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REFLEXÕES SOBRE A ESTILÍSTICA E O ENSINO DE LITERATURA: UMA ENTREVISTA COM SONIA ZYNGIER

REFLECTING ON STYLISTICS AND THE TEACHING OF LITERATURE: AN INTERVIEW WITH SONIA ZYNGIER

RESUMO

Esta entrevista busca contribuir para a divulgação da Estilística em território brasileiro e fomentar o interesse em pesquisas que busquem a integração das perspectivas linguística, literária e pedagógica. É nesse espírito que Sonia Zyngier compartilha um pouco de sua jornada pessoal e acadêmica nas trilhas da Estilística e do ensino de literatura. Esse percurso a levou a estabelecer parcerias internacionais e a participar de associações científicas, entre elas, da Poetics and Linguistics Association (Associação de Poética e Linguística). Até hoje, pesquisa, publica e edita obras que em muito contribuem para o entendimento de questões variadas em torno do estilo na linguagem e suas relações multifuncionais com inúmeros fenômenos humanos e sociais, incluindo cognição, emoção, ensino e aprendizagem de língua e literatura, gênero, meio ambiente, para mencionar apenas algumas. Assim, esta entrevista evidencia a atuação da Estilística em diversas áreas, o que contribui significativamente para a Linguística Aplicada.

Palavras-chave:
estilística; estilística pedagógica; literatura; linguística aplicada

ABSTRACT

The objective of this interview is to promote the area of Stylistics in Brazil and to foster interest in studies aimed at the integration of linguistic, literary and pedagogical perspectives. In this direction, Sonia Zyngier shares her personal and academic journey into Stylistics and the teaching of literature. This journey has led her to establish international partnerships and to participate in scientific associations, among them, the Poetics and Linguistics Association. Until today, she researches, publishes and edits works that greatly contribute to the understanding of various issues concerning style in language and its multifunctional relations with innumerable human and social phenomena, including cognition, emotion, the teaching and learning of language and literature, gender, the environment, to name just a few. Thus, this interview foregrounds the role of Stylistics in several areas, which contributes significantly to Applied Linguistics.

Keywords:
stylistics; pedagogical stylistics; literature; applied linguistics

INTRODUÇÃO

Sonia Zyngier, Ph.D. em Linguística Aplicada pela Universidade de Birmingham (1994), mestre em Literatura Inglesa pela Universidade de Liverpool (1973), bacharel em Letras/ Português-Inglês e licenciada pela Faculdade de Educação, ambas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1970), é professora aposentada da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde lecionou por 30 anos. Foi docente da Towson State University (Baltimore, EUA) e do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Durante sua atuação como Diretora Adjunta de Extensão e Cultura da Faculdade de Letras (1998-2003), foi responsável pela implementação do Projeto CLAC (Cursos de Línguas Abertos à Comunidade), que chegou a contar com 200 monitores e 6.000 alunos. Na pós-graduação, fundou o Núcleo Internacional de Pesquisas REDES (Research and Development in Empirical Studies) em colaboração com pesquisadores de três universidades estrangeiras (Ludwig-Maximilians, na Alemanha, Ütrecht, na Holanda e Kiev, na Ucrânia), e atuou por mais de 12 anos como pesquisadora e orientadora na pós-graduação do Programa Interdisciplinar de Linguística Aplicada da UFRJ. Também lecionou por 20 anos no curso de pós-graduação lato sensu da PUC-Rio. Desde 2009, edita a série Linguistic Approaches to Literature (John Benjamins, Amsterdam), que hoje conta com mais de 40 volumes, e coordena a área de inglês do Pré-Vestibular Social da Fundação CECIERJ, para a qual vem escrevendo livros didáticos, tanto impressos quanto voltados para ambientes virtuais. Criou a área de Conscientização Literária, tendo publicado Developing Awareness in Literature (2002, Rio de Janeiro, UFRJ). Em 2021 publicou uma coletânea de seus ensaios escritos no decorrer de mais de 35 anos de carreira, Vivências em Literatura: formação de leitores, discurso e pesquisa (São Paulo, Dialética Editora). Conta também com trabalhos em Estilística de Corpus e de metodologia científica, tendo coeditado o livro Perspectives on Corpus Linguistics (2011VIANA, V.; ZYNGIER, S.; BARNBROOK, G. (ed.). (2011). Perspectives on corpus linguistics. Amsterdam: John Benjamins., Amsterdam, John Benjamins), também traduzido para o mandarim, e Scientific Methods for the Humanities (2012 Amsterdam, John Benjamins). Em 2016ZYNGIER, S.; FIALHO, O. (2016). Pedagogical Stylistics: Charting Outcomes. In: Sotirova, V. (ed.). The Bloomsbury Companion to Stylistics. London & New York: Bloomsbury Academic, p. 208-230., editou Language, Discourse, and Style: Selected works of John McH. Sinclair (Amsterdam, John Benjamins) e, mais recentemente, coeditou Pedagogical Stylistics in the 21st Century (2021, London: Palgrave Macmillan) em continuidade a Literature and Stylistics for Language Learners: Theory and Practice (2007WATSON, G; ZYNGIER, S. (ed.). (2007). Literature and stylistics for language learners: theory and practice. New York: Palgrave., London: Palgrave Macmillan). Além dos livros publicados, foi convidada a definir a área de Estilística Pedagógica para a Encyclopedia of Language and Linguistics (2006) e, em coautoria, publicou “Pedagogical Stylistics: Charting Outcomes” para The Bloomsbury Companion to Stylistics (2016ZYNGIER, S.; FIALHO, O. (2016). Pedagogical Stylistics: Charting Outcomes. In: Sotirova, V. (ed.). The Bloomsbury Companion to Stylistics. London & New York: Bloomsbury Academic, p. 208-230.). Em 2020, publicou em Language and Literature o artigo “Postcritpt: Pedagogical stylistics: Past and future”. Além desses, conta com vários capítulos e artigos acadêmicos nas áreas de Educação Literária e Ciência Empírica da Literatura.

Esta entrevista se estrutura em três partes. A primeira focaliza o percurso profissional de Zyngier na área da Estilística (SOTIROVA, 2016SOTIROVA, V. (ed.). (2016). The Bloomsbury Companion to Stylistics. London: Bloomsbury.; BURKE, 2014BURKE, M. (ed.). (2014). The Routledge Handbook of Stylistic. London: Routledge.; STOCKWELL; WHITELEY, 2014STOCKWELL, P.; WHITELEY, S. (ed.). (2014). The Cambridge Handbook of Stylistics. Cambridge: Cambridge University Press.; LEECH; SHORT, 2007LEECH, G.; SHORT, M. (2007). Style in fiction: a linguistic introduction to English fictional prose. Edinburgh: Longman.), sua preocupação com abordagens empíricas para o estudo da literatura e, no plano da educação literária, a conscientização do leitor. A segunda parte trata das relações entre Estilística, Literatura, Linguística de Corpus, Teoria Literária e Linguística Aplicada, fundamentalmente no que tange a sua aplicação na área de ensino. Já a terceira parte aborda questões institucionais como a necessidade de disseminação da área no Brasil, por meio da Associação de Poética e Linguística, conhecida pela sigla PALA (Poetics and Linguistics Association), um fórum internacional para a troca de conhecimentos e aprendizagens sobre os estudos da linguagem e da literatura, em uma comunidade que integra membros de vários países. Para termos uma noção de seu alcance, PALA conta na data de escrita desta introdução com embaixadores nas regiões dos Bálcãs e em outros países como Brasil, Canadá, Chile, Dinamarca, Egito, França, Alemanha, Iraque, Itália, Japão, Malta, Nigéria, Paquistão, Polônia, Portugal, Rússia, Escócia, Singapura, Espanha, Reino Unido e Estados Unidos.1 1 Mais informações em: https://www.pala.ac.uk/.

