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Apresentação

APRESENTAÇÃO

No volume 47 (1), primeiro de 2008, trazemos quatorze artigos e uma resenha. Como o segundo deste ano será temático, procuramos publicar neste um número maior de artigos, em vista do grande número de submissões recebidas ultimamente.

Seis artigos discutem questões relacionadas ao ensino ou à aprendizagem de Inglês como língua estrangeira, sendo os dois primeiros escritos em Inglês. O trabalho de Marília Mendes Ferreira, desenvolvido no contexto de ensino de Inglês na escola pública brasileira, mostra que nem sempre os colegas podem colaborar mutuamente em uma interação de maneira eficaz. A autora identifica inúmeros obstáculos à criação de andaimes por colegas mais capazes, contrariando vários outros estudos que os vêem como favorecedores da interação. A falta de socialização na colaboração entre pares, o ambiente desmotivador e frustrante desses alunos são as razões apontadas para tais resultados.

Em um estudo cujo objetivo é investigar os efeitos da repetição de uma tarefa de descrição no desempenho oral de aprendizes de Inglês como língua estrangeira, Kyria Rebeca Finardi corrobora resultados anteriores obtidos por Bygate (2001b) com uma tarefa narrativa. Ganhos significativos em termos da complexidade do discurso foram obtidos na segunda tentativa, principalmente em detrimento da precisão. As compensações obtidas são evidência de que tanto a complexidade como a precisão são dimensões de um "mesmo sistema (sistema baseado em regras com foco na forma), enquanto a fluência seria baseada na atenção ao sentido (sistema baseado na memória)".

Suzi Marques Spatti Cavalari relata resultados de um estudo que tem por objetivo investigar como se dá o gerenciamento do erro em aulas de Inglês como língua estrangeira e quais suas implicações para o processo de ensino e aprendizagem. Em sua primeira etapa, o trabalho procurou caracterizar a interlíngua dos aprendizes e mostrar como estes vivenciavam o erro e a correção. Uma proposta de intervenção e tratamento dos erros mais recorrentes foi desenvolvida na segunda etapa do trabalho, baseada em ações pedagógicas com foco na forma cujo objetivo era a negociação de aspectos lingüísticos. Essas ações se mostraram importantes no tratamento aos erros, na medida em que contribuíram para que os aprendizes percebessem as lacunas em suas interlínguas e pudessem superá-las. Também importante, entretanto, foi o papel do professor ao fornecer os andaimes necessários, assim como seu esforço consciente na utilização desses recursos.

Rosely Perez Xavier e Daniele Tristão de Souza analisam os resultados de uma investigação sobre o que os alunos - da rede estadual, de escolas particulares e de cursos de idiomas - pensam do livro didático (LD) de língua inglesa. O trabalho traz subsídios importantes para a formação de professores, no sentido de, conhecendo melhor os alunos e a sua relação com o LD, poderem adequar suas aulas às necessidades e expectativas do grupo, e, de forma indireta, para os autores de livros didáticos que, ao lado das editoras, pretendem interessar os alunos e atender a seus interesses. "Um total de 260 alunos da cidade de Caçador, SC, respondeu a um questionário com perguntas sobre suas opiniões e posicionamento crítico quanto a esse recurso".

Outro artigo que trata de livros didáticos de línguas estrangeiras é o de Sara Oliveira, que apresenta os resultados de uma análise muito pertinente dos estereótipos de gênero nos textos visuais, utilizados em escolas brasileiras de nível fundamental e médio. Conclui que ainda é bastante estereotipada a representação de homens e mulheres tanto no diz respeito ao trabalho profissional e econômico, quanto no que diz respeito às relações afetivas. A discriminação ainda é uma realidade que salta aos olhos mais atentos num material que tem por objetivo ensinar uma língua, mas que, evidentemente, acaba por incutir no aluno a naturalização de preconceitos, através, sobretudo, dos recursos visuais.

Fábio Madeira retoma um tema popular nos últimos anos, ou seja, o das crenças, neste caso, do aprendiz brasileiro de Inglês, discutindo que fatores poderiam atuar na formação dessas crenças. Hábitos arraigados, questões afetivas, fatores socioculturais conceitos inadequados adquiridos são elencados pelo autor como responsáveis tanto por incrementar como por exercer influência negativa no processo de aprendizagem de um novo idioma.

