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APRESENTAÇÃO

O número 45 (1) da revista Trabalhos em Lingüística Aplicada é o último sob a nossa responsabilidade; por essa razão, cabe, antes de comentarmos este número, efetuar um pequeno balanço de nossa gestão.

Ao longo dos 4 anos como editoras-chefe (Maria José F. Coracini) e assistente (Matilde V. R. Scaramucci) desta revista, procuramos, sempre em plena concordância - é importante que se diga isso publicamente - nos pautar por critérios unicamente acadêmicos, respeitando rigorosamente os pareceres enviados, o que significa, em termos de avaliação dos artigos submetidos, que, uma vez aprovado por dois pareceristas, o artigo foi publicado (o inverso é igualmente verdadeiro); construindo um corpo editorial, não apenas de renome, mas que contribuísse sistematicamente, com seus pareceres, para a manutenção da qualidade da revista (Qualis: nacional A); respeitando a variedade das linhas teóricas dos textos que chegaram das várias partes do país, garantindo à revista sua função acadêmico-social e a função de documentar o desenvolvimento da área de Lingüística Aplicada no Brasil; procurando coadunar a revista a normas internacionais para, inclusive, competir com outras, no sentido de obter verba junto ao CNPq para sua edição (o que efetivamente ocorreu em 1995); solicitando a inserção da revista no Scielo da Fapesp e, sobretudo, procurando, embora não sem problemas, manter a periodicidade e a pontualidade da publicação semestral. Por todas essas razões, terminamos este período de edição da revista TLA, sob a responsabilidade do Departamento de Lingüística Aplicada do IEL/Unicamp, com muita satisfação, testemunhando uma parceria agradável e muito proveitosa.

Sete dos nove textos que compõem este volume estão voltados para o ensino de inglês, abordado sob ângulos distintos. Os dois últimos, entretanto, tratam de duas questões de grande relevância para a compreensão do momento histórico-social em que estamos inseridos: a formação do professor e o discurso da media.

O artigo de Vanderlei José Zacchi abre o volume, apresentando os resultados de uma pesquisa realizada em escolas públicas de Belo Horizonte. A pesquisa revela a influência dos discursos hegemônicos no mundo global, em que a língua inglesa ocupa o lugar central dentre as línguas estrangeiras. O discurso dos professores sobre a língua inglesa refere-se à praticidade de seu uso, à simplicidade de sua estrutura e à facilidade para aprender, o que justificaria sua expansão; além de ser uma "língua franca internacional", o inglês promoveria o acesso à ciência e à tecnologia. Entretanto, a pesquisa alude, também, à presença de discursos contra-hegemônicos, que vão ao encontro de uma pedagogia crítica e transformadora.

Discutindo a relação entre o professor de inglês, o livro didático e o manual de ensino, Rosely Perez Xavier e Everlaine Weber Urio realizaram um estudo que possibilitou investigar o nível de influência desses recursos, a partir de respostas de 30 professores da cidade de Caçador (SC) a um questionário. O trabalho faz, ainda, uma avaliação desses materiais e de sua adequação ao contexto educacional. O artigo conclui que o professor já traz consigo definido o conteúdo e os objetivos de ensino para a seleção do livro didático, de acordo com a sua visão de linguagem e de ensino de língua; portanto, a função do livro didático seria apenas de especificar quais seriam os itens gramaticais e funcionais a serem ensinados, estabelecendo a rota metodológica a ser seguida.

Uma análise da relação entre ensino de vocabulário, estratégias de aprendizagem e produção oral de alunos de inglês é feita por Daniel Rodrigues em um trabalho que resume resultados de sua dissertação de mestrado. Baseado em dados de natureza qualitativa e quantitativa, coletados através de instrumentos diversos, o autor elabora dois estudos, sendo um exploratório e um de caso. Os resultados do primeiro estudo mostram que as crenças de alunos e professores em relação ao ensino/aprendizagem do vocabulário são muito semelhantes nos vários contextos da pesquisa: poucos estudam vocabulário, apesar de ser considerada por muitos como sua maior dificuldade, principalmente na oralidade; falta de estratégias tanto de ensino como de aprendizagem, dentre outras. Aprofundando a análise, o segundo estudo evidencia que a abordagem para ensinar vocabulário, utilizada pelo professor no contexto investigado, consiste apenas da explicação de significados, o que é insuficiente para o uso produtivo dessas palavras.

