Acessibilidade / Reportar erro

Mapeamento das representações sociais da Psicologia: um estudo em contexto português

Resumo

Objetivo:

O presente estudo teve por objetivo analisar as representações sociais da Psicologia numa amostra de inquiridos portugueses, contribuindo, assim, para um maior entendimento do significado social dessa área científica.

Método:

Foi realizada uma tarefa de associação em uma amostra composta de 205 portugueses aos quais foi dado como estímulo a palavra “Psicologia”. Os dados foram analisados através de análise de conteúdo, com apoio do software Max-Qda.

Resultados:

Os principais resultados evidenciam uma maior diversidade de representações face a estudos anteriores. No entanto, a representação dominante em termos interventivos continua a ser a clínica curativa e o paradigma médico.

Conclusão:

Esta pesquisa permitiu evidenciar a necessidade de que profissionais de Psicologia e entidades que os representam reforcem a visibilidade e a consciência da comunidade em geral sobre as áreas de aplicação da Psicologia, quer no contexto científico, quer no profissional.

Palavras-chave
Portugal; Psicologia; Representação social

Abstract

Objective:

The present study aimed to analyse the social representations of Psychology in a sample of Portuguese respondents, thus contributing to a better understanding of the social meaning of this scientific area.

Method:

A free association task was performed by a sample of 205 Portuguese individuals who were given the word “Psychology” as a stimulus. Data were analysed using content analysis, supported by the Max-Qda software.

Results:

The main results show a greater diversity of representations compared to previous studies. However, the dominant representation in terms of intervention is still the curative clinic and the medical paradigm.

Conclusion:

This research made it possible to highlight the need for Psychology professionals, and the entities that represent them, to reinforce the visibility and awareness of the community in general, of the application areas both in the scientific and professional context.

Keywords:
Portugal; Psychology; Social representation

Embora seja uma ciência recente, os primórdios da Psicologia remontam ao século V a.C., com os filósofos da Grécia Antiga, tendo como referência Platão (428-348 a.C.) e Aristóteles (384-322 a.C.). Somente no século XVI surgiu o termo “Psicologia”, e empregado num contexto teológico (por Melânchton). O conceito de Psicologia, numa acepção mais próxima da atualmente empregada enquanto área interessada pelo estudo do funcionamento interno da mente, pelas suas dimensões e manifestações, surge apenas no século XVIII, com o filósofo alemão Christian Wolff (1679-1754). Estabeleceu-se como marco para o reconhecimento do seu estatuto como ciência a criação (em 1879, por Wundt) do primeiro laboratório de Psicologia Experimental, na Universidade de Leipzig (Airenti, 2019Airenti, G. (2019). The place of development in the history of psychology and cognitive Science. Frontiers in Psychology , 10, 1-9. https://doi.org/10.3389/fpsyg.2019.00895
https://doi.org/https://doi.org/10.3389/...
).

Apesar da Psicologia ser uma ciência muito jovem, com cerca de 140 anos, quando seu crescimento e expansão são analisados, percebe-se o quanto ela tem revelado ser uma área profissional bastante atrativa, estando já presente a ameaça do mercado de trabalho saturado.

A esse respeito, Jesuíno (2002)Jesuíno, J. C. (2002).Psicologia. Quimera Editores. apresenta alguns dados muito interessantes, dos quais salienta-se a tendência verificada a partir de 1950 para um maior desenvolvimento das áreas aplicadas, como a Psicologia Organizacional, comparativamente ao desenvolvimento das tradicionais áreas de investigação e clínica. Acresce, ainda, a tendência para a feminização da profissão, quer na componente prática, nas áreas de investigação ou do ensino.

Enfim, a psicologia tenderá a tornar-se mais popular, como sucedeu com a psicanálise, a tornar-se representação social, e sob esse aspecto a constituir um elemento importante na construção social da realidade. Se o século XX foi o século da psicologia, o século XXI sê-lo-á, porventura, ainda mais (Jesuíno, 2002Jesuíno, J. C. (2002).Psicologia. Quimera Editores., p. 223).

A história da Psicologia em Portugal seguiu muito de perto a evolução apresentada, tendo sofrido forte influência da tradição francesa dos médicos-filósofos. O primeiro Laboratório de Psicologia Português foi criado em 1912, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (Jesuíno, 2002Jesuíno, J. C. (2002).Psicologia. Quimera Editores.). Em 1930 teve início o ensino da Psicologia nas universidades portuguesas - nesse caso, com apenas duas unidades curriculares: Psicologia Geral e Psicologia Experimental, ou Psicologia Geral e Psicologia Escolar e Medidas Mentais (também lecionadas na Faculdade de Letras, na Licenciatura em Filosofia).

Da década de 1920 à década de 1950, foram várias as atividades em Psicologia realizadas em Portugal, e suas características seguiam de muito perto os modelos predominantes na época: o experimental e, consequentemente, o modelo psicométrico, as atividades pedagógicas de feição genética e os modelos fenomenológico e psicanalítico.

Em 1962 foi criado o Instituto de Ciências Psicopedagógicas e, logo em seguida, em 1964, o Instituto Superior de Psicologia Aplicada inicia aquela que é considerada a primeira formação de psicólogos em Portugal. Tratava-se de um bacharelado, com um tronco comum nos dois primeiros anos, seguidos de três opções de especialização no 3.º ano: Psicologia Pedagógica, Psicologia Clínica e Psicologia Industrial.

Os primeiros cursos de licenciatura em Psicologia em Portugal surgiram em 1976 nas Universidades de Lisboa, Porto e Coimbra. Foi esse curso, designado Curso Superior de Psicologia da Faculdade de Letras, que esteve na base das faculdades de Psicologia e Ciências da Educação, reconhecidas oficialmente em 1980 nas referidas universidades. Não obstante esse início tão tardio, a oferta formativa teve um crescimento tão acelerado que, em 1995, existiam 10 universidades oferecendo cursos de licenciatura em Psicologia, entre ensino público e privado, tendo atingido o seu auge em 2007 com um total de 37 cursos.

