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Estereótipos sociais de universitários em relação aos ambientalistas

Social stereotypes of college students in relation to the environmental defenders

Resumos

Este trabalho objetiva estudar, de forma exploratória e descritiva, os conteúdos dos estereótipos de universitários em relação aos ambientalistas. Participaram deste estudo 325 alunos de ambos os sexos, com média de idade de 24 anos. Foi pedido aos participantes que expressassem, de forma livre, todos os atributos que lhes viessem à cabeça para a palavra-estímulo "Ambientalistas". Foram listadas 2.014 palavras de conteúdo positivo e 1.034 de conteúdo negativo. Estas palavras foram agrupadas por sinonímia/similaridade em 19 atributos positivos e 85 negativos com suas respectivas freqüências. Estes atributos foram categorizados em 03 (três) grupos/núcleos de significações (NS) que constituem, respectivamente, três dimensões semânticas (DS): (1) NS - Sociedade, DS - Política; (2) NS - Natureza, DS - Ecológica; (3) NS - Indivíduo, DS - Pessoal. Os resultados obtidos mostraram os atributos relacionados pelos alunos universitários, os quais podem subsidiar ações e políticas de grupos de ambientalistas e ampliar sua eficácia quanto à opinião pública.

estereótipos sociais; ambientalistas; estudantes universitários


This paper has the objective/purpose of studying, and exploring in descriptive form, the contents of stereotypes of college students concerning to the environmental defenders. Three hundred and twenty-five (325) students of both sexes, average of 24 years old took part into this study. It was asked to the participants to express, in free way, all the attributes which came our to their minds for the stimulus expression "Environmental Defenders". Two thousand and fourteen (2,014) words of positive content and one thousand and thirty-four (1,034) of negative content were listed. Such content words were grouped by similarity into one hundred and nineteen (119) positive attributes and eighty-five (85) negative with their respective frequencies. Those attributes were categorized into three groups/nuclei of meanings (NS - NM) which constitute three semantic dimensions (DS - SD), respectively: (1) NM - Society, SD - Politics; (2) NM - Nature, SD - Ecological; (3) NM - Individual, SD - Personal. The obtained results show the attributes related by the college students, which can give support to actions and politics of environmental defenders and increase their effectiveness according to public opinion.

social stereotypes; college students; environmental defenders


ARTIGOS

Estereótipos sociais de universitários em relação aos ambientalistas* (* ) Este trabalho é parte da Dissertação de Mestrado defendida no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social, da Universidade Federal da Paraíba. Os autores agradecem o apoio financeiro da CAPES para realização deste trabalho.

Social stereotypes of college students in relation to the environmental defenders

Eduardo Figueiredo MoreiraI; Joselí Bastos da CostaII; Jorge da Silva RaymundoIII; Ludgleydson Fernandes de AraújoIV

IMestre em Psicologia Social/Universidade Federal da Paraíba - Av. Cabo Branco, 3380 Apto 52, Ed. João Marques de Almeida CEP 58045-010 – Bairro: Cabo Branco. E-mail:moreiraef@ hotmail.com

IIProfessor Doutor em Psicologia Social/Departamento de Psicologia/ Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social/Universidade Federal da Paraíba, E-mail: joseli-costa@uol.com.br

IIIProfessor Doutor em Psicologia Social/ Departamento de Psicologia/ Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social/ Universidade Federal da Paraíba, E-mail: jorgemun@cchla.ufpb.br

IVMestrando em Psicologia Social/Universidade Federal da Paraíba, E-mail: ludgleydson@ig.com.br