Sem mais delongas, esperamos que o diálogo entabulado nas páginas seguintes, a partir do percurso acadêmico de Sonia Zyngier, contribua para um reconhecimento de contribuições da Estilística para a educação linguística e literária, especialmente no Brasil.

ESTILÍSTICA E ENSINO DE LITERATURA

1: Poderia nos contar um pouco de sua trajetória pessoal e profissional e de seus esforços que consolidaram sua atuação em Estilística, quanto a sua formação acadêmica, atuação profissional e aspectos biográficos pertinentes? A quais projetos e atividades você tem se dedicado atualmente?

Sonia Zyngier: Sempre quis ser professora. Mal havia aprendido a ler e a escrever, buscava alfabetizar as pessoas no meu entorno. Aos oito anos, ganhei de presente um quadro negro e, nas férias, montava uma escolinha para as crianças na fazenda do meu avô. Entre brincar de amarelinha e pular corda, a coleção do Tesouro da Juventude, os livros de Monteiro Lobato, as aventuras dos Hardy Boys e de Nancy Drew ocupavam as horas de lazer. Por falar inglês e português em casa, sentia que o caminho natural seria lecionar ambas as línguas. Em 1966, não tinha dúvidas de que prestaria vestibular para o curso de Letras, sendo estruturado naquela época. Estudávamos na Av. Presidente Antônio Carlos, no centro da cidade do Rio de Janeiro, na antiga Faculdade Nacional de Filosofia. Quando a Faculdade de Letras foi criada em janeiro de 1968, durante nosso segundo ano, fomos mudados para um pavilhão que abrigara a Exposição de Portugal, na Avenida Chile, cujas instalações eram as mais precárias possíveis. Mas isso não nos desanimava, mesmo depois do trauma da primeira aula de Teoria Literária, ainda no antigo Departamento de Letras. Naquela época, nas provas escritas e orais, os candidatos precisavam mostrar que sabiam redigir e se expressar bem em português e inglês. Mas não havíamos sido preparados para interpretar textos literários. A interpretação era tida (como ainda o é) como algo natural. Nossa primeira tarefa foi analisar todo o “I-Juca Pirama”, de Gonçalves Dias. Não sabíamos nem por onde começar. A turma estava sem norte. Éramos poucos e logo entendemos a força do trabalho em grupo. Ninguém desistiu do curso e conseguimos passar por esse primeiro obstáculo, até hoje não sei como. Nesse primeiro ano, por outro lado, tivemos a sorte de termos sido alunos da Profa. Therezinha Fonseca. Como parte de suas aulas sobre teatro medieval e três peças de Shakespeare, ela nos estimulou a encená-las. Para isso, nos reuníamos fora da sala de aula, e, sem a tutela da professora, líamos os textos em grupo, dando sempre uma justificativa para nossas decisões com base no que o texto oferecia. No segundo ano, essa estratégia também foi usada nas aulas de Literatura Portuguesa, ao lermos os autos de Gil Vicente. Começamos, então, a pôr em prática o que Louise Rosenblatt em 1938ROSENBLATT, L. M. ([1938] 1983). Literature as exploration. New York: Modern Language Association. já preconizava: “living through literature”. Ao me formar em 1970, já lecionava língua e literatura inglesa, mas o percurso até chegar a uma sistematização do que eu entendia como ensino de literatura foi longo.

Em 1972, durante o mestrado na Universidade de Liverpool, enfrentei outros problemas. Novamente, éramos somente cinco alunos e eu, a mais jovem e a única não britânica. A cada quinzena nos reuníamos na sala de permanência de cada um dos três professores para apresentar e discutir uma interpretação de poesia metafísica, de peças do teatro jacobino, e mais especificamente, as de Thomas Middleton, que o Prof. Kenneth Muir estava editando. Era pré-computação, passávamos os dias na biblioteca, lendo os originais em microfichas e datilografando os trabalhos a serem apresentados. Sem qualquer orientação, o que me valeu nesse período de tanto desafio foi a confiança depositada em mim pelo Prof. Muir.

Mais tarde, já docente da UFRJ, comecei a me dar conta de que aulas expositivas sobre os “entornos” da literatura (contexto, autor, biografia, movimentos, influências etc.) quando muito levavam os alunos a saberem “sobre”, mas não os ajudavam a se tornarem críticos independentes. Nas provas e nos trabalhos, parafraseavam críticos ou mesmo tentavam reproduzir o que havia sido dito em sala de aula. Foi quando em 1981 entrei em contato com a Estilística, de caráter mais formalista, no curso da Universidade de Lancaster, com Mick Short e Geoffrey Leech, entre outros. Entendi que era esse o caminho que estava a buscar. Em 1988, em Glasgow, mais um curso de Estilística, agora voltado para uma perspectiva contextualizada, com Colin MacCabe, Alan Durant, Sara Mills, Martin Montgomery, entre outros. De volta à UFRJ, comecei a elaborar material didático de estilística e a oferecer um curso optativo de sensibilização literária dentro da disciplina Inglês III. Apesar dos problemas departamentais, neste curso eu tinha liberdade de ação. E, para minha surpresa, os alunos pediram que o curso se tornasse obrigatório. Em 1990, ao assistir a uma palestra de John Sinclair, à época professor convidado na UFRJ, por acaso mostrei esse material. Novamente vi como a confiança que um professor deposita em um aluno frutifica. Ele me convidou a ingressar no doutorado da Universidade de Birmingham, e, sob sua orientação, sistematizar o que vim a chamar Conscientização Literária. Este foi um período de muitas trocas com colegas e professores nos vários seminários e encontros.

Após esse percurso de 50 anos, posso dizer que a semente da Conscientização Literária de fato nasceu quando líamos e interpretávamos as peças de Shakespeare e Gil Vicente, buscando na linguagem a justificativa para nossas atuações, e foi nutrida pela liberdade de ação, pelo compartilhamento de ideias, e pela confiança que os professores depositaram.

2. Como você concebe ‘estilo’ e ‘Estilística’ e o valor dessa disciplina para a educação linguística e literária, pensando na sociedade em geral?