Apenas como apontamento, refere-se que atualmente o ensino universitário da Psicologia segue o modelo decorrente da Declaração de Bolonha (1999), declaração conjunta dos Ministros da Educação europeus reunidos em Bolonha a 19 de junho de 1999, sendo que a implementação desse modelo foi concluída em 2010. Assim, encontram-se estabelecidos três ciclos de estudos, a saber: 1.º ciclo, que corresponde à graduação; 2.º ciclo, que corresponde ao mestrado e 3.º ciclo, que corresponde ao doutorado.

Concluída a formação acadêmica, a entrada no mercado de trabalho depende ainda da realização de um estágio profissional com duração de um ano, sendo esse processo acompanhado pela Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP). A inscrição na OPP para realização do estágio profissional depende da obtenção do grau de mestre, no 2.º ciclo de Psicologia, que se encontra acreditado pela Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior e que cumpre os requisitos de formação profissionalizante. Refere-se que a OPP, entidade reguladora da atividade profissional dos psicólogos, foi criada pela Lei nº 57/2008, de 4 de setembro de 2008, que aprovou os seus estatutos e entrou em funcionamento em 12 de abril de 2010, com cerca de 18 mil psicólogos inscritos.

Apostando em assegurar a melhor resposta profissional aos psicólogos e cuidando também dos seus legítimos interesses, a OPP (2016)Ordem dos Psicólogos Portugueses. (2016). Regulamento nº 107-A/2016. Regulamento Geral de Especialidades Profissionais da Ordem dos Psicólogos Portugueses. Diário da República: série II-E, Lisboa, nº 20 . p. 38-44. decidiu pela criação do Regulamento Geral de Especialidades Profissionais da Ordem dos Psicólogos Portugueses (Regulamento n.º 107-A/2016). Nesse regulamento encontra-se definido um conjunto de princípios que diz respeito à formação e ao desenvolvimento profissional dos psicólogos, assumindo que as especialidades devem promover a qualidade do exercício profissional. O título de psicólogo especialista é uma certificação de competência específica na área da respetiva especialidade, funcionando, dessa forma, como um reconhecimento de qualificação (Ordem dos Psicólogos Portugueses, 2016Ordem dos Psicólogos Portugueses. (2016). Regulamento nº 107-A/2016. Regulamento Geral de Especialidades Profissionais da Ordem dos Psicólogos Portugueses. Diário da República: série II-E, Lisboa, nº 20 . p. 38-44.).

Com o referido regulamento ficaram definidas três especialidades gerais: Psicologia Clínica e da Saúde; Psicologia da Educação e Psicologia do Trabalho, Social e das Organizações. Para além dessas, encontram-se consagradas mais 12 especialidades avançadas, que poderão ser atribuídas aos psicólogos especialistas independentemente da área de especialidade reconhecida. Atualmente existem mais de 20 mil psicólogos portugueses registados na OPP. Importa sistematizar que em Portugal encontram-se dois posicionamentos contrários sobre a Psicologia na atualidade: um exaltando-a enquanto área em expansão ao nível da oferta formativa e outro focando um mercado profissional (e também formativo) atualmente saturado.

Feito esse brevíssimo enquadramento histórico da Psicologia no contexto português, termina-se com a conhecida afirmação de Ebbinghaus (1908, p. 3)Ebbinghaus, H. (1908). Psychology: an elementary textbook. Heath. de que “[...] a psicologia possui um longo passado, mas uma curta história”. Em Portugal a Psicologia é uma área científica e profissional recente, que está vivenciando discursos diários de ideias pré-concebidas resultantes de um aparente desconhecimento ou crenças. Foi nesse contexto que emergiu a necessidade de realizar o presente estudo com o objetivo de analisar as representações sociais da Psicologia.

Representações sociais

O conceito de representação social foi proposto por Moscovici na década de 1960, referindo-se a um conjunto de conceitos, proposições e explicações criados na vida quotidiana no decurso da comunicação interindividual. Partindo do paradigma comportamentalista, Moscovici propõe que sejam abandonados os modelos que consideram as representações como simples variáveis mediadoras de estímulo e resposta e sejam adotados os que consideram as representações como variáveis independentes que estarão na origem não só das respostas comportamentais, mas, também, da forma como são percepcionados os estímulos (Moscovici, 1984Moscovici, S. (1984). The Phenomenon of Social Representations, In R. Farr & S. Moscovici (Eds.), Social Representations (pp. 3-69). Academic Press.). A representação é, assim, entendida como a construção de um objeto e expressão de um sujeito (Vala, 1993Vala, J. (1993). Representações Sociais - Para uma Psicologia Social do Pensamento Social. In J. Vala & M. Monteiro (Eds.), Psicologia Social. Gulbenkian.), tendo um forte componente social visto tratar-se de uma modalidade de conhecimento socialmente elaborada e partilhada, com um objetivo prático, contribuindo para a construção de uma realidade comum a um conjunto social (Jodelet, 1984Jodelet, D. (1984). Représentation sociale: phénomènes, concept et théorie. In S. Moscovici (Ed.), Psychologie Sociale (pp. 357-378). PUF.). Toda representação social é partilhada por um conjunto de indivíduos e é coletivamente produzida.

As representações sociais traduzem o pensamento do senso comum, uma vez que descrevem as transformações que os diversos grupos sociais fazem das teorias filosóficas e científicas dominantes nas sociedades contemporâneas. As representações são sociais porque emergem num dado contexto social real; porque são elaboradas a partir de quadros de apreensão que fornecem os valores, as ideologias e os sistemas de categorização social partilhados pelos diferentes grupos sociais; porque se constituem e circulam através da comunicação social e porque refletem as relações sociais ao mesmo tempo que contribuem para a sua produção (Moscovici, 1984Moscovici, S. (1984). The Phenomenon of Social Representations, In R. Farr & S. Moscovici (Eds.), Social Representations (pp. 3-69). Academic Press.).

