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Amizades de universitários estrangeiros no Brasil: um estudo exploratório

Friendships of international college students in Brazil: an exploratory investigation

Resumos

O trabalho investigou amizades de universitários estrangeiros em intercâmbio no Brasil. Participaram da pesquisa 100 universitários, distribuídos em 12 unidades da federação. Em resposta a um questionário, foram citados 820 amigos, sendo 439 conterrâneos, 256 brasileiros e 125 de outras nacionalidades. Os idiomas mais utilizados com amigos foram o português, o inglês e o crioulo. A maioria dos amigos residia na mesma cidade, sendo que os mais próximos haviam sido conhecidos geralmente por meio de contato pessoal, no exterior ou no Brasil. Os principais interesses comuns e atividades compartilhadas estavam associados ao lazer, estudos, atividades científicas ou culturais, esportes, trabalho e religião. As dificuldades se referiam a distância dos amigos, diferenças pessoais e culturais, e dificuldades de comunicação. Os episódios marcantes estavam ligados a lazer, trabalho, estudo, apoio e companheirismo. A maioria das amizades foi relevante para a adaptação ao Brasil e para a forma de ver o país.

Amizade; Relações internacionais; Universitários


The study investigated friendships of foreign college students studying in Brazil. A hundred participants studying in 12 states responded to a questionnaire. Results showed that 820 friends were mentioned, including 439 of the same nationality, 256 Brazilians and 125 of other nationalities. The most widely used languages with friends were the Portuguese, English and Creole. The majority of the friends lived in the same city. Most close friends were known through personal contacts abroad or in Brazil. The main common interests and shared activities were associated with leisure, studies, cultural or scientific activities, sports, work and religion. The difficulties mentioned were the distance from friends, personal differences, communication difficulties and cultural differences. Striking episodes were linked to leisure, work, study, support and companionship. Most friendships were related to adaptation to Brazil and how they perceived the country.

Friendship; International relations; College students


ARTIGOS

Amizades de universitários estrangeiros no Brasil: um estudo exploratório1 1 Apoio: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

Friendships of international college students in Brazil: an exploratory investigation

Agnaldo Garcia

Universidade Federal do Espírito Santo, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Departamento de Psicologia Social e do Desenvolvimento. Av. Des. Cassiano Castelo, 369, Manguinhos, 29173-037, Serra, ES, Brasil. E-mail: <agnaldo.garcia@pq.cnpq.br>

RESUMO

O trabalho investigou amizades de universitários estrangeiros em intercâmbio no Brasil. Participaram da pesquisa 100 universitários, distribuídos em 12 unidades da federação. Em resposta a um questionário, foram citados 820 amigos, sendo 439 conterrâneos, 256 brasileiros e 125 de outras nacionalidades. Os idiomas mais utilizados com amigos foram o português, o inglês e o crioulo. A maioria dos amigos residia na mesma cidade, sendo que os mais próximos haviam sido conhecidos geralmente por meio de contato pessoal, no exterior ou no Brasil. Os principais interesses comuns e atividades compartilhadas estavam associados ao lazer, estudos, atividades científicas ou culturais, esportes, trabalho e religião. As dificuldades se referiam a distância dos amigos, diferenças pessoais e culturais, e dificuldades de comunicação. Os episódios marcantes estavam ligados a lazer, trabalho, estudo, apoio e companheirismo. A maioria das amizades foi relevante para a adaptação ao Brasil e para a forma de ver o país.

Unitermos: Amizade. Relações internacionais. Universitários.

ABSTRACT

The study investigated friendships of foreign college students studying in Brazil. A hundred participants studying in 12 states responded to a questionnaire. Results showed that 820 friends were mentioned, including 439 of the same nationality, 256 Brazilians and 125 of other nationalities. The most widely used languages with friends were the Portuguese, English and Creole. The majority of the friends lived in the same city. Most close friends were known through personal contacts abroad or in Brazil. The main common interests and shared activities were associated with leisure, studies, cultural or scientific activities, sports, work and religion. The difficulties mentioned were the distance from friends, personal differences, communication difficulties and cultural differences. Striking episodes were linked to leisure, work, study, support and companionship. Most friendships were related to adaptation to Brazil and how they perceived the country.

Uniterms: Friendship. International relations. College students.