Os próximos quatro textos abordam o ensino de língua materna sob perspectivas diversas. O artigo de Wagner Rodrigues da Silva e Lívia Chaves de Melo trata do relatório de estágio supervisionado, considerando-o como gênero discursivo que pode funcionar como mediador da formação do professor de língua materna, na medida em que constitui um material capaz de mobilizar reflexões sobre a prática docente. A pesquisa aponta para um gênero discursivo bastante instável e complexo, já que o relatório em questão é mobilizado por uma série de diferentes saberes docentes que orientam a prática profissional do professor em formação inicial.

O erro é mais uma vez abordado neste volume, agora no ensino de língua materna, por Josilene Domingues Santos Pereira, que analisa suas representações no processo de aprendizagem da escrita em uma classe de alfabetização de jovens e adultos de uma escola da rede municipal de Vitória da Conquista, Bahia. A autora conclui que essas representações "simbolizam, para os atores sociais envolvidos (alfabetizadora e alfabetizando), a (re)produção de uma imagem de 'escrita correta', sob a qual se forma uma rede de sentidos em torno de uma 'língua escrita correta' nos eventos de letramento escolar", mostrando, portanto, que valores socioculturais se agregam às formas lingüísticas.

A questão da alfabetização também se faz presente neste volume no artigo de Marta Lúcia Cabrera Kfouri Kaneoya, que aborda o alfabetizador, suas crenças, expectativas e ações, realizando um estudo de caso. Kaneoya observa, a partir dos resultados de análise, que "há uma forte coerência entre crenças e ações da alfabetizadora"; suas expectativas, com relação à importância do acesso ao mundo letrado, vem se modificando, graças à continuação de seus estudos que, certamente, acarretarão mudanças em suas crenças e ações. Atitudes políticas de compromisso com a ação socializante de ensinar a ler e escrever são também observadas no caso em questão.

Num trabalho vinculado a um grupo de pesquisa que considera a linguagem numa perspectiva sócio-histórica, Cláudia Valéria Doná Hilá apresenta um diagnóstico sobre o gênero artigo de opinião, conduzido com estagiários de língua portuguesa no curso de Letras da Universidade Estadual de Maringá, assim como as dificuldades por eles encontradas na transposição desse gênero para a sala de aula. A ausência de internalização de conceitos e saberes referentes a teorias enunciativas por parte dos alunos é a explicação dada pela autora para explicar essas dificuldades, sanadas através de um trabalho com seqüências didáticas.

Servindo-se dos pressupostos teóricos da Lingüística Interacional, Bruno Defilippo Horta & alii analisam uma interação em uma audiência no PROCON, mostrando algumas funções da narrativa nas falas do reclamante e do reclamado. Observaram que o mediador não intervém no sentido de evitar situações conflituosas, como era de se esperar, pois os participantes envolvidos diretamente tomaram "a rédea da situação" para solucionar o conflito. Cabe ressaltar, como fazem os autores, a pertinência de pesquisas como essa no campo da Lingüística Aplicada voltada para a interseção linguagem e profissões em situações de conflito.

O tema da surdez, na tentativa de problematizar o preconceito que instaura o vocabulário utilizado na referência aos surdos, se faz presente neste número da TLA, no artigo de autoria de Audrei Gesser. O texto reivindica uma língua-cultura para a comunidade surda e, mais do que isso, o respeito às diferenças e à singularidade de cada um, entendendo-se a cultura como híbrida, complexa, dinâmica, aberta, plural, ancorada no momento histórico-social. Aponta o texto para a necessidade da participação do surdo na construção de sua história, nas práticas pedagógicas, discursivas e políticas.

O papel do dicionário a aprendizagem de língua estrangeira é abordado no artigo de Magali Sanches Duran e Claudia Maria Xatara, As autoras mostram em que sentido esse papel foi se alternando para se adequar às necessidades dos aprendizes de língua estrangeira.

O último texto do volume discute questões de tradução de parte de "A Tarefa do Tradutor", de Walter Benjamin, que serve de base para estudos de Derrida no que diz respeito à dicotomia tradução e autoria. A já bastante debatida, embora nunca exaurida, temática da secundaridade da tradução, sempre vista como inferior ao original, volta à tona neste artigo, de autoria de Vanete Dutra Santana, para ser desconstruída, situando o debate no contexto profissional da atualidade.

Fechando o volume, apresentamos a resenha do livro de J. P. Bronckart, elaborada por Francisco Fogaça e Vera Lúcia Cristóvão.

Matilde V. R. Scaramucci

Maria José F. Coracini

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Jun 2009
  • Data do Fascículo
    Jun 2008
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