RESUMO

Este trabalho objetiva estudar, de forma exploratória e descritiva, os conteúdos dos estereótipos de universitários em relação aos ambientalistas. Participaram deste estudo 325 alunos de ambos os sexos, com média de idade de 24 anos. Foi pedido aos participantes que expressassem, de forma livre, todos os atributos que lhes viessem à cabeça para a palavra-estímulo "Ambientalistas". Foram listadas 2.014 palavras de conteúdo positivo e 1.034 de conteúdo negativo. Estas palavras foram agrupadas por sinonímia/similaridade em 19 atributos positivos e 85 negativos com suas respectivas freqüências. Estes atributos foram categorizados em 03 (três) grupos/núcleos de significações (NS) que constituem, respectivamente, três dimensões semânticas (DS): (1) NS - Sociedade, DS - Política; (2) NS - Natureza, DS - Ecológica; (3) NS - Indivíduo, DS - Pessoal. Os resultados obtidos mostraram os atributos relacionados pelos alunos universitários, os quais podem subsidiar ações e políticas de grupos de ambientalistas e ampliar sua eficácia quanto à opinião pública.

Palavras-chave: estereótipos sociais, ambientalistas, estudantes universitários.

ABSTRACT

This paper has the objective/purpose of studying, and exploring in descriptive form, the contents of stereotypes of college students concerning to the environmental defenders. Three hundred and twenty-five (325) students of both sexes, average of 24 years old took part into this study. It was asked to the participants to express, in free way, all the attributes which came our to their minds for the stimulus expression "Environmental Defenders". Two thousand and fourteen (2,014) words of positive content and one thousand and thirty-four (1,034) of negative content were listed. Such content words were grouped by similarity into one hundred and nineteen (119) positive attributes and eighty-five (85) negative with their respective frequencies. Those attributes were categorized into three groups/nuclei of meanings (NS - NM) which constitute three semantic dimensions (DS - SD), respectively: (1) NM - Society, SD - Politics; (2) NM - Nature, SD - Ecological; (3) NM - Individual, SD - Personal. The obtained results show the attributes related by the college students, which can give support to actions and politics of environmental defenders and increase their effectiveness according to public opinion.

Key-words: social stereotypes, college students, environmental defenders.

INTRODUÇÃO

Desde as culturas orientais até as ocidentais, têm se verificado reflexões sobre as relações homem-natureza. Problemas ambientais já faziam parte das preocupações dos antepassados, sobretudo expressadas por meio da filosofia, das ciências, artes e religião (Dias, 2000). Na contemporaneidade, uma série de marcos históricos relevantes para o entendimento da problemática ambientalista é cada vez mais divulgada pelos meios de comunicação.

Esse autor faz referência ao surgimento dos movimentos ambientalistas, como decorrente, não só da crescente e notória queda da qualidade ambiental, produzida pela busca de lucros a qualquer custo, como também da exploração predatória dos recursos naturais. Estes movimentos são considerados como um marco histórico-político internacional para o estabelecimento de uma política de gerenciamento ambiental, ressaltando, com isso, as pessoas envolvidas nesta problemática.

Em decorrência da preocupação com essa temática, verifica-se a proliferação de movimentos sociais ambientalistas e de grupos sociais envolvidos diretamente com a questão ambiental. Foi em função do quadro mundial de degradação ambiental, percebido como problema global, que se fortaleceram os movimentos ambientalistas atuais, em suas mais diversas linhas de atuação ou enfoque.

Viola (1987) diferencia três períodos na história do movimento ambientalista no Brasil. Uma fase inicial, que o autor denomina ambientalista, vigorou de 1974 até 1981, caracterizada pela existência de dois movimentos paralelos, auto-identificados como apolíticos: o movimento de denúncia da degradação ambiental nas cidades e o movimento das comunidades alternativas rurais. A segunda fase, denominada transição, compreende o período de 1982 até 1985, caracterizada pela politização explícita progressiva dos dois movimentos assinalados, além de uma grande expansão quantitativa e qualitativa de ambos. A última fase, chamada de ecopolítica, começou em 1986, quando a grande maioria do movimento ecológico se auto-identificou como político e decidiu participar ativamente no cenário partidário.

