Intervenção Breve para uso de Substâncias Psicoativas no Brasil: revisão sistemática

Brief Intervention for Psychoactive Substance use in Brazil: a systematic review

RESUMO

As Intervenções Breves têm sido preconizadas há mais de 20 anos pela Organização Mundial da Saúde como uma estratégia de prevenção aos problemas relacionados ao uso de Substâncias Psicoativas, tendo como prioridade a aplicação nos serviços de atenção primária à saúde visando a diminuição dos riscos relacionados a esse fenômeno. Diante disso, o objetivo do presente estudo foi mapear e descrever as evidências científicas existentes na literatura sobre o uso de Intervenção Breve para o uso de Substâncias Psicoativas desenvolvidas no Brasil. Trata-se de revisão sistemática. As buscas foram realizadas em sete fontes de informações, em agosto de 2021. Todos os estudos foram desenvolvidos com abordagem quantitativa. O álcool esteve presente na maioria dos estudos, seguido da maconha e nicotina. O cenário predominante foi a unidade básica de saúde, com público de adultos de ambos os sexos e universitários. A maioria apresentou como proposta a Intervenção Breve grupal presencial e somente dez indicaram o referencial norteador da Intervenção Breve utilizada. No Brasil, as Intervenções Breves são incipientes e os estudos apresentados não destacam com exatidão o referencial norteador da intervenção utilizada.

PALAVRAS-CHAVES
Substância Psicoativa; Saúde mental; Intervenções Breves; Atenção Primária à Saúde

ABSTRACT

Brief Interventions have been recommended for more than 20 years by the World Health Organization as a strategy to prevent problems related to the use of Psychoactive Substances, with priority being applied in primary health care services in order to reduce the risks related to this substance. phenomenon. Therefore, the objective of the present study was to map and describe the existing scientific evidence in the literature on the use of Brief Intervention for the use of Psychoactive Substances developed in Brazil. This is a systematic review. Searches were carried out in seven sources of information in August 2021. All studies were developed with a quantitative approach. Alcohol was present in most studies, followed by marijuana and nicotine. The predominant scenario was the basic health unit, with a public of adults of both sexes and university students. The majority presented a brief face-to-face group intervention as a proposal and only ten indicated the guiding reference of the Brief Intervention used. In Brazil, Brief Interventions are incipient and the studies presented do not accurately highlight the guiding reference for the intervention used.

KEYWORDS
Psychoactive Substance; Mental health; Brief Interventions; Primary Health Care

Introdução

A problemática do uso de Substâncias Psicoativas (SPAs) se faz presente no Brasil e no mundo. Os dados mais recentes divulgados pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) apontam que, durante a pandemia de Covid-19, cerca de 275 milhões de pessoas usaram algum tipo de droga, sendo que aproximadamente 36 milhões sofrem de transtornos associados ao uso da substância¹. No que se refere ao uso de drogas ilícitas no Brasil, a última atualização, em 2019, do III levantamento nacional sobre o uso de drogas pela população brasileira estima que cerca de 11,3% ou 24 milhões de brasileiros já fizeram uso alguma vez na vida. Esses dados se acentuam ainda mais ao observar o consumo de álcool, que 70,1% da população relata ter utilizado em alguma ocasião².

Como forma de mitigação desta problemática, desde 2001 é recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a utilização de Intervenções Breves (IB)³. As IB são estratégias que objetivam a redução do consumo de SPAs e buscam promover saúde e qualidade de vida, com diminuição dos riscos que o consumo nocivo pode causar⁴, ⁵. A partir de abordagens educacionais e motivacionais, qualquer profissional de saúde treinado e capacitado pode atuar junto ao cliente, levando-o a refletir e perceber que tal consumo coloca sua vida e saúde em risco, o que, consequentemente, tem potencial para motivar a mudança do comportamento com relação ao uso de SPAs, atenuando ou extinguindo a utilização da substância⁶, ⁷, ⁸, ⁹, ¹⁰. Há evidências robustas de que a IB se constitui em uma estratégia consolidada e eficaz na mudança do padrão de uso de álcool, reduzindo entre 23 e 36% da mortalidade em indivíduos que consomem grandes quantidades de álcool¹¹.

Na América Latina, enfatiza-se que as práticas de IB ainda são pouco difundidas e realizadas, isto em virtude da escassez de políticas governamentais e baixo número de recursos humanos¹². A implementação de políticas de prevenção é fundamental para obter resultados mais efetivos, como também o treinamento e capacitação da equipe profissional, principalmente da atenção básica, já que nesses espaços os profissionais têm possibilidade de estabelecer vínculo para um cuidado longitudinal⁶.

Apesar da importância das IB no cenário de cuidado em saúde, dada a prevalência do consumo e os índices de morbidade e mortalidade pelo uso de SPAs, observa-se uma escassez de pesquisas realizadas no Brasil abordando sua aplicação e efetividade e o conhecimento dos profissionais a respeito da IB¹³, ¹⁴. Nessa perspectiva, essa revisão tem como pergunta norteadora: qual o conhecimento científico produzido sobre IB para pessoas adultas em uso de SPAs no Brasil?

Por conseguinte, o objetivo do presente estudo foi mapear e descrever as evidências científicas existentes na literatura sobre o uso de IB para o uso de SPAs desenvolvidas no Brasil.