A globalização econômica e cultural tem permitido maior contato entre pessoas de diferentes nacionalidades e culturas. A maneira como essas pessoas de origens diferentes estabelecem e mantêm amizades é um tema de pesquisa importante para se compreender a possibilidade de convivência social pacífica e cooperativa, não somente entre indivíduos, mas se estendendo para relações sociais, culturais e científicas entre os países que representam. Nesse sentido, os estudantes universitários internacionais representam um grupo de grande interesse, por seu envolvimento com a educação e a cultura de outro país, ao mesmo tempo que mantêm a ligação com sua cultura de origem e com o País para o qual deverão retornar após os estudos.

Parte-se do pressuposto de que relações amistosas não somente cooperam para a integração social e cultural desses estudantes no País anfitrião, mas também abrem portas para a cooperação científica e cultural de longo prazo. Nesse sentido, estudos sobre amizades entre membros de diferentes grupos étnicos têm indicado o desenvolvimento de atitudes mais favoráveis em relação a outras etnias como, por exemplo, a aprovação de casamentos interraciais (Jacobson & Johnson, 2006). Apesar dos indícios de sua importância para a convivência social entre membros de diferentes grupos e nações, amizades entre pessoas de diferentes raças, etnias, culturas ou nacionalidades ainda são pouco investigadas.

A amizade tem sido considerada um fator importante a ser investigado na vida social de universitários no exterior. Ao estudar o ajustamento de universitários estrangeiros no Reino Unido, Brown (2009a) identificou a amizade como um importante fator - a despeito das dificuldades em fazer amigos com pessoas do país anfitrião e da tendência para formar grupos da mesma etnia, indicando a falta de contato e integração entre os estudantes internacionais e os locais. Na mesma direção, a influência da raça e da etnia nas amizades já havia sido indicada por Antonio (2004).

Amizades dos estudantes estrangeiros com habitantes do País anfitrião permitem conhecer melhor o idioma e a cultura local, enquanto aquelas com pessoas do país de origem serviriam para reduzir o stress e a solidão (Ward, 2001; Ward, Bochner & Furnham, 2001). Brown (2008) atribuiu a busca do convívio com conterrâneos, entre esses estudantes, ao desejo de ouvir e falar a mesma língua e obter apoio instrumental. Maundeni (2001) sugeriu que redes com pessoas do mesmo país proveriam benefícios, como ajuda prática, informações relevantes para a sobrevivência no local, compartilhamento de identidade e valores culturais, e apoio emocional.

As dificuldades de estudantes internacionais para fazer amigos com pessoas do País em que estudam e a tendência a fazer amigos entre pessoas de mesma origem têm sido reconhecidas em várias pesquisas (Brown, 2009a; Cushner & Karim, 2004; Lee & Chen, 2000; Pandian, 2008; United Kingdom Council for International Education - UKCOSA, 2004). Segundo Sawir, Marginson, Deumert, Nyland e Ramia (2008),65% dos estudantes estrangeiros investigados na Austrália haviam encontrado dificuldades para estabelecer amizades interculturais. Em pesquisa com estudantes internacionais no Reino Unido, Bailey (2006) identificou como os dois temas não acadêmicos mais estressantes as questões financeiras e as amizades. Segundo o autor, 59% dos estudantes que participaram da pesquisa relataram amizades somente com pessoas do mesmo país de origem ou outros estudantes estrangeiros. Segundo o Conselho para Educação Internacional do Reino Unido (UKCOSA, 2004), estudantes internacionais que tinham amigos ingleses apresentavam maior probabilidade de estarem satisfeitos com sua estadia no Reino Unido. Segundo Zhao e Wildemeersch (2008), os estudantes estrangeiros procuram criar uma subcultura "conacional" para fornecer apoio emocional e social no país anfitrião. Conviver com seus similares ajudaria a aliviar sentimentos de saudade de casa, insegurança e solidão, entre outros.

Por outro lado, ao permitir o contato com diferentes culturas, amizades interculturais poderiam promover o desenvolvimento de uma mentalidade culturalmente relativista (Ryan & Hellmundt, 2005) e maior tolerância em relação a outras culturas (Cushner & Karim, 2004). Contudo, Ward (2001) relata que uma melhoria nas habilidades transculturais raramente tem sido observada, enquanto Brown (2009b) sugere uma ação mais efetiva das universidades para promover interações entre universitários locais e estrangeiros.

