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A VARIAÇÃO NAS TERMINOLOGIAS PELA PERSPECTIVA COGNITIVA: O CASO DA FAUNA E DA FLORA

THE VARIATION IN TERMINOLOGIES FROM THE COGNITIVA PERSPECTIVE: THE CASE OF FAUNA AND FLORA

RESUMO

A virada do século traz à tona o consenso de que as terminologias refletem a dinamicidade e a complexidade que envolve a estruturação do sistema conceitual, além das particularidades de conceituação associadas à língua, à cultura e ao grupo sócioprofissional. A concepção de que as unidades lexicais especializadas são signos linguísticos e, portanto, componentes do léxico de uma língua natural implica no reconhecimento de que tais itens estão sujeitos aos mesmos fatores que atuam na formação das palavras que permeiam os discursos cotidianos (CABRÉ, 1999CABRÉ, M. T. (1999). La Terminologia: representación y comunicación: elementos para una teoría de base comunicativa y otros artículos. Barcelona: Universitat Pompeu Fabra.). O presente estudo aborda a terminologia da fauna (Zoologia - Vertebrados) e da flora (Botânica - Angiospermas), cujos dados derivam de pesquisas anteriores (MARTINS, 2013MARTINS, S. C. (2013). Dicionário onomasiológico de expressões cromáticas da fauna e flora. 2013. 220 f. Dissertação (Mestrado em Estudos Linguísticos)-Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, São José do Rio Preto.; 2017) que examinaram a denominação em língua portuguesa de aproximadamente duzentas espécies. Com efeito, em tal área do conhecimento, paralelamente aos nomes científicos coexistem as formas semicientíficas, adaptadas à língua vernácula, e as formas vernáculas, isto é, nomes comuns variáveis de acordo com as línguas e que representam a riqueza vocabular de cada cultura (GARRIDO, 2000GARRIDO, C. (2000). Traducción de los nombres vernáculos ingleses de animales en los textos de divulgación científica. In. BEEBY, A.; ENSINGER, D.; PRESAL, M. Investigating Translation. Amsterdam: J. Benjamins, p. 251-260.). No que tange às formas vernáculas, essas são aqui categorizadas como variantes denominativas (FREIXA, 2002FREIXA, J. (2002). La variació terminològica: anàlisi de la variació denominativa en textos de diferent grau d’especialització de l’àrea de medi ambient. 2002. 569 f. Tesi Doctoral (Doctorat en Variació en el Llenguatge)- Departament de Filologia Catalana, Universitat de Barcelona, Barcelona. Disponível em: <http://www.tdx.cat/handle/10803/1677>. Acesso em: 20 Out. 2015.
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; 2005FREIXA, J. (2005). Variación terminológica: ¿por qué y para qué? Meta: Journal des traducteurs, Montréal, v. 50, n. 4, p. 00-00.), segundo a Teoria Comunicativa da Terminologia (CABRÉ, 1999CABRÉ, M. T. (1999). La Terminologia: representación y comunicación: elementos para una teoría de base comunicativa y otros artículos. Barcelona: Universitat Pompeu Fabra.), para a qual o fenômeno da variação é um dos princípios inerentes à análise dos termos. Em suma, a formação da terminologia em apreço revela os diferentes pontos de vista aos quais os animais e as plantas podem ser submetidos, decorrendo portanto de fatores internos ao ser humano, isto é, psicocognitivos, e contribuindo para o conceito de variantes denominativas com consequências cognitivas (CABRÉ, 2003CABRÉ, M. T. (2003). Teorias de la Terminología: de la prescripción a la descripción. In: ADAMO, G.; DELLA VALLE, V. (Ed.). Innovazione lessicale e terminologie specialistiche. Florencia: Leo S. Olschki, p. 168-188. (Serie Lessico Intellettuale Europeo, v. 92).;2008; FERNÁNDEZ-SILVA, 2010FERNÁNDEZ-SILVA, S. (2010). Variación terminológica y cognición: factores cognitivos en la denominación del concepto especializado. 2010. 370 f. Tesi Doctoral. Institut Universitari de Linguística Aplicada, Universitat Pompeu Fabra, Barcelona. Disponível em: <http://www.tdx.cat/handle/10803/22638>. Acesso em: 20 Out. 2015.
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; 2013FERNÁNDEZ-SILVA, S. (2013). Variación denominativa y punto de vista. Debate Terminológico, n. 9, p. 11-37.).

Palavras-chave:
terminologia; variação; variação denominativa; fauna e flora

ABSTRACT

The turn of the century brings into focus the consensus that terminologies reflect the dynamism and complexity involved in the conceptual system structure, as well as the conceptualization particularities associated with language, culture and the socioprofessional groups.The idea that specialized lexical units are linguistic signs and, therefore, component part of the lexicon of a natural language implies the recognition that such items are subject to the same factors that operate in words formation process that permeate everyday speeches (CABRÉ, 1999CABRÉ, M. T. (1999). La Terminologia: representación y comunicación: elementos para una teoría de base comunicativa y otros artículos. Barcelona: Universitat Pompeu Fabra.). This study addresses the terminology of fauna (Zoology - Vertebrates) and flora (Botany - Angiosperms), whose data derive from previous research (MARTINS, 2013MARTINS, S. C. (2013). Dicionário onomasiológico de expressões cromáticas da fauna e flora. 2013. 220 f. Dissertação (Mestrado em Estudos Linguísticos)-Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, São José do Rio Preto.; 2017) in which the denomination of approximately two hundred species were examined in Portuguese, in English and in Italian. In fact, in this area of knowledge, parallel to scientific names coexist semi scientific names, adapted to the vernacular language, and vernacular forms, that is, common names that vary according to the languages and that represent the vocabulary richness of each culture (GARRIDO, 2000GARRIDO, C. (2000). Traducción de los nombres vernáculos ingleses de animales en los textos de divulgación científica. In. BEEBY, A.; ENSINGER, D.; PRESAL, M. Investigating Translation. Amsterdam: J. Benjamins, p. 251-260.). With regard to the last ones, they are considered here as denominative variants (FREIXA, 2002FREIXA, J. (2002). La variació terminològica: anàlisi de la variació denominativa en textos de diferent grau d’especialització de l’àrea de medi ambient. 2002. 569 f. Tesi Doctoral (Doctorat en Variació en el Llenguatge)- Departament de Filologia Catalana, Universitat de Barcelona, Barcelona. Disponível em: <http://www.tdx.cat/handle/10803/1677>. Acesso em: 20 Out. 2015.
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; 2005FREIXA, J. (2005). Variación terminológica: ¿por qué y para qué? Meta: Journal des traducteurs, Montréal, v. 50, n. 4, p. 00-00.). According to the Communicative Theory of Terminology (CABRÉ, 1999CABRÉ, M. T. (1999). La Terminologia: representación y comunicación: elementos para una teoría de base comunicativa y otros artículos. Barcelona: Universitat Pompeu Fabra.), the variation phenomenon is one of the inherent principles of terms analysis. In short, the formation of the terminology in question reveals the different perspectives to which animals and plants may be subjected. This variety of viewpoints result from human inner factors, that is, psycho-cognitive mechanisms, and contribute to the notion of denominative variation with cognitive consequences (CABRÉ, 2003CABRÉ, M. T. (2003). Teorias de la Terminología: de la prescripción a la descripción. In: ADAMO, G.; DELLA VALLE, V. (Ed.). Innovazione lessicale e terminologie specialistiche. Florencia: Leo S. Olschki, p. 168-188. (Serie Lessico Intellettuale Europeo, v. 92).;2008; FERNÁNDEZ-SILVA, 2010FERNÁNDEZ-SILVA, S. (2010). Variación terminológica y cognición: factores cognitivos en la denominación del concepto especializado. 2010. 370 f. Tesi Doctoral. Institut Universitari de Linguística Aplicada, Universitat Pompeu Fabra, Barcelona. Disponível em: <http://www.tdx.cat/handle/10803/22638>. Acesso em: 20 Out. 2015.
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; 2013FERNÁNDEZ-SILVA, S. (2013). Variación denominativa y punto de vista. Debate Terminológico, n. 9, p. 11-37.).

