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A retextualização dos conceitos de letramento, texto, discurso e gêneros do discurso nos PCN de língua portuguesa

Resumos

Tomaremos para análise, neste artigo, a definição dos conceitos de letramento, texto, discurso, gêneros do discurso apresentados nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de Língua Portuguesa para o primeiro e segundo ciclos do Ensino Fundamental. Trata-se de um documento divulgado pelo Governo Federal em 1997 que visa a parametrizar o ensino nas séries iniciais. Nele, vários conceitos da esfera acadêmica são utilizados como subsídio que deve embasar as diretrizes para o ensino de Língua Portuguesa. Com o objetivo de observar como os conceitos supracitados elaborados e discutidos na esfera acadêmica `migram' para a esfera educacional, nós os analisaremos à luz do conceito de retextualização. Assim, este artigo traz uma análise comparativa das definições apresentadas em textos fontes e suas formas retextualizadas nos PCN para discutir a legibilidade do documento parametrizador, levando em conta seu público alvo principal, qual seja: o professor do primeiro e segundo ciclos do Ensino Fundamental.

professores; retextualização; conceitos; teachers; retextualization; concepts


In this article, we analyse the definitions of literacy, text, discourse and genre of discourse presented in the document National Curriculum Guidelines _ Portuguese Language, published by the Brazilian Ministry of Education in 1997 for the first and second cycles of Primary Education. One of the main objectives of the document is to offer guidelines to organize education at this level and help teachers to change their practice. Our aim is to analyse how academic concepts are transferred to the educational sphere. The article compares the definitions as presented in academic texts with the retextualized forms presented in the official document in order to discuss its legibility taking into consideration its main audience, that is, the teacher at the fundamental level.


ARTIGOS

A retextualização dos conceitos de letramento, texto, discurso e gêneros do discurso nos PCN de língua portuguesa

Simone Bueno borges da Silva* * Agradeço o apoio da FAPESP. 1 Marcuschi (op. cit.: 49 a 62) define transcodificação como "a passagem da oralidade para a escrita levando-se em conta apenas as normas de transcrição". Já a editoração `'é um processo de idealização dos dados com o objetivo de torná-los gramaticais e analisáveis" (p.55). Nem a transcodificação, nem a editoração são, propriamente, casos de retextualização. 2 As definições de "produto" e "conjunto" foram extraídas do Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (edição eletrônica) justamente para evidenciar as acepções do senso comum relacionadas aos termos em questão. 3 Vejamos a seqüência completa do parágrafo de Kleiman: "Se, por outro lado, um pesquisador investiga como adultos e crianças de um grupo social, versus outro grupo social, falam sobre o livro, a fim a de caracterizar essas práticas, e, muitas vezes, correlacioná-las com o sucesso das crianças na escola, então, o letramento significa uma prática discursiva de determinado grupo social, que está relacionada ao papel da escrita para tornar significativa essa interação oral, mas que não envolve, necessariamente, as atividades específicas de ler e escrever. (v. Heath, 1982, 1983; v. também, Rojo, neste volume)". 4 Letramento autônomo e letramento Ideológico são concepções propostas por Street (1984).O primeiro pressupõe uma única maneira de o letramento ser desenvolvido, independentemente das questões contextuais da prática do letramento, ou seja, ele se desenvolve de forma autônoma ou independente do contexto. Já o segundo pressupõe formas plurais de práticas de letramento. O texto de Kleiman (1995) retoma e compara os dois conceitos. 5 A nota nos causou certo "estranhamento", já que em nenhum outro momento aparece a referência da fonte dos conceitos retextualizados. 6 Entendemos a coerência como "um princípio de interpretabilidade", conforme proposto por Koch e Travaglia (op.cit.).

Doutoranda _ UNICAMP

RESUMO

Tomaremos para análise, neste artigo, a definição dos conceitos de letramento, texto, discurso, gêneros do discurso apresentados nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de Língua Portuguesa para o primeiro e segundo ciclos do Ensino Fundamental. Trata-se de um documento divulgado pelo Governo Federal em 1997 que visa a parametrizar o ensino nas séries iniciais. Nele, vários conceitos da esfera acadêmica são utilizados como subsídio que deve embasar as diretrizes para o ensino de Língua Portuguesa. Com o objetivo de observar como os conceitos supracitados elaborados e discutidos na esfera acadêmica `migram' para a esfera educacional, nós os analisaremos à luz do conceito de retextualização. Assim, este artigo traz uma análise comparativa das definições apresentadas em textos fontes e suas formas retextualizadas nos PCN para discutir a legibilidade do documento parametrizador, levando em conta seu público alvo principal, qual seja: o professor do primeiro e segundo ciclos do Ensino Fundamental.

