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EXPERIÊNCIAS DE MULHERES. DESTINOS DE GÊNERO* * Este texto é o resultado de uma pesquisa realizada entre março e julho de 1986 em São Paulo, juntamente com Robert Cabanes (ORSTOM) e Marie Agnés Chauvel. Foi apresentado na mesa-redonda internacional sobre “Rapports sociaux de sexe: problématiques, méthodologiques, champs d’analyse” organizado pelo Atelier Production-Reproduction (APRE)/IRESCO/CNRS em Paris, novembro de 1987. Agradeço a Fundação Ford e a Fapesp que apoiaram distintos momentos deste trabalho e aos diretores e funcionários desta empresa que se dispuseram a colaborar na pesquisa.

Resumos

O objetivo deste texto é refletir sobre a construção da experiência de operárias de uma indústria de auto-peças de São Paulo, a partir de suas narrativas de vida. A análise de como as trabalhadoras pensam e representam as circunstâncias de sua vida e de seu trabalho se faz a partir da descrição do trabalho na fábrica, de suas trajetórias de vida e de suas trajetórias profissionais: o trabalho doméstico e o trabalho assalariado, as práticas familiares e a carreira, as relações familiares e o trabalho, a migração e os projetos para o futuro. O fio condutor desta reflexão é a interrogação sobre as condições de formação de uma experiência coletiva das operárias e sobre as formas de representação desta experiência. Como conclusão, busca estabelecer relações entre estas experiências e a idéia de destino, entre as práticas desenvolvidas na vida quotidiana e as representações que têm as operárias sobre si mesmas, sobre suas vidas e sobre as mulheres.

Mulheres operárias: experiências e representações; histórias de vida


This text’s objective is to analyze the construction of women workers’ experiences in the São Paulo auto-parts industry by examining their life stories. The analysis of how working women think and view their life circumstances and their work is based upon their descriptions of work in the factory, of their life and professional trajectories: domestic and wage labor, family practices and their careers, work and family relations, migration and future plans. This text’s unifying thread is an examination of the formation of working women’s collective experience and of the images resulting from that experience. In conclusion, it seeks to establish a relationship between those experiences and the idea of destiny, as well as between the practices developed in daily life and the images women workers have of themselves, of their lives, and of women in general.

Working women: experiences and images; life histories


Texto completo disponível em PDF.

  • *
    Este texto é o resultado de uma pesquisa realizada entre março e julho de 1986 em São Paulo, juntamente com Robert Cabanes (ORSTOM) e Marie Agnés Chauvel. Foi apresentado na mesa-redonda internacional sobre “Rapports sociaux de sexe: problématiques, méthodologiques, champs d’analyse” organizado pelo Atelier Production-Reproduction (APRE)/IRESCO/CNRS em Paris, novembro de 1987. Agradeço a Fundação Ford e a Fapesp que apoiaram distintos momentos deste trabalho e aos diretores e funcionários desta empresa que se dispuseram a colaborar na pesquisa.
  • 1
    Ver THOMPSON, E.P. A miséria da teoria . Rio de Janeiro, Zahar, 1981, p. 15.
  • 2
    Ver BARRINGTON MOORE JR. Injustiça . São Paulo, Brasiliense, 1987, p. 9.
  • 3
    Ver BARTHES, Roland. Introduction à l’analyse structurale des récits. Communications , Paris, n. 8, p. 1-27, 1966.
  • 4
    A fábrica B. situada num bairro industrial de São Paulo é uma empresa de porte médio, pertencendo a duas famílias de origem italiana. No momento da pesquisa a fábrica empregava aproximadamente 700 empregados dos quais 20% eram mulheres. A empresa familiar se desenvolvera com o milagre econômico dos anos 70, atravessara uma crise no início dos anos 80 e se beneficiava naquele momento de uma nova expansão. Os locais da fábrica eram bastante precários e antigos: um grande galpão abrigava várias seções, pequenos galpões agregados completavam o espaço onginal. No andar superior que contornava parte do local de trabalho com um corredor aberto, estavam pequenas salas para a administração e a parte do refeitório e banheiros, num bloco fechado com vidros. Os escritórios dos técnicos estavam instalados no meio e ao final do galpão principal. A produção da fábrica se centrava em auto-peças destinadas a algumas das principais montadoras da indústria automobilística.
  • 5
    Ver os retratos em anexo.
  • 6
    Nas três narrativas, as observações de Bourdieu sobre a estreita relação entre probabilidades objetivas e aspirações subjetivas não se revelam extremamente adequadas. Sobre isto ver BOURDIEU, Pierre. Esquisse d’une théorie de la pratique . Genève, Droz, 1972, p. 176.
  • 7
    Lembro as máquinas experimentadas pelas três operárias na fábrica B.: Luzia - tornos, furadeiras, fresas; Nair - prensas, furadeiras, fresas; Belisa - soldadeiras, furadeiras, fresas.
  • 8
    As CIPAS - espécies de comissões encarregadas de fiscalizar a segurança no trabalho são formadas por membros indicados pelas chefias e direção (50%) e eleitos pelos trabalhadores (50%). Na empresa B. funcionava uma só CIPA com 10 representantes. Conseqüentemente algumas seções não estavam representadas na CIPA.
  • 9
    Ver HUMPHREY, John. The growth of female employment in brazilian manufacturing industry in the nineteen seventies. Journal of development studies , 20 (3): 224-247. 1984.
  • 10
    Ver BORDIEU, Pierre. Esquisse d’une théorie de la pratique . Genève, Droz, 1972, p. 177.
  • 11
    Ver CHABAUD-RICHTER, Danielle; FOUGEYROLLAS-SCHWEBEL, Dominique; SONTHONAX, Françoise. Espaces et temps du travail domestique . Paris, Librairie des Méridiens, 1985.
  • 12
    BOURDIEU, Pierre. Le sens pratique . Paris. ed. Minuit, 1980, p. 88.
  • 13
    Utilizo aqui o conceito de classe como define THOMPSON, E.P.: “E a classe acontece quando alguns homens, como resultado de experiências comuns (herdadas ou partilhadas) sentem e articulam a identidade de seus interesses entre si e contra outros homens cujo interesses diferem (e geralmente se opõem) dos seus”, in: A formação de classe operária inglesa . São Paulo, Paz e Terra, 1987, p. 10. (vol. 1).
  • 14
    Ver THOMPSON, E.P. A miséria da teoria . Rio de Janeiro, Zahar, 1981, p. 194.
  • 15
    Identidade está aqui empregada como cnstalização e reconhecimento de uma experiência comum. Apesar da complexidade do conceito, mantenho o porque é operatório para esta análise tratando de utilizá-lo na acepção de HABERMAS, Jürgen. La reconstrución del materialismo histórico . Madrid, ed. Taurus, 1981, p. 22.
  • 16
    Ver BATTAGIOLA, Françoise. Formes de la mise en couple et itinéraires individuels . Paris CNRS, 1984.
  • 17
    Ver KERGOAT, Daniele. Les ouvrières . Paris, Le Sycomore, 1982 e VARIKAS, Eleni. La révolte des dames: genèse d’une conscience féministe dans la Grèce du XIX siècle (1883-1908) . Paris, 1986. Tese (Doutorado) defendida na Universidade de Pans Vll sob a direção de Mme. Michèle Perrot.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Jun 1989
Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo Av. Prof. Luciano Gualberto, 315, 05508-010, São Paulo - SP, Brasil - São Paulo - SP - Brazil
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