Keywords:
terminology; variation; denominative variation; fauna and flora

A década de 1990 é marcada pelo reflorescimento dos estudos terminológicos com a atenção ao caráter dinâmico das terminologias e à necessidade de novas propostas que refletissem sua complexidade. A virada do século é acompanhada pelo consenso de que as terminologias constituem um elemento da linguagem de crescente importância. Por essa razão, há a necessidade de uma abordagem teórica que descreva adequadamente o processo de categorização em sua totalidade, isto é, enfatizando a dinamicidade e a complexidade que envolve a estruturação do sistema conceitual, além das particularidades de conceituação associadas à língua, à cultura e ao grupo sócioprofissional.

O presente texto é embasado na Teoria Comunicativa da Terminologia (CABRÉ, 1999CABRÉ, M. T. (1999). La Terminologia: representación y comunicación: elementos para una teoría de base comunicativa y otros artículos. Barcelona: Universitat Pompeu Fabra.), que defende a origem comum de termos e palavras. A concepção de que as unidades lexicais especializadas são signos linguísticos e, portanto, componentes do léxico de uma língua natural implica no reconhecimento de que tais itens estão sujeitos aos mesmos fatores que atuam na formação das palavras que permeiam os discursos cotidianos (CABRÉ, 1999CABRÉ, M. T. (1999). La Terminologia: representación y comunicación: elementos para una teoría de base comunicativa y otros artículos. Barcelona: Universitat Pompeu Fabra.). Tal fato permite a análise dos termos a partir de uma mesma teoria linguística, sem que para tanto sejam ignoradas suas particularidades semânticas e de uso.

Com efeito, se as terminologias são de fato componentes do léxico de uma língua e se este é o acervo cultural de um povo (BIDERMAN, 2001), torna-se evidente que as terminologias também refletirão toda a diversidade que caracteriza a linguagem humana, resultado das diferenças em se compreender um mesmo conceito (CABRÉ, 1999CABRÉ, M. T. (1999). La Terminologia: representación y comunicación: elementos para una teoría de base comunicativa y otros artículos. Barcelona: Universitat Pompeu Fabra.). Uma diversidade que influencia na forma de perceber, compreender e caracterizar a realidade que nos cerca e que culmina no fenômeno da variação denominativa.

A terminologia que compõe o nosso objeto de estudo restringe-se aos domínios da Botânica (Angiospermas) e da Zoologia (Vertebrados). Garrido (2000)GARRIDO, C. (2000). Traducción de los nombres vernáculos ingleses de animales en los textos de divulgación científica. In. BEEBY, A.; ENSINGER, D.; PRESAL, M. Investigating Translation. Amsterdam: J. Benjamins, p. 251-260. frisa que a terminologia dessas áreas abrange 1. os nomes científicos, que têm como característica a amplitude internacional, a escrita latina, a univocidade na sua relação com a unidade taxonômica e sua utilização restrita aos especialistas; 2. as formas científicas quase internacionais, ou semicientíficas, adaptadas à língua vernácula; e 3. as formas vernáculas, isto é, nomes comuns variáveis de acordo com as línguas, geralmente criadas pelos membros de comunidades que coabitam, junto com as espécies da fauna e da flora, o mesmo ambiente. O autor salienta que para cada unidade taxonômica podem existir diversas formas vernáculas, riqueza vocabular que varia de cultura para cultura.

É no interior do grupo formado pelas formas vernáculas, ou das denominações populares, que se localiza o nosso objeto de estudo, a saber, as expressões cromáticas especializadas (ECEs), isto é, estruturas sintagmáticas nominais formadas por um ou mais nomes de cores pertencentes aos subdomínios cromáticos preto, branco, amarelo, azul, laranja, cinza, verde, marrom, vermelho, rosa, violeta, roxo e anil. A partir de um levantamento prévio de ECEs em obras lexicográficas e terminográficas, em Martins (2013)MARTINS, S. C. (2013). Dicionário onomasiológico de expressões cromáticas da fauna e flora. 2013. 220 f. Dissertação (Mestrado em Estudos Linguísticos)-Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, São José do Rio Preto. examinamos a produtividade desses nomes de cores na terminologia em apreço em língua portuguesa. Nesse momento, restringimo-nos a 92 espécies de vertebrados e a 75 espécies de angiospermas que culminaram no Dicionário onomasiológico de expressões cromáticas da fauna e da flora (MARTINS, 2013MARTINS, S. C. (2013). Dicionário onomasiológico de expressões cromáticas da fauna e flora. 2013. 220 f. Dissertação (Mestrado em Estudos Linguísticos)-Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, São José do Rio Preto.). A análise comparativa entre as línguas portuguesa, inglesa e italiana executada posteriormente (MARTINS, 2017MARTINS, S. C.(2017). Proposta de uma base de conhecimento multilíngue online de expressões cromáticas da fauna e da flora. 2017. 419 f. Tese (Doutorado em Estudos Linguísticos) - Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, São José do Rio Preto.) permitiu-nos comprovar a discrepância numérica de nomes comuns para uma mesma espécie nesses idiomas.

Baseando-nos nos trabalhos de Freixa (2002)FREIXA, J. (2002). La variació terminològica: anàlisi de la variació denominativa en textos de diferent grau d’especialització de l’àrea de medi ambient. 2002. 569 f. Tesi Doctoral (Doctorat en Variació en el Llenguatge)- Departament de Filologia Catalana, Universitat de Barcelona, Barcelona. Disponível em: <http://www.tdx.cat/handle/10803/1677>. Acesso em: 20 Out. 2015.
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, Cabré (2003)CABRÉ, M. T. (2003). Teorias de la Terminología: de la prescripción a la descripción. In: ADAMO, G.; DELLA VALLE, V. (Ed.). Innovazione lessicale e terminologie specialistiche. Florencia: Leo S. Olschki, p. 168-188. (Serie Lessico Intellettuale Europeo, v. 92). e Fernández-Silva (2010)FERNÁNDEZ-SILVA, S. (2010). Variación terminológica y cognición: factores cognitivos en la denominación del concepto especializado. 2010. 370 f. Tesi Doctoral. Institut Universitari de Linguística Aplicada, Universitat Pompeu Fabra, Barcelona. Disponível em: <http://www.tdx.cat/handle/10803/22638>. Acesso em: 20 Out. 2015.
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, argumentamos que muitos dos diferentes nomes populares das espécies da fauna e da flora representam as variantes denominativas com consequências cognitivas, uma vez que refletem os diferentes pontos de vista aos quais os animais e as plantas podem ser submetidos, sendo sua escolha dependente da intenção do falante e da reação do interlocutor.

