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Alteração do plano de orientação de Frankfurt em telerradiografias frontais

Alteration of the Frankfort orientation plane in posteroanterior cephalometric radiography

Resumos

Os autores estudaram possíveis influências em mensurações angulares e lineares verticais do Plano Horizontal de Frankfurt (PHF) quando utilizado como plano de orientação em telerradiografias póstero-anteriores. Foram utilizadas 90 telerradiografias póstero-anteriores, obtidas de trinta pacientes em 3 posições: PHF paralelo ao Plano Horizontal, PHF formando ângulos de mais 5 graus e PHF formando ângulos de menos 5 graus em relação horizontal. Os resultados mostraram que 5 dentre as 6 medidas angulares e 3 dentre as 11 medidas lineares verticais estudadas não mostraram diferença estatisticamente significante. Os autores concluíram que, em casos de inclinação do plano de orientação em telerradiografias póstero-anteriores, as medidas angulares são mais confiáveis do que as medidas lineares verticais. As medidas lineares verticais mostram-se altamente sensíveis às inclinações quando os planos coronais não são muito próximos; as angulares só mostram perda de confiabilidade quando os pontos cefalométricos estão em planos coronais bem distantes.

Radiografia dentária; Cefalometria


The authors studied possible influences on angular and vertical linear measurements of the Frankfort Horizontal Plane (FHP) when used as an orientation plane in posteroanterior cephalometric radiographies. Ninety posteroanterior cephalometric radiographies were used, obtained from thirty patients in three positions: FHP parallel to the Horizontal Plane, FHP forming angles of plus and minus five degrees with the Horizontal Plane. After statistical treatment, five out of the six angular measurements and three out of the eleven vertical linear ones did not show statistically significant differences at a five percent level, in spite of the inclinations. The authors concluded that, in cases of inclination of the plane of orientation in posteroanterior cephalometric radiography, the angular measurements are more reliable than the vertical linear ones. As to the anatomic coronal planes, on which are located the cephalometric points considered for the measurements, the vertical linear measurements proved to be highly sensitive to the inclinations when the coronal planes are not quite close, and the angular measurements present only loss of reliability when the cephalometric points are on coronal points quite distant.

Radiography, dental; Cephalometric


Radiologia

** Resumo da Tese de Mestrado.** Professor Titular, *** Professor Assitente Doutor e **** Mestre em Ciências da área de Radiologia da Faculdade de Odontologia de Piracicaba - UNICAMP.

Alteration of the Frankfort orientation plane in posteroanterior cephalometric radiography

Frab Norberto BÓSCOLO

*** Resumo da Tese de Mestrado.** Professor Titular, *** Professor Assitente Doutor e **** Mestre em Ciências da área de Radiologia da Faculdade de Odontologia de Piracicaba - UNICAMP.

Francisco HAITER NETO**** Resumo da Tese de Mestrado.** Professor Titular, *** Professor Assitente Doutor e **** Mestre em Ciências da área de Radiologia da Faculdade de Odontologia de Piracicaba - UNICAMP.

Solange Aparecida Caldeira MONTEIRO***** Resumo da Tese de Mestrado.** Professor Titular, *** Professor Assitente Doutor e **** Mestre em Ciências da área de Radiologia da Faculdade de Odontologia de Piracicaba - UNICAMP.

BÓSCOLO, F. N.; HAITER NETO, F.; MONTEIRO, S. A. C. Alteração do plano de orientação de Frankfurt em telerradiografias frontais. Rev Odontol Univ São Paulo, v. 12, n. 2, p. 159-166, abr./jun. 1998.

Os autores estudaram possíveis influências em mensurações angulares e lineares verticais do Plano Horizontal de Frankfurt (PHF) quando utilizado como plano de orientação em telerradiografias póstero-anteriores. Foram utilizadas 90 telerradiografias póstero-anteriores, obtidas de trinta pacientes em 3 posições: PHF paralelo ao Plano Horizontal, PHF formando ângulos de mais 5 graus e PHF formando ângulos de menos 5 graus em relação horizontal. Os resultados mostraram que 5 dentre as 6 medidas angulares e 3 dentre as 11 medidas lineares verticais estudadas não mostraram diferença estatisticamente significante. Os autores concluíram que, em casos de inclinação do plano de orientação em telerradiografias póstero-anteriores, as medidas angulares são mais confiáveis do que as medidas lineares verticais. As medidas lineares verticais mostram-se altamente sensíveis às inclinações quando os planos coronais não são muito próximos; as angulares só mostram perda de confiabilidade quando os pontos cefalométricos estão em planos coronais bem distantes.