Existem dois processos essenciais responsáveis pela elaboração das representações sociais: a objetivação e a ancoragem. A cristalização de uma representação remete ao processo de objetivação, que “[...] é essencialmente uma operação formadora de imagens, o processo através do qual noções abstratas são transformadas em algo concreto, quase tangível” (Spink, 1993Spink, M. (1993). O conceito de representação social na abordagem psicossocial. Caderno de Saúde Pública, 9(3), 300-308. https://doi.org/10.1590/s0102-311x1993000300017
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
, p. 306). A ancoragem refere-se “[...] à inserção orgânica do que é estranho no pensamento já constituído, ou seja, ancoramos o desconhecido em representações já existentes” (Spink, 1993Spink, M. (1993). O conceito de representação social na abordagem psicossocial. Caderno de Saúde Pública, 9(3), 300-308. https://doi.org/10.1590/s0102-311x1993000300017
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
, p. 306), podendo preceder ou seguir o processo de objetivação. No primeiro caso, para integrar as novas informações em categorias que o sujeito já possui resultantes de experiências anteriores, ou, na segunda hipótese, atribuir sentido a acontecimentos, comportamentos, pessoas, grupos ou fatos sociais de forma que exprimam e constituam as relações sociais.

Por fim, interessa mencionar a multifuncionalidade das representações sociais. Na realidade, elas apresentam funções de organização significante do real, explicando-o como função da comunicação, de comportamentos e de fenômenos de diferenciação social. As representações sociais permitem organizar de forma significativa o real, influenciam os processos de comunicação, predispõem para a ação e assumem um papel relevante em fenômenos de diferenciação social, nomeadamente na função de proteção de identidades, que remete às dinâmicas de interação social, especificamente na elaboração de estratégias coletivas ou individuais para a manutenção das identidades (Spink, 1993Spink, M. (1993). O conceito de representação social na abordagem psicossocial. Caderno de Saúde Pública, 9(3), 300-308. https://doi.org/10.1590/s0102-311x1993000300017
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
).

Estudos sobre representações sociais da Psicologia e do psicólogo

Foi realizada uma pesquisa nas bases de dados da Scientific Electronic Library Online (SciELO) relativa à representação social da Psicologia e dos psicólogos, na qual foram identificados 14 estudos realizados até 2019. Todos os estudos identificados, com exceção de um (Aisenson et al., 2005Aisenson, D., Monedero, F., Batlle, S., Legaspi, L., Aisenson, G., Vidondo, M., & Alonso, D. (2005). Representaciones de estudiantes y graduados recientes sobre la carrera y la profesión del psicólogo.Anuario de Investigaciones, 12, 35-42.), realizado em Buenos Aires, foram feitos no Brasil. Dos 14 estudos analisados, 2 eram anteriores a 2000 (Leme et al., 1989Leme, M. A. V. S., Bussab, V. S. R., & Otta, E. (1989). A representação social da Psicologia e do psicólogo.Psicologia: Ciência e Profissão, 9(1), 29-35. https://doi.org/10.1590/s1414-98931989000100009
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
; Souza & Trindade, 2012Souza, L., & Trindade, Z. A. (2012). A representação social das atividades profissionais do psicólogo em segmentos de classe média e baixa, na cidade de Vitória - ES.Psicologia: Teoria e Pesquisa ,6(3), 267-279.), 4 centravam-se na segunda década do século XXI e os restantes na primeira década.