A pesquisa sobre amizades de estudantes internacionais ainda é bastante limitada no Brasil. Poucos trabalhos se referem brevemente a relações de amizade desses estudantes em investigações sobre sua vida social no Brasil. Desidério (2006), em estudo sobre africanos do Programa Estudante-Convênio de Graduação (PEC-G) em universidades públicas no Rio de Janeiro, identificou, entre as principais dificuldades encontradas por esses universitários, estabelecer amizades com brasileiros. Por outro lado, Subuhana (2009), ao investigar a experiência sociocultural de universitários africanos no Brasil, referiu-se à integração e amizade com brasileiros como fatores positivos. Referências às amizades desses estudantes também foram feitas no trabalho de Andrade e Teixeira (2009), como parte de avaliação da adaptação e satisfação globais com seu contexto de vida, entre alunos estrangeiros de graduação no Brasil. Não foram encontrados, contudo, outros trabalhos tratando especificamente das amizades desses estudantes em território brasileiro.

Segundo o referencial teórico adotado para o estudo do relacionamento interpessoal (Hinde, 1997), a pesquisa deve partir de aspectos descritivos em direção à proposição de princípios gerais. O autor ainda propôe diferentes níveis de análise no estudo do tema, desde interações, relacionamentos, grupos e sociedade, assim como ambiente físico e estruturas socioculturais.

O presente trabalho, de natureza exploratória e descritiva, teve por objetivo geral descrever alguns aspectos das amizades de estudantes universitários estrangeiros que residem e estudam no Brasil, bem como identificar o papel dessas amizades na integração social e cultural dos intercambistas, de acordo com eles próprios.

Os objetivos específicos do trabalho foram: (1) descrever a rede de amigos de estudantes universitários estrangeiros residentes e estudantes no Brasil, quanto à nacionalidade e distribuição geográfica dos amigos; (2) levantar os eventos marcantes ligados ao desenvolvimento dessas amizades desde seu início; (3) descrever o conteúdo dessas amizades quanto às atividades e interesses comuns; (4) relacionar as principais formas de comunicação com esses amigos; (5) identificar as principais dificuldades nessas amizades; (6) identificar o papel dos amigos na adaptação ao Brasil, de acordo com os próprios participantes; e (7) identificar como os participantes percebem a influência dessas amizades para sua visão ou percepção do Brasil.

O trabalho justifica-se pela possível contribuição das amizades para a integração social e cultural de estudantes estrangeiros no país. Esta pesquisa teve como objetivo identificar, descrever e analisar alguns aspectos das amizades de universitários estrangeiros residentes no Brasil. No estudo presente, foram consideradas amizades desses estudantes com brasileiros ou com outros estrangeiros (de sua nacionalidade ou outra), tanto residentes no Brasil quanto no exterior.

Método

Participantes

Participaram da pesquisa 100 universitários estrangeiros, sendo 50 do sexo masculino e 50 do feminino, matriculados em cursos de graduação e pós-graduação de 23 universidades públicas e particulares distribuídas por 12 unidades da federação. Os participantes eram provenientes de 25 países, sendo os principais Guiné-Bissau (26), Cabo Verde (16), Moçambique (7) e Alemanha (6). Países com cinco participantes cada um foram: França, Angola e Portugal. Do México participaram quatro estudantes, e da Espanha e São Tomé e Príncipe, três. Os países com dois participantes foram Peru, Colômbia, Paraguai, República Democrática do Congo e Canadá. Finalmente, houve um representante de cada um dos seguintes países: Argentina, Cuba, Equador, Dinamarca, EUA, Emirados Árabes, Haiti, Honduras, Itália e Rússia. Esses universitários estrangeiros residiam em 11 estados e no Distrito Federal, estando assim distribuídos: Espírito Santo (51 estudantes), Minas Gerais (9), Rio de Janeiro (8), São Paulo (8), Santa Catarina (7), Bahia (4), Pernambuco (3), Rio Grande do Norte (3), Rio Grande do Sul (3), Paraná (2), Ceará (1), Distrito Federal (1).