Nas próximas páginas, discorreremos primeiramente sobre o papel da variação para a TCT, os tipos de variação em terminologia, ênfase para a variação denominativa, bem como suas causas. Posteriormente, discutiremos a forma como ocorre a variação denominativa com consequências cognitivas no vocabulário em questão, relatando casos em língua portuguesa e comparando-os com as línguas inglesa e italiana.

1. O FENÔMENO DA VARIAÇÃO EM TERMINOLOGIA: A PERSPECTIVA DA TCT

Ao contrário do defendido pela visão tradicional de terminologia, isto é, um instrumento de eliminação das ambiguidades, a TCT prega que a unidade lexical especializada (ULE) é, assim como as unidades lexicais não especializadas (ULnEs), um signo linguístico dotado de uma forma e um conteúdo indissociáveis e que, no plano da expressão, representa um conceito. Consequentemente, a ULE assume as mesmas características e se submete às mesmas condições de produção que as ULnEs presentes nos discursos cotidianos (CABRÉ, 2008aCABRÉ, M. T. (2008a). El principio de poliedricidad: la articulación de lo discursivo, lo cognitivo y lo lingüístico en Terminología. Pt. 1. Ibérica, Castelló de la Plana, v. 16, p. 9-36.).

Nesse contexto, itens terminológicos e itens lexicais passam a ser entendidos como objetos que compartilham de uma mesma estrutura, similares 1. semanticamente, visto que são dotadas de um significado e, possivelmente, relacionadas a mais de um sentido; 2. funcionalmente, pois pertencem a uma categoria gramatical; e também 3. pragmaticamente, já que transpassam a interação comunicativa (CABRÉ, 2008bCABRÉ, M. T. (2008b).De la rigidez a la flexibilidad en la concepción de la terminología: el papel de la lingüística. In: DINS CASAS GÓMEZ, M.; RODRÍGUEZ-PIÑERO ALCALÁ, I. (Ed.). X Jornadas de Lingüística. Cádiz: Universidad de Cádiz, Servicio de Publicaciones, p. 89-108.). Sua diferença, portanto, relacionase aos usuários que fazem uso de tais unidades na comunicação, à situação de uso, à temática que veiculam e ao tipo de discurso em que ocorrem (CABRÉ, 1999CABRÉ, M. T. (1999). La Terminologia: representación y comunicación: elementos para una teoría de base comunicativa y otros artículos. Barcelona: Universitat Pompeu Fabra.).

A partir desse postulado, a TCT abandona definitivamente o pressuposto da univocidade em terminologia e a concepção de independência entre termo e conceito, defendendo que:

  1. Os termos não preexistem às áreas temáticas, mas sim são utilizados em seu interior;

  2. Consequentemente, um mesmo termo pode aparecer em diversos campos de especialidade com o mesmo significado ou com variações deste;

  3. Os termos têm seus limites constantemente redefinidos;

  4. Por fim, assim como as unidades lexicais não especializadas, um termo é condicionado por fatores culturais e sociais.

Observando a interdisciplinaridade inerente ao estudo das ULEs, Cabré (2008a)CABRÉ, M. T. (2008a). El principio de poliedricidad: la articulación de lo discursivo, lo cognitivo y lo lingüístico en Terminología. Pt. 1. Ibérica, Castelló de la Plana, v. 16, p. 9-36. reitera a necessidade de diferenciar os diferentes planos e dimensões que corroboram para tal interdisciplinaridade e, sobretudo, de apontar suas correlações que, segundo a mesma autora, permitem justificar os mecanismos utilizados durante a identificação de tais itens e durante a prática terminográfica.

Dessa maneira, a estudiosa enfatiza que as ULEs são ao mesmo tempo unidades linguísticas (pois fazem parte do léxico das línguas naturais e, por isso, são submetidas às mesmas influências que as palavras utilizadas no nosso dia a dia), unidades de conhecimento específico (visto que representam uma categorização da realidade) e unidades de comunicação especializada (já que possibilitam a troca de conhecimento entre especialistas e entre especialistas e leigos, divulgando o conhecimento especializado). Logo, uma teoria que explique seu funcionamento necessita considerar todos esses aspectos.

Tal afirmação faz referência ao princípio da poliedricidade do termo, princípio este que atenta para os aspectos linguísticos, cognitivos e comunicativos que integram tais unidades. De acordo com Cabré (1999)CABRÉ, M. T. (1999). La Terminologia: representación y comunicación: elementos para una teoría de base comunicativa y otros artículos. Barcelona: Universitat Pompeu Fabra., a análise de tais unidades pode tanto adotar uma abordagem integradora, isto é, considerando todos esses aspectos, quanto privilegiar apenas uma face desse poliedro.

A concepção de ULE como um signo linguístico, logo, dotado de uma forma e um conteúdo, bem como sua aproximação às unidades lexicais que dão voz aos nossos discursos cotidianos, pressupõe a compreensão de que as terminologias estão submetidas aos mesmos processos que atuam na formação dos itens lexicais, inclusive à variação. Efetivamente, o princípio da variação é outro elemento que fundamenta a TCT, sendo considerado como uma das condições inerentes ao estudo das ULEs. Assim, de modo a verificar a variação no interior dos discursos, a TCT estabelece uma série de variáveis, dentre as quais estão 1. a temática, 2. os tipos de interlocutores envolvidos na comunicação, 3. seu nível de especialização, 4. o grau de formalidade, 5. o propósito e 6. o tipo de discurso. Para Cabré (1999)CABRÉ, M. T. (1999). La Terminologia: representación y comunicación: elementos para una teoría de base comunicativa y otros artículos. Barcelona: Universitat Pompeu Fabra.,

Todo processo de comunicação envolve inerentemente variação, evidenciada em formas alternativas de denominar o mesmo conceito (sinonímia) ou em abertura significativa de uma mesma forma (polissemia). Esse princípio é universal para unidades terminológicas, embora existam graus diferentes, de acordo com as condições de cada situação comunicativa. O grau máximo de variação encontrase na terminologia das áreas do conhecimento mais banalizadas e utilizadas no discurso de divulgação de ciência e tecnologia; o grau mínimo de variação é o da terminologia padronizada por comissões; o grau intermediário é representado pela terminologia usada na comunicação natural entre especialistas (CABRÉ, 1999CABRÉ, M. T. (1999). La Terminologia: representación y comunicación: elementos para una teoría de base comunicativa y otros artículos. Barcelona: Universitat Pompeu Fabra., p.85, tradução nossa).1 1 Todo proceso de comunicación comporta inherentemente variación, explicitada en formas alternativas de denominación del mismo concepto (sinonimia) o en apertura significativa de una misma forma (polisemia). Este principio es universal para las unidades terminológicas, si bien admite diferentes grados según las condiciones de cada tipo de situación comunicativa. El grado máximo de variación lo cumplirían los términos de las áreas más banalizadas del saber y los que se utilizan en el discurso de registro comunicativo de divulgación de la ciencia y de la técnica; el grado mínimo de variación es el propio de la terminología normalizada por comisiones de expertos; el grado intermedio lo representa la terminología usada en la comunicación natural entre especialistas.