Os estudos avaliam populações distintas, embora exista um predomínio de estudos (8 deles) que envolvem estudantes (Aisenson et al., 2005Aisenson, D., Monedero, F., Batlle, S., Legaspi, L., Aisenson, G., Vidondo, M., & Alonso, D. (2005). Representaciones de estudiantes y graduados recientes sobre la carrera y la profesión del psicólogo.Anuario de Investigaciones, 12, 35-42.; Bertollo-Nardi et al., 2014Bertollo-Nardi, M., Zacché, L. A., Moreira Silva, R. D., Trindade, Z.A., & Smith Menandro, M.C. (2014). Representações sociais de psicólogo para jovens estudantes.CES Psicología, 7(2),78-95.; Figuerêdo & Cruz, 2017Figuerêdo, R. B., & Cruz, F. M. L. (2017). Psicologia: profissão feminina? A visão dos estudantes de Psicologia. Revista Estudos Feministas, 25(2), 803-828. https://doi.org/10.1590/1806-9584.2017v25n2p803
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
; Iop et al., 2013Iop, J., Silva, J. B., & Silva, L. F. (2013). Representações sociais da psicologia de académicos do curso de psicologia de uma universidade privada. Revista Eletrônica Científica, Inovação e Tecnologia, 1(7), 20-26. ; Leme et al., 1989Leme, M. A. V. S., Bussab, V. S. R., & Otta, E. (1989). A representação social da Psicologia e do psicólogo.Psicologia: Ciência e Profissão, 9(1), 29-35. https://doi.org/10.1590/s1414-98931989000100009
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
; Praça & Novaes, 2004Praça, K. B. D., & Novaes, H. G. V. (2004). A representação social do trabalho do psicólogo.Psicologia: Ciência e Profissão,24(2), 32-47. https://doi.org/10.1590/s1414-98932004000200005
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
; Rittner, 2008Rittner, C. L. A. (2008). A psicologia organizacional na visão dos alunos de psicologia [Unpublisher master’s dissertation]. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo.; Souza Filho et al., 2006Souza Filho, M. L., Oliveira, J. S. C., & Lima, F. L. A. (2006). Como as pessoas percebem o psicólogo: um estudo exploratório.Paidéia (Ribeirão Preto),16(34), 253-261. https://doi.org/10.1590/s0103-863x2006000200013
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
). A maior parte desses estudos reporta-se a alunos do Ensino Superior e de cursos de Psicologia, enquanto dois deles (Souza Filho et al., 2006Souza Filho, M. L., Oliveira, J. S. C., & Lima, F. L. A. (2006). Como as pessoas percebem o psicólogo: um estudo exploratório.Paidéia (Ribeirão Preto),16(34), 253-261. https://doi.org/10.1590/s0103-863x2006000200013
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
; Praça & Novaes, 2004Praça, K. B. D., & Novaes, H. G. V. (2004). A representação social do trabalho do psicólogo.Psicologia: Ciência e Profissão,24(2), 32-47. https://doi.org/10.1590/s1414-98932004000200005
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
) incluem estudantes de outros cursos da área da saúde. Nesses casos, registra-se uma tentativa de comparação das representações dos estudantes de Psicologia com os de outras áreas, incluindo, em um dos casos, um terceiro grupo, referente à população geral. Os estudos variam também consideravelmente no que se refere ao ano que os estudantes estavam cursando, pois incluem alunos do primeiro e do último ano da graduação. Relativamente à população geral, ou seja, à população que não foi estudada em contextos que envolviam o contato explícito com psicólogos, como, por exemplo, pessoas abordadas na rua, existem cinco estudos (Cenci, 2006Cenci, C. M. B. (2006). Representação social da psicologia em um bairro periférico de uma cidade do interior do Rio Grande do Sul.Aletheia, 23, 43-53.; Lahm & Boeckel, 2008Lahm, C. R., & Boeckel, M. G. (2008). Representação social do psicólogo em uma clínica-escola do município de Taquara/RS.Contextos Clínicos, 1(2), 79-92. https://doi.org/10.4013/ctc.20082.04
https://doi.org/https://doi.org/10.4013/...
; Souza Filho et al., 2006Souza Filho, M. L., Oliveira, J. S. C., & Lima, F. L. A. (2006). Como as pessoas percebem o psicólogo: um estudo exploratório.Paidéia (Ribeirão Preto),16(34), 253-261. https://doi.org/10.1590/s0103-863x2006000200013
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
; Souza & Trindade, 2012Souza, L., & Trindade, Z. A. (2012). A representação social das atividades profissionais do psicólogo em segmentos de classe média e baixa, na cidade de Vitória - ES.Psicologia: Teoria e Pesquisa ,6(3), 267-279.; Weber et al., 2005Weber, L. N. D., Pavei, C. A., & Biscaia, P. (2005). Imagem social do psicólogo e da psicologia para a população de Curitiba: 12 anos depois. Psicologia Argumento, 23(40), 19-30.), sendo que um deles (Souza Filho et al., 2006Souza Filho, M. L., Oliveira, J. S. C., & Lima, F. L. A. (2006). Como as pessoas percebem o psicólogo: um estudo exploratório.Paidéia (Ribeirão Preto),16(34), 253-261. https://doi.org/10.1590/s0103-863x2006000200013
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
) envolve, numa perspectiva de comparação, outros dois grupos de estudantes (de Psicologia e de Enfermagem). Cita-se um estudo em que são avaliadas as representações de psicólogos sobre a profissão, sendo essa exercida na qualidade de gestor público nas áreas da saúde, assistência social e assistência sociojurídica. Nesses casos, sempre que a questão do nível socioeconômico é focada, os estudos constatam a ausência de representação da Psicologia e/ou dos seus profissionais numa percentagem significativa. Os estudos sugerem que esse desconhecimento resulta do reduzido acesso que as populações, no geral, têm aos serviços dos psicólogos, os quais, em sua maioria, trabalham como profissionais liberais, em particular os da área clínica, tornando, assim, difícil e oneroso o acesso a esses profissionais. Dos dois estudos realizados em contextos institucionais, um refere que 80% dos indivíduos que procuravam os serviços de psicólogos não o faziam por iniciativa própria e desconheciam o papel desse profissional (More et al., 2001More, C. O. O., Leiva, A. C., & Tagliari, L. V. (2001). A representação social do psicólogo e de sua prática no espaço público-comunitário.Paidéia (Ribeirão Preto),11(21), 85-98. https://doi.org/10.1590/s0103-863x2001000200010
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
), enquanto no estudo de Lahm e Boeckel (2008)Lahm, C. R., & Boeckel, M. G. (2008). Representação social do psicólogo em uma clínica-escola do município de Taquara/RS.Contextos Clínicos, 1(2), 79-92. https://doi.org/10.4013/ctc.20082.04
https://doi.org/https://doi.org/10.4013/...
é dado que mais da metade dos indivíduos que procuraram os serviços de psicólogos já tinham tido contato anterior com esses profissionais, não sendo verificada uma ausência de representação do psicólogo e do seu trabalho.

No que concerne às opções metodológicas, os estudos apresentam fundamentalmente três: entrevistas, questionários (que incluem questões abertas e fechadas ou apenas questões abertas) e a evocação livre. Verificou-se que, em alguns casos, os estudos apresentados são parte de pesquisas mais alargadas, sendo que o artigo publicado incide especificamente nessa temática. Foram verificadas ainda situações em que o artigo publicado, apesar de baseado num questionário, analisa apenas uma das questões do instrumento utilizado (Leme et al., 1989Leme, M. A. V. S., Bussab, V. S. R., & Otta, E. (1989). A representação social da Psicologia e do psicólogo.Psicologia: Ciência e Profissão, 9(1), 29-35. https://doi.org/10.1590/s1414-98931989000100009
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
). Um dos estudos recorre a grupos focais (Bertollo-Nardi et al., 2014Bertollo-Nardi, M., Zacché, L. A., Moreira Silva, R. D., Trindade, Z.A., & Smith Menandro, M.C. (2014). Representações sociais de psicólogo para jovens estudantes.CES Psicología, 7(2),78-95.) e outro a uma técnica designada como “roda de conversa” (Figuerêdo & Cruz, 2017Figuerêdo, R. B., & Cruz, F. M. L. (2017). Psicologia: profissão feminina? A visão dos estudantes de Psicologia. Revista Estudos Feministas, 25(2), 803-828. https://doi.org/10.1590/1806-9584.2017v25n2p803
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
). Esse último estudo apresenta também o recurso do desenho como forma de análise das representações dos participantes.