É nesse cenário que surgem os ambientalistas. Em Grisi (2000), o termo ambientalista tem estreita vinculação com o termo ecologista. No entanto, esse autor diferencia os dois termos remetendo o ambientalista a uma associação como o movimento social do mesmo nome, que leva a"sociedade a valorizar seus desejos culturais e a natureza e não somente a propriedade dos meios de produção do homo economicus ou simplesmente trabalhador-consumidor" (p.66). De acordo com o autor, o ecólogo difere do ambientalista no que concerne ao grau de envolvimento com as questões ambientais. Enquanto o ecólogo é o cientista que estuda a ecologia, o ambientalista é um adepto da causa socialou do movimento que o "identifica com a harmonização da sociedade com a natureza, da coletividade com o indivíduo e do homem com o seu corpo"(p.66).

Para Dashefsky (1977), o ambientalista é "uma pessoa que entende o seu meio ambiente e usa esse entendimento para colaborar na gestão do nosso planeta"(p.29). Esta gestão envolve alterações nos estilos de vida e nos modos de consumo, ações políticas que exerçam pressões para a mudança de hábitos poluidores e de modos de produção com impacto ambiental negativo e, ainda, mobilização da sociedade e das populações para a criação e aprovação de leis ambientais, às quais os cidadãos possam recorrer para tratar de crimes ambientais. Portanto, para esse autor, o ambientalista pode ser qualquer pessoa que atue socialmente em alguma causa ambiental.

Nessa mesma perspectiva, Lima-e-Silva (1999) caracteriza os ambientalistas como "pessoas partidárias do ambientalismo, particularmente as que exercem atividades ligadas aos ambientes naturais, aos diversos impactos ambientais e que são conscientes de sua gravidade, os políticos defensores da natureza e os especialistas em questões ambientais" (p.10). Isto revela uma abrangência que vai desde manifestações individuais até coletividades inteiras identificadas com a questão ambiental; desde a formação de plataformas políticas em que são explicitadas propostas pró-ambientais para os governos até programas internacionais de cooperação para a proteção do planeta contra os avanços da degradação ambiental.

Apesar da abrangência com que o termo ambientalista tem sido definido, o que se percebe nas definições, anteriormente mencionadas, é a dupla via pela qual o termo é compreendido: ambientalista diz respeito tanto ao interessado na preservação do meio ambiente, como ao envolvido com a preservação do meio ambiente. Isso implica a existência de duas acepções do termo: uma mais geral, que se refere a todos os que se interessam ou se preocupam com as questões ambientais; e uma mais específica, que se refere àqueles que, efetivamente, realizam ações voltadas para a preservação ambiental, principalmente ações de natureza política.

A existência da primeira acepção permite supor que a preservação ambiental se tornou um valor universal contra o qual, em termos genéricos ou opinativos, quase ninguém ousa posicionar-se ou manifestar-se: o campo do nós, os ambientalistas. Por sua vez, a existência da segunda acepção permite supor a existência de uma arena política, em que interesses econômicos, culturais ou políticos específicos entram em conflito com interesses ambientalistas ou preservacionistas específicos: o campo do eles, os ambientalistas, ou aquele povo que defende sagüi, ou o pessoal do Green Peace, ou qualquer outra assertiva do gênero. Se, enquanto valor abstrato, ideal de conduta ou de existência, o ambientalismo obtém uma concordância social quase absoluta, enquanto militância ou ação política tal concordância torna-se bem menos expressiva e, em alguns casos, inexistente.

Este trabalho refere-se ao ambientalista na segunda das acepções acima, como um ator social caracterizado pela realização de ações de natureza preservacionista, sejam elas técnicas ou políticas; em suma, o que define o ambientalista é a sua militância preservacionista.

A questão ambiental insere-se no contexto psicossocial, uma vez que resguarda a característica fundamental desta área de estudo, que é o processo de interação social, e para isso "faz-se mister que as pessoas que interatuam percebam-se mutuamente" (Rodrigues, 1996, p.203). Quotidianamente, por intermédio dos diversos meios midiáticos e de outras formas de relacionamentos sociais, efetivam-se essas múltiplas formas de interações.