Palavras-chaves: professores; retextualização; conceitos.

ABSTRACT

In this article, we analyse the definitions of literacy, text, discourse and genre of discourse presented in the document National Curriculum Guidelines _ Portuguese Language, published by the Brazilian Ministry of Education in 1997 for the first and second cycles of Primary Education. One of the main objectives of the document is to offer guidelines to organize education at this level and help teachers to change their practice. Our aim is to analyse how academic concepts are transferred to the educational sphere. The article compares the definitions as presented in academic texts with the retextualized forms presented in the official document in order to discuss its legibility taking into consideration its main audience, that is, the teacher at the fundamental level.

Key-words: teachers; retextualization; concepts.

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Full text available only in PDF format.

  • Bakhtin, M. (1997). Marxismo e filosofia da linguagem 8ª ed. São Paulo: Hucitec.
  • Fávero, L. L. & Koch, I. V. (1988). Lingüística textual: uma introdução São Paulo: Cortez.
  • BRONCKART, J. (1999). Atividade de linguagem, texto e discurso São Paulo: Educ.
  • Geraldi, J. W. (1995). Portos de passagem São Paulo: Martins Fontes.
  • KLEIMAN, A. B. (1995). Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura São Paulo: Pontes.
  • kock, I.V. & Travaglia, L. C. (1989). Texto e coerência São Paulo: Cortez.
  • MEC. (1997). Parâmetros curriculares nacionais: Língua Portuguesa, Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental, Brasília.
  • MARCUSCHI, L. A. (2001). Da fala para a escrita: atividades de retextualização São Paulo: Cortez.
  • Matencio, M. L. M. (2002). Atividade de (re)textualização em práticas acadêmicas: um estudo sobre o gênero resumo. Revista Scripta, vol. 10, dezembro.
  • TRAVAGLIA, N. G. (1992). A tradução numa perspectiva textual Tese de Doutorado - USP: São Paulo.
  • *
    Agradeço o apoio da FAPESP.
    1 Marcuschi (op. cit.: 49 a 62) define transcodificação como "a passagem da oralidade para a escrita levando-se em conta apenas as normas de transcrição". Já a editoração `'é um processo de
    idealização dos dados com o objetivo de torná-los gramaticais e analisáveis" (p.55). Nem a transcodificação, nem a editoração são, propriamente, casos de retextualização.
    2 As definições de "produto" e "conjunto" foram extraídas do Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (edição eletrônica) justamente para evidenciar as acepções do senso comum relacionadas aos termos em questão.
    3 Vejamos a seqüência completa do parágrafo de Kleiman: "Se, por outro lado, um pesquisador investiga como adultos e crianças de um grupo social,
    versus outro grupo social, falam sobre o livro, a fim a de caracterizar essas práticas, e, muitas vezes, correlacioná-las com o sucesso das crianças na escola, então, o letramento significa uma prática discursiva de determinado grupo social, que está relacionada ao papel da escrita para tornar significativa essa interação oral, mas que não envolve, necessariamente, as atividades específicas de ler e escrever. (v. Heath, 1982, 1983; v. também, Rojo, neste volume)".
    4
    Letramento autônomo e
    letramento Ideológico são concepções propostas por Street (1984).O primeiro pressupõe uma única maneira de o letramento ser desenvolvido, independentemente das questões contextuais da prática do letramento, ou seja, ele se desenvolve de forma autônoma ou independente do contexto. Já o segundo pressupõe formas plurais de práticas de letramento. O texto de Kleiman (1995) retoma e compara os dois conceitos.
    5 A nota nos causou certo "estranhamento", já que em nenhum outro momento aparece a referência da fonte dos conceitos retextualizados.
    6 Entendemos a coerência como "um
    princípio de interpretabilidade", conforme proposto por Koch e Travaglia (op.cit.).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      18 Out 2013
    • Data do Fascículo
      Dez 2006
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