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Apresentação

https://www.youtube.com/watch?time_continue=158&v=56jzWRgcrRM

Flores de Baobá desafia nossas expectativas em relação a possibilidades de luta de mulheres negras. Em comunidades negras, formadas na Diáspora Africana no brasil e nos Estados unidos, duas mulheres tomam a educação como espaço ativo para a conscientização racial e atuação comunitária. Nesse documentário, ainda em fase de montagem, a cineasta Gabriela Watson Aurazo acompanha a trajetória das educadoras Nyanza bandele, na Filadélfia (EuA), e Priscila Dias, em São Paulo, mostrando que, a despeito das diferenças culturais, ambas enfrentam problemas similares, decorrentes da dificuldade de acesso à educação de qualidade, do racismo estrutural e da desigualdade social.

Flores de Baobá legenda, como convite à leitura, este volume de Trabalhos em Linguística Aplicada que conta histórias de educadoras e educadores que falam de suas formas ensinar, de aprender a ensinar, de lidar com alunas jovens e idosas, de refletir sobre ações pedagógicas no ensino de línguas maternas e estrangeiras. Pesquisas, relatos etnográficos e análises dos cotidianos dessas educadoras traduzem-se aqui em artigos que, esperamos, abram para os leitores espaços de debates que possam ter efeitos sobre os valores que regulam nossas políticas públicas.

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Um de nossos desafios como educadoras e pesquisadoras é repensar as práticas educativas como parte dos dilemas sociais do atual momento histórico. No artigo Discursos (re)velados: uma análise dialógica das novas diretrizes para formação docente, Jozanes Assunção Nunes, da universidade Federal de Mato Grosso, analisa as relações dialógicas que constituem a trama das novas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial e Continuada dos Profissionais do Magistério da Educação básica. Nessa análise do discurso oficial, valendo-se das vozes e das relações de poder que o atravessam, a autora mostra que se reforça, nas novas diretrizes, o papel velado mas ainda central das competências na formação dos professores.

O trabalho de Everton vargas da Costa, da universidade de harvard e da universidade Federal do Rio Grande do Sul, e de Margarete Schlatter, da universidade Federal do Rio Grande do Sul, põe em cena um evento de formação como a ocasião oportuna de uma construção conjunta baseada no encontro entre saberes e experiências concretas. Eventos de formação de professores: uma perspectiva etnográfica sobre aprender a ensinar oferece-se como uma narrativa que ensina sobre processos de aprendizagem e formação efetivamente vinculados ao cotidiano desses educadores. Trata-se de um trabalho que se constrói com o saber-fazer dos agentes formadores e em formação fora da sala de aula, interagindo durante reuniões pedagógicas e intervalos entre aulas.

Oportunidades de aprendizagem na nova ordem comunicativa da fala-em-interação de sala de aula contemporânea: língua espanhola no ensino médio emerge de uma preocupação que tem acompanhado os modos de fazer e pensar a pesquisa na experiência de ensino de espanhol em uma escola pública e busca respostas possíveis - e, portanto, locais e contingenciais -, que permitam construir um percurso de discussão. Marcela Freitas Ribeiro Lopes, da universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná, e Pedro Moraes Garcez, da universidade Federal do Rio Grande do Sul, exibem as falas-em-interação na sala de aula como formas de participação que consideram as perspectivas dos alunos que se engajam de formas exuberantes nas atividades de ensino/aprendizagem da Língua Espanhola.

qual a potencialidade real de uma comunidade de prática em uma rede social como o Facebook? É possível fazer dessa rede uma aliada no ensino de uma língua estrangeira? É da circulação de alunos de uma escola pública nesse site de relacionamento que se vale hugo Jesús Correa Retamar, da universidade Federal do Rio Grande do Sul, em sua busca de uma estratégia pedagógica capaz de incorporar o dia a dia dos alunos à escola. Facebook como ferramenta de interação extraclasse para aprendizes de língua espanhola explora etnograficamente as formas de interação em rede e apresenta dados de pesquisa que não só respondem positivamente a suas perguntas como permitem um entendimento reflexivo sobre essa ferramenta.