Essa pluralidade de informações sobre as inter-relações homem-meio ambiente é usada pelos atores sociais ambientalistas, na sua permanente defesa do bem comum ambiental e nas formas que lhes são peculiares, para atrair a atenção dos cidadãos, da sociedade e de seus atores, ou mesmo da sociedade organizada, dos setores governamental e não-governamental, por meio da sociedade civil (Viola, 1987; Warren, 1998).

A atuação, socialmente compartilhada, dos ambientalistas e a percepção desta atuação conduzem à formação de determinadas crenças que influenciam a interação com pessoas pertencentes a determinados grupos como, por exemplo, os estudantes universitários aqui enfocados. Com base nisso, pode-se perguntar: como os ambientalistas são caracterizados pelos universitários? É por meio da psicologia social do estereótipo, que subsidia o processo de atribuição de características a pessoas, com base na sua vinculação a seus grupos, que se pode tentar responder esta questão.

No plano etimológico, o termo estereótipo é formado por duas palavras gregas, stereos, que significa rígido, e tupos/typos, que significa traço, marca, tipo, termo extraído das artes gráficas e, mais especificamente, da tipografia, que designa as pranchas, clichês ou moldes mecânicos que são utilizados em impressões, repetidamente. No plano histórico, a psiquiatria do século XIX utilizava a palavra estereotipia para se referir à repetição mecânica e freqüente de um mesmo gesto, postura ou fala, em pacientes que sofriam de dementia praecox (Pereira, 2001; Yzerbyt & Schadron, 1996). Em Ciências Sociais, o termo foi utilizado pela primeira vez por Lippmam, em 1922, de quem foi tomada essa conotação (Morales & Moya, 1996; Pereira, 2001).

Tajfel (1982) apresenta uma visão geral do conceito de estereótipo como: "uma imagem mental hipersimplificada de uma determinada categoria (normalmente) de indivíduo, instituição ou acontecimento, compartilhada, em aspectos essenciais, por grande número de pessoas. As categorias podem ser amplas (judeus, gentios, negros, brancos, etc.) ou restritas (feministas, Filhas da Revolução Americana)" ( p.161).

De acordo com Oakes, Haslam e Turner (1994), o processo de se atribuir características a pessoas com base na sua vinculação a seus grupos chama-se estereotipia. E ao conjunto de atributos, que se acredita definir ou caracterizar os membros de um grupo social, dá-se o nome de estereótipo. Os estereótipos aceitos e partilhados por membros de um grupo são chamados de estereótipos sociais.

Estereótipo é um conceito abrangente e amplamente discutido em Psicologia Social, em virtude de sua função articulatória entre os processos psicológicos, destacando-se os motivacionais, os cognitivos e os sociais. Os estereótipos são crenças de um grupo que, por sua vez, compartilha-as com outros grupos, numa dada cultura. Os aspectos históricos e ideológicos devem ser considerados como determinantes desses processos psicológicos, presentes na estereotipia, e que se evidenciam nas relações intergrupais e intragrupais (Morales, 1997).

Para a maioria dos autores, os marcos históricos e teóricos vinculados à definição de estereótipo encontram-se nos estudos precursores de Lippman, datados de 1922, e de Katz e Braly, de 1933, nos quais as propriedades dos estereótipos foram observadas e a partir dos quais se desenvolveu uma diversidade de outras pesquisas sobre esta temática.

Segundo Martinez (1996), Morales e Moya (1996) e Pereira (2001), o adjetivo estereótipo, que indica algo que poderia ser repetido mecanicamente, chegou às Ciências Sociais e, mais precisamente, à Psicologia Social e tem sido utilizado para fazer referência à imagem, por demais generalizada, que se possui de um grupo ou dos indivíduos que pertencem a um grupo.

Ferreira (1993) realizou um estudo com estudantes universitários, de ambos os sexos, com a finalidade de investigar a estruturação interna e o conteúdo dos estereótipos de gênero. Os resultados apontaram para o fato de que os atributos definidores que compuseram os estereótipos de gênero e o grau de tipificação desses atributos diferem por sexo.