Procedimentos

Os participantes do Estado do Espírito Santo foram contatados pessoalmente. Quanto aos demais, os questionários foram-lhes enviados tanto diretamente, no caso das instituições que disponibilizaram seus e-mails, quanto indiretamente, pela própria instituição que se incumbiu de encaminhá-los. De modo geral, o nível de colaboração das universidades foi menor que o esperado, especialmente nas públicas. Em alguns casos, as universidades informaram que não tinham estudantes estrangeiros. Os estudantes responderam a um questionário com perguntas abertas e fechadas e assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para participação na pesquisa.

O questionário empregado foi desenvolvido especificamente para esta investigação e se constituía dos seguintes itens: (1) rede de amigos: nacionalidade e distribuição geográfica; (2) histórico das amizades: início e eventos marcantes; (3) conteúdo das amizades: atividades em comum e interesses compartilhados; (4) comunicação com os amigos; (5) as dificuldades nas amizades; (6) amigos e adaptação ao Brasil; (7) amigos e visão ou percepção do Brasil. Os dados abaixo referem-se ora ao grupo total de amigos (com limite de 10 indicações), ora aos amigos mais próximos (os participantes podiam citar até três amigos mais próximos), o que está indicado no texto. Os dados são apresentados de modo quantitativo com a utilização de Estatística Descritiva.

Resultados

Rede de amigos: nacionalidade e distribuição geográfica

Os participantes citaram entre dois e dez amigos, totalizando 820 indicações. Dos 820 amigos citados, 439 (53,5%) eram da mesma nacionalidade do participante, enquanto 256 (31,2%) eram brasileiros e 125 (15,2%) de outras nacionalidades. Em relação à distribuição geográfica, 661 amigos tiveram seu local de domicílio identificado, com 351 (53,1%) residentes na mesma cidade ou região metropolitana do participante, 49 (7,4%) residentes em outras cidades do Brasil e 261 (39,5%) no exterior. Em relação à nacionalidade e localização geográfica dos amigos mais próximos, dos 251 citados, 156 (62,2%) eram conterrâneos, enquanto 69 (27,5%) eram brasileiros, e 26 (10,3%) pertenciam a outra nacionalidade. Em relação à distribuição geográfica, o local onde o amigo residia (cidade e estado) foi indicado para 212 amigos mais próximos. Destes, 97 (45,8%) moravam na mesma cidade ou região metropolitana, enquanto 98 (46,2%) residiam no exterior e 17 (8,0%) em outras cidades do Brasil.

Histórico das amizades

Quanto ao início das amizades, foi investigado onde havia se dado o contato inicial com os amigos próximos. Das 206 amizades próximas cuja origem foi identificada, 118 (57,3%) tiveram início com contato pessoal no exterior, 86 (41,7%) por contato pessoal no Brasil, e apenas 2 (1,0%) por contato pela Internet. A proporção de amizades com contato inicial no Brasil ou no exterior variou de acordo com a nacionalidade. Das 132 amizades próximas com pessoas da mesma nacionalidade, 108 (81,8%) tiveram início por contato no exterior, 22 (16,7%) por contato pessoal no Brasil, e 2 (1,5%) por contato pela Internet. Das 53 amizades com brasileiros, 50 (94,3%) foram iniciadas por contato pessoal no Brasil, 3 (5,7%) por contato pessoal no exterior, e nenhuma pela Internet. Em relação às 22 amizades com outras nacionalidades, 15 (68,2%) foram iniciadas pelo contato pessoal no Brasil, 7 (31,8%) por contato pessoal no exterior, e nenhuma pela Internet. A maioria das amizades com estrangeiros começou com contato no exterior, enquanto a maioria das amizades com brasileiros, por contato no Brasil.

A partir de estudos preliminares, foram propostas três classes de eventos marcantes para as amizades: lazer; trabalho ou estudo; apoio ou companheirismo. Os participantes podiam indicar mais de uma opção para cada amizade próxima considerada. Das 324 eventos marcantes nas amizades mais próximas, 136 (42,0%) estavam relacionados a apoio ou companheiris-mo, 112 (34,6%) a lazer, e 76 (23,4%) a situações de trabalho ou estudo. Considerando-se por nacionalidade, dos 207 eventos relacionados a amizades com conterrâneos, 77 (37,2%) estavam ligados a lazer, 45 (21,8%) a trabalho ou estudo, e 85 (41,0%) a apoio ou companheirismo. Das 79 indicações nas amizades com brasileiros, 23 (29,1%) estavam ligadas a lazer, 20 (25,3%) a trabalho ou estudo, e 36 (45,6%) a apoio ou companheirismo. Em relação a outras nacionalidades, das 38 referências, 12 (31,6%) referiram-se a lazer, 11 (28,9%) a trabalho ou estudo, e 15 (39,5%) a apoio ou companheirismo. De modo geral, eventos ligados a manifestação de apoio e companheirismo, seguidos por participação em atividades de lazer, são as classes de eventos que mais marcaram as amizades dos participantes.