Sonia Zyngier: Quando falamos em “estilo”, é preciso diferenciar o uso do termo no seu sentido mais amplo e quando aplicado à linguagem. Em termos gerais, “estilo” significa o que caracteriza algo, como o modo de se vestir, um padrão de comportamento e expressão, ou mesmo a forma que certo objeto adquire. Em todas essas acepções está implícita a atitude ou emoção das pessoas envolvidas no processo de criação, o que justifica a frase de Georges-Louis Leclerc, conde de Buffon, em 1753: “Le style c’est l’homme même” (“O estilo é o próprio indivíduo”). Em termos de linguagem, estilo se define como uma forma singular de se expressar, que caracteriza a escrita ou fala de alguém. Cabe à Estilística estudar essas escolhas de linguagem e entender como o texto ou a fala foi construído/a, qual a motivação, a finalidade e o efeito obtido (VERDONK, 2002VERDONK, P. (2002). Stylistics. Oxford: Oxford University Press.). Nesse sentido, hoje vemos a Estilística de forma mais abrangente do que a definição de Halliday (1971)HALLIDAY, M. A. K. (1971). Linguistic function and literary style: An inquiry into the language of William Golding’s The Inheritors. In: Chatman, S. (ed.). Literary Style: A Symposium. London and New York: Oxford University Press, p. 330-368., que a define como o estudo da linguagem de textos literários. É preciso considerar-se como textos escritos ou falados (em qualquer meio) funcionam em seu contexto de uso e na forma como os indivíduos interagem. A Estilística analisa os aspectos discursivos e contextuais de determinados textos (CARTER; NASH, 1990CARTER, R.; NASH, W. (1990). Seeing through language: a guide to styles of English writing. Oxford: Basil Blackwell.), geralmente aqueles aspectos proeminentes que respondem por certo efeito no leitor. Mais especificamente, a Estilística atualmente é concebida como um método de interpretação textual, mais utilizado, mas não exclusivamente, em textos literários. Cito aqui Simpson (2004SIMPSON, P. (2004). Stylistics: A resource book for students. London and New York: Routledge., p. 3):

É a gama completa do sistema de linguagem que torna todos os aspectos do ofício de um escritor relevantes na análise estilística. Além disso, a estilística está interessada na linguagem como uma função de textos em contexto, e reconhece que enunciados (literários ou não) são produzidos em um tempo, um lugar e em um contexto cultural e cognitivo [...] Quanto mais completa e sensível ao contexto a descrição da linguagem for, mais completa será a análise estilística resultante.2 2 No original: It is the full gamut of the system of language that makes all aspects of a writer’s craft relevant in stylistic analysis. Moreover, stylistics is interested in language as a function of texts in context, and it acknowledges that utterances (literary or otherwise) are produced in a time, a place, and in a cultural and cognitive contexts […] The more complete and context-sensitive the description of language, then the fuller the stylistics analysis that accrues.

Assim concebida, a Estilística se torna essencial para a compreensão de como a comunicação se dá e como certos padrões de linguagem cumprem funções emocionais, estéticas e epistêmicas. Na educação literária, os alunos aprendem estratégias que lhes permitem construir interpretações críticas e autônomas, ao mesmo tempo coerentes e fundamentadas em evidências discursivas. Quando aplicada a outras áreas, como a Linguística Forense, por exemplo, a Estilística é importantíssima. Ao mostrar que determinada fala é uma transcrição editada e não necessariamente a fala de alguém, ela pode fornecer subsídios que levem à absolvição de um condenado. Na psicanálise, se o terapeuta perceber os padrões de linguagem utilizados pelo paciente, ele poderá ter acesso a níveis mais profundos do inconsciente. É importante lembrar aqui que, quando o terapeuta relata um caso em uma reunião científica, este relato já não mais reflete o discurso do paciente. Da mesma forma, um estilólogo pode ler nas entrelinhas de um pronunciamento político e compreender as implicações do que não está sendo dito. Um exemplo de abrangência da abordagem estilística é a coletânea editada por Virdis et al. (2021)VIRDIS, D. F.; ZURRU, E.; LAHEY, E. (ed.). (2021). Language in place: Stylistic perspectives on landscape, place and environment. Amsterdam: John Benjamins., que focaliza uma variedade de gêneros, incluindo poesia, prosa, a Bíblia, artigos de jornal, nomes de condomínio, textos virtuais e explicativos em exposições. Como metodologia, os estudos usam análise de corpus, estudos de metáfora, Teoria de Mundo Textual e Ecoestilística, sempre com o objetivo de ver como a paisagem, o local e o ambiente se inserem no discurso, apontando para a necessidade de uma estilística sensível às questões ambientais. Ou seja, tanto na educação literária quanto nas mais diversas atividades sociais, a Estilística tem papel fundamental.

ESTILÍSTICA E LINGUÍSTICA APLICADA

3. Considerando que “as definições padrão de Estilística e de Linguística Aplicada começaram a se desfazer, mas de forma muito produtiva” 3 3 No original: Standard definitions of stylistics and applied linguistics have begun to leak but in the most productive of ways. (CARTER, 2014CARTER, R. (2014). Stylistics as applied linguistics. In: Stockwell, P; Whiteley, S. (ed.). The Cambridge Handbook of Stylistics. Cambridge: Cambridge University Press, p. 77-86., p. 78) e, tendo em vista a interdisciplinaridade da Estilística (JEFFRIES; MCINTYRE, 2010JEFFRIES, L.; MCINTYRE, D. (2010). Stylistics. Cambridge: Cambridge University Press.) ou até mesmo a sua “indisciplinaridade” (SORLIN, 2014SORLIN, S. (2014). The ‘indisciplinarity’ of stylistics. Topics in Linguistics, v. 14, n. 1, p. 9-15.), como você concebe a relação entre Estilística, Teoria Literária e Linguística Aplicada? Quais áreas contribuem para a Estilística? Quais as contribuições da Estilística para outras áreas?

Sonia Zyngier: De fato, a Estilística não segue regras fixas nem obedece a parâmetros pré-determinados. Ela está em constante transformação, nutrindo-se da transgressão e se caracterizando por sua porosidade. As metáforas mais comuns entre estilólogos, quando definem a área, são as da construção de pontes e da fertilização cruzada. Um exemplo de um campo que vem influenciando a Estilística é o da Psicologia Cognitiva, que levou ao advento da Poética Cognitiva (TSUR, 1992TSUR, R. (1992). Toward a Theory of Cognitive Poetics. Amsterdam: Elsevier.; TSUR; GAFNI, 2022TSUR, R.; GAFNI, C. (2022). Sound-Emotion Interaction in Poetry: Rhythm, Phonemes, Voice Quality. Amsterdam: John Benjamins.) e da Estilística Cognitiva (STOCKWELL, 2015STOCKWELL, P. (2015). Cognitive Stylistics. In: Jones, R. (ed.). The Routledge Handbook of Language and Creativity. London: Routledge, p. 233-245.), que buscam uma teoria para entender como os processos mentais e afetivos se dão tanto no momento da criação poética quanto no da resposta do leitor. Já não se pode restringir a análise estilística somente à observação de padrões de linguagem, como foi feito na década de 1970. A criatividade do leitor e do autor quando processam cognitiva e emocionalmente um texto também requer estudo e sistematização. Vejamos o esclarecimento que Stockwell, um dos grandes defensores da Estilística Cognitiva, oferece (2015, p. 235):