Rodrigues e Cols. (1988), por sua vez, realizaram estudo de estereótipos em relação à imagem do político brasileiro, no qual foi testada a hipótese de que entre os brasileiros prevalece uma atitude negativa em relação à classe política, numa amostra de 533 sujeitos, de ambos os sexos, entre estudantes universitários e pessoas da população, em geral. Os resultados confirmam a existência de uma visão fortemente negativa do político brasileiro. Entre os universitários e demais sujeitos da sociedade geral, não houve diferenças significativas.

D'Amorim (1985) realizou estudo com estudantes de quatro instituições de ensino superior de Brasília, comparando cinco grupos regionais (cariocas, paulistas, mineiros, gaúchos e nordestinos) com a população brasileira em geral. Pode-se verificar uma tendência a generalizar os estereótipos de todas as regiões e, no que diz respeito à auto-avaliação, os participantes tenderam a evitar as atribuições dadas aos demais brasileiros. Essa mesma autora (1988) realizou um estudo enfocando os estereótipos de gênero também com estudantes universitários de ambos os sexos e de diversos cursos.

Em investigação realizada por Duarte (2000), com objetivo de verificar os estereótipos acerca do idoso, utilizou-se uma amostra de 160 gerontes participantes de grupos da terceira idade e institucionalizados. Pode-se observar que esses últimos possuem uma imagem mais estereotipada relativa ao idoso.

Enfim, a caracterização dos estereótipos exige que sejam feitas referências aos seus elementos descritivos e avaliativos, uma vez que eles têm sido amplamente utilizados, não apenas para descrever os comportamentos e os traços de um determinado grupo social, mas também para se referir a atributos positivos ou negativos de determinadas categorias sociais. Dessa forma, apesar de os estereótipos não poderem ser igualados aos preconceitos, pode-se dizer que eles carregam um forte componente avaliativo-atitudinal que não deve ser desprezado (Martinez, 1996; Morales & e Cols., 1996; Myers, 1995; Pereira, 2001).

Este trabalho teve como objetivo geral a realização de uma investigação exploratória e descritiva dos estereótipos, acerca de ambientalistas, com a participação de estudantes universitários.

MÉTODO

Participantes

A amostra foi constituída por 325 estudantes universitários, pertencentes a cursos das três áreas do conhecimento: ciências humanas, saúde e tecnologia, de ambos os sexos, com média de idade de 24 anos.

Instrumentos

Para extrair da amostra os traços ou conteúdos dos atributos descritores de estereótipos, foi elaborado um instrumento inicial, com o qual foi realizada uma aplicação preliminar em 30 participantes. Em seguida, o instrumento foi submetido a uma avaliação, verificando-se a necessidade de ajustes nas instruções e no formato geral, para atender melhor aos objetivos da pesquisa.

A segunda versão do instrumento foi aplicada em outros 30 sujeitos. Verificaram-se a adequação semântica e a clareza de seus itens para a compreensão da amostra e dos objetivos da pesquisa. Com esse instrumento, devidamente corrigido, foi feita a aplicação definitiva em uma amostra de 325 universitários, solicitando-se aos participantes que emitissem atributos, tanto positivos quanto negativos, para os ambientalistas, valendo ressaltar que não foi estabelecida uma quantidade específica a ser mencionada pelos participantes. A versão final do instrumento consistiu numa folha em branco, na qual os participantes eram solicitados a relacionar livremente os atributos positivos e negativos dos Ambientalistas.

Procedimentos

Os participantes responderam ao questionário individualmente, em salas de aulas no âmbito da própria Universidade. Antecipadamente, explicitavam-se os objetivos e o livre arbítrio para participar da pesquisa. Posteriormente, os dados foram processados e analisados utilizando-se o pacote estatístico SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) para Windows, versão 10.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

O processo de categorização

Nesta investigação procurou-se, por meio da apresentação da palavra-estímulo ambientalistas, descrever os conteúdos definidores deste construto, com o objetivo de encontrar uma visão socialmente compartilhada em relação àqueles atores sociais.