Com efeito, a TCT tem como um de suas bases a noção do termo como um item lexical que assume tal estatuto devido às condições pragmáticas envolvidas em uma dada comunicação. Nas palavras de Cabré (2008aCABRÉ, M. T. (2008a). El principio de poliedricidad: la articulación de lo discursivo, lo cognitivo y lo lingüístico en Terminología. Pt. 1. Ibérica, Castelló de la Plana, v. 16, p. 9-36., p.18, tradução nossa), “um termo não é uma unidade em si, mas apenas um valor associado às unidades do léxico”2 2 (...) un término no es una unidad en sí misma sino sólo un valor asociado a todas las unidades del léxico . Em texto posterior (CABRÉ, 2003CABRÉ, M. T. (2003). Teorias de la Terminología: de la prescripción a la descripción. In: ADAMO, G.; DELLA VALLE, V. (Ed.). Innovazione lessicale e terminologie specialistiche. Florencia: Leo S. Olschki, p. 168-188. (Serie Lessico Intellettuale Europeo, v. 92).), a autora explica que o valor especializado, mais um dos princípios que fundamentam a TCT, é que distingue termos e palavras, consistindo de uma seleção de traços semânticos precisos que definem o significado.

Baseando-se nos pressupostos teóricos da TCT e da lexicologia vertical, Ciapuscio (2003)CIAPUSCIO, G. E. (2003). Textos especializados y terminología. Barcelona: Institut Universitari de Linguística Aplicada, Universitat Pompeu Fabra. salienta que o léxico pode ser distribuído verticalmente em uma escala imaginária de acordo com sua presença nos distintos níveis de especialidade, a saber, desde o nível mais alto em que se localiza o especialista, até o nível mais baixo em que se encontra o leigo; e horizontalmente, conforme o campo em que se insere.

Portanto, pode-se afirmar que o valor especializado está associado tanto à temática em que uma unidade é empregada, originando uma variação horizontal, quanto ao âmbito de especialização que pode ser mais ou menos especializado, a depender da precisão, a concisão e a cientificidade, resultando na variação vertical. Nesse sentido, uma ULE é reconhecida como tal quando em um contexto determinado, de acordo com as condições discursivas em que um texto é produzido.

De fato, a ampliação gradativa do âmbito de análise da terminologia, que passa a considerar os discursos, isto é, o texto aliado a todas as suas condições de enunciação, como os verdadeiros responsáveis pela transição do conhecimento, subentende a aceitação da variação como essencial para a descrição adequada da comunicação especializada. Inseridas discursivamente, as unidades podem apresentar “maior ou menor grau de variação, de modo que para um mesmo conceito ou conteúdo podem haver várias denominações, e que a mesma denominação pode corresponder a diferentes perspectivas do conteúdo, as quais às vezes também se refletem na forma”3 3 mayor o menor grado de variación, de forma que para un mismo concepto o contenido pueden darse varias denominaciones, y que una misma denominación puede corresponder a visiones distintas del contenido, que a veces también se refleja en su forma (CABRÉ, 2003CABRÉ, M. T. (2003). Teorias de la Terminología: de la prescripción a la descripción. In: ADAMO, G.; DELLA VALLE, V. (Ed.). Innovazione lessicale e terminologie specialistiche. Florencia: Leo S. Olschki, p. 168-188. (Serie Lessico Intellettuale Europeo, v. 92)., p. 180, tradução nossa). Por essa razão, o contexto assume papel fundamental no interior da TCT, visto que se torna o verdadeiro hábitat das terminologias, a concretização do uso que não apenas determinará o seu valor especializado como também apontará para a intensidade desse valor.

2. TCT E A VARIAÇÃO DENOMINATIVA

Segundo Freixa et al. (2002)FREIXA, J.; KOSTINA, I. CABRÉ, M. T. (2002). La variación terminológica en las aplicaciones terminográficas. In: SIMPOSIO IBEROAMERICANO DE TERMINOLOGÍA, 8., 2002, Cartagena de Indias. Actas... Cartagena de Indias: [s.n.]. 1 CDROM. p. 00-00., existem dois tipos de variação terminológica: a variação localizada no plano das denominações, a chamada variação denominativa, e a variação originada de heterogeneidades no plano do conteúdo, a chamada variação conceitual. Interessa-nos, neste estudo, a variação denominativa, fenômeno definido por Freixa (2002)FREIXA, J. (2002). La variació terminològica: anàlisi de la variació denominativa en textos de diferent grau d’especialització de l’àrea de medi ambient. 2002. 569 f. Tesi Doctoral (Doctorat en Variació en el Llenguatge)- Departament de Filologia Catalana, Universitat de Barcelona, Barcelona. Disponível em: <http://www.tdx.cat/handle/10803/1677>. Acesso em: 20 Out. 2015.
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pela existência de diversas denominações para um mesmo conceito e por Bach e Suárez (2002)BACH, C.; SUÁREZ, M. M. (2002). La variación denominativo-conceptual en la traduccind ón científico-técnica: el papel de la reformulación. In: CHABÁS, J. et al. (Ed.). Translating Science: Proceedings: 2 International Conference on Specialized Translation. Barcelona: PPU, p. 119-127. como expressões linguísticas coexistentes utilizadas por falantes de níveis de especialização diversos para se referirem a um mesmo conceito e que estabelecem uma relação de sinonímia em diversos graus. Trata-se de um recurso discursivo que busca evitar a redundância presente tanto na linguagem comum quanto na especializada.

Segundo Freixa (2002)FREIXA, J. (2002). La variació terminològica: anàlisi de la variació denominativa en textos de diferent grau d’especialització de l’àrea de medi ambient. 2002. 569 f. Tesi Doctoral (Doctorat en Variació en el Llenguatge)- Departament de Filologia Catalana, Universitat de Barcelona, Barcelona. Disponível em: <http://www.tdx.cat/handle/10803/1677>. Acesso em: 20 Out. 2015.
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, as causas que motivam o fenômeno da variação denominativa podem ser divididas em seis grupos, a saber:

  1. As causas prévias, relacionadas às características e ao funcionamento da linguagem, e que englobam a redundância linguística, a arbitrariedade do signo linguístico e as possibilidades de variação da língua.

  2. As causas dialetais, causas estas que, segundo a autora, foram as únicas reconhecidas pelas teorias tradicionais da Terminologia, e que abrangem a variação geográfica, a variação cronológica e a variação social.

  3. As causas funcionais, relativas à adequação ao nível de língua e à adequação ao nível de especialização.

  4. As causas discursivas, derivadas da criatividade, da ênfase e da expressividade e que visam a economia linguística e evitar a repetição desnecessária.

