (1989) corroboram essa opinião. Eles verificaram uma melhoria na eficiência da adesão do sistema Scotchbond quando usado em dentina contaminada e posteriormente recondicionada.

As fraturas dos corpos-de-prova foram, na sua grande maioria, do tipo adesivo, caracterizando que os valores registrados correspondiam realmente aos valores da resistência de união e não à falha coesiva da resina composta ou da dentina.

Finalmente, devemos considerar que o comportamento in vivo não pode ser totalmente baseado em resultados de estudos in vitro (PERDIGÃO; SWIFT Jr.20, 1994); entretanto, evidências existem de que sistemas adesivos mais recentes podem promover alguma adesão na presença de saliva.

CONCLUSÕES

Com base na metodologia empregada e nos resultados obtidos, parece lícito concluir que os 2sistemas adesivos não apresentaram comportamentos diferentes estatisticamente no tocante à adesão em dentina. Quando os dentes foram secos rigorosamente após a remoção do ácido, a resistência de união da resina Z-100/sistema adesivo foi estatisticamente menor para ambos os adesivos. Quando os dentes foram ligeiramente umedecidos após a secagem da remoção do ácido, a resistência de união da resina Z-100/sistema adesivo foi estatisticamente maior quando comparada com a dos que foram secos. A contaminação com saliva proporcionou valores de resistência de união intermediários entre os valores dos dentes secos e os dos ligeiramente umedecidos.

TURBINO, M. L. et al. Effects of moist and saliva contamination on bond strength to dentin. Rev Odontol Univ São Paulo, v.11, p.21-26, 1997. Suplemento.

This in vitro study examined dentin bond strength to dentin of two adhesive systems (SBMP-Plus/3M and Prime & Bond2.0/Dentsply) that were used in three different ways: 1) drying with compressed air after washing the etching solution used; 2) moistening with distilled water after drying; and 3) contaminating the dentin surface with fresh saliva after drying. Sixty extracted human molar teeth were embedded in acrylic resin, the buccal surface was ground with 400grit abrasive disks until dentin exposure and divided into 6 groups. The samples were obtained by bonding conical-shaped specimens made of composite resin to dentin (Z-100 - 3M) and submitted to tensile tests performed by a Wolpert Universal machine, at 0.5mm/min speed. The data obtained were transformed into MPa and submitted to statistical analysis with ANOVA and Tukey test. The results showed that the two adhesive systems were not statistically different one from the other (p>0.05) and that Group 1 (7.31±2.91) showed lower tensile strength; those moistened with distilled water (12.74±6.59) had the greatest tensile bond strength, being the difference between them statistically significant at 1% level. The teeth that were contaminated with fresh saliva (10.62±4.75) showed an intermediate value between the two other groups, and there was no statistical difference when compared to both of them.

UNITERMS: Adhesion; Adhesive systems; Contamination with saliva; Moist dentin.

Recebido para publicação em 29/01/97

Aceito para publicação em 22/08/97

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** Professor da Disciplina de Anatomia da UNIARARAS.

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  • * Professora Doutora,
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      28 Jan 2000
    • Data do Fascículo
      1997

    Histórico

    • Aceito
      22 Ago 1997
    • Recebido
      29 Jan 1997
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