A partir das palavras emitidas pelos sujeitos, procedeu-se a uma primeira análise, na qual as sinonímias e as idiossincrasias foram categorizadas em dois conjuntos distintos. O procedimento para a formação do conjunto de sinonímias atendeu ao critério de proximidade de significação, considerando-se, também, as freqüências das palavras, de modo a formar grupos de palavras que tivessem uma maior representatividade em relação ao conjunto categorizado. As idiossincrasias formaram o conjunto de atributos excluídos da categorização, uma vez que fazem parte de uma dimensão relacionada às questões individuais, portanto, não compartilhada pelo grupo de pertencimento. Este procedimento inicial teve como objetivo reduzir o total de palavras disponíveis para a análise de categorização.

Assim, cada palavra do conjunto de dados primários obtidos a partir das emissões dos participantes foi agrupada em função de suas sinonímias ou idiossincrasias, construindo-se, ao final, um conjunto de dados secundários, composto dos atributos e palavras representativas do total de emissões.

Esse conjunto de dados secundários, por sua vez, foi utilizado para a análise de categorização, tendo em vista a construção de uma lista de categorias que contemplasse a diversidade de significados atribuídos pelos sujeitos à palavra-estímulo. As palavras e atributos constantes nesse conjunto de dados secundários foram reunidos em categorias, dependendo de seus conteúdos semânticos, obtendo-se, com esse procedimento, um conjunto de 30 categorias, sendo 17 positivas e 13 negativas, como expressão da diversidade dos significados atribuídos aos ambientalistas.

Nesse sentido, obteve-se um conjunto de categorias que expressam uma visão positiva dos ambientalistas, que são: Políticos, Ativistas, Educadores, Defensores do Bem Comum, Protetores, Defensores do Desenvolvimento Sustentável, Ecologia, Natureza, Meio Ambiente, Flora, Fauna, Úteis, Pensam no Futuro do Planeta, Responsáveis, Generosos, Críticos, Sensíveis.

Obteve-se, também, um outro conjunto de categorias que expressam uma visão negativa dos ambientalistas, que são: Radicais, Agitadores, Utópicos, Fanáticos, Poluição, Extinção, Superpopulação, Desvalorizados, Sem Reconhecimento, Solitários, Desagradáveis, Incompetentes e Socialmente Inadequados.

Finalmente, obteve-se um terceiro conjunto de atributos e palavras, que não puderam ser integrados às categorias reportadas a anteriormente, sendo excluídos da categorização. Neste último conjunto, os atributos e palavras positivos são: Preocupados, Homem, Lixo Orgânico, Profissão, Amor, Reacionário, Ideologia, Bucólico, Alegria, Direitos e Deveres, Felicidade, Beleza, Lugares, Turismo, Positivistas, Esgoto Sanitário. Por sua vez, os atributos e palavras negativos excluídos da categorização são: Ideologia, Dificuldades, Injustiças, Preocupados e Bastidores.

Dimensões Semânticas Organizadoras do Conhecimento Social sobre os Ambientalistas.

Analisando-se a lista de categorias obtidas, verificou-se a possibilidade de estruturá-la em três Núcleos de Significação (Dimensão Política, Dimensão Ecológica e Dimensão Pessoal), em torno dos quais as categorias podiam ser organizadas. Estes Núcleos de Significação são relativos às temáticas mais gerais que agrupam as categorias encontradas em unidades de significação mais amplas e gerais, em eixos semânticos que permitem uma visão de como se estruturam as categorias encontradas, ainda num nível meramente descritivo.

Cada um desses eixos pode ser interpretado como compondo uma Dimensão Semântica específica, a qual permite, já num nível interpretativo, uma compreensão de como se estruturam os significados agrupados em cada Núcleo de Significação. São essas Dimensões Semânticas que, em última análise, reúnem os significados expressos nas categorias e permitem organizá-los em três áreas de construção das visões sociais encontradas acerca dos ambientalistas.