UNITERMOS: Radiografia dentária; Cefalometria.

INTRODUÇÃO

A radiografia póstero-anterior (PA) com finalidade cefalométrica foi introduzida por BROADBENT2 em 1931. Para orientação da cabeça no sentido horizontal, utilizou o Plano Horizontal de Frankfurt, tanto para obtenção de telerradiografias laterais quanto como para as telerradiografias frontais; no sentido vertical, as telerradiografias laterais eram orientadas segundo o plano sagital mediano e as frontais, orientadas pelo eixo transporiônico (sentido coronal), o que resulta em distâncias diferentes de um mesmo ponto em relação ao filme. A importância do plano de orientação reside no fato de permitir que a posição seja reproduzida ao longo do tempo por operadores diversos e em tempos diferentes.

WYLIE; ELSSASER10 (1948) atribuíram o pouco uso das telerradiografias PA ao fato de a distância do plano do eixo transporiônico ao filme ser maior do que a distância plano sagital mediano-filme nas telerradiografias laterais, ocasionando um maior grau de distorção, e ao fato de que os pontos homólogos, estando em um mesmo plano anatômico, não permitem uma "transferência" para um plano mediano.

O uso do plano de orientação de Frankfurt tem sido motivo de controvérsia dentre os diversos autores; alguns têm-se mostrado favoráveis ao seu emprego, enquanto outros rejeitam-no. Autores como NARDOUX4 (1970) e VION9 (1974), que verificaram não haver perfeita correspondência entre o PHF ósseo e cutâneo, embora façam restrições ao seu uso, não propõem um plano substituto.

As informações fornecidas pela telerradiografia frontal devem servir como reforço às informações transversais oferecidas pela telerradiografia basal e, no sentido vertical, confirmam as informações dadas pela telerradiografia lateral, apesar de serem susceptíveis à inclinação da cabeça4,5,9. NARDOUX5 (1968) ressaltou que as dimensões verticais em telerradiografias frontais não devem ser consideradas antes do confronto dessas medidas com as das telerradiografias laterais.

BERGERSEN1 (1980) reconhece que o fato de os pontos cefalométricos se encontrarem em diferentes planos anatômicos coronais (em diferentes distâncias do ânodo e do filme) dificulta o encontro de um fator de correção para telerradiografias frontais.

BRUNELLI et al.3 (1996), estudando alterações de 5º no plano de orientação de Frankfurt em relação ao solo em telerradiografias frontais, verificaram haver diferenças estatisticamente significantes em nível de 5% para algumas medidas lineares transversais utilizadas na análise cefalométrica padrão Ricketts.

Sabendo da dificuldade na manutenção correta do plano de orientação da cabeça quando utilizado o PHF para orientação no momento da tomada radiográfica, propusemo-nos a estudar as possíveis alterações de medidas angulares e de segmentos verticais de reta quando se utilizam pontos cefalométricos para estudo em telerradiografias cefalométricas póstero-anteriores que sofreram influência da alteração do PHF de 5 graus positivos ou negativos.

MATERIAIS E MÉTODOS

Para a execução do trabalho, foram utilizadas 90 telerradiografias frontais pertencentes ao arquivo do Departamento de Radiologia da FOP-UNICAMP. O grupo foi formado por 30 pacientes adultos, leucodermas, de idade compreendida entre 18 e 23 anos, sem distinção quanto ao sexo. De cada paciente, foram tomadas radiografias frontais em três diferentes posições, tendo por base a relação Plano Horizontal/Plano Horizontal de Frankfurt.

A primeira posição foi considerada aquela em que a cabeça do paciente era estabilizada de tal forma que o Plano Horizontal de Frankfurt (PHF) encontrava-se paralelo ao Plano Horizontal (posição PHF 0º). Na segunda tomada, a cabeça do paciente foi levemente inclinada para trás, de modo que o Plano Horizontal de Frankfurt em relação ao Plano Horizontal formasse um ângulo de +5º (ângulo esse tendo o centro da oliva como vértice). Para a obtenção da terceira radiografia, o Plano de Frankfurt foi abaixado 5º em relação à primeira tomada (PHF 0º), formando um ângulo de -5º em relação ao Plano Horizontal. As angulações foram confirmadas com o auxílio de um goniômetro.

