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Ensino de psicologia

RESENHA

Ensino de psicologia1 1 WITTER, C. (ORG.), (1999). ENSINO DE PSICOLOGIA - CAMPINAS, SP: ED. ALÍNEA, 204P.

Sandra Leal Calais

UNESP - Universidade Estadual Paulista - Bauru/ bolsista Capes

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: UNESP - Departamento Psicologia Av. Eng. Edmundo Carrijo Coube s/nº 17033-360 Bauru SP

O livro, organizado pela Dra.Carla Witter, conta com nove capítulos sendo cinco de textos teóricos e quatro de textos de pesquisa, escritos por pesquisadores vinculados a várias universidades paulistas.

O primeiro capítulo intitulado ''A formação do psicólogo: considerações gerais" é de Yukimitsu. Nele considera a importância da pesquisa na formação do profissional considerando que a maior parte dos formados vai para a atuação clínica sem uma preparação acadêmica mais científica. Há uma preponderância da visão remediativa contra a visão preventiva. Chama a atenção para a preocupação ética que a universidade deve imprimir e a relevância da postura pessoal do professor neste sentido, em relação aos alunos, aos colegas e à própria universidade. A diversidade cultural é bastante lembrada pela autora, na importância da formação: profissionais devem ser mais versáteis para atender as variações culturais dentro do próprio país. Também se antecipa às mudanças curriculares que estão surgindo quando invoca uma formação mais básica que possibilite ao profissional uma ampliação da população que por ele pode ser atendida.

Este capítulo inicia o livro de forma bastante crítica e propõe boas reflexões sobre a formação do psicólogo.

No segundo capítulo, Natário aponta que no Brasil vem surgindo a constatação de que a formação científica é a base do desenvolvimento tecnológico, científico e social. Deveria o ensino anterior (1Qe 2Qgraus) contribuir para formar o futuro pesquisador, porém o que se vem fazendo é mais informar do que formar o estudante: o fazer está dissociado do pensar. Os estudantes brasileiros têm poucos livros em casa, não dispõem de laboratórios de ciência nas escolas e são a grande audiência da televisão. O ensino superior enfatiza mais a atividade de dar aulas do que quaisquer outros objetivos. Até porque os custos da pesquisa científica são altos, o que em países pobres leva ao prejuízo da investigação e também devido à ingerência de fatores políticos e de conjuntura fora da Universidade. Nas questões da dificuldade de pesquisa na Universidade, mostra especialmente a condição do professor remunerado por hora/aula e propõe a solução com a implantação efetiva da carreira docente nas escolas particulares.

É de grande valia o que a autora propõe, de forma clara e objetiva.

''A formação em psicologia escolar no exterior e no Brasil" é o que Gonçalves enfoca, mostrando o desacordo entre os psicólogos escolares quanto à matéria de trabalho e seu objeto de estudo. Em nível internacional, existe uma controvérsia se o psicólogo escolar é um psicólogo puro ou um educador puro ou uma junção de ambos. Os termos Psicologia da Educação e Psicologia Escolar acabam também sendo usados em contextos diferentes. São enfocados também os aspectos da formação, da pesquisa e atuação em muitos países. No cenário nacional destaca a dezena de papéis e funções que o psicólogo escolar pode desempenhar em sua atuação. Categoriza também as áreas de estudo que deveriam compor a formação do psicólogo escolar.

O texto indica o panorama internacional contemporâneo e o grande leque de papéis desempenhados pelo psicólogo escolar na perspectiva brasileira, sendo de grande importância aos profissionais da área.

O quarto capítulo é assinado por Witter que levanta a necessidade de um banco de dados com todos os trabalhos realizados no Brasil sobre a formação do psicólogo e de outros temas para evitar o custo e o tempo de investigações duplicadas. Faz um levantamento de várias pesquisas, assinalando as questões mais importantes a serem revistas.

O estudo de Witter deve servir de ponto de referência a qualquer pesquisador que for fazer alguma investigação sobre a formação e atuação do psicólogo escolar.

A importância do estudo do comportamento humano no contexto educacional para aqueles que vão ensinar, é sobre o que escreve Foresti. O conhecimento psicológico é fundamental para auxiliar o educador a lidar com os processos psicológicos presentes na educação. Também a tecnologia educacional que inclui a aplicação da Psicologia Comportamental pode conduzir o processo instrucional de forma melhor. Conhecer a Psicologia do Excepcional e as teorias da aprendizagem possibilita ao professor uma melhor avaliação da relação ensino-aprendizagem. Identificar problemas à luz da Psicologia pode favorecer a seleção de objetivos e soluções para essas dificuldades. Propor um modelo mais científico para o professor é habilitá-lo a solucionar mais facilmente as complicações tão presentes na vida escolar e a atingir os objetivos educacionais. A Psicologia Educacional ministrada na formação de educadores, no entanto, não tem conseguido dar suporte teórico que oriente a prática pedagógica. Também não dá a esses profissionais a consciência de sua responsabilidade social e a criticidade que deve acompanhar a sua ação.