O conteúdo das amizades: atividades comuns e interesses compartilhados

Com base em estudos preliminares, foram propostas seis áreas de atividades em comum e/ou interesses compartilhados. Os participantes podiam citar mais de um interesse com um amigo em particular. Em relação aos amigos em geral, de 1.692 atividades/interesses citados, 612 (36,1%) diziam respeito ao lazer, 409 (24,1%) a estudos, 323 (19,1%) a ciência ou cultura, 166 (9,8%) a esportes, 100 (5,9%) a trabalho, e 92 (5,4%) a religião.

A comunicação com os amigos

Dois aspectos da comunicação foram investigados: o último contato e a forma como ele se deu. Quanto à modalidade de contato, este poderia ser pessoal, por telefone (fixo ou celular) ou pela Internet. Foram avaliadas 204 amizades mais próximas. O último contato com o amigo havia se dado pessoalmente em 97 casos (47,5%), por telefone em 47 (23,1%), e pela Internet em 60 (29,4%). A comunicação variou de acordo com a nacionalidade dos amigos. Das 134 amizades com pessoas da mesma nacionalidade, o último contato se dera pessoalmente em 49 casos (36,6%), por telefone em 39 (29,1%), e pela Internet em 46 (34,3%). Das 50 amizades com brasileiros, em 36 casos (72,0%) o contato fora pessoal, em 4 (8,0%) por telefone, e em 10 (20,0%) pela Internet. Das 20 amizades com outras nacionalidades, em 12 casos (60,0%) o contato fora pessoal, em 4 (20,0%) por telefone, e em 4 (20,0%) pela Internet.

Quanto ao tempo passado desde o último contato, 216 amizades foram avaliadas. Dentre os participantes, 129 (59,7%) haviam entrado em contato com o amigo nos últimos sete dias, 63 (29,2%) entre uma semana e um mês, e apenas 24 (11,1%) há mais de um mês. Levando-se em conta a nacionalidade dos amigos, das 152 amizades com pessoas de mesma nacionalidade, 76 (50,0%) haviam feito contato há menos de uma semana, 55 (36,2%) entre uma semana e um mês, e 21 (13,8%) há mais de um mês. Das 51 amizades com brasileiros, em 42 casos (82,4%) o último contato se dera há menos de uma semana, 8 (15,7%) entre uma semana e um mês, e apenas uma (1,9%) há mais de um mês. Das 13 amizades com outras nacionalidades, 11 delas (84,6%) tiveram contato há menos de uma semana, e 2 (15,4%) há mais de um mês.

As dificuldades nas amizades

A partir de estudos preliminares foram propostos cinco grupos de dificuldades: comunicação, distância, diferenças culturais, diferenças pessoais ou de personalidade, e nenhuma diferença. Foram citadas 250 dificuldades, em 197 amizades. Essas dificuldades estavam relacionadas a comunicação (39 ou 15,6%), distância (74 ou 29,6%), diferenças culturais (20 ou 8,0%), diferenças pessoais (35 ou 14,0%) e nenhuma (82 ou 32,8%). Essa proporção se altera se forem consideradas as nacionalidades dos amigos. Das 165 dificuldades relacionadas a amizades com conterrâneos, foram apontados: problemas de comunicação (24 ou 14,5%), distância (61 ou 37,0%), diferenças culturais (8 ou 4,9%), diferenças pessoais ou de personalidade (25 ou 15,1%) e nenhuma (47 ou 28,5%). Sessenta dificuldades foram apontadas nas amizades com brasileiros: comunicação (11 ou 18,3%), distância (7 ou 11,7%), diferenças culturais (10 ou 16,7%), diferenças pessoais (5 ou 8,3%) e nenhuma (27 ou 45,0%). As 25 dificuldades apontadas nas amizades com pessoas de outras nacionalidades foram as seguintes: comunicação (4 ou 16,0%), distância (6 ou 24,0%), diferenças culturais (2 ou 8,0%), diferenças pessoais (5 ou 20,0%) e nenhuma (8 ou 32,0%).