Foram justapostos papéis de acetato às radiografias e demarcados os pontos cefalométricos: supra-orbitário (S), fronto-zigomático (F), zigomático (Z), jugal (J), oclusal (O), antegônio (A), mentoniano (M), ófrion (Of). Os pontos foram marcados por um mesmo operador, a fim de evitar indução de erros pelas variações na definição dos pontos (Figura 1).


Medidas de proporção

Para determinação das medidas de proporção, foram construídos quadriláteros, sendo o lado superior determinado pela Linha Horizontal Frontal (LHF); os outros três lados variaram com a medida de proporção a ser estudada. Após a construção do quadrilátero e as diagonais terem sido traçadas, a leitura foi realizada no ângulo inferior. Para a medida Proporção Nasal (Pns), o lado inferior do quadrilátero foi determinado por um segmento de reta tangenciando os pontos mais inferiores da abertura piriforme e os segmentos laterais tangenciando os pontos mais externos da abertura piriforme. Para a medida Proporção Maxilar (Pmx), utilizamos os pontos jugais. Para a medida Proporção Mandibular (Pmd), os pontos antegônios foram utilizados (Figura 2). Para a medida Proporção Facial (PFc), foram utilizados os pontos zigomáticos, sendo o lado inferior determinado por um segmento paralelo a LHF passando pelo ponto mentoniano.


Medidas angulares

Mediu-se a Postura Mandibular (PstMd e PstMe) - a partir de ângulos tendo como vértice o ponto antegônio e os lados definidos pelos pontos fronto-zigomático e zigomático unidos a ele. Foram estudados os lados direito e esquerdo (Figura 3).


Medidas lineares

Estabeleceu-se o Comprimento do Corpo Mandibular (CCMD e CCME) a partir de segmentos de reta determinados pelo ponto A e ponto M dos lados direito e esquerdo.

A Inclinação dos Planos Oclusais direito e esquerdo (IPOD e IPOE) foi obtida dos segmentos verticais de reta que tangenciam as faces vestibulares dos primeiros molares superiores, delimitados superiormente pela LHF e inferiormente pela LHO (Figura 4).


O segmento de reta unindo os pontos M e Of definiu a linha mediana (LM) e a linha horizontal inferior (LHI) que é a linha horizontal passando pelo ponto M e paralela a LHF; os pontos contralaterais foram unidos e deram origem às linhas horizontais supra-orbitária (LHS), frontal (LHF), bizigomática (LHB), jugal (LHJ), frontal oclusal (LHO) e antegoníaca (LHA) (Figura 5).


Para mensuração dos segmentos verticais, foi considerada a distância entre as linhas horizontais LHS-LHF (supra-orbitária e frontal), LHF-LHB (frontal e bizigomática), LHB-LHJ (bizigomática e jugal), LHJ-LHO (jugal e oclusal), LHO-LHA (oclusal e antegoníaca), LHA-LHI (antegoníaca e inferior) e LHS-LHI (supra-orbitária e inferior).

Os segmentos verticais foram medidos na linha média (Figura 6).


RESULTADOS

Para cada medida, aplicou-se a análise de variância com dupla classificação, isto é, posição do PHF e paciente. Dos resultados obtidos na análise de variância, foram elaboradas as Tabelas 1 e 2, contendo os valores de F. Após o teste F, foi aplicado o teste de Tukey para comparar as médias obtidas a +5º e a -5º com a posição PHF 0º.

TABELA 1
- Médias das medidas dos ângulos das proporções, medidas angulares e teste F.
TABELA 2 -
Médias das medidas lineares e teste F.

DISCUSSÃO

Os autores constataram a importância do estabelecimento de um correto plano de orientação, para que as mensurações em telerradiografias PA sejam confiáveis. Na realização de movimentos de apenas 5º em torno do eixo horizontal transversal, as telerradiografias frontais mostraram-se sensíveis a esse movimento parasita, alterando várias medidas, sendo o mesmo também verificado por BRUNELLI et al.3 (1996) em relação às mensurações transversais em telerradiografias PA.

A inclinação de 5º no PHF foi escolhida pois maiores inclinações são facilmente detectáveis3. RICKETTS6 (1960) relata achados de desvio padrão de 5º no Plano Horizontal de Frankfurt na população normal e VION9 (1974) raramente encontrou coincidência entre o PHF cutâneo, utilizado pelo radiologista, e o PHF ósseo, sendo a falta de concordância superior em 97% dos casos9.