Segundo pesquisadores de estilística cognitiva, o estilo é a escolha criativa de um autor, baseando-se nas capacidades que a linguagem oferece e restringe. Aproveitando essas mesmas capacidades de linguagem e compartilhando o que pode ser amplamente chamado de sua condição humana, os leitores também se envolvem na reconstrução criativa e na construção imaginativa ao ler a literatura. Estilística cognitiva ou poética cognitiva (usarei os termos alternadamente) é, portanto, central e inerentemente uma disciplina que explora a criatividade literária em todos os seus aspectos.4 4 No original: For cognitive stylistics researchers, style is the creative choice of an author, drawing upon the capacities that language affords and constrains. Drawing on those same language capacities, and sharing what might broadly be called their human condition, readers also engage in creative reconstruction and imaginative construction when reading literature. Cognitive stylistics or cognitive poetics (I will use the terms interchangeably) is thus centrally and inherently a discipline that explores literary creativity in all its aspects.

Em outras palavras, a Estilística Cognitiva se nutre dos estudos de Psicologia Cognitiva para entender de forma sistematizada a cognição e a emoção no ato da criação e da leitura de um texto literário. Portanto, os aspectos formais da língua estão intimamente ligados a mecanismos de processamento mental e a influências ambientais e da experiência do indivíduo.

Outra relação íntima e produtiva da Estilística sempre foi com a Linguística Aplicada, especialmente nas áreas de Análise Crítica do Discurso e de ensino de língua. De uma maneira geral, a Linguística Aplicada se volta para questões de uso da linguagem em situações reais de comunicação, recorrendo a diferentes disciplinas como a antropologia, a sociologia, entre outras, para observar como as trocas ocorrem, por exemplo, nas mais diversas relações de trabalho, na tradução, nas cortes de justiça, nos consultórios, ou seja, onde houver comunicação entre as pessoas. Voltando-se mais especificamente, mas não exclusivamente, para a comunicação literária, a Estilística estuda a construção de textos e sua recepção nos mais variados meios e observa como o discurso é usado de forma criativa para causar determinado efeito. Por exemplo, a coletânea editada por Bell et al. (2021)BELL, A.; BROWSE, S.; GIBBONS, A.; PEPLOW, D. (ed.). (2021). Style and reader response: Minds, media, methods. Amsterdam: John Benjamins. oferece estudos teóricos e metodológicos sobre recepção dos mais variados discursos, caracterizando-se pela multimodalidade, multidisciplinaridade e diversidade de métodos empíricos em Estilística. Portanto, não se pode estabelecer com nitidez fronteiras entre essas duas áreas. Quando voltadas para a educação, a Estilística vai além da questão da aquisição de linguagem para trabalhar a criatividade e a autonomia interpretativa. Nesse sentido, os estudos de Martin Buber, Paulo Freire, Ira Shor, entre outros filósofos e educadores, têm se mostrado muito relevantes (ZYNGIER, 2021ZYNGIER, S. (2021). Vivências em literatura: formação de leitores, discurso e pesquisa. São Paulo: Editora Dialética.) para se entender a necessidade de autonomia do aluno, o diálogo constante e o papel do professor como mediador.

Com relação à Teoria Literária, as linhas divisórias são mais evidentes. Desde o manifesto da Estilística moderna, lançado por Jakobson na Conferência de Indiana em 1958 (1960JAKOBSON, R. (1960). Closing statement: linguistics and poetics. In: SEBEOK, T. A. (ed.). Style in language. Cambridge, Massachusetts: MIT Press, p. 350-377.), os estilólogos têm entrado em disputas frequentemente acaloradas com teóricos e críticos literários, por exemplo, os debates entre Fowler e Bateson (1967FOWLER, R.; BATESON, F. W. (1967). Argument II. Literature and linguistics. Essays in Criticism, v. 17, p. 322-347.; 1968FOWLER, R.; BATESON, F. W. (1968). Argument II (continued): Language and literature. Essays in Criticism, v. 18, p. 164-182.) e entre Short et al. (1988)SHORT, M.; FREEMAN, D.; VAN PEER, W.; SIMPSON, P. (1988). Stylistics, criticism and mythrepresentation again: squaring the circle with Ray Mackay’s subjective solution for all problems. Language and Literature, v. 7, n. 1, p. 39-50. e Mackay (1996MACKAY, R. (1996). Mything the point: A critique of objective stylistics. Language and Communication, v. 16, n. 1, p. 81-93.; 1999MACKAY, R. (1999). There goes the other foot: a reply to Short et al. Language and Literature, v. 8, n. 1, p. 59-66.). Essas controvérsias foram bastante relatadas, entre outros, por Sotirova (2021)SOTIROVA, V. (2021). Pedagogical stylistics and the integration of literary and linguistic criticism. In: Zyngier, S.; Watson, G. (ed.). Pedagogical Stylistics in the 21st Century. London: Palgrave/Macmillan, p. 31-53.. A Teoria Literária, de base hermenêutica, tece diálogos e narrativas em torno das questões literárias, constrói historiografias, descreve correntes, traça paralelos e revela influências, mas não oferece uma metodologia empírica para justificar as interpretações. Nesse sentido, a Estilística tem muito a contribuir, já que oferece uma base científica para que os estudiosos de literatura possam validar ou refutar suas hipóteses. No entanto, o diálogo entre essas duas áreas tem sido muito difícil de ser estabelecido, haja vista os esforços da Ciência Empírica da Literatura, que vem tentando mostrar desde 1980 como validar interpretações literárias tomando emprestado métodos científicos das ciências sociais. Os artigos publicados nos números do periódico Scientific Study of Literature mostram que muito já foi feito nesse sentido, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido, até que se possa vencer essa resistência e se estabelecer um diálogo produtivo.

4. Dentre as diversas especialidades em Estilística, você tem atuado principalmente na Estilística Pedagógica (CLARK; ZYNGIER, 2003CLARK, U.; ZYNGIER, S. (2003). Towards a pedagogical stylistics. Language and Literature, v. 12, n. 4, p. 339-351.). Quais as principais características da Estilística Pedagógica e como essa especialidade se desenvolveu desde a sua concepção?