Adaptação ao Brasil

Foi investigado como os universitários estrangeiros percebiam o papel dos amigos em sua adaptação ao Brasil. Neste sentido, 204 amizades mais próximas foram avaliadas tendo como opção indicar que a amizade não havia afetado a adaptação ao Brasil, que tinha afetado a adaptação de modo positivo, ou que a tinha afetado de modo negativo. De modo geral, as amizades apresentaram um valor positivo para a adaptação ao Brasil. Das 204 amizades avaliadas, 128 (62,7%) foram consideradas como afetando positivamente a adaptação ao País, 67 (32,8%) como não tendo afetado a adaptação, e apenas 9 (4,5%) como a tendo afetado negativamente. A percepção do papel do amigo na adaptação ao Brasil apresentou diferenças de acordo com a nacionalidade do amigo (conterrâneo, brasileiro ou de outra nacionalidade). Segundo os próprios participantes, das 132 amizades próximas com conterrâneos, 67 (50,8%) afetaram positivamente a adaptação, 57 (43,2%) não afetaram e apenas 8 (6,0%) afetaram negativamente. Dos 51 amigos brasileiros próximos avaliados, 46 (90,2%) foram considerados como afetando positivamente a adaptação ao Brasil, enquanto 5 (9,8%) não teriam afetado adaptação e nenhum foi citado como afetando-a negativamente.

Considerando-se as amizades com pessoas de outras nacionalidades, das 21 amizades citadas, 15 (71,4%) foram relatadas como afetando positivamente a adaptação ao Brasil, 5 (23,8%) como não a afetando, e apenas uma (4,8%) afetando-a negativamente. Em suma, a maioria dos amigos foi considerada como afetando de maneira positiva a adaptação ao Brasil. Quando se leva em conta as diferentes nacionalidades, as amizades com brasileiros apresentam uma maior proporção de indicações quanto a seu efeito positivo na adaptação ao País.

Visão ou percepção do Brasil

Ainda foi investigado como os universitários estrangeiros percebiam o papel dos amigos em relação à visão que tinham do Brasil. Nesse sentido, 204 amizades próximas foram avaliadas em relação a seu papel de afetar a visão do Brasil. Delas, 106 (52,0%) amizades foram consideradas como afetando positivamente tal visão, 93 (45,6%) como indiferentes, e apenas 5 (2,4%) como afetando-a negativamente. Em três casos (uma amizade com conterrâneo e duas com brasileiros), foram avaliados positiva e negativamente. A percepção do papel do amigo como alguém que afetou a visão que o próprio participante tinha do Brasil apresentou diferenças de acordo com a nacionalidade do amigo em questão (conterrâneo, brasileiro e de outra nacionalidade).

Segundo os próprios participantes, das 127 amizades próximas com a mesma nacionalidade que foram avaliadas nesse aspecto, 77 (60,6%) foram percebidas como não afetando essa visão, 47 (37,0%) como afetando-a positivamente, e apenas três (2,4%) como negativamente. Das 54 amizades próximas com brasileiros avaliadas neste aspecto, 45 (83,3%) foram consideradas como afetando positivamente a visão que tinham do País, enquanto 9 (16,7%) foram relatadas como não a afetando, e nenhuma como afetando-a negativamente. Finalmente, das 23 amizades com outras nacionalidades, 14 (60,9%) foram consideradas como afetando positivamente a visão do país, 7 (30,4%) como não a afetando, e apenas 2 (8,7%) como afetando-a negativamente. De modo geral, os amigos também influenciaram positiva-mente a visão que os participantes tinham do Brasil, dado ainda mais marcante no caso das amizades com brasileiros.

Discussão

Apesar da importância da amizade na vida de estudantes internacionais (Brown, 2009a), pouco tem sido investigado nesse sentido no Brasil. Como observado em outros países (Brown, 2009a; Sawir et al., 2008; Cushner & Karim, 2004; Lee & Chen, 2000; Pandian, 2008; UKCOSA, 2004), a maioria das amizades de universitários estrangeiros no Brasil dá-se com conterrâneos, sejam eles residentes aqui, sejam amigos que permaneceram no País de origem. Essa situação, contudo, depende da disponibilidade de outras pessoas da mesma nacionalidade no local. No caso dos alunos africanos, as amizades geralmente se estabeleciam com estudantes provenientes de outros países africanos, sendo possível a influência da raça e etnia nas amizades (Antonio, 2004). Esse fato pode ocorrer pela semelhança cultural entre africanos de diferentes países, mas também pela situação semelhante de estudantes internacionais. Mesmo no Brasil, Desidério (2006) identificou dificuldades encontradas por universitários africanos em estabelecer amizades com brasileiros.