A relação entre idade e aprendizagem de línguas estrangeiras vem sendo discutida há anos e a hipótese do "quanto mais cedo melhor" acabou por se tornar um fator de consenso tanto entre professores quanto entre alunos. Relato de uma experiência de ensino de língua italiana para a terceira idade: desconstruindo concepções e arquitetando uma nova visão de mundo, de Sabrina de Cássia Martins, da universidade Estadual Paulista, vem pôr em discussão outros fatores que levam alunos idosos a buscar aulas de língua estrangeira. Considerando os desejos, motivações, crenças, expectativas e dificuldades desse grupo, a autora expõe, com seu ensino sem fronteiras, o desafio de pensar essa prática pedagógica como uma via de mão dupla, como possibilidade de troca de conhecimentos e experiências.

Considerando a necessidade de discutir as contradições que permeiam o ensino de língua portuguesa na escola, Paulo Roberto Gonçalves-Segundo, da universidade de São Paulo, sustenta, em Caminhos para um ensino funcional de gramática orientado ao texto: pronomes pessoais e adjetivos em perspectiva intersubjetiva, a urgência de discutir concepções de língua e texto que permitam uma abordagem gramatical não orientada por práticas hegemônicas excludentes e que abra espaço para a formação do cidadão crítico. Ser capaz de ler em um texto publicitário as estratégias de venda da empresa é um exercício crítico, no mínimo por permitir ao leitor reconhecer nele o lugar que lhe tem sido determinado.

Trabalhando com um grupo de Surdos como uma comunidade de fala, Isabelle Lima Souza e Ana Luisa Gediel, ambas da universidade Federal de viçosa, dissertam sobre o processo de nomeação de pessoas surdas sinalizantes. Sinais próprios? Uma análise dos sinais a partir de uma perspectiva cultural traz os resultados de uma pesquisa etnográfica que aproxima parâmetros fonológicos e iconicidade dos sinais, tendo como referência elementos culturais. O trabalho leva em conta a perspectiva dos Surdos nominadores, identificados como líderes, e as formas de elaboração dos sinais próprios.

Marisa Mendonça Carneiro e Ana Larissa Adorno Marciotto Oliveira, ambas da universidade Federal de Minas Gerais, destacam em seu trabalho sobre o ensino da escrita a importância das possibilidades abertas pelo uso de ferramentas. Orientado por uma perspectiva funcionalista e informado por uma visão de língua orientada pelo uso social, o artigo Writing as a social enterprise: sample in-class activities of a genre-based approach to teaching English as a foreign language reflete ainda sobre a necessidade de um trabalho pedagógico que auxilie o professor no uso apropriado das ferramentas tecnológicas para um ensino da escrita tanto como processo quanto como produto.

Eu travo na hora de falar inglês... não consigo! A recorrência desse tipo de enunciado em fóruns de discussão entre alunos brasileiros aprendendo inglês é o foco do estudo de Simone Tiemi hashiguti, da universidade Federal de uberlândia. Can we speak English? Reflections on the unspoken EFL in Brazil discute a relação desses enunciados com questões de autoridade - trata-se menos de uma capacidade de falar inglês que de reconhecer a legitimidade dessa fala na tensão do encontro com o falante nativo idealizado pelos aprendizes. O artigo de hanna Kivistö-de Souza, da universidade de barcelona, por sua vez, concentra-se na investigação da sensibilidade dos aprendizes brasileiros ao processamento consciente de aspectos fonológicos do inglês. Brazilian EFL learners' awareness about L2 phones: Is mall pronounced as 'mal'? chama a atenção para o foco no ensino da gramática em detrimento da pronúncia, raramente ensinada na sala de aula.

O artigo As modalidades da avaliação e as etapas da sequência didática: articulações possíveis sublinha a relevância da avaliação como parte do processo de ensino-aprendizagem e defende a possibilidade de ir além da verificação das capacidades de linguagem dos alunos, buscando seu desenvolvimento e reorientando o próprio processo de ensino-aprendizagem. Marileuza Ascencio Miquelante, da universidade Estadual do Paraná e da universidade Estadual de Londrina, Claudia Lopes Pontara e vera Lúcia Lopes Cristovão, ambas da universidade Estadual de Londrina, e Rosinalva Ordonia da Silva, da Secretaria de Estado da Educação do Estado do Paraná, chamam a atenção para a necessidade de políticas públicas que ofereçam condições de colocar em prática ações pedagógicas - como a que apresentam como resultado de sua pesquisa

- que favoreçam uma educação de qualidade.

Agradecemos o imprescindível trabalho de nossas avaliadoras e avaliadores, a colaboração dos autores e autoras, e desejamos a todas uma boa leitura!

Viviane Veras - Editora
Daniela Palma - Editora

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Abr 2017
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