Material e métodos

Estudo de revisão sistemática de escopo¹⁵, ¹⁶. Verificou-se a inexistência de registros ou publicações anteriores no sistema PROSPERO, Cochrane ou no Instituto Joanna Briggs de revisões que contemplassem todos os aspectos dessa revisão. O protocolo foi registrado no Open Science Framework (OSF).

A elaboração da estratégia de busca foi ancorada em Participants, Concept and Context (PCC), assim, foram incluídos os estudos que respondessem aos termos: “participants”, pessoas adultas de ambos os sexos, com mais de 18 anos, que fazem uso de SPAs; “concept”, IB como estratégia terapêutica para uso de SPAs; “context”, evidências desenvolvidas no Brasil.

Quanto aos critérios de elegibilidade, foram incluídas pesquisas primárias qualitativas e quantitativas, revisões sistemáticas, protocolos e relatos de casos relacionados à IB como estratégia terapêutica para usuários de SPAs, independentemente da modalidade utilizada, detalhando os métodos usados, o processo de pesquisa e os resultados, sem restrição de idiomas e período de publicação. Foram excluídos os documentos incompletos, repetidos, que não se relacionavam à temática ou não responderam ao objetivo elencado por esta revisão.

Uma busca livre foi realizada em agosto de 2021 na Medline e Cinahl, com as palavras-chave “brief intervention” e “substance related disorders” para definição da estratégia de busca, que foi formulada a partir da análise das palavras contidas nos títulos, resumos e descritores dos artigos que respondiam ao problema de investigação. A estratégia de busca ficou estruturada com os termos “brief intervention”, “substance related disorders/rehabilitation” e “substance related disorders/therapy”. Os resultados foram capturados no período de 05 de agosto a 20 de outubro de 2021, nas fontes de informações: National Library of Medicine (PubMed), The Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (Cinahl), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Web of Science (WOS), Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Embase. Para a literatura cinza, investigou-se o Catálogo de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). A estratégia de busca utilizada foi inicialmente projetada para PubMed e adaptada para as demais, considerando as particularidades do processo de busca: (“brief intervention”[All Fields] AND (“substance related disorders/rehabilitation”[MeSH Terms] OR “substance related disorders/therapy”[MeSH Terms])).

Os resultados da busca foram selecionados e avaliados em um processo de duas etapas. Na primeira etapa, os títulos e resumos foram revisados por dois autores independentes e as discrepâncias foram resolvidas por consenso. Um terceiro revisor foi consultado quando não houve consenso na seleção dos estudos. A extração de dados foi realizada por um único autor por artigo e revisado por outro autor. Um instrumento de extração de dados de revisão de escopo foi desenvolvido anteriormente à extração, para seleção das informações bibliométricas dos estudos (autor, ano de publicação, periódico, cenário, tipo de estudo e amostra), tipo de SPAs e modo como a IB foi aplicada. Os dados extraídos foram sintetizados em dois quadros sinópticos. A figura 1 apresenta o fluxograma do processo de seleção dos estudos.

Figura 1
Fluxograma de seleção dos estudos (PRISMA-ScR)

Resultados

A amostra foi composta por 20 estudos desenvolvidos no Brasil⁶, ¹⁰, ¹², ¹⁷, ¹⁸, ¹⁹, ²⁰, ²¹, ²², ²³, ²⁴, ²⁵, ²⁶, ²⁷, ²⁸, ²⁹, ³⁰, ³¹, ³², ³³ que responderam aos critérios de elegibilidade, conforme fluxograma do processo de seleção de acordo com o PRISMA-ScR, disposto na figura 1.

O espaço temporal das publicações variou de 1998 a 2021, com maioria no idioma português⁶, ¹⁰, ¹², ¹⁷, ¹⁸, ¹⁹, ²⁰, ²¹, ²², ²³, ²⁴, ²⁵, ²⁶, ²⁷, ²⁸, ²⁹, ³⁰, ³¹, ³², ³³ e um artigo publicado somente no idioma inglês³². Referente ao público alvo, destacam-se amostras de universitários¹⁰, ¹⁷, ²², ³¹, ³² e adultos de ambos os sexos⁶, ¹², ²⁰, ²¹, ²⁴, ²⁵, ³³. Quanto ao delineamento metodológico, todos os estudos foram desenvolvidos com abordagem quantitativa⁶, ¹⁰, ¹², ¹⁷, ¹⁸, ¹⁹, ²⁰, ²¹, ²², ²³, ²⁴, ²⁵, ²⁶, ²⁷, ²⁸, ²⁹, ³⁰, ³¹, ³², ³³. Por conseguinte, sobre os cenários dos estudos destacaram-se as universidades e hospitais universitários¹⁷, ²², ²⁴, ²⁸, ²⁹, ³⁰, ³¹, ³², os centros de tratamento para dependência química/serviço nacional de orientação e informação sobre o uso de drogas/unidade de pesquisa em álcool e droga¹⁹, ²⁰, ²³, ²⁶ e as Unidades Básicas de Saúde⁶, ¹⁰, ¹², ¹⁸, ²⁷, ³³.