Sonia Zyngier: Em 1989, Carter já utilizava essa locução, mas em referência à utilização da Estilística em contextos educacionais. Apesar da vasta quantidade de material didático disponível, em 1997, junto com Urszula Clark, observamos a necessidade de pesquisas que avaliassem a prática. A partir da nossa proposta (CLARK; ZYNGIER, 2003CLARK, U.; ZYNGIER, S. (2003). Towards a pedagogical stylistics. Language and Literature, v. 12, n. 4, p. 339-351.), McIntyre (2011)MCINTYRE, D. (2011). The place of stylistics in the English curriculum. In: Jeffries, L.; McIntyre, D. (ed.). Teaching Stylistics. Basingstoke: Palgrave/English Subject Centre, p. 9-29. sugeriu que se distinguisse a “pedagogia da estilística”, ou como ensinar estilística, que compreende os mais diversos métodos e técnicas, como as Oficinas de Conscientização Literária, e a pesquisa sobre essas técnicas e métodos estilísticos em sala de aula, ou seja, a “Estilística Pedagógica”. Para mim, os termos são intercambiáveis. Prefiro usar a mesma locução tanto para sua vertente aplicada quanto para a corrente investigativa. Em outras palavras, a questão primordial é não só sensibilizar o aluno às sutilezas das escolhas linguísticas do autor e os efeitos que estas escolhas produzem (HALL, 2014HALL, G. (2014). Pedagogical stylistics. In: Burke, M. (ed.). The Routledge Handbook of Stylistics. Oxon & New York: Routledge, p. 239-252.; ZYNGIER, 2006ZYNGIER, S. (2006). Stylistics: Pedagogical applications. In: Brown, K. (ed.). Encyclopedia of language and linguistics, v. 12. Amsterdam: Elsevier Science, p. 226-232.), como também verificar a eficácia da proposta pedagógica de forma sistematizada. Por exemplo, nas oficinas de Conscientização Literária (ZYNGIER, 1994ZYNGIER, S. (1994). Introducing literary awareness. Language Awareness, v. 3, n. 2, p. 95-108.), os alunos respondem aos efeitos produzidos por certos padrões de linguagem em vários níveis e funções (grafológico, fonológico, lexical, gramatical, sintático, semântico e pragmático), e, a partir das descrições linguísticas, buscam evidências que fundamentem suas reações e interpretações. Eles também são estimulados a perceber os padrões que estão ausentes. Aprendem a formular perguntas como: Qual o efeito desse texto em mim? Por que reagi assim? Por que o autor usou esse padrão e não outro? Como a combinação desses sons, palavras, expressões, registro etc. resulta em determinado efeito? Quanto mais expostos a este tipo de abordagem, mais experientes os alunos serão para formular suas análises. Além de exercitarem a capacidade crítica com base em evidências textuais, eles também se tornam mais proficientes no uso da linguagem, tanto materna quanto estrangeira/adicional. Para chegar a afirmações como as que acabei de fazer, elaboramos estudos empíricos que apontam esses resultados (cf. ZYNGIER; VIANA, 2016ZYNGIER, S.; VIANA, V. (2016). Literary awareness in a high school EFL learning environment: an empirical evaluation. In: Burke, M.; Fialho, O.; Zyngier, S. (ed.). Scientific Approaches to Literature in Learning Environments. Amsterdam: John Benjamins, p. 271-302.; VIANA; ZYNGIER, 2017VIANA, V.; ZYNGIER, S. (2017). Exploring new territories in pedagogical stylistics: An investigation of high-school EFL students’ assessments. Language and Literature, v. 26, p. 300-322.; 2020VIANA, V.; ZYNGIER, S. (2020). Language-literature integration in high-school EFL education: investigating students’ perspectives. Innovation in language learning and teaching, v. 14, p. 347-361.; entre outros).

O fato é que o uso da Estilística para fins pedagógicos precede a vertente investigativa. Em 1975, Widdowson publicou uma obra seminal sobre como e por que ensinar Estilística, enquanto na introdução à coletânea de ensaios editada por Brumfit (1983), Gilroy-Scott (1983GILROY-SCOTT, N. (1983). Introduction. In: Brumfit, C. J. (ed.). Teaching literature overseas: Language-based approaches. University of London Institute of Education. Oxford: Pergamon Press, p. 1-6., p. 1) observou e previu que a abordagem comunicativa ao ensino de língua estrangeira iria recomendar o uso de textos literários em sala de aula como uma fonte rica de uso de linguagem e criatividade (para maiores detalhes sobre o desenvolvimento da Estilística Pedagógica, ver ZYNGIER, 2021ZYNGIER, S. (2021). Vivências em literatura: formação de leitores, discurso e pesquisa. São Paulo: Editora Dialética.). Hoje, no Brasil, essa recomendação se reflete inclusive com relação ao ensino de língua materna (vide Base Nacional Comum Curricular, 2018BRASIL. (2018). Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília., p. 499):

Como linguagem artisticamente organizada, a literatura enriquece nossa percepção e nossa visão de mundo. Mediante arranjos especiais das palavras, ela cria um universo que nos permite aumentar nossa capacidade de ver e sentir. Nesse sentido, a literatura possibilita uma ampliação da nossa visão do mundo, ajuda-nos não só a ver mais, mas a colocar em questão muito do que estamos vendo e vivenciando (nossa ênfase).

Essa definição tem sido criticada pelos estudiosos das áreas de literaturas, mas por não atender à diversidade de leitores brasileiros em formação, como apontam Morais e Machado (2021MORAIS, G.; MACHADO, R. C. M. S. (2021). O ensino de literaturas na base nacional comum curricular do ensino médio: apontamentos críticos. Caletroscópio, v. 9, n. 2, p. 126-138., p. 136):

A Base Nacional Comum Curricular (2018BRASIL. (2018). Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília.) analisada traz contribuições favoráveis se comparada aos documentos antecessores, como os PCNs e as OCEM. No entanto, observamos que, certamente, a BNCC precisa de uma evolução, principalmente no campo artístico literário, do modo que traga referências que representem os sujeitos subalternizados e as diversidades de um país como o Brasil. Além disso, seria imprescindível que o documento trouxesse de forma mais clara o que fazer com as habilidades que nele estão expostas, com apontamentos pragmáticos para que o professor seja mais bem norteado e possa suprir possíveis falhas na formação que teve durante a sua formação.

Em suma, hoje há muitos avanços e são inúmeros os livros didáticos que aplicam a Estilística em contextos pedagógicos, mas a aplicação adequada aos diferentes contextos e os estudos empíricos sobre o que de fato ocorre, principalmente do ponto de vista dos alunos, ainda precisam ser mais explorados (ver também HALL, 2014HALL, G. (2014). Pedagogical stylistics. In: Burke, M. (ed.). The Routledge Handbook of Stylistics. Oxon & New York: Routledge, p. 239-252., p. 248).