Com exceção de um estudo, cuja coleta de dados aconteceu entre 1976 e 1984 (Leme et al., 1989Leme, M. A. V. S., Bussab, V. S. R., & Otta, E. (1989). A representação social da Psicologia e do psicólogo.Psicologia: Ciência e Profissão, 9(1), 29-35. https://doi.org/10.1590/s1414-98931989000100009
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
), as apreciações relativas à Psicologia e aos psicólogos são, no geral, positivas. Provavelmente a visão negativa a respeito da profissão vista em Leme et al. (1989)Leme, M. A. V. S., Bussab, V. S. R., & Otta, E. (1989). A representação social da Psicologia e do psicólogo.Psicologia: Ciência e Profissão, 9(1), 29-35. https://doi.org/10.1590/s1414-98931989000100009
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
seja resultante do fato de o estudo ter sido realizado há cerca de três a quatro décadas atrás, período em que o desconhecimento a respeito da profissão era bastante elevado e o reconhecimento do contributo dessa profissão para o bem-estar das pessoas estava muito aquém do esperado.

A generalidade dos estudos refere que a representação social da Psicologia e do psicólogo estão ligadas à área clínica. Um dos estudos (Weber et al., 2005Weber, L. N. D., Pavei, C. A., & Biscaia, P. (2005). Imagem social do psicólogo e da psicologia para a população de Curitiba: 12 anos depois. Psicologia Argumento, 23(40), 19-30.), que compara dados de 1990 e de 2002, refere um maior conhecimento por parte da população em geral relativamente ao perfil e à natureza do exercício da profissão. Mesmo para os estudantes de Psicologia, as áreas da Psicologia Social, Educacional e outras surgem como periféricas, enquanto a área clínica ocupa uma centralidade evidente, que os autores de um dos estudos (Aisenson et al., 2005Aisenson, D., Monedero, F., Batlle, S., Legaspi, L., Aisenson, G., Vidondo, M., & Alonso, D. (2005). Representaciones de estudiantes y graduados recientes sobre la carrera y la profesión del psicólogo.Anuario de Investigaciones, 12, 35-42.) consideram que também se encontra plasmada no próprio plano de estudos do curso.

As funções de ajudar, escutar, orientar e apoiar na resolução de problemas, aparecem de forma recorrente nos estudos, bem como uma visão individual do psicólogo, provavelmente ajustada à ideia da Psicologia Clínica. Cabe citar ainda o caso de dois estudos em particular, os quais constatam que a representação do psicólogo é a de um profissional que procura a adaptação e integração dos sujeitos e não a transformação social (Praça & Novaes, 2004Praça, K. B. D., & Novaes, H. G. V. (2004). A representação social do trabalho do psicólogo.Psicologia: Ciência e Profissão,24(2), 32-47. https://doi.org/10.1590/s1414-98932004000200005
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
).

Apesar da Psicologia ser uma área de formação profissional relativamente recente em Portugal, apresenta, uma forte expansão em termos de oferta formativa, que se reflete no número de profissionais em atividade, fator pelo qual se considerou pertinente a realização do presente estudo. Nesse sentido, o objetivo principal desta investigação é analisar as representações sociais sobre a Psicologia numa amostra de inquiridos portugueses.

Método

Participantes

A amostra foi constituída de 205 participantes, sendo 67,8% (n = 139) mulheres, com média de idade de 37 anos (DP = 11,21), dos quais 48,8% (n = 100) tinham formação superior. Sessenta por cento (n = 123) dos inquiridos já tinha tido um contato profissional com psicólogos.

Instrumento

Foi utilizado um questionário de autopreenchimento, que incluía questões sociodemográficas que permitiam a descrição da amostra e uma tarefa de associação livre de palavras. Dessa forma, os participantes foram convidados a escrever o que lhes vinha à mente quando pensavam em “Psicologia”. Não foi dado qualquer outro estímulo ou informação aos participantes a fim de que, dessa forma, fosse possível captar as ideias mais salientes e significativas deles associadas ao tema.

Análise de dados

A coleta de dados decorreu através de amostragem por “bola de neve” junto à população em geral, com questionário em formato papel.

O conteúdo dos dados recolhidos foi analisado através de análise de conteúdo (Bardin, 1977Bardin, L. (1977). Análise de conteúdo. Edições 70.). Foi desenvolvido um sistema de categorias para codificação dos dados com base numa técnica bottom-up (i.e., codificação emergente), tendo como unidade de análise o tema. As repostas dos participantes que se referiam ao mesmo tema foram agrupadas em conjunto (poderia ser uma palavra ou uma frase inteira, dependendo do caso). Desse processo foram identificadas as categorias que, numa segunda fase, foram agrupadas em categorias alargadas, as quais foram constituídas em função dos conteúdos das categorias nelas incluídas.

A análise de conteúdo foi realizada com o auxílio do software Max-Qda. Para assegurar a qualidade do sistema de categorias, dois investigadores independentes codificaram 10% dos questionários recolhidos (selecionados aleatoriamente). O valor do acordo entre os avaliadores indicou um nível de confiabilidade do sistema de categorias muito adequado (k de Cohen para acordo interjuízes: 0,92%).