Em relação às SPAs mais relatadas, o álcool esteve presente na maioria dos estudos⁶, ¹⁰, ¹², ¹⁷, ¹⁸, ¹⁹, ²⁰, ²¹, ²², ²³, ²⁵, ²⁶, ²⁸, ²⁹, ³⁰, ³¹, ³², ³³, seguido da maconha⁶, ¹⁸, ²⁴, ²⁶, sendo ainda destacado a nicotina⁶, ¹⁸, ²⁷ e a cocaína⁶, ¹⁸, ²⁶. Em relação aos instrumentos utilizados para o rastreio do padrão do uso do álcool em indivíduos que realizaram a IB, destaca-se o AUDIT¹⁰, ¹², ¹⁷, ²¹, ²², ²⁸, ³², ³³. A amostra de participantes nos estudos variou de no mínimo 11¹⁰ para, no máximo, 1031 indivíduos⁶. Relacionado à forma que a IB era realizada, enfatiza-se aquelas desenvolvidas de maneira individual presencial⁶, ¹⁰, ¹⁷, ¹⁹, ²², ²⁵, ²⁷, ²⁸, ³⁰, de forma grupal presencial¹², ²¹, ²⁴, ²⁶, ²⁹, ³¹, ³², ³³ e intervenção via contato telefônico²³, ²⁶. Os quadros 1 e 2 dispostos a seguir sumarizam os aspectos da caracterização da amostra e evidências encontradas.

Quadro 1
Sumarização dos estudos sobre Intervenção Breve para Substâncias Psicoativas desenvolvidas no Brasil incluídos na amostra. Brasil, 2022

Autor e Ano	Periódico	Objetivo	Público-alvo e amostra	Delineamento Metodológico
Abreu et al. (2018)6	Revista Brasileira de Enfermagem	Identificar o uso de álcool e outras drogas entre usuários da Estratégia Saúde da Família e aplicar Intervenção Breve para problemas relacionados ao uso dessas substâncias	Adultos de ambos os sexos (n=1031)	Estudo descritivo do tipo transversal
Soares et al. (2019)10	Revista Brasileira de Enfermagem	Identificar o impacto da Intervenção Breve juntamente à arteterapia em pacientes que fazem uso de álcool	Adultos que participaram de um projeto de extensão universitário (n=11)	Estudo de intervenção com delineamento intragrupo
Soares; Vargas (2020)12	Revista Brasileira de Enfermagem	Verificar a eficácia da Intervenção Breve em Grupo (GBI), realizada por enfermeiros em etapas motivacionais para mudança do padrão de ingestão de álcool	Adultos com padrão de risco/prejudicial de uso de álcool (n=180)	Ensaio clínico randomizado
Sawicki; Fram; Belasco (2018)17	Revista Eletrônica Saúde Mental Álcool Drogas	Identificar o consumo de Substâncias Psicoativas, o padrão de consumo de álcool e suas características entre universitários de enfermagem e o impacto da Intervenção Breve sobre o padrão de consumo	Estudantes universitários de ambos os sexos (n=36)	Estudo longitudinal, experimental
Santo et al. (2020)18	Revista de Enfermagem Referência	Caracterizar o perfil e o consumo das substâncias psicoativas dos pacientes em tratamento da tuberculose e analisar a relação entre as variáveis de saúde, o consumo e a adesão ao tratamento, na perspectiva da Intervenção Breve (IB)	Adultos com tuberculose pulmonar e/ou extrapulmonar de ambos os sexos (n=114)	Estudo epidemiológico descritivo correlacional
Oliveira et al. (2008)19	Psicologia: Refexão e Crítica	Relatar um estudo longitudinal, no qual alcoolistas internados em unidades específicas de tratamento foram submetidos a um ensaio clínico para avaliar a efetividade de uma IB	Homens adultos (n=152)	Estudo transversal retrospectivo com base em avaliações de seguimento
Castro; Laranjeira (2009)20	Jornal Brasileiro de Psiquiatria	Avaliar a eficácia da naltrexona com Intervenção Breve em pacientes com dependência de álcool	Adultos de ambos os sexos (n=71)	Ensaio clínico randomizado, duplo-cego, placebo-controlado de 12 semanas
Ferreira et al. (2016)21	Psicologia em Pesquisa	Realizar um estudo piloto para avaliar a efetividade da Intervenção Breve no contexto laboral para o uso de álcool	Adultos de ambos os sexos (n=104)	Ensaio clínico randomizado não controlado, de natureza quantitativa
Sawicki et al. (2018)22	Revista Brasileira de Enfermagem	Avaliar o padrão de consumo de álcool, o impacto da Intervenção Breve (IB) e a Qualidade de Vida (QV) de universitários de Enfermagem.	Estudantes universitários de Enfermagem (n=281)	Estudo prospectivo longitudinal