Concomitantemente à inclinação do PHF, ocorre também a modificação do PCT (Plano Coronal Transporiônico), e os pontos craniométricos passam a assumir diferentes posições espaciais em relação ao filme. Na inclinação PHF +5º, o PCT torna-se divergente do filme e os pontos realizam movimentação vertical ascendente; acima do fulcro, horizontalmente, os pontos afastam-se do filme e, abaixo do fulcro, horizontalmente, os pontos aproximam-se do filme. Na inclinação PHF -5º, o PCT torna-se convergente para o filme, e os pontos realizam movimentação vertical descendente; os pontos acima do fulcro, horizontalmente, aproximam-se do filme e, abaixo do fulcro, os pontos afastam-se do filme. Quanto mais distantes do fulcro (oliva), mais pronunciadas são as movimentações verticais e horizontais.

Desse modo, nossa maior preocupação, quando o plano de orientação é alterado, passa a ser em relação aos pontos mais próximos do filme, pois, sendo eles mais distantes do fulcro, sofrem maior movimentação, contrariando a opinião de autores1,7 que, pressupondo o correto estabelecimento do plano de orientação, preocupam-se com os pontos distantes do filme, por serem eles mais sujeitos à ampliação.

As mensurações angulares de Proporção Nasal, Maxilar e Facial mostraram-se confiáveis no nível de 5%, apesar das inclinações PHF +5º e PHF -5º. Esse resultado provavelmente ocorreu devido ao fato de os quadriláteros não terem sofrido alterações significantes em suas dimensões e proporções.

A medida Proporção Mandibular mostrou aumento na posição do PHF -5º e diminuição em PHF +5º, devido ao fato de os pontos craniométricos F e A, utilizados no traçado do quadrilátero, serem distantes entre si no sentido coronal, dando origem à distorção e não apenas à ampliação. Embora a projeção do ponto A na Linha Horizontal Frontal torne o ponto F eqüidistante do filme, ela traz em si embutida a alteração vertical sofrida pelas inclinações, conseqüentemente alterando a forma do quadrilátero. Na posição PHF -5º, o ponto F sofre verticalmente maior movimento descendente em relação ao ponto A, determinando menor altura ao quadrilátero. O ponto A, sofrendo movimento horizontal mais acentuado ao ser projetado na LHF, determina que os lados superiores e inferiores do quadrilátero sejam aumentados quando comparados a PHF 0º; o cruzamento das diagonais determina ângulo de maior abertura, portanto, de maior valor. Na posição PHF +5º, ocorrendo processo inverso com os pontos, os ângulos determinados pelas diagonais são de menor valor. Isso nos leva a concordar parcialmente com THUROW7 (1951), para quem a distorção afeta qualquer medida ou comparação, inclusive as angulares, cujos pontos não estejam no mesmo plano paralelo ao filme. No nosso ponto de vista, a confiabilidade de medidas angulares pode ser obtida se os pontos considerados estiverem em planos anatômicos próximos, como no caso das medidas de Proporção Nasal, Maxilar e Facial, e não necessariamente num mesmo plano.

Apesar de os três pontos envolvidos no traçado dos ângulos para as medidas angulares – Postura Mandibular esquerda e direita – localizarem-se em planos anatômicos coronais e axiais diversos e em plano sagital próximo, em nosso trabalho, as mensurações angulares mostraram confiabilidade, contrariando a opinião de THUROW7 (1951), para quem estas perdem a confiabilidade quando os pontos estão localizados em diferentes planos anatômicos paralelos ao filme. Em nosso estudo, as alterações nas aberturas dos ângulos mostraram-se sem significância, provavelmente devido à pequena movimentação no sentido látero-lateral.

As medidas de segmentos verticais por nós utilizadas mostraram diferença estatisticamente significante em sua grande maioria, o que nos leva a concordar com BERGERSEN1 (1980) e NARDOUX4 (1970) quando citam ser grande a influência do plano de orientação alterado em telerradiografias frontais para mensurações verticais, tornando-as não confiáveis e necessitando serem confirmadas pelas mensurações verticais obtidas em telerradiografia lateral1,5, já que estas apresentam confiabilidade em suas relações verticais, até mesmo quando o plano de orientação apresenta inclinações1,8,9.