Além da semelhança de nacionalidade, outro fator relevante para as amizades foi a proximidade. A maioria dos amigos residia na mesma cidade ou região metropolitana, mas ainda há um número alto de amigos residentes no exterior, o que também reflete a estabilidade da rede de amigos ao longo do tempo.

Em relação ao histórico das amizades, os dados indicam a importância do contato pessoal para seu estabelecimento. A comunicação pela Internet parecer exercer um papel mais de manutenção da amizade do que de seu estabelecimento. Como foram citados mais amigos estrangeiros que brasileiros, a maior parte dos contatos iniciais havia se dado no exterior. Contudo, o Brasil não apenas viabiliza amizades com os próprios brasileiros, mas serve de ponte para conhecer e fazer amizades com outros estrangeiros.

Em relação ao conteúdo das amizades, os principais interesses comuns e atividades compartilhadas estavam associados a lazer, estudos, atividades científicas ou culturais, esportes, trabalho e religião. Levando-se em conta a importância de fatores como lazer e esportes, eles deveriam ser mais considerados nos programas de integração, além de apresentarem aspectos culturais que devem ser levados em conta. Ao lado dos estudos, objetivo central da presença desses estudantes no País, as atividades científicas e culturais também são consideradas importantes para as amizades e deveriam ser mais exploradas como elemento de ligação entre estrangeiros e brasileiros.

Observou-se uma menor frequência de comunicação com amigos próximos que vivem no exterior, o que pode indicar certo afastamento deles. Telefone e Internet têm sua importância aumentada no caso de amigos que vivem longe. Amizades próximas também tendem a manter contato frequente, sendo mais corriqueiro o contato com brasileiros. Os dados sugerem que a comunicação torna-se menos intensa com os amigos do exterior, provavelmente anteriores à vinda ao Brasil, e se intensifica com os amigos brasileiros, aumentando a importância destes devido à sua disponibilidade e proximidade física.

As principais dificuldades nas amizades foram a distância dos amigos, as diferenças pessoais ou de personalidade, as dificuldades de comunicação e as diferenças culturais, particularmente com pessoas de outra nacionalidade. Problemas de comunicação afetaram tanto amizades com conterrâneos quanto amizades com brasileiros ou demais nacionalidades. A distância foi a principal dificuldade apontada nas amizades, levando em conta que parte considerável dos amigos mais próximos vive no exterior. Diferenças culturais não se restringiram a amizades com brasileiros ou outros estrangeiros.

A pesquisa indicou que os amigos são reconhecidos como exercendo um papel relevante tanto na adaptação quanto na visão que têm do Brasil. Esse efeito é ainda mais destacado quando os amigos são brasileiros. Apesar de os universitários estrangeiros apresentarem maior número de amigos próximos da mesma nacionalidade, há uma proporção maior de amigos brasileiros considerados relevantes para a adaptação ao País. Esses dados indicam a relevância de se buscar uma maior aproximação entre os estudantes estrangeiros e brasileiros, tendo em vista não somente sua melhor adaptação, mas também a possibilidade de desenvolverem uma percepção mais positiva do País. Subuhana (2009), ao investigar a experiência sociocultural de universitários africanos no Brasil, considerou integração e amizade com brasileiros como fatores positivos. A literatura tem indicado vantagens de amizades com habitantes do País anfitrião, incluindo conhecer melhor o idioma e a cultura local (Ward et al., 2001). Apesar de as amizades com conterrâneos serem apontadas como fontes de ajuda prática (Maundeni, 2001) e apoio emocional e social no País anfitrião (Zhao & Wildemeersch, 2008), são as amizades com brasileiros que são percebidas como as que mais afetam a adaptação ao País. As amizades com brasileiros não se limitam à aprendizagem do idioma, pois muitos já falam português, nem ao conhecimento da cultura local como algo externo, mas afetam a adaptação do estudante. Como já indicado por UKCOSA (2004), ter amigos do País anfitrião não se restringe a ganhos com a aprendizagem do idioma ou da cultura local, mas afeta a experiência de vida em um País estrangeiro.