Valente et al. (2019)23	Jornal de Pediatria	Avaliar a viabilidade e eficácia preliminar de um programa de telessaúde de prevenção com base em uma intervenção breve motivacional, para ajudar a reduzir as práticas de risco dos pais e aumentar suas práticas protetoras com relação ao uso de drogas, em comparação à psicoeducação	Pais de adolescentes (n=26)	Ensaio piloto randomizado controlado
Jungerman; Andreoni; Laranjeira (2007)24	Drug and Alcohol a Dependence	Aplicar abordagens conhecidas e eficazes para usuários de drogas para prevenção de recaídas e treinamento de habilidades de enfrentamento	Adultos de ambos os sexos (n=160)	Estudo controlado randomizado
Andrade; Scatena; Micheli (2017)25	Revista Eletrônica Saúde Mental Álcool E Drogas	Avaliar a eficácia de uma intervenção preventiva em comportamentos futuros de beber e dirigir de indivíduos após a saída de bares e restaurantes	Adultos que pretendiam dirigir após a saída de bares e restaurantes (n=140)	Estudo de intervenção com acompanhamento de um mês
Figlie et al. (1998)26	Jornal Brasileiro de Psiquiatria	Pesquisar a satisfação do familiar para com o serviço recebido, bem como modificações ocorridas com os familiares e com os dependentes, do ponto de vista do familiar, após 30 meses de uma intervenção breve grupal baseada na abordagem cognitiva – comportamental	Famílias pertencentes ao Depto. de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (n=119)	Estudo de seguimento
Bertani; Tanni; Godoy (2021)27	Jornal Brasileiro de Pneumologia	Determinar a influência de uma Intervenção Breve baseada em terapia cognitivo-comportamental customizada, complementada por um vídeo e um manual com conteúdo desenvolvido especificamente para fumantes grávidas, nas taxas de cessação do tabagismo durante a gravidez e após o parto	Gestantes fumantes (n=143)	Ensaio clínico controlado e randomizado
Brites; Abreu; Portela (2019)28	Txto & Contexto Enfermagem	Analisar o efeito da Intervenção Breve na redução do padrão de consumo de álcool entre trabalhadores, na perspectiva da saúde do trabalhador	trabalhadores de universidade pública (n=36)	Estudo quase-experimental, prospectivo, não randomizado
Campos et al. (2018)29	Jornal Brasileiro de Pneumologia	Comparar duas intervenções de cessação do tabagismo baseadas na terapia cognitivo-comportamental em pacientes internados, quanto à eficácia, e avaliar os fatores relacionados à recaída após a alta hospitalar	População fumantes, após a alta hospitalar (n=90)	Estudo prospectivo, randomizado
Oliveira et al. (2015)30	Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões	Avaliar os mecanismos e a gravidade do trauma em pacientes que preenchessem critérios para abuso ou dependência de álcool de acordo com o Mini International Neuropsychiatric Interview (MINI) e apresentar o padrão de consumo de álcool e as mudanças um ano após o trauma.	Pacientes vítimas de trauma; (n=348)	Estudo quantitativo de corte transversal e longitudinal
Silva; tucci (2015)31	Psicologia: Reflexão e Crítica	Avaliar o padrão de consumo de álcool e suas consequências, antes e após a aplicação da intervenção BASICS	Estudantes universitários de ambos os sexos (n=32)	Estudo descritivo, quantitativo e longitudinal
Simão et al. (2008)32	Alcohol & Alcoholism	Comparar a quantidade e a frequência do uso de álcool e suas consequências negativas associadas entre dois grupos: intervenção e controle	Estudantes universitários de ambos os sexos (n=266)	Estudo clínico randomizado
Soares J; Vargas D (2019)33	Revista de Saúde Pública	Verificar a efetividade da Intervenção Breve grupal realizada por enfermeiros, na redução do uso de risco e nocivo de álcool em usuários de um serviço de Atenção Primária à Saúde.	Indivíduos maiores de 18 anos (n=180)	Ensaio clínico, randomizado