O estudo seguiu os princípios éticos, de acordo com o Código Deontológico da Ordem dos Psicólogos Portugueses (1ª Revisão publicada no Diário da República, 2.ª Série n.º 246/2, dia 26 de dezembro de 2016) no que diz respeito à pesquisa realizada com a participação de seres humanos (informação do objetivo, riscos e benefícios do estudo, proteção de dados pessoais e garantias de confidencialidade, gratuidade e possibilidade de abandono do estudo em qualquer uma das suas etapas).

Resultados

Do processo de análise de dados foram identificadas, num total de 390 categorizações, 23 categorias cuja designação reflete o conteúdo dos temas. Numa segunda fase, essas categorias foram agrupadas em nove categorias alargadas, constituídas em função dos conteúdos das categorias nelas incluídas (Tabela 1).

Tabela 1.
Sistema de categorias para codificação

Quando analisados os resultados com base nas nove categorias principais (Tabela 2), verificou-se que as representações se centravam nas ferramentas da Psicologia, sendo essa a categoria mais referenciada pelos inquiridos, seguida do foco no domínio científico da Psicologia. O profissional emerge também nas representações.

Tabela 2.
Frequência das categorias e subcategorias

Na Tabela 2 pode-se visualizar a síntese resultante da análise de conteúdo. Da análise percebe-se que as ferramentas da Psicologia são as mais referenciadas pelos inquiridos, nomeadamente as subcategorias de “conceitos” e “métodos e técnicas”. No domínio interventivo denota-se o foco no nível intrapessoal, associado à intervenção clínica.

Uma análise das representações sociais por gênero, habilitações e contato prévio com psicólogo revela que o espaço físico é enunciado principalmente pelos homens, sendo que os indivíduos com escolaridade inferior ao Ensino Superior tendem a apresentar uma visão mais positiva da Psicologia, enquanto os indivíduos com menores habilitações emitem mais apreciações a respeito do profissional. Já os inquiridos sem contato prévio com o psicólogo enfatizam os paradigmas, nomeadamente o médico.

Discussão

A área científica e aplicada da Psicologia, apesar da sua história recente, tem uma proliferação acentuada resultante, em grande parte, da propagação dos estabelecimentos de Ensino Superior e, também, do trabalho de sensibilização feito pela Ordem dos Psicólogos Portugueses. Todavia, importa mapear as visões da comunidade acerca da Psicologia para trazer maior e melhor compreensão dos caminhos futuros em termos do posicionamento dessa área, até porque os estudos anteriores focaram-se especialmente em amostras de estudantes na sua maioria de cursos de Psicologia (Aisenson et al., 2005Aisenson, D., Monedero, F., Batlle, S., Legaspi, L., Aisenson, G., Vidondo, M., & Alonso, D. (2005). Representaciones de estudiantes y graduados recientes sobre la carrera y la profesión del psicólogo.Anuario de Investigaciones, 12, 35-42.; Bertollo-Nardi et al., 2014Bertollo-Nardi, M., Zacché, L. A., Moreira Silva, R. D., Trindade, Z.A., & Smith Menandro, M.C. (2014). Representações sociais de psicólogo para jovens estudantes.CES Psicología, 7(2),78-95.; Figuerêdo & Cruz, 2017Figuerêdo, R. B., & Cruz, F. M. L. (2017). Psicologia: profissão feminina? A visão dos estudantes de Psicologia. Revista Estudos Feministas, 25(2), 803-828. https://doi.org/10.1590/1806-9584.2017v25n2p803
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
; Iop et al., 2013Iop, J., Silva, J. B., & Silva, L. F. (2013). Representações sociais da psicologia de académicos do curso de psicologia de uma universidade privada. Revista Eletrônica Científica, Inovação e Tecnologia, 1(7), 20-26. ; Leme et al., 1989Leme, M. A. V. S., Bussab, V. S. R., & Otta, E. (1989). A representação social da Psicologia e do psicólogo.Psicologia: Ciência e Profissão, 9(1), 29-35. https://doi.org/10.1590/s1414-98931989000100009
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
; Praça & Novaes, 2004Praça, K. B. D., & Novaes, H. G. V. (2004). A representação social do trabalho do psicólogo.Psicologia: Ciência e Profissão,24(2), 32-47. https://doi.org/10.1590/s1414-98932004000200005
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
; Souza Filho et al., 2006Souza Filho, M. L., Oliveira, J. S. C., & Lima, F. L. A. (2006). Como as pessoas percebem o psicólogo: um estudo exploratório.Paidéia (Ribeirão Preto),16(34), 253-261. https://doi.org/10.1590/s0103-863x2006000200013
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
). Nesse contexto, o presente estudo teve por objetivo analisar as representações sociais da Psicologia numa amostra de inquiridos portugueses.

Considerando que os métodos qualitativos disponibilizam ferramentas privilegiadas para captar a diversidade de perspectivas associadas a um objeto social, este estudo usa uma tarefa de associação livre, pois essa possibilita aos respondentes registrar as ideias que livremente lhes surgem no pensamento perante um determinado conceito, permitindo que sejam registradas as categorias mais significativas e salientes na definição do objeto.

Com base nas respostas recolhidas foi desenvolvido um sistema de categorias composto por 9 categorias principais e 23 subcategorias, num total de 390 categorizações. Os resultados sugerem uma conceitualização multidimensional da Psicologia e revelam uma maior diversidade de representações face a estudos anteriores (Praça & Novaes, 2004Praça, K. B. D., & Novaes, H. G. V. (2004). A representação social do trabalho do psicólogo.Psicologia: Ciência e Profissão,24(2), 32-47. https://doi.org/10.1590/s1414-98932004000200005
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
), o que pode ser explicado pelo fato de ter participado deste estudo um conjunto heterogêneo de indivíduos, diferente das habituais amostras, formadas por estudantes. Cabe registrar, também, o foco nas ferramentas de trabalho da Psicologia, com particular ênfase aos métodos e técnicas, assim como aos conceitos associados ao ser humano. O profissional, com as suas competências e funções, destaca-se nas representações dos inquiridos. Os resultados deste estudo permitem salientar uma maior heterogeneidade de visões, que começam a denotar mudanças na forma como são vistos o psicólogo como profissional e a Psicologia, e que visa a adaptação e integração dos indivíduos. Esses resultados colocam em evidência a emergência da elaboração de novas representações sociais ancoradas nas já existentes (Spink, 1993Spink, M. (1993). O conceito de representação social na abordagem psicossocial. Caderno de Saúde Pública, 9(3), 300-308. https://doi.org/10.1590/s0102-311x1993000300017
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
).