  5. As causas interlinguísticas, resultantes da convivência de um termo local com um empréstimo e da diversidade de propostas alternativas.

  6. As causas cognitivas, originadas da imprecisão conceitual, do distanciamento ideológico e das diferenças na conceptualização.

São de grande valia para a explicação do fenômeno da variação denominativa os mecanismos psicocognitivos, responsáveis pelas causas cognitivas que atuam na percepção, na compreensão e na categorização da realidade, pois uma das razões apontadas para a ocorrência desse fenômeno é a diferença de pontos de vista entre indivíduos que categorizam um mesmo conceito.

Nesse contexto, cabe enfatizar a concepção de conceito para a TCT. Segundo Cabré (2008a)CABRÉ, M. T. (2008a). El principio de poliedricidad: la articulación de lo discursivo, lo cognitivo y lo lingüístico en Terminología. Pt. 1. Ibérica, Castelló de la Plana, v. 16, p. 9-36., um conceito é uma unidade que integra uma estrutura complexa que corresponde à concepção de uma área do conhecimento por um grupo de indivíduos; consequentemente, o conceito representa uma parcela discriminada obtida por meio de filtros interiorizados baseados em categorias idealizadas na mente de um indivíduo, a partir da observação da realidade.

Assim, continua a autora, um conceito é o resultado da categorização de uma classe de objetos e pode integrar diversas estruturas conceituais, em distintas áreas temáticas; pode ser representado por mais de uma expressão formal; consequentemente, pode configurar por si só uma estrutura complexa se considerarmos que cada uma dessas expressões formais remete a aspectos distintos do conceito.

No que tange à conceituação, ou formação de conceitos, a mesma autora menciona que a teoria do protótipo é uma das abordagens em ciências cognitivas que merece destaque, pois, em poucas palavras, considera a forma como

(…) o indivíduo percebe a realidade e compara o conjunto de características dos objetos em questão a um modelo cognitivo ideal por meio de quatro mecanismos comuns à espécie humana: a estrutura em proposições, a estrutura em imagens, a projeção metafórica e a projeção metonímica (CABRÉ, 2008aCABRÉ, M. T. (2008a). El principio de poliedricidad: la articulación de lo discursivo, lo cognitivo y lo lingüístico en Terminología. Pt. 1. Ibérica, Castelló de la Plana, v. 16, p. 9-36., p. 26).4 4 (…) el individuo percibe la realidad y comparando el conjunto de características de los objetos en referencia a un modelo ideal cognitivo a través de cuatro mecanismos comunes a la especie humana: la estructura en proposiciones, la estructura en imágenes, la proyección metafórica y la proyección metonímica.

De acordo com a autora, tal abordagem compreende as categorias como estruturas internamente e intercategorialmente organizadas. Por conseguinte, o conceito define-se como uma categoria que se insere em um esquema de traços distintivos. Para Fernández Silva (2013)FERNÁNDEZ-SILVA, S. (2013). Variación denominativa y punto de vista. Debate Terminológico, n. 9, p. 11-37., a conceituação não visa definir as características dos objetos, mas sim o ponto de vista do sujeito. Nesse aspecto, a cultura e os interesses do indivíduo desempenham um papel fundamental na configuração do conhecimento.

Em texto anterior (FERNÁNDEZ SILVA, 2010), a autora argumenta que em seu real contexto comunicativo os conceitos são formalmente expressos por ULEs formadas a partir de fatores motivadores que remetem a aspectos diferentes do conceito e, desse modo, apontam para uma determinada compreensão dele. Trata-se das chamadas variantes denominativas com consequências cognitivas que, para Cabré (2008a)CABRÉ, M. T. (2008a). El principio de poliedricidad: la articulación de lo discursivo, lo cognitivo y lo lingüístico en Terminología. Pt. 1. Ibérica, Castelló de la Plana, v. 16, p. 9-36., são formas sinônimas que possibilitam a apreensão de facetas distintas de um mesmo conceito. Logo, a preferência de uma ou outra variante modifica a forma como o receptor tem acesso ao conceito, acesso este que depende e mantém relação estrita com a intenção do emissor.

Assim, diferentes indivíduos, que observam a mesma realidade relacionada a um mesmo argumento, porém a partir de perspectivas diferentes, apresentarão uma forma diversa de estruturar essa realidade em conceitos. Uma variação que depende dos objetivos, das intenções ou dos interesses de cada grupo, em suma, de diferentes pontos de vista, resultando na maleabilidade da estruturação dos conceitos.

De acordo com Fernández Silva (2010), os fatores cognitivos que motivam a variação denominativa podem ser diferenciados com base em dois critérios que, por sua vez, são subdivididos em diversos subcritérios, a saber:

O nível de sistema, que compreende: a) sistema conceitual, apresentando diferenças entre as disciplinas; b) classe conceitual, influenciando na informação conceitual espelhada pela variante; c) multidimensionalidade do sistema conceitual, resultando das diferentes perspectivas de classificação; d) flexibilidade do conceito, ou sua poliedricidade, referente aos limites imprecisos e à diversidade de perspectivas de compreensão; e) sistema linguístico/cultural, remetendo ao relativismo da conceituação inerente às línguas naturais.

O nível de uso, envolve: a) a evolução do conhecimento e a necessidade de uma análise diacrônica; b) as diferenças dialetais/culturais; c) as diferenças entre escolas de pensamento/ideologia, d) as diferenças entre grupos sócio-profissionais, resultantes da variação social ou diastrática devido a condicionantes socioeconômicos, socioculturais e socioprofissionais na negociação dos sentidos; e) as diferenças de indivíduo para indivíduo, originadas de diferenças de referência, conhecimento prévio, interesses e objetivos que direcionam a conceituação.

Em concordância com as discussões expostas, em Martins (2017)MARTINS, S. C.(2017). Proposta de uma base de conhecimento multilíngue online de expressões cromáticas da fauna e da flora. 2017. 419 f. Tese (Doutorado em Estudos Linguísticos) - Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, São José do Rio Preto. dividimos as causas que impulsionam a formação das variantes na terminologia da fauna e da flora, por um lado, em internas, isto é, fatores psico-cognitivos que influenciam na percepção e categorização do ambiente e que atuam nas escolhas dos indivíduos, e na sua intenção em projetar diferentes facetas do conceito; por outro, em externas, isto é, fatores sócio-históricos, culturais e geográficos, relacionados à inserção do indivíduo no interior de uma comunidade e ao seu papel como membro dela.

Importa enfatizar que de maneira nenhuma defendemos que se trata de motivações completamente díspares. Antes, reforçamos que as causas internas e externas estão em frequente interação, na medida em que uma sociedade contribui para a formação da concepção de mundo de seus integrantes, ao mesmo tempo que cada um destes colabora para a construção de uma visão social e compartilhada.

Assim, nas próximas linhas, relatamos a análise executada em Martins (2017)MARTINS, S. C.(2017). Proposta de uma base de conhecimento multilíngue online de expressões cromáticas da fauna e da flora. 2017. 419 f. Tese (Doutorado em Estudos Linguísticos) - Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, São José do Rio Preto., relevando especificamente as causas internas, isto é, as diferenças de percepção refletidas na denominação das espécies, que culminam nas variantes denominativas com consequências cognitivas. Especial atenção será dada às distinções motivacionais entre as línguas portuguesa (idioma de partida), inglesa e italiana.