5. Como a Estilística pode contribuir para interpretações mais fundamentadas em evidências?

Sonia Zyngier: Essa pergunta é muito abrangente, mas amplos são também as aplicações e os benefícios da Estilística Pedagógica. Na resposta anterior, afirmei que ainda precisamos de mais estudos empíricos na área. No entanto, aqueles com os quais já contamos mostram que a Estilística promove a criatividade na escrita do aluno (vide, por exemplo, alguns dos ensaios da coletânea editada por DISNEY, 2014DISNEY, D. (ed.). (2014). Exploring second language creative writing. Amsterdam: John Benjamins.). Uma vez que os alunos conseguem perceber os padrões de linguagem reponsáveis por determinados efeitos, eles terão adquirido conhecimento e estratégias para criar seus próprios textos. Quando isso ocorre, eles serão igualmente capazes de encontrar evidências para justificar suas interpretações em outros textos. Nesse sentido, aumentam seu repertório e estabelecem mais vínculos entre linguagem, práticas sociais e arte verbal. Como afirma Pope (1995POPE, R. (1995). Textual Intervention: Critical and Creative Strategies for Literary Studies. London: Routledge., p. 1), “a melhor maneira de entender como um texto funciona... é mudá-lo: brincar com ele, interferir de alguma forma (muito ou pouco), e então tentar explicar o efeito exato daquilo que você fez”. 5 5 No original: the best way to understand how a text works ... is to change it: to play around with it, to intervene in it in some way (large or small), and then to try to account for the exact effect of what you have done.

Quando utilizado o método da Linguística de Corpus, o aluno pode buscar verificar se afirmações intuitivas de críticos ou suas próprias hipóteses podem ser refutadas ou confirmadas. A Linguística de Corpus disponibiliza métodos e ferramentas para se trabalhar grandes quantidades de texto, o que não seria possível por meio de uma leitura convencional. Ou seja, o computador oferece acesso a muito mais unidades de significado. O aluno identifica padrões, determina normas, observa quais interpretações podem ser validadas e mostra evidências que podem ser verificadas. Analisando os padrões de linguagem, é capaz de perceber por si só o estilo de um autor, compará-lo a outros, verificar quais os usos de determinada época, o que é idiossincrático etc. Iríamos precisar de outra entrevista se quisermos nos aprofundar na questão da Estilística de Corpus. Vou me limitar ao aspecto pedagógico e dizer que ela dá mais liberdade ao aluno para ser um pesquisador independente. Ele pode decidir o que investigar, aprender a formular perguntas, fazer novas descobertas, e interpretar com base nas diversas perspectivas e modelos teóricos da Estilística.

6. Considerando a formação de estudantes e pesquisadores, o que é necessário para ser um estilólogo?

Sonia Zyngier: O estilólogo não é o professor que aplica métodos da Estilística, mas aquele que utiliza métodos científicos para entender relações discursivas, mais especificamente o que o processo de criação, de leitura e de intepretação de textos envolve. Para Carter (1989b)CARTER, R. (1989b). What is stylistics and why can we teach it in different ways? In: Short, M. (ed.). Reading, analysing and teaching literature. London: Longman, p. 161-177., a posição do estilólogo é extremamente desconfortável, pois se encontra em cima do muro que divide as áreas de Língua e de Literatura. No meu entender, essa posição é, na verdade, privilegiada, pois o deixa enxergar mais longe. É da natureza do estilólogo estar a par dos desenvolvimentos nas diversas áreas da Linguística e saber trabalhar interdisciplinarmente, construindo pontes e fazendo novas interligações, como com os estudos de Neurociência e Cognição, fontes nas quais a Estilística Cognitiva se nutre. Assumindo uma postura cuidadosa perante o que não sabe, busca, na medida do possível, a precisão na análise, evitando interpretações impressionistas e subjetivas, descrevendo a metodologia em detalhe. Claro que não se pode escapar de algum grau de subjetividade. No entanto, os passos metodológicos deverão ser passíveis de replicação e verificação. Conforme explica Carter (1989a, p. 16)CARTER, R. (1989a). Directions in the teaching and the study of English stylistics. In: Short, M. (ed.). Reading, Analysing and Teaching Literature. London: Longman, p. 10-21, o estilólogo “estabelece modelos analíticos provisórios de poder preditivo o suficiente para fornecer um processo de análise continuamente refinado e teoricamente autoconsciente”. 6 6 No original: the setting up of provisional analytical models of sufficient predictive power to provide for a process of continually refined and theoretically self-aware analysis. O estilólogo não emite verdades universais porque tem noção de que as interpretações serão sempre provisórias e dependerão do modelo analítico adotado. Esse rigor metodológico o distancia da natureza impressionista que caracteriza muitos estudos literários. Independentemente da moldura teórica que assuma, o estilólogo buscará sempre chegar a interpretações e críticas baseadas em evidências.

ESTILÍSTICA E OS CENÁRIOS NACIONAL E INTERNACIONAL

7. O que é a Associação de Poética e Linguística? Qual a história de sua criação? Quais são seus objetivos e atividades? Quais áreas de estudo são contempladas pela Associação? Como ocorreu seu primeiro contato com a Associação de Poética e Linguística e, como atuou na associação desde então? Qual o papel da associação na internacionalização de suas pesquisas e seus efeitos em sua prática local?

Sonia Zyngier: De acordo com as informações obtidas no site e na Constituição da Associação, a Poetics and Linguistics Association (PALA) é uma organização internacional, independente, apolítica, com o objetivo de promover e apoiar estudiosos de Estilística, Poética e áreas ligadas à Língua e à Linguística. Dentre seus interesses específicos encontram-se Narratologia, literariedade, Linguística Literária, Estilística e Pedagogia, Análise Crítica do Discurso, Gênero e Escrita, Tradução Literária, Linguística e Filosofia, Metáfora, Cognição, Pragmática, Linguística Textual e Estilística de Corpus.

Meu primeiro contato se deu em 1981, quando participei de um curso oferecido pelo Conselho Britânico e a Universidade de Lancaster. Os coordenadores Short e Candlin (1989)SHORT, M.; CANDLIN, C. (1989). Teaching study skills for English literature. In: Short, M. (ed.). Reading, analysing and teaching literature. London: Longman, p. 178-203. descreveram o curso, inclusive citando um trabalho que desenvolvi após essa experiência.7 7 Vide no original: “Once again feedback was extremely positive; indeed, one of the 1981 participants has since used the techniques developed in the drama section of the stylistics unit as the basis for an article in a Brazilian scholarly journal” (SHORT; CANDLIN, 1989, p. 188). Justamente no ano anterior ao curso, Ronald Carter, Roger Fowler, Geoffrey Leech, Mick Short, Peter Verdonk, Katie Wales, entre outros, se reuniram numa sala da biblioteca da Universidade de Nottingham e resolveram fundar uma associação voltada à integração entre Língua e Literatura. Em 1981 me associei, acompanhando sempre os trabalhos pelo primeiro jornal, Parlance, mas somente em 1994 comecei a participar das conferências. Atualmente, as principais atividades da Associação são as conferências anuais e a publicação do periódico Language and Literature, de cujo Conselho Editorial sou membro há muitos anos. Participei de mais de quinze encontros, com o apoio da FAPERJ e da John Benjamins, e hoje posso dizer que estabeleci grandes laços de amizade. PALA é mais do que uma Associação. É uma grande família acadêmica. Além da colaboração e troca genuína que ocorre durante as conferências, os colegas criam laços afetivos, tão necessários para uma boa convivência. Fui eleita Secretária da PALA e durante alguns anos pude conviver de perto com toda a organização. Com a falta de subsídios para viajar, somente em 2021 pude participar novamente da conferência na Universidade de Nottingham, já que o encontro se deu por meio virtual. De qualquer forma, os contatos estabelecidos na PALA têm sido muito relevantes até hoje. Pude convidar vários professores para ministrarem cursos na UFRJ (Ronald Carter, John McRae, Willie van Peer, Frank Hakemulder, Paul Simpson, entre outros) e participarem dos encontros do Grupo Internacional REDES, que fundei e coordenei por 10 anos. Trabalhos de alguns alunos foram inclusive aceitos para apresentação em conferências da PALA e do IGEL (The International Society for the Empirical Study of Literature),8 8 Mais informações em: https://igelsociety.org/ o que resultou em bolsas de doutorado no exterior para alguns deles. Foram muitas as publicações em parceria com os professores e os alunos, a quem chamamos de jovens pesquisadores. Em suma, 40 anos de contato com outros membros da PALA e outros tantos com membros do IGEL foram importantíssimos para mim, para a UFRJ, para a ABRAPUI e para alunos de graduação e pósgraduação sob minha orientação.