Os dados sugerem que a amizade exerce um amplo efeito sobre a vida desses estudantes, não se limitando a auxiliá-los em sua adaptação, mas afetando inclusive a imagem que constroem do país que os hospeda. Desse modo, uma maior aproximação entre universitários estrangeiros e brasileiros pode afetar positivamente não somente sua adaptação ao Brasil, mas também a visão que têm do País. Levando-se em conta que esses estudantes deverão retornar a seus países de origem e exercer profissão de nível superior, espera-se que a consolidação de uma imagem positiva do Brasil possa afetar melhores relações sociais, culturais e científicas, além de contribuir para o desenvolvimento de uma mentalidade culturalmente relativista (Ryan & Hellmundt, 2005) e de maior tolerância a outras culturas (Cushner & Karim, 2004). Assim, os achados deste estudo levam a concordar com Brown (2009b), quando sugere uma ação mais efetiva das universidades para promover a interação entre universitários locais e estrangeiros, em benefício de ambos.

Em relação à literatura atual sobre o tema, o presente trabalho avança ao investigar amizades sob uma perspectiva social e cultural mais ampla, considerando que amizades não se restrinjam ao âmbito da díade de amigos, podendo afetar inclusive a relação do estudante com o País que o hospeda.

Os dados ainda sugerem uma aparente falta de integração desses estudantes ao meio acadêmico brasileiro, tendo a amizade como indicativo. Esse é um aspecto que merece atenção, tendo em vista que a presença de alunos estrangeiros no Brasil poderia ser um meio de uma maior participação do País em colaborações internacionais. Em alguns casos, nota-se que, desde a chegada do estudante até o momento da pesquisa, a rede social foi formada eminentemente por colegas e amigos da mesma nacionalidade, o que é facilitado pelas semelhanças culturais de origem, mas também pelo enfrentamento das mesmas dificuldades no Brasil. As universidades deveriam promover uma maior integração social e acadêmica desses alunos, inclusive inserindo-os em projetos de pesquisa, tendo em vista uma possível futura cooperação entre os países envolvidos.

Finalmente, a integração entre pessoas de diferentes nacionalidades por meio de amizade é uma meta a ser alcançada, que ultrapassa, do ponto de vista socioafetivo e cultural, formas de convivência mais superficiais, como a tolerância. Relações entre pessoas de diferentes origens, pautadas na amizade, implicam o reconhecimento de sua similaridade e o respeito e afeto mútuo sobre os quais as amizades são construídas.

O presente trabalho representa um estudo exploratório e inicial, o que permitiu identificar e descrever algumas características das amizades de estudantes universitários estrangeiros que residem e estudam no Brasil. Podem-se apontar alguns limites da presente pesquisa, como a natureza restrita e limitada dos dados obtidos com o instrumento utilizado (questionários). Pesquisas futuras poderiam explorar em maior profundidade diversos aspectos, com a utilização de outras formas de coleta de dados, como entrevistas, para um aprofundamento das questões inicialmente investigadas. Outra limitação da presente pesquisa foi a pequena participação de universitários estrangeiros em relação ao número de estudantes contatados. Pesquisas futuras também deveriam contar com maior adesão de estudantes, possivelmente com a participação de alguns desses estudantes também como pesquisadores. Quanto ao papel da amizade para a adaptação ao Brasil e sua influência na visão ou percepção do País, os dados se limitam a indicar uma influência positiva ou negativa, mas seria importante investigar em maior detalhe como efetivamente essa influência ocorre. Enfim, outras investigações são necessárias para um melhor conhecimento da amizade de estudantes estrangeiros no País, procurando relacionar as amizades investigadas com os padrões culturais da amizade de cada grupo nacional ou cultural envolvido.

Recebido em: 4/5/2010

Versão final em: 28/2/2012

Aprovado em: 2/3/2012

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    Apoio: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      05 Dez 2012
    • Data do Fascículo
      Dez 2012

    Histórico

    • Recebido
      04 Maio 2010
    • Aceito
      02 Mar 2012
    • Revisado
      28 Fev 2012
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