3. PRECEDENTES METODOLÓGICOS

Como especificado anteriormente, em Martins (2013)MARTINS, S. C. (2013). Dicionário onomasiológico de expressões cromáticas da fauna e flora. 2013. 220 f. Dissertação (Mestrado em Estudos Linguísticos)-Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, São José do Rio Preto. formulamos o modelo de macro e microestrutura adequado para o Dicionário onomasiológico de expressões cromáticas da fauna e da flora, uma obra especializada que tem como público tanto especialistas quanto leigos interessados pela terminologia em apreço, a saber, as ECEs. Trata-se de estruturas sintagmáticas nominais formadas por um ou mais nomes de cores pertencentes a subdomínios cromáticos (preto, branco, amarelo, azul, laranja, cinza, verde, marrom, vermelho, rosa, violeta, roxo e anil) previamente definidos com base nos trabalhos de Berlin e Kay (1969)BERLIN, B.; KAY, P. (1969). Basic Color Terms: Their Universality and Evolution. Berkeley & Los Angeles: University of California Press., Arcaini (1991)ARCAINI, E (1991). Analisi linguistica e traduzione. Bologna: Pàtron. e Zavaglia (1996ZAVAGLIA, C. (1996).Os cromônimos no italiano e no português do Brasil: uma análise comparativa. São Paulo, 1996. 264f. Dissertação. (Mestrado em Língua e Literatura Italiana) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo.; 2006ZAVAGLIA, C. (2006). Dicionário e Cores. Alfa. São Paulo, v.50, n.2, p.25-41.).

O levantamento inicial da nomenclatura do dicionário sustentou-se, a princípio, nos dicionários eletrônicos: Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa (HOUAISS, 2009HOUAISS, A. (2009). Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. Versão 1.0. Rio de Janeiro: Editora Objetiva. 1 CD-ROM) e no Novo Dicionário Eletrônico Aurélio (FERREIRA, 2010FERREIRA, A. B. H. (2010). Novo Dicionário Eletrônico Aurélio. versão 7.0. 5.ed. Curitiba: Positivo Informática LTDA. 1 CD-ROM). A partir dessas obras, complementamos nossas buscas com as obras terminográficas impressas: Dicionário brasileiro de botânica, (PEREIRA; PUTZKE, 2010PEREIRA, A.B.; PUTZKE, J. (2010). Dicionário brasileiro de botânica. Curitiba: Editora CRV.); Diccionario das plantas uteis do Brasil e das exóticas cultivadas (CORRÊA, 1926CORRÊA, M. P. (1926). Diccionario das plantas uteis do Brasil e das exóticas cultivadas. Rio de Janeiro: Impr. Nacional.), Dicionário das plantas úteis do Brasil (CRUZ, 1979CRUZ, G. L. da. (1979). Dicionário das plantas úteis do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.), Dicionário zoológico (TIERNO, 1954TIERNO, J.C. (1954). Dicionário zoológico: contendo, por ordem inversa, todos os termos registrados nos dicionários mais correntes da língua portuguesa. Lisboa: Tertulia Edipica.), Dicionário dos mamíferos do Brasil (CARVALHO, 1979CARVALHO, C.T. de. (1979). Dicionário dos mamíferos do Brasil. 2.ed. rev. São Paulo: Nobel.); e com as obras disponíveis on-line: Avibase, Biota Neotropica, Flora Brasiliensis. Ainda nessa etapa de estudo, analisamos, por meio do Corpus Web, e considerando os diferentes tipos de texto, de distintas manifestações discursivas, a transição dessas ECEs entre os discursos especializado e comum. Logo, observamos o papel de tais itens na divulgação do saber científico e na popularização do conhecimento. Assim, verificamos a presença e a atuação das ECEs como variantes denominativas em textos produzidos por interlocutores de grau distinto de conhecimento, bem como de finalidades diversas. Com efeito, as ECEs estão presentes nos mais variados universos linguístico-comunicacionais, em diversos níveis de especialização, atuando como intermediadoras entre especialistas e leigos.

Posteriormente, em Martins (2017)MARTINS, S. C.(2017). Proposta de uma base de conhecimento multilíngue online de expressões cromáticas da fauna e da flora. 2017. 419 f. Tese (Doutorado em Estudos Linguísticos) - Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, São José do Rio Preto. executamos a análise comparativa da terminologia acima mencionada entre as línguas portuguesa, inglesa e italiana, além de determinar a forma mais adequada da sua descrição em uma base de conhecimento multilíngue e on-line. Novamente, a partir do Corpus Web constatamos a existência ou não de ECEs ou de variantes denominativas nas línguas de chegada.

A seguir, descrevemos como o fator cognitivo atua na formação das variantes denominativas na terminologia em questão.

4. O FATOR COGNITIVO NA VARIAÇÃO DENOMINATIVA DA TERMINOLOGIA DA FAUNA E DA FLORA.

Efetivamente, a categorização do mundo à nossa volta depende de aspectos psicocognitivos que estão, em certa medida, relacionados a valores sócio-históricos e culturais. Para Cabré (2008a)CABRÉ, M. T. (2008a). El principio de poliedricidad: la articulación de lo discursivo, lo cognitivo y lo lingüístico en Terminología. Pt. 1. Ibérica, Castelló de la Plana, v. 16, p. 9-36., o ser humano percebe a realidade através de filtros interiorizados, sejam eles psicológicos, antropológicos ou sociológicos, que atuam como mediadores entre a realidade individual e aquela compartilhada por membros de uma comunidade, inseridos em um contexto sócio-histórico determinado. Tal fato deve-se à incapacidade do ser humano em perceber a realidade em seu estado puro.

Assim, a realidade é dividida em classes de objetos agrupados de acordo com suas características comuns centrais para cada comunidade. Em outras palavras, para indivíduos pertencentes a grupos culturais distantes, o agrupamento em classes e, por conseguinte, sua percepção podem não coincidir. De acordo com Cabré (2008aCABRÉ, M. T. (2008a). El principio de poliedricidad: la articulación de lo discursivo, lo cognitivo y lo lingüístico en Terminología. Pt. 1. Ibérica, Castelló de la Plana, v. 16, p. 9-36., p. 20, tradução nossa), “(O) princípio básico que fundamenta essa ideia é o de que diferentes necessidades correspondem a diferentes contextos e que as necessidades impulsionam o ser humano a ‹ver› fenômenos que outros indivíduos em diferentes condições não perceberiam”.5 5 (E)l principio básico en el que se apoya esta idea es que a contextos distintos les corresponden necesidades distintas y que las necesidades empujan a los seres humanos a “ver” fenómenos que otros individuos en condiciones distintas ni siquiera perciben.