A análise dos Núcleos de Significação permite observar que o conhecimento social acerca dos ambientalistas pode ser reunido em três tipos de discurso: um relativo à inserção dos ambientalistas na sociedade e às suas práticas sociopolíticas; outro relativo às características, atributos e condições dos indivíduos chamados de ambientalistas; e, por fim, um discurso referente ao aspecto que diferencia a categoria ambientalista das demais categorias sociais, concernente às relações homem-natureza e que se convencionou chamar de Ecologia.

A massa de dados encontrados na amostra proporcionou uma organização, em grupos de sinonímia ou de exclusão, de atributos definidores de estereotipia e, posteriormente, uma interpretação em dimensões semânticas de organização dos indicadores de estereótipos encontrados.

As emissões categorizadas que expressam os atributos com conteúdos de estereótipos positivos e negativos totalizaram 3.183 palavras. As dimensões semânticas encontradas, de significação Política, Ecológica e Pessoal, organizadoras dos estereótipos dos ambientalistas, estruturaram a dinâmica da interpretação dos dados, em conformidade com os diferentes discursos sociais construídos em torno dos ambientalistas. Estes discursos sociais expressam, sobretudo, a percepção social da ação política dos atores sociais que têm algum envolvimento com as questões ambientais, como se pode verificar no quadro a seguir:

Quadro 1


A Dimensão Política totaliza 1.148 palavras (37% do total das emissões); a Dimensão Ecológica totaliza 1.001 palavras (31% das emissões); a Dimensão Semântica Pessoal totaliza 1.034 palavras (32%). Pode-se concluir, destas informações que os dados se distribuem em torno de um terço da freqüência para cada conjunto de atributos, com uma pequena vantagem para a Dimensão Política, o que, talvez, possa indicar uma saliência da percepção do papel político dos ambientalistas.

Detendo-se no conjunto de atributos positivos e negativos que compõem cada Dimensão, os dados mostram que na Dimensão Política, totalizando 1.148 palavras definidoras, 791 palavras (24,85%) são emissões de conteúdo positivo, enquanto 357 palavras (11,22%) são de conteúdo negativo. Estes dois conjuntos representam, portanto, 36,07% das emissões, em relação à sua totalização, que é de 3.183 palavras. Pode-se concluir que, nessa Dimensão, a visão socialmente construída em torno dos ambientalistas denota um consenso de uma imagem mental positivamente formada desse ator social, uma vez que os conteúdos positivos representam mais que o dobro do conjunto de conteúdos negativos. Tais dados podem indicar que a imagem política dos ambientalistas é predominantemente positiva.

Quanto ao conjunto da Dimensão Semântica Ecológica, foi composta por 1.001 emissões de atributos positivos e negativos, que correspondem a 31,44% do total de 3.183 emissões. Esse conjunto de palavras definidoras divide-se em atributos positivos, com 677 palavras, representando 21,27% do total de palavras, e atributos negativos, com 324 palavras de conteúdos negativos, representando 10,18% do total. Pode-se concluir, destas informações, que os ambientalistas são positivamente relacionados com as ações concretas vinculadas ao meio ambiente, no refreamento do avanço dos nocivos danos dos agentes poluidores da natureza, corroborando o conjunto expressivo de atributos positivos da Dimensão Política. Entretanto, nesta dimensão, os atributos definidores de imagens mentais negativas não são exatamente relacionados aos ambientalistas mas sim, às condições socioambientais que tornam necessárias a sua existência e a sua atuação. Nesse sentido, não correspondem a uma visão negativa acerca dos ambientalistas; ao contrário, indicam a necessidade efetiva dos ambientalistas e do ambientalismo, como forma de enfrentamento dos problemas e dos aspectos negativos relacionados nessa dimensão.

A Dimensão Semântica Pessoal é formada por um conjunto de 1.034 atributos, que corresponde a 32,48% das palavras definidoras obtidas na amostra. Neste conjunto, 490 atributos formam o conjunto das visões positivamente construídas em torno dos ambientalistas, que correspondem a 15,39%, enquanto 544 palavras possuem um conteúdo negativo, representando 17,09%.