• Fonte: elaboração própria.

Quadro 2
Sumarização da amostra quanto a substância psicoativa, cenário, IB, principais resultados e conclusões. Brasil, 2022

n	Substância psicoativa e Cenário	Intervenção Breve	Principais Resultados	Principais conclusões
6	Álcool, tabaco, maconha, hipnóticos, cocaína, anfetaminas, opióides, inalantes; Unidade Básica de Saúde	IB aplicada por acadêmicas de enfermagem treinadas, que utilizaram o Alcohol, Smoking and Substance Involvement Screening Test (ASSIST). Após a realização do rastreio, aplicaram a IB para os casos moderados, sem realizar seguimento para verificar efeito; - Não menciona o referencial da IB.	As drogas mais usadas foram álcool e tabaco; entre as drogas ilícitas, destacaram-se maconha, hipnóticos e cocaína/crack. Os que mais receberam IB foram os usuários de tabaco, hipnóticos, maconha, cocaína/crack e álcool.	A aplicação de IB foi necessária para alguns usuários de substâncias psicoativas, com destaque para aqueles que usavam álcool, tabaco, hipnóticos, maconha e cocaína/crack.
10	Álcool; Unidade Básica de Saúde	Aplicação do AUDIT e IB presencial. Os pacientes participaram por 10 meses de oficinas com duração de 3 horas por semana, para aplicação de técnicas artísticas expressivas das quais foram realizadas para fortalecer a mudança comportamental, além de continuar o acompanhamento na UBS; - Utiliza o FRAMES.	Seis participantes cessaram o consumo de álcool, quatro apresentaram alto nível de consumo e um apresentou consumo médio. O resultado do teste t pareado sugeriu diferença estatisticamente significante entre os escores inicial e final, bem como tamanho de efeito de 0,76.	A IB pareada com a arteterapia apresentou um alto grau de eficácia na redução/cessação do consumo abusivo de álcool; e os enfermeiros psiquiátricos são capazes de realizar essa técnica com ótimos resultados.
12	Álcool; Unidade Básica de Saúde	Divisão em grupo controle (GC) e experimental (GE). A IB do GC consistiu em um feedback da pontuação, um folheto educativo e um convite para mais duas avaliações posteriores com aplicação do AUDIT. Na IB do GE foi feito um feedback da pontuação, um folheto educativo e um convite para participar de quatro sessões de IB em grupo; - Utiliza o FRAMES.	Houve diferença significativa no estágio de prontidão para mudança de comportamento entre GC e GE. Os participantes do GE tenderam a permanecer motivados no seguimento e observou-se diminuição nos escores de motivação do GC durante o mesmo período.	A Intervenção Breve em grupo mostrou-se uma estratégia eficaz para aumentar a motivação para a mudança da etapa comportamental
17	Álcool; Universidade	IB presencial com uso de palestra como feedback coletivo; um ano após a primeira palestra, reaplicou novo feedback das pontuações obtidas no AUDIT; - Não menciona o referencial da IB.	IB diminuiu significativamente o consumo de risco entre os bebedores. Entre os bebedores de baixo risco, metade referiu estar preparada para diminuir o consumo	A intervenção curta diminuiu significativamente o padrão de consumo de álcool.
18	Álcool, tabaco, cannabis e cocaína; Instituições municipais de saúde	Rastreio da estratificação de risco pelo ASSIST, com aplicação da IB presencial para os pacientes que pontuaram para álcool, tabaco, cannabis e cocaína, com seguimento de dois meses; - Não menciona o referencial da IB.	Observou-se maior adesão dos que faziam uso de tabaco, seguidos do uso de álcool, cannabis e cocaína quando comparados com os que não aderiram, embora sem associação significativa para todas as substâncias.	Verificou-se a vulnerabilidade da população em relação ao consumo de substâncias psicoativas quanto à adesão ao tratamento da tuberculose.
19	Álcool; Centros de tratamento para dependência química	IB presencial em três momentos: antes do início do tratamento (T1), no qual os participantes foram alocados de forma aleatória nos grupos de intervenção e de controle; três meses depois da primeira avaliação (T2); e quatro anos depois da primeira avaliação (T3); - Utiliza a Entrevista Motivacional.	Os dados demonstram que os sujeitos tiveram mais êxito na manutenção da abstinência e compareceram em maior número aos follow-up, demonstrando melhores resultados comparados com o grupo controle.	A IB causa impacto imediato, promovendo assim melhor relação custo benefício, o que, em serviços de atenção primária, pode ser uma técnica de fácil aplicação e resultados eficazes.
20	Álcool; Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas	IB aplicada de forma presencial, com seguimento de 30 e 90 dias; - Não menciona o referencial da IB.	Menor porcentagem de sujeitos tratados com naltrexona recaíram. A naltrexona com IB não foi superior ao placebo para diminuir os dias de consumo, os dias de consumo moderado e os dias de consumo pesado.	Embora o grupo naltrexona tenha demonstrado tendência para reduzir taxa de recaída, não foi encontrada nenhuma diferença em outras variáveis de consumo de álcool entre os grupos naltrexona e placebo.
21	Álcool; Empresa de médio porte do setor de metalurgia	Realizou-se o SBIRT, sendo divididos os indivíduos em grupos: Grupo 1-Feedback e Panfletos e Grupo 2-IB. Após três meses, tais grupos foram contatados via telefone para uma nova aplicação do AUDIT; - Utiliza o FRAMES.	O grupo 02 (IB) reduziu significativamente o consumo de álcool e o grupo 01 (Feedback/ panfletos) não apontou diferenças significativas. Porém, os dois grupos sinalizaram tendências para a redução do consumo.	A aplicação da IB no ambiente de trabalho foi viável. A IB no ambiente de trabalho deve possibilitar uma reflexão crítica aos psicólogos, profissionais de Recursos Humanos e demais envolvidos, já que o foco desta intervenção é motivar o usuário a modificar o uso de drogas.
