Falhas de grampos circunferenciais de próteses removíveis em função de ciclagens de flexão

Removable partial denture clasp failure related to flexural cycling

Materiais Dentários

Falhas de grampos circunferenciais de próteses removíveis em função de ciclagens de flexão

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Removable partial denture clasp failure related to flexural cycling

Marco Antonio MELONCINI^**

Paulo Eduardo Capel CARDOSO^***

Rosa Helena Miranda GRANDE^***

Antonio MUENCH^****

MELONCINI, M. A.; CARDOSO, P. E. C.; GRANDE, R. H. M.; MUENCH, A. Falhas de grampos circunferenciais de próteses removíveis em função de ciclagens de flexão. Rev Odontol Univ São Paulo, v. 12, n. 3, p. 257-260, jul./set. 1998.

A finalidade da pesquisa foi a determinação da freqüência da perda de retenção de grampos de próteses removíveis. A freqüência foi determinada após os vários períodos de ciclagem (x10³: 1, 5, 15, 25). O número de freqüências foi baseado no número de "células" vazias, ou inexistentes, por fratura de grampos ou presença de retenção menor que 120 g, quando era feito ajuste. Assim, o número de "células" vazias é caracterizado pelo número de grampos que se fraturaram ou perderam retenção. As variáveis foram: 4 ligas de metais básicos; 2 tipos de grampos (padrão e extra, mais fino); dentes pré-molar e molar. Os resultados permitiram concluir que: o número de "células" vazias depende das ligas, tanto com ajuste como sem; o número de falhas sem ajuste não foi dependente do tipo de grampo, porém, com ajuste, o extra apresentou menor freqüência de falhas; a freqüência de falhas foi muito grande; e quase a metade ocorreu até 1.000 ciclos.

UNITERMOS: Grampos dentários; Prótese parcial removível; Falha de prótese; Fadiga.

INTRODUÇÃO

O relativo baixo custo e razoável desempenho das próteses parciais removíveis, ainda na atualidade, encontram grande aplicação, satisfazendo as necessidades clínicas de grande parte da população.

AKERS¹, em 1925, descreveu uma técnica de obtenção da estrutura metálica de uma prótese parcial removível, fundida em peça única. BATES³ (1963) referiu-se à perda de retenção dos grampos de próteses removíveis, logo em seguida à sua instalação. Referiu-se a grampos curtos e de grande curvatura, que não apresentavam deflexão suficiente até o limite de proporcionalidade. Em 1965, BATES⁴ apresentou um estudo em que atribuiu a falha por fadiga a problemas estruturais como porosidades ou trincas. Para ANDERSON² (1972) a fratura de componentes de uma prótese removível pode ser atribuída à presença de inclusões, como precipitações eutetóides, grãos cristalinos muito grandes ou falha por fadiga. MENDES⁸ (1975) verificou que grampos de secção uniforme apresentaram resistência à fadiga menor do que os de diâmetros afilados. IWANA⁶ (1985), também, estudou a deformação e fratura de grampos circunferenciais, submetidos a movimentos cíclicos de inserção e remoção. Concluiu que as fraturas por fadiga ocorreram por falhas de fundição, que por sua vez eram dependentes dos laboratórios de prótese.

Segundo a publicação de REMOVABLE⁹ (1989), a fratura ocorre mais freqüentemente quando numerosos ajustes são necessários, e as falhas que ocorrem sem ajuste são devidas, em geral, a problemas de fundição. CUCCI et al.⁵ (1990) pesquisaram a fadiga do grampo "T" de Roach. Verificaram que a fadiga depende de ligas e que o grampo de menor espessura apresentou melhores resultados. Também VALLITTU; KOKKONEN¹⁰ (1995) pesquisaram a fadiga de grampos fundidos. Concluíram que a fadiga depende do tipo de liga e que os grampos reativados tiveram a vida prolongada, embora a sua força retentiva diminuísse. MELONCINI et al.⁷ (1995), investigando grampos circunferenciais, encontraram maior retentividade com os pré-molares do que com os molares e, freqüentemente, os grampos não apresentavam retenção intrínseca.

Ainda persistem muitas dúvidas sobre falhas ou fadiga de grampos para próteses removíveis, pelo que se pretende estudar as falhas com dois tipos de grampos circunferenciais (padrão e extra, de menor espessura), em dentes pré-molar e molar, com ligas de metais básicos. As falhas serão observadas ao final das seguintes ciclagens de flexão (10³): 1, 5, 15 e 25 ciclos. Grampos sem fratura, mas com perda de retenção serão ajustados para a próxima ciclagem, se assim for possível.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo consistiu em computar a freqüência de retenção ausente de grampos de próteses parciais removíveis, quando da observação após certo número de ciclos de inserção e remoção desses grampos em um modelo padrão de cobalto-cromo. A ausência é chamada de "célula" vazia. A perda de retenção é por falha genericamente, que pode ser por fratura do grampo ou abertura por fadiga. A abordagem foi pelo número de "células" vazias sem e com ajuste, quando necessário (retenção menor que 120 g). Para as devidas condições, o número de "células" vazias é tanto maior quanto maior o número de grampos que perderam a retenção, bem como quanto mais cedo isto aconteceu, pois uma falha ocorrida até a primeira ciclagem era considerada assim nas ciclagens subseqüentes. Outra abordagem foi a análise sobre o número de grampos que chegaram à falha.