Apesar disso, a questão do estudo da mente (domínio científico) predomina, assim como em estudos anteriores, face ao interventivo, e a representação dominante em termos interventivos continua a ser a clínica curativa e o paradigma médico (Chmil et al., 2017Chmil, F., Gañan, F., Medrano, L. A., & Kanter, P. E. F. (2017). Representaciones sociales de la profesión del psicólogo en integrantes a la carrera de psicología de Córdoba, Argentina. Informes Psicológicos, 17(1), 143-158. http://dx.doi.org/10.18566/infpsic.v17n1a08
https://doi.org/http://dx.doi.org/10.185...
), o que vem mostrar o longo caminho que os profissionais, as instituições de Ensino Superior e as associações profissionais e científicas ainda têm de percorrer para conseguir fazer chegar à comunidade a multiplicidade de intervenções e contextos da Psicologia. Esse é considerado o principal contributo do presente estudo.

Esses resultados podem ser reveladores de uma maior consciencialização sobre o trabalho de um psicólogo, em sintonia com a premissa de que as representações sociais traduzem as transformações do senso-comum e emergem num dado contexto social real, veiculadas por diferentes grupos através dos meios de comunicação social (Moscovici, 1984Moscovici, S. (1984). The Phenomenon of Social Representations, In R. Farr & S. Moscovici (Eds.), Social Representations (pp. 3-69). Academic Press.).

Os resultados associam os indivíduos com escolaridade superior a uma visão mais positiva da Psicologia, enquanto os indivíduos com menores habilitações focam-se mais no profissional e os inquiridos sem contato prévio com psicólogos tendem a destacar o paradigma médico, reforçando o caminho de sensibilização e consciencialização da multiplicidade de abordagens da Psicologia que deve ser percorrido junto à comunidade em geral.

A principal limitação do estudo é a amostra, que apresenta caraterísticas que não replica a população portuguesa, por exemplo, em termos de escolaridade. Para além disso, não foi controlada a natureza e a qualidade percebida da relação com profissionais de Psicologia, fator que pode ter influenciado de alguma forma os resultados, razão pela qual no futuro será interessante alargar o estudo bem como focar em contextos e ramos específicos da Psicologia. A triangulação ao nível da coleta e a análise de dados, nomeadamente incluindo a análise de impressão das últimas décadas e entrevistas aprofundadas com a população alvo de atuação da psicologia, poderá potenciar um maior contributo da Teoria das representações sociais (Caillaud et al., 2019Caillaud, S., Doumergue, M., Préau, M., Haas, V., & Kalampalikis, N. (2019). The past and present of triangulation and social representations theory: a crossed history. Qualitative Research in Psychology, 16(3), 375-391. https://doi.org/1080/14780887.2019.1605272
https://doi.org/https://doi.org/1080/147...
).

Conclusão

O presente estudo tem implicações para a prática, nomeadamente ao nível do trabalho da Ordem dos Psicólogos Portugueses e dos Colégios de especialidade, bem como de todos os psicólogos e universidades com graduação em Psicologia, no sentido de dar continuidade ao trabalho de promoção, sensibilização e reforço da amplitude do papel/atuação do psicólogo na comunidade em geral, sendo que, apesar do presente estudo demonstrar um padrão mais heterogêneo de representações, ainda está aquém do desejável para algumas áreas de atuação.