22	Álcool; Universidade	IB presencial com aplicação do AUDIT, seguida de palestra, entrega de folheto educativo e encaminhamento de cartilha por e-mail eletrônico abordando o tema. Após três meses, nova aplicação do AUDIT acrescida avaliação da IB anteriormente realizada; - Não menciona o referencial da IB.	A IB e o material educativo foram avaliados como bons por estudantes universitários, afirmando que as estratégias contribuíram para atitude positiva em relação ao consumo de álcool. Ocorreu diminuição no padrão de consumo de álcool entre as etapas.	Após duas IBs, ocorreu diminuição significativa no consumo de risco/nocivo/provável dependência de álcool, na frequência e no número de doses consumidas.
23	Álcool; Substâncias psicoativas; Serviço Nacional de Orientação e Informação sobre o Uso de Drogas	Foi aplicado um modelo de teleintervenção motivacional tendo como base a perspectiva teórica na entrevista motivacional e os estágios de mudança. O grupo de controle recebeu a intervenção usual do serviço (intervenção psicoeducacional), enquanto o grupo experimental recebeu uma IB motivacional; - Utiliza um novo modelo referencial, que integra a teoria de aprendizagem social e a teoria de desenvolvimento social com teleintervenção motivacional.	A IB mostrou-se mais eficaz do que a psicoeducação na redução do comportamento negligente dos pais. Além disso, ao comparar os dados pré e pós-intervenção, IB ajudou a mudar o estilo parental e a grande maioria das práticas parentais: aumento do monitoramento positivo, diminuição do abuso físico, disciplina relaxada, punição inconsistente e monitoramento negativo.	A intervenção de telessaúde é eficaz na modificação das práticas parentais conhecidas por ajudar na prevenção do uso de drogas.
24	Maconha; Ambulatório universitário	O 1º grupo consistiu em 4 sessões em um mês, uma a cada semana, com sessões individuais semanais de entrevista motivacional e prevenção de recaídas, o 2º grupo consistiu nas mesmas 4 sessões ao longo de 3 meses e por fim o 3º grupo, controle de tratamento tardio foi informado sobre a randomização e que seria contatado para o 1º acompanhamento 4 meses depois; - Não menciona o referencial da IB.	Ambos os tratamentos (grupos 1 e 2) apresentaram resultados semelhantes no acompanhamento de 4 meses e melhores que o controle de tratamento tardio; para o consumo de cannabis não houve diferença entre os tratamentos, enquanto o esquema do grupo 2 mostrou maior eficácia na redução dos sintomas de dependência e uso de outras drogas, de acordo com a subescala de drogas ASI (Índice de gravidade do vício).	Houve uma tendência do tratamento mais longo ter melhores resultados, independentemente da intensidade, embora a lista de espera tenha tido algum efeito positivo
25	Álcool; Locais comerciais	Os participantes tiveram seus níveis de alcoolemia avaliados, estimulados por um bafômetro, responderam um questionário sociodemográfico e padrão do uso de álcool e receberam um folheto informativo durante a IB, de duração de 5 a 10 minutos, com o uso de componentes de feedback normativo; - Não menciona o referencial da IB.	Dentre aqueles com concentração de álcool no sangue abaixo de 0,6g/l (86%), a maioria notou que consideraram que beber pode interferir de forma significativa no desempenho de direção. Grande parte dos participantes (69%) apresentaram BAC abaixo dos limites criminais estabelecidos por lei e 31% acima deste limite. Contudo, após um mês, o questionário foi novamente aplicado e não se observou redução significativa no comportamento de beber e dirigir.	As pessoas estão cientes dos riscos envolvidos em beber e dirigir, bem como a interferência do álcool em seu desempenho. No entanto, essa informação não promoveu a mudança esperada no comportamento, indicando a necessidade de intervenções mais efetivas.
26	Álcool, maconha, cocaína, crack; Uniad (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas)	Aplicação de uma IB familiar, sem a presença do dependente. Após 30 dias foi realizada uma entrevista por ligação com o questionário adaptado CSQ-8, que é uma medida global do grau de satisfação do cliente frente ao serviço oferecido; - Não menciona o referencial da IB.	Houve uma média do escore do questionário, não sendo encontrado baixa satisfação. Quando questionado aos familiares acerca das modificações ocorridas nos dependentes, a maior parte alegou modificações positivas.	O impacto do serviço proposto foi considerado positivo do ponto de vista do familiar, evidenciando o desfecho favorável da IB proposta em familiares de dependentes químicos .