Baseada em dados recortados de sua tese de doutorado, Rosane Rocha Pessoa trata de examinar as reflexões, conduzidas através de interações com o pesquisador, de quatro professoras de inglês da escola pública sobre sua prática pedagógica e sobre as implicações dessa prática para a sala de aula. Segundo a autora, as interações reflexivas permitiram não apenas o desvendamento das "teorias práticas ou pessoais" do professor, mas, acima de tudo, seu questionamento e redimensionamento. O estudo oferece, dessa forma, contribuições para a formação de professores.

Marília Oliveira Callegari, por sua vez, discute algumas das idéias principais do lingüista norte-americano Stephen Krashen em relação ao Modelo do Monitor por ele proposto. Fazendo referência a críticas de autores como Barry McLaughlin, mostra como professores de língua estrangeira podem se beneficiar das cinco hipóteses levantadas no modelo.

Os dois próximos artigos focalizam, sob perspectivas distintas, a problemática da avaliação na sala de aula de língua estrangeira. O artigo de Laura Miccoli analisa 28 testes de rendimento elaborados por professores na região de Minas Gerais, concluindo que, infelizmente, a abordagem que os fundamenta ainda é de natureza estrutural, apesar dos avanços que já se fizeram sentir em relação às práticas de ensino. Marília Santos Lima e Franciele Freudenberger trazem, por sua vez, uma discussão também pertinente e atual, apesar de controvertida: o papel que a correção de erros, realizada durante a interação entre professor e alunos em sala de aula tem para o processo de ensino/aprendizagem. A conclusão das autoras é que os enunciados produzidos pelos alunos, "mesmo quando formalmente inadequados, podem ser retextualizados e incorporados", através da correção, ao discurso de sala de aula, constituindo evidência de que o conhecimento da língua pode ser construído por professores e alunos.

Com o objetivo de estudar a inserção dos professores alfabetizadores nas práticas acadêmicas de letramento e na apropriação de saberes científicos da formação, o artigo de Cosme Batista dos Santos investiga os mecanismos lingüísticos e cognitivos envolvidos na retextualização da definição da pedagogia progressista por uma professora alfabetizadora. O artigo argumenta a favor do acesso, cada vez mais amplo, ao saber acadêmico por parte dos professores em serviço, sobretudo daqueles que se encontram distantes dos grandes centros. E, sobretudo, o acesso às práticas de leitura e escrita para que, de fato, ocorram transformações no ensino e na escola. Os formadores, por seu lado, deveriam sempre questionar o ponto de conflito entre escrita e oralidade, entre definições científicas e representações sociais dos grupos para quem a formação se destina, além de como a linguagem e a cognição local constituem a aprendizagem e a formação continuada desses grupos.

Finalizando o volume, Carvalho e Aires Gomes, apoiadas na Análise Crítica do Discurso, discutem as implicações político-ideológicas que envolvem a construção dos discursos que atravessam o "Jornal Nacional", passando por um levantamento das auditorias (internacional, esporte, polícia), das quais trazem exemplos e respectivas análises. Concluem que o uso da linguagem sensacionalista se apresenta como uma estratégia poderosa do marketing das notícias.

Antes de encerrarmos esta apresentação, gostaríamos de tornar públicos nossos agradecimentos a todos os que submeteram seus textos à apreciação de nossos pareceristas (e não foram poucos!), e que, com seus textos aprovados ou não, contriburam enormemente para a qualidade da revista TLA, que não existiria não fosse a confiança que todos depositaram - e continuam depositando - em nosso trabalho.

Maria José R. F. Coracini

Matilde V. Scaramucci

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Out 2013
  • Data do Fascículo
    Jun 2006
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