Vera Lucia Trevisan de Souza; Raquel Souza Lobo Guzzo
Editores

References

  • Airenti, G. (2019). The place of development in the history of psychology and cognitive Science. Frontiers in Psychology , 10, 1-9. https://doi.org/10.3389/fpsyg.2019.00895
    » https://doi.org/https://doi.org/10.3389/fpsyg.2019.00895
  • Aisenson, D., Monedero, F., Batlle, S., Legaspi, L., Aisenson, G., Vidondo, M., & Alonso, D. (2005). Representaciones de estudiantes y graduados recientes sobre la carrera y la profesión del psicólogo.Anuario de Investigaciones, 12, 35-42.
  • Bardin, L. (1977). Análise de conteúdo Edições 70.
  • Bertollo-Nardi, M., Zacché, L. A., Moreira Silva, R. D., Trindade, Z.A., & Smith Menandro, M.C. (2014). Representações sociais de psicólogo para jovens estudantes.CES Psicología, 7(2),78-95.
  • Caillaud, S., Doumergue, M., Préau, M., Haas, V., & Kalampalikis, N. (2019). The past and present of triangulation and social representations theory: a crossed history. Qualitative Research in Psychology, 16(3), 375-391. https://doi.org/1080/14780887.2019.1605272
    » https://doi.org/https://doi.org/1080/14780887.2019.1605272
  • Cenci, C. M. B. (2006). Representação social da psicologia em um bairro periférico de uma cidade do interior do Rio Grande do Sul.Aletheia, 23, 43-53.
  • Chmil, F., Gañan, F., Medrano, L. A., & Kanter, P. E. F. (2017). Representaciones sociales de la profesión del psicólogo en integrantes a la carrera de psicología de Córdoba, Argentina. Informes Psicológicos, 17(1), 143-158. http://dx.doi.org/10.18566/infpsic.v17n1a08
    » https://doi.org/http://dx.doi.org/10.18566/infpsic.v17n1a08
  • Ebbinghaus, H. (1908). Psychology: an elementary textbook Heath.
  • Figuerêdo, R. B., & Cruz, F. M. L. (2017). Psicologia: profissão feminina? A visão dos estudantes de Psicologia. Revista Estudos Feministas, 25(2), 803-828. https://doi.org/10.1590/1806-9584.2017v25n2p803
    » https://doi.org/https://doi.org/10.1590/1806-9584.2017v25n2p803
  • Hedler, H. C., Faleiros, V. P., Alonso, L. B. N., & Santos, M. J. S. (2018). A representação social da psicóloga gestora pública.Psicologia & Sociedade,30, e162543. https://doi.org/10.1590/1807-0310/2018v30162543
    » https://doi.org/https://doi.org/10.1590/1807-0310/2018v30162543
  • Iop, J., Silva, J. B., & Silva, L. F. (2013). Representações sociais da psicologia de académicos do curso de psicologia de uma universidade privada. Revista Eletrônica Científica, Inovação e Tecnologia, 1(7), 20-26.
  • Jesuíno, J. C. (2002).Psicologia Quimera Editores.
  • Jodelet, D. (1984). Représentation sociale: phénomènes, concept et théorie. In S. Moscovici (Ed.), Psychologie Sociale (pp. 357-378). PUF.
  • Lahm, C. R., & Boeckel, M. G. (2008). Representação social do psicólogo em uma clínica-escola do município de Taquara/RS.Contextos Clínicos, 1(2), 79-92. https://doi.org/10.4013/ctc.20082.04
    » https://doi.org/https://doi.org/10.4013/ctc.20082.04
  • Leme, M. A. V. S., Bussab, V. S. R., & Otta, E. (1989). A representação social da Psicologia e do psicólogo.Psicologia: Ciência e Profissão, 9(1), 29-35. https://doi.org/10.1590/s1414-98931989000100009
    » https://doi.org/https://doi.org/10.1590/s1414-98931989000100009
  • More, C. O. O., Leiva, A. C., & Tagliari, L. V. (2001). A representação social do psicólogo e de sua prática no espaço público-comunitário.Paidéia (Ribeirão Preto),11(21), 85-98. https://doi.org/10.1590/s0103-863x2001000200010
    » https://doi.org/https://doi.org/10.1590/s0103-863x2001000200010
  • Moscovici, S. (1984). The Phenomenon of Social Representations, In R. Farr & S. Moscovici (Eds.), Social Representations (pp. 3-69). Academic Press.
  • Ordem dos Psicólogos Portugueses. (2016). Regulamento nº 107-A/2016. Regulamento Geral de Especialidades Profissionais da Ordem dos Psicólogos Portugueses Diário da República: série II-E, Lisboa, nº 20 . p. 38-44
  • Praça, K. B. D., & Novaes, H. G. V. (2004). A representação social do trabalho do psicólogo.Psicologia: Ciência e Profissão,24(2), 32-47. https://doi.org/10.1590/s1414-98932004000200005
    » https://doi.org/https://doi.org/10.1590/s1414-98932004000200005
  • Rittner, C. L. A. (2008). A psicologia organizacional na visão dos alunos de psicologia [Unpublisher master’s dissertation]. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo.
  • Souza Filho, M. L., Oliveira, J. S. C., & Lima, F. L. A. (2006). Como as pessoas percebem o psicólogo: um estudo exploratório.Paidéia (Ribeirão Preto),16(34), 253-261. https://doi.org/10.1590/s0103-863x2006000200013
    » https://doi.org/https://doi.org/10.1590/s0103-863x2006000200013
  • Souza, L., & Trindade, Z. A. (2012). A representação social das atividades profissionais do psicólogo em segmentos de classe média e baixa, na cidade de Vitória - ES.Psicologia: Teoria e Pesquisa ,6(3), 267-279.
  • Spink, M. (1993). O conceito de representação social na abordagem psicossocial. Caderno de Saúde Pública, 9(3), 300-308. https://doi.org/10.1590/s0102-311x1993000300017
    » https://doi.org/https://doi.org/10.1590/s0102-311x1993000300017
  • Vala, J. (1993). Representações Sociais - Para uma Psicologia Social do Pensamento Social. In J. Vala & M. Monteiro (Eds.), Psicologia Social Gulbenkian.
  • Weber, L. N. D., Pavei, C. A., & Biscaia, P. (2005). Imagem social do psicólogo e da psicologia para a população de Curitiba: 12 anos depois. Psicologia Argumento, 23(40), 19-30.

Suporte

  • Fundação para a Ciência e Tecnologia (UIDP/00713/2021).
  • 7
    Como citar este artigo: Gonçalves, S. P., Nogueira C. C, L., Silva M. V., & Carlotto, M. S. (2023). Mapeamento das representações sociais da Psicologia: um estudo em contexto Português. Estudos de Psicologia (Campinas), 40, e200161. https://doi.org/10.1590/1982-0275202340e200161

Contribuição

  • 8
    S. P. GONÇALVES foi responsável pela concepção, desenho, coleta, análise e interpretação dos dados, escrita, revisão e aprovação do artigo. C. C. L. NOGUEIRA, M. V. SILVA e M. S CARLOTTO participaram na escrita e revisão do artigo.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Jun 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    22 Jul 2020
  • Revisado
    06 Maio 2021
  • Aceito
    04 Ago 2022
Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Pontifícia Universidade Católica de Campinas Núcleo de Editoração SBI - Campus II, Av. John Boyd Dunlop, s/n. Prédio de Odontologia, 13060-900 Campinas - São Paulo Brasil, Tel./Fax: +55 19 3343-7223 - Campinas - SP - Brazil
E-mail: psychologicalstudies@puc-campinas.edu.br