27	Nicotina; Unidades Básicas de Saúde e na Unidade de Obstetrícia hospitalar	Foi realizada uma sessão de 15 minutos de IB individualizada. Foi entregue um DVD contendo um vídeo e suas consequências do tabagismo. As participantes foram randomizadas em um grupo de Intervenção (I), onde foram incentivadas a participar de até sete sessões de tratamento individual realizadas no mesmo dia das consultas de pré-natal; ou um grupo Controle (C), sem participação adicional em sessões de tratamento individual; - Não menciona o referencial da IB.	Os programas educacionais de pré-natal com conteúdo relacionado aos efeitos do tabagismo durante a gravidez foram eficazes para aumentar a cessação do tabagismo e tal eficácia aumentou com a intensidade do programa.	A IB complementada por material educativo teve um efeito positivo nas taxas de abstinência do tabagismo em mulheres grávidas. No entanto, são necessárias intervenções mais intensas, com maior atenção aqueles expostos a níveis mais elevados de tabagismo, incluindo o fumo passivo
28	Álcool; Universidade	Participantes selecionados por meio da aplicação do AUDIT. Foi realizada entrevista motivacional associada à IB com intervalo de uma semana. Após três meses foi reaplicado o AUDIT; - Utiliza a Entrevista Motivacional.	Verificou-se que todos aqueles que terminaram as sessões de IB e retornaram após três meses reduziram o padrão de consumo de álcool. A média dos escores AUDIT antes e depois de três meses da IB mostrou que houve redução do padrão de consumo de álcool.	A IB mostrou-se positiva no efeito da redução do padrão de consumo de álcool, que foi positivo após três meses do rastreamento inicial, entre os trabalhadores.
29	Nicotina; Hospital universitário	Os participantes foram divididos em dois grupos (Grupo InB e Grupo InIV). Os participantes do grupo InB receberam aconselhamento sobre os perigos do tabagismo e os benefícios de parar de fumar em uma sessão com duração de 10 minutos, sem recursos audiovisuais e medicamentosos. O grupo InIV recebeu aconselhamento com duração de 40 minutos, sendo uma intervenção oral de 10 minutos e a apresentação de um vídeo educativo de 30 minutos, sem recursos medicamentosos; - Utiliza intervenção intensiva baseada em terapia cognitivo-comportamental.	Após 6 meses de seguimento, quase um terço dos pacientes estavam abstinentes dos grupos InB e InIV. Dos 33 pacientes que haviam permanecido abstinentes durante todo o período de seguimento de 6 meses, 18 relataram melhora dos sintomas respiratórios; 15 melhora da situação financeira; 13 melhora do olfato; e 10 melhora do paladar.	A IB com a apresentação de um vídeo educativo, seguido de contato por telefone, foi positiva quanto à taxa de recaída após 6 meses de seguimento. Foi observado taxa de abstinência de 40,7% entre os pacientes avaliados 6 meses após a alta.
30	Álcool; Hospital universitário	Os pacientes que preencheram critérios para abuso de álcool foram submetidos à IB. O seguimento foi realizado um ano após o trauma via contato telefônico, questionando acerca do padrão de uso de álcool bem como as razões de eventual mudança de comportamento; - Não menciona o referencial da IB.	60,6% mantiveram o padrão de uso, 30,3% reduziram e 9,1% interromperam o uso. Entre os dependentes, 80,6% mantiveram o padrão de uso, 6,5% reduziram e 12,9% interromperam o uso. Poucos, porém, referiram a IB como o fator determinante da interrupção ou redução do consumo de álcool.	O seguimento após um ano mostrou reduções do padrão de consumo de álcool, porém a IB não foi a razão mais relatada para a mudança do comportamento.
31	Álcool; Universidade	BASICS - com uma intervenção de dois encontros com intervalo de 15 dias e com duração de até 50 minutos cada, com grupo controle e experimental; - Utiliza a BASICS.	Em ambos os grupos houve diminuição das doses consumidas, menos prática de binge drinking e redução de consequências negativas.	Revelou diminuição do consumo de álcool e suas consequências negativas entre estudantes universitários, tanto do grupo controle quanto do grupo experimental.
32	Álcool; Universidade	Aplicação BASICS nos estudantes e comparação do grupo controle com o grupo intervenção, utilizando o AUDIT e RAPI (Rutgers Alcohol Problem Index) na triagem e novamente nas entrevistas de acompanhamento realizadas aos 12 e 24 meses após a linha de base; além da avaliação do Brief Drinker Profile (BDP) e da Escala de Dependência de Álcool (ADS); - Utiliza a BASICS.	Estudantes tratados em um acompanhamento de 24 meses diminuíram a quantidade de uso de álcool por ocasião e reduziram os escores de AUDIT e RAPI.	Após a intervenção, os alunos bebedores ‘em risco’ apresentaram uma melhora significativa, relacionado à redução da quantidade, na frequência e das consequências nocivas do uso de álcool em comparação com aqueles que não receberam a intervenção.
33	Álcool; Unidade Básica de Saúde	Indivíduos que pontuaram a zona I do AUDIT receberam folheto educativo sobre problemas relacionados ao álcool. Os participantes foram divididos em grupos controle e experimental, onde os do grupo controle receberam Intervenção Breve de 60 a 120 minutos em quatros encontros semanais e os experimentais foram convidados a participarem de quatro Intervenção Breve Grupal, sendo esses participantes subdivididos em grupos compostos por mínimo de cinco sujeitos que receberam a intervenção em quatro encontros semanais; - Utiliza a técnica de automudança guiada (AMG).	Os participantes do grupo experimental apresentaram redução estatisticamente após a aplicação da Intervenção Breve Grupal, sendo observado também redução no grupo controle, sendo evidenciado resultados positivos no tocante a efetividade da Intervenção Breve Grupal.	Revelou que a Intervenção Breve Grupal conduzida pelo enfermeiro no âmbito da Atenção Primária à Saúde mostrou-se efetiva para a redução dos níveis de consumo de álcool em indivíduos com padrão de uso de risco ou nocivo.