8. Em 2001, início deste século, seu capítulo intitulado “Who’s afraid of stylistics?” problematiza o que parece ser um “medo” de pesquisadores no cenário brasileiro de desenvolverem pesquisas nesta área, devido a concepções equivocadas sobre a Estilística e supostas dificuldades em se definir ou analisar o ‘estilo’. Após duas décadas, esse “medo” persiste? Como você avalia o desenvolvimento da Estilística no cenário brasileiro? E no cenário internacional?

Sonia Zyngier: Apesar do rico cenário internacional e da minha atuação nele durante 40 anos, me dou conta de que a resistência à Estilística no Brasil é muito grande. Poucos são os alunos que deram continuidade à Conscientização Literária e à pesquisa na área de Estilística. A maioria se volta aos estudos de ensino de língua. Na década de 1990 formou-se um grupo de pesquisadores para discutir a questão do ensino de literatura (STEVENS; CUNHA, 2003STEVENS, C. M. T.; CUNHA, M. J. C. (2003). Caminhos e colheita: ensino e pesquisa na área de inglês no Brasil. Brasília: UnB.), mas pelas mais variadas circunstâncias, entre elas a resistência à Estilística, questões de política institucional e de fomento, o grupo não foi adiante. Restaram algumas teses e publicações que se preocuparam com o ensino de literatura em geral, mas não houve em momento algum um grupo de pesquisadores em Estilística Pedagógica. A produção internacional continua forte, inclusive em países do Oriente Médio e do Leste Europeu, mas no Brasil esse dia ainda há de chegar. Em outras palavras, a Estilística ainda não frutificou no Brasil não por questões sociais ou culturais que possam influenciar o ensino de literaturas de forma diversa aqui. De fato, epistemologias e teorias vão variar de acordo com diferentes realidades sociais, culturais e econômicas. Isso se aplica à educação em geral. Mas no Brasil, a Estilística não ganhou ainda espaço devido a questões de políticas universitárias e de priorização de determinados campos, em detrimento de outros, principalmente pelas políticas das agências de fomento, onde a Estilística não encontra um nicho definido. Ela trabalha na interface entre língua e literatura. Além disso, pesquisas sobre metodologia de ensino de literatura nas Faculdades de Letras, ao contrário do ensino de línguas, não são valorizadas. São poucos os grupos de estudo. Gostaria de lembrar que contextos como os da África, Índia, Arábia Saudita, Paquistão, dentre outros, também têm diferenças sociais e culturais, mas os centros de estudo valorizam a Estilística, incluindo aqui o estudo da linguagem literária ou não (vide anúncios, editoriais etc) como metodologia para sensibilizar o leitor em formação ao uso da linguagem para determinados fins, sejam eles artísticos ou não.

9. Existe um desideratum para a Estilística? Quais seriam os seus caminhos futuros?

Sonia Zyngier: Creio que o aumento do interesse em pesquisas baseadas em evidência e não em opiniões ou narrativas deverá fortalecer cada vez mais a atuação da Estilística na área de Humanas (VIANA; ZYNGIER, 2020ZYNGIER, S. (2020). Postscript: Pedagogical Stylistics: Past and Future. Language and Literature, v. 29, n. 4, p. 446-453.). É importante deixar claro que não se trata aqui de um “positivismo dialogizado”9 9 “Que dados/pesquisas embasam essa afirmação? Tenho percebido, pelo contrário, uma ampliação de pesquisas que, inclusive, questionam essa polarização entre evidências e opiniões/narrativas. Há, aqui, um certo positivismo dialogizado” (comentário de parecerista anônimo). . Uma perspectiva não anula a outra. As narrativas às quais me refiro podem conviver com pesquisas científicas. São visões diferentes e não são mutuamente excludentes. Por exemplo, uma interpretação pessoal de uma obra literária continua sendo o que é: um trabalho de hermenêutica. Já estudos calcados, por exemplo, em levantamento linguístico com base em um corpus, ou de um só texto, mas observando-se os padrões linguísticos que justifiquem certo efeito, podem levar a interpretações baseadas em dados e não em narrativas pessoais. A subjetividade em ambas as abordagens permanece, mas aquela que é baseada em evidência pode ser justificada. A Estilística favorece a utilização de métodos científicos para o estudo da literatura (vide os capítulos iniciais de van Peer et al (2012)VAN PEER, W.; HAKEMULDER, F; ZYNGIER S. (2012). Scientific methods for the humanities. Amsterdam: John Benjamins., em que essa falsa polarização é desfeita). Vários são os estudos que justificam uma abordagem empírica, como Paesani (2011)PAESANI, K. (2011). Research in Language-literature Instruction: Meeting the Call for Change? Annual Review of Applied Linguistics, v. 31, p. 161-181., Bloemert et al. (2019)BLOEMERT, J.; PARAN, A.; JANSEN, E.; VAN DE GRIFT, W. (2019). Students’ Perspective on the Benefits of EFL Literature Education. The Language Learning Journal, v. 47, n. 3, p. 371-384., Fogal (2015)FOGAL, G. (2015). Pedagogical Stylistics in Multiple Foreign Language and Second Language Contexts: A Synthesis of Empirical Research. Language and Literature, v. 24, n. 1, p. 54-72., Zyngier e Viana (2016)ZYNGIER, S.; VIANA, V. (2016). Literary awareness in a high school EFL learning environment: an empirical evaluation. In: Burke, M.; Fialho, O.; Zyngier, S. (ed.). Scientific Approaches to Literature in Learning Environments. Amsterdam: John Benjamins, p. 271-302., Hall (2021)HALL, G. (2021) Pedagogical Stylistics since 2007: A baker’s dozen. In: Zyngier, S.; Watson, G. (ed.). Pedagogical Stylistics in the 21st Century. London: Palgrave MacMillan, p. 3-29., entre outros.