Na opinião de THUROW7 (1951), "a distorção depende somente da distância perpendicular ao filme dos pontos envolvidos. A posição sobre o filme ou posição em relação ao raio central não têm significado na ampliação ou distorção". É inegável e incontestável a importância da distância perpendicular dos pontos craniométricos ao filme. Contudo, nossos estudos nos levam a discordar ser esse o único fator que torna os pontos susceptíveis à distorção, pois os pontos utilizados por nós, assim como os pontos cefalométricos utilizados nas diversas análises cefalométricas das quais temos conhecimento, raramente estão situados em um mesmo plano anatômico. De acordo com alguns autores, nesse plano, a ampliação ocorre uniformemente, apesar da divergência dos raios X7 e da localização do ponto dentro de um mesmo plano anatômico7, ficando, dessa forma, os pontos craniométricos próximos ao filme submetidos à ação de raios mais divergentes em relação àqueles mais próximos do PCT. Concordamos com BRUNELLI et al.3 (1996) e NARDOUX4 (1970), que encontraram na conicidade do feixe de raios X uma das fontes de distorção.

As medidas CCMD e CCME são alteradas quando o plano de orientação é inclinado, provavelmente pelo fato de o ponto M impor sua maior movimentação vertical ascendente em relação ao ponto A; este aproxima-se mais do filme na inclinação PHF +5º, determinando redução nas dimensões do segmento e, na inclinação PHF -5º, o maior movimento vertical descendente do ponto M e o afastamento maior do ponto A determinam aumento do segmento CCMD e CCME.

O ponto J, não definido anatomicamente, é apenas construído radiograficamente pelo cruzamento de imagens radiopacas. A intersecção das imagens ocorre próxima à região do primeiro molar superior, onde encontramos o ponto O, ficando, dessa forma, os dois pontos sujeitos à mesma alteração. O segmento vertical LHJ-LHO não mostrou diferença estatisticamente significante no nível de 5%, apesar das pequenas inclinações do PHF, provavelmente pelo fato de os pontos envolvidos nessa medida se situarem em planos anatômicos coronais bastante próximos, sendo, portanto, mais sensíveis à ampliação e menos sujeitos à distorção. Isso reforça a opinião de autores1,8,10 que encontram, na proximidade dos planos anatômicos paralelos ao filme onde se situam os pontos, o grande fator para a confiabilidade das mensurações por ocorrerem apenas ampliações. As medidas verticais IPOD e IPOE apresentaram o mesmo comportamento.

Nos segmentos verticais em telerradiografias frontais, pudemos observar estreita relação entre a disposição dos pontos craniométricos no sentido ântero-posterior e o PCT, alterados espacialmente pela inclinação do PHF. Constatamos que, geralmente, quando o PCT diverge do sentido da disposição dos pontos em um mesmo sentido e, em conseqüência, existe a tentativa de retificação dos segmentos, em média, ocorre aumento da dimensão do segmento, como observado em nossos resultados para os segmentos LHS-LHF e LHF-LHB na inclinação PHF +5º e para os segmentos LHB-LHJ e LHA-LHI na inclinação PHF -5º. Ao contrário, quando a inclinação do PCT e o segmento convergem para o ápice da cabeça, a obliqüidade do segmento em relação ao filme é acentuada, passando o segmento habitualmente a exibir redução em sua dimensão vertical, como ocorreu com os segmentos LHB-LHJ, LHA-LHI e LHS-LHI na posição PHF +5º e LHF-LHB e LHO-LHA em PHF -5º.

Quanto ao segmento LHO-LHA, embora divergente do PCT na inclinação PHF +5º, cremos não ter apresentado diferença estatisticamente significante em sua dimensão, provavelmente por tratar-se de um segmento cuja acentuada obliqüidade não permite retificação suficiente para ser detectada, pois o ponto A, por ser mais posterior e inferior ao ponto O, sofre maior aproximação, compensando a maior movimentação vertical ascendente do ponto O.

Na inclinação PHF -5º, os pontos cefalométricos que definem o segmento vertical LHS-LHF, pelo fato de serem próximos entre si e ao filme, sofrem aproximadamente as mesmas alterações verticais e avizinham-se do fulcro onde as alterações horizontais são muito pequenas, sendo, dessa forma, praticamente mantida a obliqüidade do segmento em relação ao filme, que, em média, não apresenta alteração significante em relação à posição PHF 0º.