Essas informações evidenciam um certo equilíbrio entre as polaridades positiva e negativa das percepções em torno dos ambientalistas. Isto implica que, quando os ambientalistas são percebidos individualmente, em seu contexto pessoal, se estabelecem aporias entre imagens socialmente compartilhadas em torno desses atores sociais, por exemplo: os ambientalistas são pessoas positivamente percebidas como responsáveis, contudo, negativamente percebidas como desvalorizados. Pensam no futuro do planeta, contudo, são desagradáveis; são úteis, porém, socialmente inadequados.

As percepções em torno da Dimensão Pessoal são compartilhadas pelos universitários e indicadoras de uma homogeneidade entre as polaridades positiva e negativa. Pode-se, portanto, afirmar que as imagens mentais acerca dos ambientalistas, nessa Dimensão Pessoal, indicam uma percepção dos ambientalistas mais negativa que na Dimensão Política.

Dada a natureza global dos problemas ambientais, devem ser considerados os aspectos sociais envolvidos, assim como as idéias, crenças ou visões sociais que se tem desses problemas e reconhecer, também, o papel da cultura na qual se construiu a história do comportamento desses atores sociais.

Evidenciou-se, neste estudo, que as três Dimensões e seus respectivos Núcleos de Significações apóiam as imagens socialmente construídas em torno dos atores sociais ambientalistas, e também refletem as múltiplas facetas de seus vínculos com as questões ambientais e ações sociopolíticas em que os ambientalistas estão engajados. Efetivamente, pode-se afirmar que existem núcleos de visões sociais salientes e homogêneos, indicadores de estereótipos.

CONCLUSÕES

A partir da análise dos dados, pode-se concluir que se verificaram indicadores de estereótipos, representativos de visões socialmente construídas acerca dos ambientalistas.

Uma questão que de imediato se coloca é saber qual a importância desse conhecimento social em relação às atitudes e ao comportamento ambientalista dos indivíduos. Admitindo-se que o estereótipo está vinculado ao aspecto cognitivo da estrutura atitudinal dos indivíduos, pode-se supor que essas visões sociais remetem às determinações psicológicas do envolvimento afetivo-avaliativo e comportamental com as questões ambientais.

Os aspectos comportamentais, elaborados a partir da percepção acerca dos ambientalistas, podem ser encontrados empiricamente, não só por meio da investigação do comportamento pró-ambiental e também das atitudes frente aos ambientalistas, mas também por meio dos estereótipos sociais refletidos em discursos diferenciados, porém, que se relacionam entre si.

Pelo enfoque da Psicologia Social, pode-se estudar a preocupação ambiental e tomar o próprio ambientalista como objeto atitudinal, num escopo afetivo-avaliativo, de modo a contribuir para um melhor entendimento da questão e para subsidiar ações concretas e efetivas em políticas públicas de cunho socioambiental.

Nesse sentido, o presente estudo demonstrou que, na medida em que são atores sociais, envolvidos nas demandas das questões ambientais, os universitários expõem, em sua conduta, atitudes e crenças, por meio de um conjunto de atributos psicológicos socialmente construídos, que são indicadores de estereótipos em relação aos ambientalistas e ao meio ambiente.

Os estereótipos sociais demonstrados neste trabalho podem subsidiar ações e políticas dos grupos de ambientalistas, no sentido de ampliar sua eficácia quanto à opinião pública, seja pelo reforço de aspectos da imagem pública dos ambientalistas que podem ser melhorados, seja pelo conhecimento da dinâmica psicossocial envolvida na militância ambientalista.

Recebido para publicação em 26 de junho de 2003 e aceito em 27 de maio de 2004.

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  • (*
    ) Este trabalho é parte da Dissertação de Mestrado defendida no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social, da Universidade Federal da Paraíba. Os autores agradecem o apoio financeiro da CAPES para realização deste trabalho.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      12 Mar 2009
    • Data do Fascículo
      Ago 2004

    Histórico

    • Aceito
      27 Mar 2004
    • Recebido
      26 Jun 2003
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