Devido à sua plasticidade e capacidade de dialogar com diversas áreas, a Estilística vai continuar a desenvolver caminhos para chegar a novos conhecimentos sobre a linguagem na comunicação, seja ela literária ou não. A necessidade constante da compreensão do papel da arte e da educação, a preocupação atual da relação do indivíduo com o meio ambiente, as pesquisas sobre processos de cognição, as questões de gênero, das minorias, e da organização política e social, que hoje ocupam as pautas dos pesquisadores das diferentes áreas, necessariamente já estão entrando na agenda da Estilística. Tendo em vista as novas diretrizes curriculares nacionais, creio que os cursos de formação de professores de literatura seriam muito beneficiados (ver MENEZES; ZYNGIER, 2022MENEZES, D.; ZYNGIER, S. (2022). A literatura na sala de aula: estudo empírico sobre a formação do professor. In: Andrade, A. (org.). Leitura literária em línguas estrangeiras/adicionais: diferentes perspectivas. Campinas, São Paulo: Pontes Editores, p. 105-132.). A pergunta que fica é se haverá espaço para estilólogos nas universidades brasileiras.

Sem uma formação continuada de professores e de pesquisadores nenhuma área avança. Pelo contrário, estiola e tende a cair no esquecimento. É preciso que as instituições apoiem e promovam grupos de trabalho, programas de ensino, oficinas de sensibilização literária Brasil afora para que essa semente que tentamos plantar brote, se multiplique, e vá se adaptando de acordo com as circunstâncias e necessidades de cada contexto. Durante mais de 30 anos a Conscientização Literária e as pesquisas publicadas nessa área têm mostrado como se podem sensibilizar leitores para o encontro com os mais diversos textos. Eles aprendem por si só como viver a literatura e como entender o mundo. Percebem não só a maestria da arte verbal, mas também como se pode usar a linguagem para os mais diversos fins. O ser humano depende da interação verbal. Precisamos unir esforços no sentido de capacitar as novas gerações a continuarem a trajetória, a partir de uma postura crítica que permita a visão do percurso sendo traçado. Quem sabe isso nos levará a entender melhor o que pensa e sente o outro?

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sonia Zyngier nos faz refletir sobre uma trajetória de pesquisa e ensino que primou pela integração de perspectivas em oposição à segregação que comumente ocorre entre língua e literatura em pesquisas e instituições de ensino. A Estilística, enquanto disciplina integrativa dos estudos da linguagem, congrega abordagens linguísticas não só para a literatura, mas para os mais diversos tipos de texto, o que caracteriza a sua poliedricidade teórica e metodológica. A título de exemplificação, estudos em Estilística incluem as seguintes vertentes: estruturalista, gerativista, funcionalista, pragmática, discursiva, cognitiva, empírica, crítica, pedagógica, feminista, dentre outras (cf. SOTIROVA, 2016SOTIROVA, V. (ed.). (2016). The Bloomsbury Companion to Stylistics. London: Bloomsbury.). Essa diversidade faz da Estilística uma grande aliada, não só para a interpretação de textos, mas também para o desenvolvimento de propostas pedagógicas para o ensino-aprendizagem de língua e literatura, escrita criativa, tradução, dentre tantos outros contextos em que escolhas linguísticas e os efeitos dessas escolhas têm primazia. Essa responsividade da Estilística aos mais diversos contextos de usos da linguagem a torna particularmente relevante para a Linguística Aplicada.

Além disso, Zyngier também nos faz pensar sobre a função humanizadora da literatura, que propicia aos leitores o contato com outras formas de conceber o mundo, a vida, as pessoas. Além de aspectos sociais e de usos criativos da linguagem, emoção e empatia, por exemplo, são questões que textos literários suscitam e que podem ser exploradas para o desenvolvimento de habilidades cognitivas, sociais e de compreensão intersubjetiva. Isso faz do trabalho com o texto literário e sua linguagem um aspecto de grande importância para a educação. Em tempos de especializações cada vez mais estreitas, as palavras de Zyngier soam como um bálsamo para aqueles que se sentem incomodados em ter de escolher um lado apenas do muro que insiste em separar língua e literatura. Ficar em cima do muro seria um privilégio, pois nos permitiria enxergar mais longe, como ela enfatiza, e integrar o melhor dos dois mundos. Assim, esperamos que o leitor, a partir das reflexões de Zyngier e das diversas referências bibliográficas apontadas, sinta-se motivado a se aproximar mais de uma integração linguístico-literária no ensino, na pesquisa e na extensão.

DECLARAÇÃO DE DISPONIBILIDADE DE DADOS DA PESQUISA

Não foram utilizados dados de pesquisa para a realização da entrevista.

  • 1
    Mais informações em: https://www.pala.ac.uk/.
  • 2
    No original: It is the full gamut of the system of language that makes all aspects of a writer’s craft relevant in stylistic analysis. Moreover, stylistics is interested in language as a function of texts in context, and it acknowledges that utterances (literary or otherwise) are produced in a time, a place, and in a cultural and cognitive contexts […] The more complete and context-sensitive the description of language, then the fuller the stylistics analysis that accrues.
  • 3
    No original: Standard definitions of stylistics and applied linguistics have begun to leak but in the most productive of ways.
  • 4
    No original: For cognitive stylistics researchers, style is the creative choice of an author, drawing upon the capacities that language affords and constrains. Drawing on those same language capacities, and sharing what might broadly be called their human condition, readers also engage in creative reconstruction and imaginative construction when reading literature. Cognitive stylistics or cognitive poetics (I will use the terms interchangeably) is thus centrally and inherently a discipline that explores literary creativity in all its aspects.
  • 5
    No original: the best way to understand how a text works ... is to change it: to play around with it, to intervene in it in some way (large or small), and then to try to account for the exact effect of what you have done.
  • 6
    No original: the setting up of provisional analytical models of sufficient predictive power to provide for a process of continually refined and theoretically self-aware analysis.
  • 7
    Vide no original: “Once again feedback was extremely positive; indeed, one of the 1981 participants has since used the techniques developed in the drama section of the stylistics unit as the basis for an article in a Brazilian scholarly journal” (SHORT; CANDLIN, 1989SHORT, M.; CANDLIN, C. (1989). Teaching study skills for English literature. In: Short, M. (ed.). Reading, analysing and teaching literature. London: Longman, p. 178-203., p. 188).
  • 8
    Mais informações em: https://igelsociety.org/
  • 9
    “Que dados/pesquisas embasam essa afirmação? Tenho percebido, pelo contrário, uma ampliação de pesquisas que, inclusive, questionam essa polarização entre evidências e opiniões/narrativas. Há, aqui, um certo positivismo dialogizado” (comentário de parecerista anônimo).

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Nov 2023
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2023

Histórico

  • Recebido
    06 Out 2021
  • Aceito
    02 Fev 2023
  • Publicado
    16 Maio 2023
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