Sendo o ponto M mais anterior e mais distante do fulcro em relação ao ponto S, na inclinação PHF -5º, esperado seria o aumento da dimensão do segmento vertical LHS-LHI em relação ao mesmo segmento na posição PHF 0º, tornando-se ele convergente ao PCT em direção ao ápice da cabeça; mas, pelo fato de esses pontos se localizarem verticalmente em sentidos opostos em relação ao fulcro, a maior movimentação vertical do ponto M é neutralizada pelo maior afastamento que esse ponto sofre em relação ao filme e pelo menor movimento de aproximação do ponto S em direção ao fulcro. Dessa forma, o segmento LHS-LHI não mostrou diferença estatisticamente significante quando comparado à posição PHF 0º.

Sendo a telerradiografia PA a única que permite a verificação da simetria vertical por apresentar seus lados esquerdo e direito bem diferenciados em um só filme, apesar de os segmentos verticais se mostrarem sensíveis às inclinações do plano de orientação no momento em que os pontos considerados estão localizados em um mesmo plano coronal, portanto, sujeitos às mesmas distorções nos lados direito e esquerdo, esse tipo de radiografia, apesar das inclinações do plano de orientação, cumpre esse objetivo.

NARDOUX4 (1970), preocupada com a dificuldade de fixação e reencontro do plano de orientação, julga as mensurações que expressam as relações vértico-transversais pouco seguras, mas utiliza a telerradiografia PA para análise da proporção relativa dos componentes da face no sentido transversal. Mas, em trabalhos anteriores, as mensurações transversais mostraram-se sensíveis às inclinações3. Em nosso trabalho, o comportamento aleatório da maioria dos segmentos verticais, na ocorrência de inclinação do plano de orientação, contraria a utilização da telerradiografia frontal para a análise da proporção relativa dos componentes da face no sentido vertical.

Incontestavelmente, a inclinação do plano de orientação em torno do eixo transversal transporiônico em telerradiografias PA traz consigo alterações nas mensurações, mas não deve ser vista como única fonte de erros.

CONCLUSÕES

Os resultados obtidos nas inclinações de +5º e -5º em relação ao Plano Horizontal de Frankfurt, nas tomadas radiográficas de telerradiografias PA, permitem-nos concluir que:

1. As mensurações angulares sofrem menos alterações quando comparadas com as mensurações verticais.

2. A proximidade entre os planos anatômicos coronais, onde se localizam os pontos craniométricos, é de fundamental importância para conferir confiabilidade às mensurações verticais cefalométricas em telerradiografia PA.

3. Nas inclinações do plano de orientação, os pontos craniométricos situados próximos ao filme são mais sensíveis às alterações verticais quando comparados com os pontos próximos ao plano coronal transporiônico.

4. Os pontos craniométricos situados próximos ao fulcro sofrem menores alterações horizontais quando comparados aos pontos distantes do fulcro no sentido vertical.

5. O correto estabelecimento do plano de orientação em telerradiografias PA é fator importante para conferir credibilidade às mensurações realizadas nessas radiografias.

6. Alterações de +5º e -5º no plano de orientação horizontal de Frankfurt são suficientes para causar alterações significantes no nível de 5% nos traçados e nas mensurações realizadas em telerradiografias PA.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao CNPq, pelo auxílio financeiro que possibilitou a realização desta pesquisa.

BÓSCOLO, F. N.; HAITER NETO, F.; MONTEIRO, S. A. C. Alteration of the Frankfort orientation plane in posteroanterior cephalometric radiography. Rev Odontol Univ São Paulo, v 12, n. 2, p. 159-166, abr./jun. 1998.

The authors studied possible influences on angular and vertical linear measurements of the Frankfort Horizontal Plane (FHP) when used as an orientation plane in posteroanterior cephalometric radiographies. Ninety posteroanterior cephalometric radiographies were used, obtained from thirty patients in three positions: FHP parallel to the Horizontal Plane, FHP forming angles of plus and minus five degrees with the Horizontal Plane. After statistical treatment, five out of the six angular measurements and three out of the eleven vertical linear ones did not show statistically significant differences at a five percent level, in spite of the inclinations. The authors concluded that, in cases of inclination of the plane of orientation in posteroanterior cephalometric radiography, the angular measurements are more reliable than the vertical linear ones. As to the anatomic coronal planes, on which are located the cephalometric points considered for the measurements, the vertical linear measurements proved to be highly sensitive to the inclinations when the coronal planes are not quite close, and the angular measurements present only loss of reliability when the cephalometric points are on coronal points quite distant.