• Fonte: elaboração própria.

Discussão

As evidências da utilização de IB para SPAs mostram que são desenvolvidas com maior ênfase para o uso de álcool¹⁰, ¹², ¹⁷, ¹⁸, ¹⁹, ²⁰, ²¹, ²², ²³, ²⁵, ²⁶, ²⁸, ³², ³³. O último levantamento realizado pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool³⁵ apresenta que o consumo abusivo ocorreu entre 19,4% dos brasileiros no último ano, índice superior ao de 2018 (17,9%), evidenciando a necessidade de estratégias para mitigação do uso na população.

Ao analisar a forma como são feitas as intervenções, têm-se que a maioria é realizada de forma presencial, com uso de recursos audiovisuais e associação de palestras ou materiais educativos, com uma nova aplicação do instrumento de avaliação para verificar a efetividade da IB e a redução de danos. As abordagens de IB com utilização de materiais audiovisuais são descritas como positivas referente ao consumo de SPAs, com impacto assertivo na redução do padrão de consumo³⁶.

As IB são aplicadas com a utilização de referências que norteiam a operacionalização da estratégia. Destacam-se os acrônimos FRAMES (Feedback, Responsibility, Advice, Menu of option, Empathy, Self-efficacy), BASICS (Brief Alcohol Screening and Intervention for College Students) e Auto Mudança Guiada como os mais utilizados nos países que têm consolidado a IB como abordagem para redução do consumo de SPAs³⁷. Contudo, no Brasil os estudos descrevem quantidade variada de sessões, instrumentos utilizados para rastreio do padrão de uso da substância e feedback, tempo de seguimento para avaliação e a abordagem se individual ou grupal, porém não explicitam o referencial utilizado, fragilizando a disseminação da IB no País.

As amostras destacam os estudantes universitários, grupo mais propenso a ingerir substâncias e adotar comportamentos de risco, uma vez que ocupam uma posição mais vulnerável em termos de suas condições de saúde mental e exposição ao álcool e demais substâncias³⁸, ³⁹. Por se tratar de universitários, o BASICS é descrito na literatura como o mais utilizado, sendo, portanto, uma IB desenvolvida e com padrões para usabilidade nesse público³¹. Estudos de um modo geral que fizeram uso da metodologia com grupos controles e experimentais obtiveram bons escores de resultados utilizando o BASICS, no que se refere à baixa do consumo e consequências associadas⁴⁰, ⁴¹.

No rastreio do consumo prejudicial de álcool, o Alcohol Use Disorder Identification Test (AUDIT) é o teste mais frequentemente usado para a triagem do uso de álcool, diferenciando-se, portanto, dos demais uma vez que permite o rastreio de distintos padrões de consumo. Confere maiores resultados de identificação de uso de risco ou nocivo do álcool e de provável dependência⁴², ⁴³.

Um dos passos durante a IB é trabalhar com a motivação da pessoa, principalmente aqueles que estão ambivalentes sobre sua situação – segundo estágio no processo de prontidão para mudança; e, portanto, uma das medidas de construção de motivação na IB é conhecida como Entrevista Motivacional (EM). A EM propõe-se planejar e estruturar conversas efetivas, centradas nos pacientes, para que estes resolvam a ambivalência e se convençam a mudar, tendo como base seus próprios valores e interesses, por isso a comunicação faz-se essencial na prática de aconselhamento de dependência⁴⁴, ⁴⁵.

A falta de treinamento de profissionais para lidar com o consumo problemático de SPAs deve ser salientada, Ramírez et al.⁴⁶ indicam que apesar dos profissionais de saúde rejeitarem o alcoolismo e serem mais rígidos por um aspecto moralista, podem ser mais permissivos quanto ao consumo moderado de álcool, deixando-se influenciar por crenças pessoais e conceitos morais. Evidencia-se, assim, a importância de treinamentos de educação continuada a respeito do tema e aprimoramento das intervenções, pois apesar de ser utilizado um instrumento validado com boa sensibilidade e especificidade para se rastrear⁴⁶, ao aplicá-lo de maneira inadequada o mesmo pode perder sua efetividade.

A utilização da IB no Brasil é considerada promissora, sendo suas técnicas implementadas em distintos cenários, desde a Atenção Primária à Saúde permeando-se até os serviços de maior complexidade, como os de emergência. Destaca-se o seu custo benefício e sua facilidade em aplicação, o que contribui para utilização em grande escala. Dentre os aspectos benéficos que a IB traz, a redução de danos, os estágios de mudanças e as motivações são destaques válidos de reflexão, sendo dessa forma uma adoção possível e oportuna de ser realizada. Referente à eficácia das intervenções, a partir da análise em nossos achados é preciso considerar que o objetivo em reduzir o consumo e proporcionar mudanças no comportamento foi alcançado na maioria dos estudos.

Considerações finais

Esta revisão encontrou estratégias em comum adotadas para IB do uso de SPAs no Brasil. Dentre os achados, evidenciou-se que a maioria apresentou como proposta a IB grupal presencial, com alta taxa de sucesso na aplicabilidade e resultados alcançados, principalmente quando acompanhada de outros materiais audiovisuais educativos, levando à promoção de mudanças nos comportamentos do uso de risco de SPAs e redução de seus determinantes.

Ressalta-se um cuidado especial aos grupos de estudantes universitários, que se fez altamente presente nos achados e constituem uma classe mais vulnerável. Entre as limitações do estudo, destaca-se a possibilidade de não termos conseguido identificar todos os trabalhos que versam sobre a IB em virtude das palavras-chave utilizadas nas buscas não estarem indexadas em arquivos que poderiam compor a amostra. Apesar de escassas, as evidências científicas existentes na literatura sobre triagem, IB e encaminhamento para tratamento no Brasil revelam seus reflexos na qualidade da assistência prestada aos usuários e sua rede de apoio, sendo possível efetivamente identificar e abordar o uso indevido de substâncias e transtornos por uso de substâncias.

• *
  Orcid (Open Researcher and Contributor ID).
• Suporte financeiro: não houve

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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  15 Set 2023
• Data do Fascículo
  Jul-Sep 2023

Histórico

• Recebido
  02 Jul 2022
• Aceito
  15 Mar 2023