De fato, o processo de categorização é realizado de diferentes formas por membros de uma mesma comunidade ou de comunidades distintas. E desses diferentes modos de perceber e compreender a realidade é que resulta a variação denominativa com motivação cognitiva (FREIXA, 2002FREIXA, J. (2002). La variació terminològica: anàlisi de la variació denominativa en textos de diferent grau d’especialització de l’àrea de medi ambient. 2002. 569 f. Tesi Doctoral (Doctorat en Variació en el Llenguatge)- Departament de Filologia Catalana, Universitat de Barcelona, Barcelona. Disponível em: <http://www.tdx.cat/handle/10803/1677>. Acesso em: 20 Out. 2015.
http://www.tdx.cat/handle/10803/1677...
). Em outras palavras, cada indivíduo expressa linguisticamente a realidade que o cerca de um modo distinto, a depender dos objetivos do âmbito temático e de suas referências. No caso das variantes denominativas da fauna e da flora, cada unidade ressalta uma característica distintiva da espécie e que, portanto, a distingue das demais pertencentes a uma mesma família, refletindo sempre olhares diversos sobre uma mesma entidade.

As observações feitas em Martins (2013MARTINS, S. C. (2013). Dicionário onomasiológico de expressões cromáticas da fauna e flora. 2013. 220 f. Dissertação (Mestrado em Estudos Linguísticos)-Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, São José do Rio Preto.; 2017) sugerem que as ECEs pertencentes a esses domínios, paralelamente às variantes não compostas por nomes de cores, são exemplos de variação denominativa com consequências cognitivas (CABRÉ, 2008aCABRÉ, M. T. (2008a). El principio de poliedricidad: la articulación de lo discursivo, lo cognitivo y lo lingüístico en Terminología. Pt. 1. Ibérica, Castelló de la Plana, v. 16, p. 9-36.), pois as diferentes formas variantes que denominam uma mesma espécie relevam aspectos diversos desta. Como bem ressalta Arcaini (1991)ARCAINI, E (1991). Analisi linguistica e traduzione. Bologna: Pàtron. em sua análise etnossemântica dos nomes de cores, cada cultura é dotada de uma arbitrariedade na descrição da realidade que a difere das demais e faz com que cada comunidade atribua valores distintos às experiências perceptivas. Mais ainda, tal arbitrariedade pode ser encontrada tanto em culturas de línguas diferentes, como em comunidades que compartilham de uma mesma língua.

Aliado a tais fatores, destacamos que é o léxico o responsável por estabelecer a relação entre o homem e o mundo que o rodeia. Portanto, podemos afirmar que o léxico está impregnado pela cultura de um povo, representando linguisticamente sua identidade e os valores construídos através das gerações. Nesse contexto, o vocabulário da fauna e da flora em língua portuguesa, sobretudo, reflete a interação entre o ser humano e as espécies que com ele convivem em um mesmo ambiente. Ademais, representa a importância da espécie para a manutenção e sobrevivência de uma comunidade. Assim, muitas vezes, a variante denominativa descreve a função econômica desempenhada pela espécie no interior de uma dada região.

4.1. A espécie Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan.

Tomemos como exemplo a espécie Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan., que apresenta as variantes denominativas: angico, cambui-angico, niopó, angico-côco, angico-escuro, angico-liso, cambuí, cambuí angico, curupaí, angico-do-campo, angico-branco. Dentre elas, quatro merecem atenção no que diz respeito à motivação de sua composição: a ECE composta pelo subdomínio cromático branco (angico-branco) e que faz referência à coloração da casca da árvore, e outras três variantes não compostas por nomes de cores: angico-escuro, que remete à cor da madeira; angico-liso que diz respeito ao aspecto da madeira; e angico-do-campo que releva o habitat da planta. Baseandonos em Cabré (2008a)CABRÉ, M. T. (2008a). El principio de poliedricidad: la articulación de lo discursivo, lo cognitivo y lo lingüístico en Terminología. Pt. 1. Ibérica, Castelló de la Plana, v. 16, p. 9-36., sustentamos que a formação de cada variante denominativa e seu uso estão condicionados a uma intenção cognitiva que terá suas consequências no receptor da mensagem. Tais consequências evidenciam características da espécie relevantes em dada situação comunicativa. Por exemplo, nos discursos relacionados à carpintaria, releva-se o aspecto de sua madeira.

4.2. A espécie Vernonia polyanthes

A espécie Vernonia polyanthes possui as variantes denominativas: assa-peixe-branco, cambará-branco, cambaráguaçú, cambará-guassú, chamarrita, estanca-sangue, tramanhém, mata-pasto, cambará-guassu, cambará-do-branco, erva-preá, enxuga. A denominação mata-pasto representa o impacto econômico da espécie para a agropecuária, visto sua capacidade de invasão e exterminação de gramíneas que servem de alimento para o gado. A mesma espécie também é denominada de estanca-sangue, forma linguística que representa suas características medicinais.

4.3. A espécie Virola surinamensis (Rol. ex Rottb.) Warb.

É interessante notar o processo de denominação das espécies do gênero Virola.

Quadro 1
variantes denominativas das espécies do gênero Virola.

A espécie Virola surinamensis (Rol. ex Rottb.) Warb., além de ser denominada por ucuuba-cheirosa, que enfatiza o odor exalado de sua madeira, ucuuba-de-igapó e ucuuba-da-várzea, que especificam o ambiente em que é encontrada, e árvore-de-sebo, cuja base é a substância por ela liberada, também recebe a denominação de ucuuba-verdadeira que, por consequência, a diferencia das demais espécies, a saber, Virola bicuhyba (Schott) Warb. e Virola sebifera Aubl.

As espécies retratadas até o momento não apresentaram correspondência nas línguas inglesa e italiana. De fato, trata-se de espécies restritas ao ambiente latino americano e pouco divulgadas/comercializadas.

4.4. A espécie Psidium cattleyanum Sabine

Há casos ainda em que as variantes denominativas compostas por nomes de cores indicam um processo de desenvolvimento da planta. Onze são as variantes que denominam a espécie Psidium cattleyanum Sabine: araçávermelho, araçá-rosa, araçá-de-coroa, araçá-de-comer, araçá-comum, araçá-da-praia, araçá-do-campo, araçá-domato, araçazeiro, araçá-amarelo, araçá. Dentre as variantes, três são formadas por nomes de cores: araçá-amarelo, araçárosa e araçá-vermelho, representando o processo de amadurecimento do fruto. Além desses itens, merecem destaque as denominações araçá-comum e araçá-de-comer, que diferenciam tal espécie das demais pertencentes ao gênero Psidium.

Quadro 2
variantes denominativas em inglês e italiano da espécie Psidium cattleyanum Sabine.

Para a espécie acima mencionada, tanto a língua inglesa quanto a língua italiana enfatizam sua coloração, bem como sua proximidade com a fruta morango. Ademais, frequentemente, deparamo-nos com variantes denominativas formadas a partir de diferenças de percepção cromática, tanto no interior de uma mesma língua, quanto entre línguas, representadas por meio de uma gradação de um mesmo matiz cromático ou até mesmo por diferentes matizes. Nesse caso, purple (em purple guava), rosso (em guaiabo rosso), vermelho (em araçá-vermelho) e rosa (em araçá-rosa) estimulam diferentes sensações cromáticas.