A obtenção do modelo sobre o qual eram feitas as ciclagens partiu de dentes pré-molar e molar naturais, colocados em modelo de resina acrílica, parcialmente desdentados. Por meio de orientação de um delineador foram preparados os dentes para receber uma prótese parcial removível. A parte do modelo correspondente aos dentes naturais foi moldada com mercaptana (Permlastic). O molde correspondente foi preenchido com silicona de adição (Provil), o qual por sua vez foi incluído em revestimento em duas etapas e o espaço reproduzido, por fundição, em cobalto-cromo, formando o modelo matriz.

A partir do modelo matriz eram obtidos os grampos fundidos por técnica convencional de fundição de ligas para próteses removíveis. As ligas usadas foram: Remanium Gm 380, da Dentaurum (Cr-Co); Dentorium, da Dentorium Products (Cr-Co); Vera PDI Hard, da AALBA Dent. Inc., (Cr-Co); Regalloy 100, da Dentsply, Ind. Com. (Ni-Cr). Os grampos circunferenciais foram de dimensões padrão e extra (mais fino). O grau de retenção foi de 0,254 mm para ambos os dentes (pré-molar e molar).

Juntamente com os grampos foi fundida uma aleta que serviria para aprisioná-los na máquina de ensaios para a ciclagem de inserção e remoção. A máquina empregada foi a mesma usada por IWANA⁶ (1985). A fim de conseguir um melhor alinhamento e amortecimento do grampo para as inserções, o equipamento foi provido, nas peças de fixação, com placas borrachóides intermediárias. As falhas, por perda de retenção, foram detectadas por meio de um dinamômetro de extensão, quando estava abaixo de 120g. Nesta fase o grampo era ajustado se isto fosse possível.

As retenções foram determinadas no início (ciclo 0) e após as ciclagens x10³: 1, 5, 15 e 25.

O número de repetições foi de seis. Portanto, com 4 ligas x 2 grampos x 2 dentes x 6 repetições, o número de grampos obtidos foi 96. Aqueles que não apresentaram falhas em qualquer fase de ciclagem foram avaliados 5 vezes.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O número de "células" vazias sem ajuste corresponde às situações em que houve falha por fratura de grampo ou necessidade de ajuste. As Tabelas 1 e 2 correspondem ao número de "células" vazias e a Tabela 3 contém as freqüências de grampos com falhas em relação ao número total de grampos.

Lembre-se que o número de "células" vazias é tanto maior quanto mais cedo ocorreu o colapso do grampo (fratura, ou perda de retenção, no caso de sem ajuste e, com ajuste, quando fratura ou o grampo não aceitar mais ajuste) e, também, do número de grampos que falharam.

A Tabelas 1 mostra que sem ajuste houve 182 (de um total de 480) espaços vazios e com ajuste 66, freqüências significantemente diferentes entre si. Com o fato, no entanto, não devem ser estabelecidas ilusões, pois a perda de retenção pode ter ocorrido, em muitos dos casos, logo após o ajuste, o que só foi detectado ao final da cliclagem.

A liga Remanium GM 380 apresentou, numericamente, a menor freqüência de "células" vazias, tanto na condição de sem ajuste como naquela com ajuste. Essa menor freqüência chega a ser significante em relação a duas ligas.

As freqüências da Tabela 2 mostram que na condição de sem ajuste não houve diferença significante entre grampos padrão e extra. O mesmo não aconteceu com os grampos com ajuste, onde o extra apresentou melhores resultados (42 padrão, 24 extra). Também o dente molar apresentou melhores resultados que o pré-molar, tanto na condição de sem ou com ajuste.

A freqüência de presença de falha de grampos correspondentes aos diversos ciclos estão na Tabela 3. No intervalo de 0 a 1.000 ciclos houve o colapso de 27 grampos (45,2%) de um total de 96. Ao todo fraturaram ou necessitaram ajuste 60 (62,5%) grampos. Os 45% em relação ao número total de falhas corresponde a 28,1% em relação ao número total de grampos. Verifica-se, ainda, pela Tabela 3 que até 5.000 ciclos ocorreram quase dois terços do número total de falhas. Após 15.000 ciclos, dos 60 grampos com falha, ocorreram apenas 3 (5%) casos. O fato mostra que as falhas que surgem ocorrem com número de ciclos menor.