UNITERMS: Radiography, dental; Cephalometric.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. BERGERSEN, E. O. Enlargement and distortion in cephalometric radiography: compensation tables for linear measurements. Angle Orthod, v. 5, n. 3, p. 230-244, July 1980.

2. BROADBENT, B. H. A new X ray technique and its application to orthodontia. Angle Orthod, v. 1, n. 2, p. 45-66, Apr. 1931.

3. BRUNELLI, M. R. et al. Influência do posicionamento do plano horizontal de Frankfurt, durante a tomada de telerradiografia frontal, nas medidas cefalométricas. Rev Odontol Univ São Paulo, v. 10, n. 3, p. 215-221, jul./set. 1996.

4. NARDOUX, J. Des possibilités données à la clinique par l’étude transversale de la face. Orthod Fr, v. 41, p. 3-166, mai. 1970.

5. NARDOUX, J. Esquisse d’une confrontation analytique des téléradiographies en incidence frontale et basale. Orthod Fr, v. 39, p. 233-253, 1968.

6. RICKETTS, R. M. A foundation for cephalometric communication. Am J Orthod, v. 46, n. 5, p. 330-387, May 1960.

7. THUROW, R. C. Cephalometric methods in research and private practice. Angle Orthod, v. 21, n. 2, p. 104-116, Apr. 1951.

8. VION, P. Critique d’un dossier téléradiographique tridimensionnel. Orthod Fr, v. 49, p. 739-751, 1978.

9. VION, P. Le diagnóstic dis dissymétries facials squelletiques: méthodologie pt. 2. Orthod Fr, v. 45, p. 27-108, 1974.

10. WYLIE, W. L.; ELSASSER, W. A. Undistorted vertical projections of the head from lateral and postero-anterior roentgenograms. Angle Orthod, v. 60, n. 3, p. 414-417, Sept. 1948.

Recebido para publicação em 23/06/97

Aceito para publicação em 08/10/97

  • 2
    BROADBENT, B. H.  A new X ray technique and its application to orthodontia.  Angle Orthod, v. 1, n. 2, p. 45-66, Apr. 1931.
  • 3
    BRUNELLI, M. R. et al.  Influência do posicionamento do plano horizontal de Frankfurt, durante a tomada de telerradiografia frontal, nas medidas cefalométricas.  Rev Odontol Univ São Paulo, v. 10, n. 3, p. 215-221, jul./set. 1996.
  • 4
    NARDOUX, J.  Des possibilités données à la clinique par l’étude transversale de la face.  Orthod Fr, v. 41, p. 3-166, mai. 1970.
  • 5
    NARDOUX, J.  Esquisse d’une confrontation analytique des téléradiographies en incidence frontale et basale.  Orthod Fr, v. 39, p. 233-253, 1968.
  • 6
    RICKETTS, R. M.  A foundation for cephalometric communication.  Am J Orthod, v. 46, n. 5, p. 330-387, May 1960.
  • 7
    THUROW, R. C.  Cephalometric methods in research and private practice.  Angle Orthod, v. 21, n. 2, p. 104-116, Apr. 1951.
  • 8
    VION, P.  Critique d’un dossier téléradiographique tridimensionnel.  Orthod Fr, v. 49, p. 739-751, 1978.
  • 9
    VION, P.  Le diagnóstic dis dissymétries facials squelletiques: méthodologie pt. 2.  Orthod Fr, v. 45, p. 27-108, 1974.
  • 10
    WYLIE, W. L.; ELSASSER, W. A.  Undistorted vertical projections of the head from lateral and postero-anterior roentgenograms.  Angle Orthod, v. 60, n. 3, p. 414-417, Sept. 1948.
  • *
    Resumo da Tese de Mestrado.
    **
    Professor Titular,
    ***
    Professor Assitente Doutor e

    ****

    Mestre em Ciências da área de Radiologia da Faculdade de Odontologia de Piracicaba - UNICAMP.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      27 Out 1999
    • Data do Fascículo
      Abr 1998

    Histórico

    • Aceito
      08 Out 1997
    • Recebido
      23 Jun 1997
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