Foresti enfatiza o papel do profissional que ministra a Psicologia Educacional nos cursos de formação de professores.

No Capítulo 6, Natário relata uma pesquisa onde analisa as concepções e experiências a respeito de pesquisas em estudantes universitários quintanistas de um curso de Psicologia onde grande parte já havia se envolvido com pesquisa, embora não se saiba em que extensão. Ao conceito de pesquisa falta unanimidade; as condições adversas para pesquisa na universidade são apontadas; o pouco envolvimento do corpo docente também. Interessante é a atribuição que os participantes deram quanto a esse envolvimento: a universidade é a responsável pela não adesão à pesquisa por parte dos alunos mas quando se trata de professores, são eles próprios os responsáveis por seu não engajamento. A estatística não é vista como auxiliar para a compreensão de pesquisas e também as disciplinas diretamente relacionadas à investigação não são valorizadas.

Esse alerta de Natário, através de seus dados de pesquisa, pode ser extensivo a todos os cursos de Psicologia.

A produção científica em Psicologia Escolar é avaliada por Witter. Foram avaliados por cinco anos três periódicos reconhecidos cientificamente e dois anais de congressos em Psicologia Escolar. Seus resultados foram divididos em análise de periódicos, análise dos anais e papéis e funções do Psicólogo Escolar. Os resultados são pouco alentadores quanto a quantidade de artigos publicados por mês nas três revistas e salienta que a revista do Conselho Federal de Psicologia, órgão representativo da classe, é a que menos apresenta diversidade, quantidade e qualidade de artigos. Também a análise de temas surpreende com a carência de alguns de grande importância. Nos anais dos congressos a contribuição científica está mais de acordo com a realidade da atuação do Psicólogo Escolar.

Pesquisas como a de Witter, apontam as falhas no rumo da Psicologia e podem permitir as correções destas distorções.

Gonçalves apresenta uma investigação sobre análise de currículo enfocando especialmente a Psicologia Escolar: foram levantadas mudanças curriculares ocorridas nos anos 80 como ampliação de créditos na área, redução da carga horária de algumas disciplinas e inclusão de disciplinas complementares optativas. Porém, maior mudança ocorreu nos estágios, principalmente em Psicologia Escolar.

Percebe-se pela análise de Gonçalves, que tem havido uma tentativa de mudança nos currículos de Psicologia embora não se possa avaliar se positiva ou não.

Para se aprender a ser psicoterapeuta, a supervisão tem sido um instrumento insubstituível, lembra Yukimitsu. O papel do supervisor é mostrado como o maior responsável pelo processo, com uma postura neutra, ética, cordial, que não incentive competição/rivalidade entre os supervisionados. Um levantamento dos estágios em várias IES quanto a carga horária geral e semanal de estágio, número de créditos, semestres em que se inicia o estágio, número de sessões/semana, tempo de atendimento, duração do atendimento, tipo e pagamento de atendimento, dentre outros é relatado.

É de fundamental importância o texto de Yukimitsu para os supervisores de estágio e embora tenha um enfoque psicodinâmico, vai além da abordagem. Traz grandes contribuições comprovadas por pesquisa, de onde podem surgir sugestões para uma melhoria da supervisão de forma geral.

O livro trata da pesquisa e prática em Psicologia, enfocando desde o ensino superior, o ensino de Psicologia e a formação do psicólogo, passando pela formação específica do Psicólogo Escolar, as concepções sobre pesquisa entre alunos,a supervisão de estágio e a produção científica. Pela forma como foi organizado (teoria e pesquisa) com referências bibliográfIcas atualizadas e escrito de forma objetiva e concisa, pode ser tido como referência a todos os profissionais da área de pesquisa, docência e atuação profissional.

  • Endereço para correspondência:
    UNESP - Departamento Psicologia
    Av. Eng. Edmundo Carrijo Coube s/nº
    17033-360
    Bauru SP
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    WITTER, C. (ORG.), (1999). ENSINO DE PSICOLOGIA - CAMPINAS, SP: ED. ALÍNEA, 204P.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      22 Jul 2014
    • Data do Fascículo
      Abr 2000
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