O motivo da falha de grampos reside no fenômeno da fadiga, quando um material é solicitado ciclicamente. Certamente a fadiga ocorrerá tão mais rapidamente se existirem porosidades ou outras falhas na liga, ou se grandes tensões forem manifestadas durante a ciclagem. ANDERSON² (1972) atribuiu a fratura de grampos à presença de inclusões ou precipitações eutetóides. IWANA⁶ (1985) verificou que todos os grampos fraturados apresentavam falhas de fundição. Também a publicação REMOVABLE⁹ (1989) atribuiu as falhas a projeto ou fundições inadequadas.

CONCLUSÕES

Tendo em vista os resultados obtidos, parece lícito concluir que:

1. O número de "células" vazias depende de ligas, com ou sem ajuste, sendo numericamente mais favorável a liga Remanium e menos a liga Dentorium.

2. Com ajuste, o grampo extra apresentou menor freqüência de falhas.

3. Tanto nos casos com ajuste ou sem, os grampos para molares apresentaram menor freqüência de falhas que para o pré-molar.

4. A freqüência de falhas é muito alta e quase metade ocorreu até os 1.000 ciclos.

MELONCINI, M.A.; CARDOSO, P.E.C.; GRANDE, R.H.M.; MUENCH, A. Removable partial denture clasp failure related to fexural cycling. Rev Odontol Univ São Paulo, v. 12, n. 3, p. 257-260, jul./set. 1998.

The purpose of this research was to study the frequency of retention loss of removable partial denture clasps. Loss of retention was determined after several cycling periods (initially zero, and 1, 5, 15 and 25 thousand). Frequency was based on the number of vacant spaces when the clasp failed by rupture or retention loss under 120g. Thus, the number of vacant spaces depends on the number of clasps fractured and/or that lost retention. Other variables were: four base metal alloys, two types of clasps (standard and extra, which was thinner), and two teeth (premolar and molar). The conclusions were that: the number of vacant spaces depends on alloys with or without adjustment; with adjustment the extra clasp presented less failures; frequency of clasp failures is very high and almost half occurred up to 1,000 cycles.

UNITERMS: Dental clasps; Partial removable denture; Prosthesis failure; Fatigue.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. AKERS, P.E. A new and simplified method of partial denture prosthesis. J Am Dent Assoc, v. 12, n. 6, p. 711-727, June 1925.

2. ANDERSON, J.N. Applied dental materials. 4. ed. Oxford: Blackwell Scientific Publications, 1972. 350p.

3. BATES, J.F. Cast clasps for partial dentures. Int Dent J, v. 13, n. 4, p. 610-614, Dec. 1963.

4. BATES, J.F. Studies related to the fracture of partial dentures. Br Dent J, v. 118, n. 12, p. 532-537, June 1965.

5. CUCCI, A.L.M. et al. Fadiga de grampos de retenção em prótese parcial removível: efeito de ligas, espessura e técnicas de fusão, Parte I. Rev Odontol UNESP, v. 19, p. 245-250, 1990.

6. IWANA, C.Y. Verificação de deformação e fratura de grampos circunferenciais em ligas de cromo-cobalto. São Paulo, 1985. 95p. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Odontologia, Universidade de São Paulo.

7. MELONCINI et al. Geometria dos grampos circunferenciais de prótese parcial removível, praticada pelos laboratórios comerciais e sua retenção intrínseca. RPG, v. 2, n. 4, p. 237-244, out./dez. 1995.

8. MENDES, A.M. Deformação e fadiga de grampos circunferenciais fundidos em ligas metálicas de prótese. Florianópolis, 1975. 51p. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina.

9. REMOVABLE partial denture. Dent Advisor, v. 6, n. 4, p. 1-8, Dec. 1989.

10. VALLITTU, P.K.; KOKKONEN, M. Deflection fatique of cobalt-chromium, titanium, and gold alloy cast denture clasp. J Prosthet Dent, v. 74, n. 4, p. 412-419, Oct. 1995.

Recebido para publicação em 25/06/97

Reformulado em 14/10/97

Aceito para publicação em 08/01/98

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Resumo da Dissertação de Mestrado da Área de Concentração em Materiais Dentários da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo.

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Prof. de Prótese da Faculdade de Odontologia de Araras - SP.

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Profs. Drs. e

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Prof. Titular do Departamento de Materiais Dentários da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  10 Nov 1999
• Data do Fascículo
  Jul 1998

Histórico

• Aceito
  08 Jan 1998
• Revisado
  14 Out 1997
• Recebido
  25 Jun 1997