4.5. A espécie Bothrops neuwiedi Wagler, 1824

Concernente à fauna, a espécie Bothrops neuwiedi Wagler, 1824 recebe em português as variantes denominativas: jararaca-do-rabo-branco, boca-de-sapo, bocuda, jararaca-pintada, jararaca-cruzeira, jararaquinha, rabo-de-osso, tirapéia, urutu, jararaquinha-do-rabo-branco, jararaca-do-nordeste. Cada uma expressa uma particularidade da espécie: a) jararaca-do-rabo-branco e jararaquinha-do-rabo-branco destacam a coloração esbranquiçada de sua cauda, distinguindo-a do resto do corpo; b) rabo-de-osso faz referência à coloração esbranquiçada da cauda, comparando-a com um pedaço de osso; c) boca-de-sapo e bocuda fazem referência ao formato de sua boca e, no primeiro caso, à semelhança com o anfíbio, uma variante denominativa formulada a partir de uma metáfora de imagem; d) jararaca-pintada coloca em evidência as manchas escuras em formato de trapézio ao longo de seu dorso; e) jararaca-do-nordeste delimita sua ocorrência no interior do território brasileiro. A denominação comum dessa espécie em inglês e italiano deriva de seu nome científico (Neuwied’s lancehead e ferro di lancia di Neuwied).

4.6. A espécie Columba picazuro (Temminck, 1813)

A espécie Columba picazuro (Temminck, 1813) é comumente denominada por: pomba-asa-branca, asa-branca, pomba-pedrês, pomba-carijó, pomba-verdadeira, pombão. A variante asa-branca evidencia a parte do corpo que se distingue pela sua coloração. Coocorrem com tal forma os itens pomba-asa-branca, pomba-pedrês e pomba-carijó, estas duas últimas enfatizam a coloração acinzentada de seu corpo; já pomba-verdadeira é uma forma de compará-la com outras espécies; por fim, pombão ressalta seu tamanho. Assim como no exemplo anterior, também para este as denominações comuns em inglês e italiano derivam de seu nome científico.

Quadro 3
variantes denominativas em inglês e italiano da espécie Columba picazuro (Temminck, 1813).

4.7. A espécie Caretta caretta (Linnaeus, 1758)

A espécie Caretta caretta (Linnaeus, 1758) apresenta oito variantes denominativas: tartaruga-amarela, tartarugacomum, tartaruga-cabeçuda, tartaruga-meio-pente, tartaruga-mestiça, careba-dura, carebadura, tartaruga azeiteira. Dentre elas, duas evidenciam características marcantes, a saber, tartaruga-amarela, devido à coloração amarelada de seu corpo e, nesse aspecto, é contrastada com a coloração verde da espécie Chelonia mydas (Linnaeus, 1758); e tartarugacabeçuda, devido à proeminência de sua cabeça. Além desses, o item tartaruga-comum evidencia sua distribuição e estado de preservação. Por fim, tartaruga-azeiteira faz menção ao uso desse animal no interior de uma comunidade e sua importância econômica, já que dele é extraído um azeite de finalidade diversificada. Explica-se, assim, seu estado de vulnerabilidade. Por seu turno, a língua inglesa também destaca a proeminência de seu membro superior: loggerhead (sea turtle); já a língua italiana, assim como a portuguesa, evidencia sua distribuição: tartaruga comune.

4.8. Casos especiais: alto número de variantes denominativas em inglês e italiano

Nossa análise comparativa entre as línguas portuguesa, inglesa e italiana identificou casos, embora em número reduzido, em que o número de variantes denominativas é muito mais alto nas duas últimas línguas. Geralmente, são espécies que não se restringem a biomas brasileiros. Citamos como exemplo a espécie Delphinapterus leucas (Pallas, 1776), que em português recebe as denominações de baleia-branca e beluga. Já em inglês é chamada de White whale e snow-white beluga whale, que enfatizam sua coloração clara, melonhead, que faz referência ao formato de sua cabeça, além de beluga e beluga whale. Em italiano, ao contrário, trata-se de uma caso de equivalência única, sendo chamada popularmente de beluga.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Enfatizamos no decorrer desta discussão que a TCT concebe o termo como um signo linguístico e que, portanto, está submetido aos mesmos fenômenos da linguagem responsáveis pela formação das unidades lexicais comuns. Dentre eles, especial atenção é dada à variação, dependente de fatores discursivos próprios de cada situação comunicativa. Por conseguinte, é o contexto que irá motivar a produtividade de variantes denominativas para um dado conceito.

Dentre as possíveis causas que corroboram para variação denominativa, a cognitiva foi o cerne do nosso exame. Uma vez que o sistema cognitivo define a percepção, a compreensão e a categorização da realidade, os distintos pontos de vista aos quais um conceito é sobreposto direcionam a variação.

No que tange à variação denominativa nos domínios da fauna e da flora, a multiplicidade de formas vernáculas, ou nomes populares, que denominam uma mesma espécie ilustram não apenas a criatividade humana, mas sobretudo sua capacidade de adequar sua expressão linguística à situação comunicacional e aos seus interlocutores.

Como pode ser apreendido a partir dos exemplos acima mencionados, a variação denominativa com consequências cognitivas demonstra os diferentes olhares do ser humano sobre uma mesma espécie. O objetivo desse recurso é evidenciar as características distintivas da entidade, possibilitando que o interlocutor a diferencie em meio a outras espécies. Por fim, apesar das semelhanças perceptivas, não são raros os casos em que os traços evidenciados diferem de cultura para cultura.

  • 1
    Todo proceso de comunicación comporta inherentemente variación, explicitada en formas alternativas de denominación del mismo concepto (sinonimia) o en apertura significativa de una misma forma (polisemia). Este principio es universal para las unidades terminológicas, si bien admite diferentes grados según las condiciones de cada tipo de situación comunicativa. El grado máximo de variación lo cumplirían los términos de las áreas más banalizadas del saber y los que se utilizan en el discurso de registro comunicativo de divulgación de la ciencia y de la técnica; el grado mínimo de variación es el propio de la terminología normalizada por comisiones de expertos; el grado intermedio lo representa la terminología usada en la comunicación natural entre especialistas.
  • 2
    (...) un término no es una unidad en sí misma sino sólo un valor asociado a todas las unidades del léxico
  • 3
    mayor o menor grado de variación, de forma que para un mismo concepto o contenido pueden darse varias denominaciones, y que una misma denominación puede corresponder a visiones distintas del contenido, que a veces también se refleja en su forma
  • 4
    (…) el individuo percibe la realidad y comparando el conjunto de características de los objetos en referencia a un modelo ideal cognitivo a través de cuatro mecanismos comunes a la especie humana: la estructura en proposiciones, la estructura en imágenes, la proyección metafórica y la proyección metonímica.
  • 5
    (E)l principio básico en el que se apoya esta idea es que a contextos distintos les corresponden necesidades distintas y que las necesidades empujan a los seres humanos a “ver” fenómenos que otros individuos en condiciones distintas ni siquiera perciben.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Jun 2022
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 2022

Histórico

  • Recebido
    06 Dez 2021
  • Aceito
    05 Jan 2022
  • Publicado
    05 Abr 2022
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