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Berlim: fronteiras imaginárias, fronteiras reais?

Berlin: imaginary frontiers, real frontiers?

Resumos

Neste artigo, a autora procura recuperar através dos romances de Theodor Fontane (1819-1898)FONTANE, Theodor. (1979) Frau Jenny Treibel. Hamburg, DLV., Alfred Döblin (1878-1957)DÖBLIN, Alfred. (1993) Berlin Alexanderplatz (1929). 32ª edição. Hamburg, DTV. e Irina Liebmann (1943)LIEBMANN, Irina. (1994) In Berlin. Köln, Kiepenheuer und Witsch. as imagens urbanas de três períodos decisivos da história e vida de Berlim: os Gründerjahre (anos de fundação) a partir de 1870, o período da "República de Weimar" do entre-guerras e, finalmente, o período do Muro de Berlim e seu desmoronamento em 1989. Indaga-se, a partir desta "memória literária", quais as perspectivas da cidade futura.

Imaginário; fronteiras reais; fronteiras imaginárias; Berlim; queda do muro


In this article, the author tries to re-construct, through the novels of Theodor Fontane (1819-1899)FONTANE, Theodor. (1979) Frau Jenny Treibel. Hamburg, DLV., Alfred Döblin (1878-1957)DÖBLIN, Alfred. (1993) Berlin Alexanderplatz (1929). 32ª edição. Hamburg, DTV., and Irina Liebmann (1943)LIEBMANN, Irina. (1994) In Berlin. Köln, Kiepenheuer und Witsch. the city landscape during three decisive periods of Berlin's history: (I) the years of the "Founders" (Gründerjahre), since 1870; (II) the years of the Weimar Republic, between the two World Wars, and, finally, (III) the twenty-eight years of the existence of the Berlin Wall. Cant these literary images of the past help us to forecast the shape of Berlin "after the Fall"?

Imagery; real frontiers; imaginary frontiers; Berlin; Berlin wall


Texto completo disponível em PDF.

  • Texto re-elaborado de duas palestras sobre Berlim, apresentadas no SIMPÓSIO UERJ: "Memória, Cidade, Cultura", realizado no Rio de Janeiro entre 23 e 25 de agosto de 1994.

Notas

  • 1
    Berlin, Sinfonie einer Grossstadt (1926), de Walter Ruttmann, é o mais famoso entre eles. Um outro é Berlin wie es war. Este filme de Leo de Laforgue da Reichshauptstadt (capital do império) foi realizado em 1938. Quando pronto, foi proibido por Goebbels, o Ministro de Propaganda de Hitler, pois já haviam começado os bombardeios sobre Berlim. Temendo reações negativas da população, devidas às destruições sistemáticas que Berlim sofreu nos últimos três anos da IIª Guerra, destruindo 80% do tecido e da substância urbana, o filme ficou engavetado. Reencontrado em 1950, foi restaurado e comentado pelo Prof. Friedrich Luft, com intenções pedagógicas: reeducar as novas gerações alemãs para a paz.
    Outro filme, bem mais recente sobre Berlim, foi feito por Wim Wenders em 1987 (Himmel über Berlin, literalmente: O Céu sobre Berlim), que fez sucesso no Brasil sob o título Asas do desejo, retrata a Berlim Ocidental, beco sem saída, antes da queda do "Muro".
    Der Schwarzfahrer, de Pepe Danquart, que recebeu o OSCAR de 1994 para filmes de curta metragem, foi filmado em Berlim (Oriental) em 1993 e tematiza o preconceito racial na Berlim reunificada.
  • 2
    Há uma versão histórica de 1931, direção de Piel Jutzi, com Heinrich George, do romance clássico de Alfred Döblin, Berlin Alexanderplatz (1929), que tem como cenário a Berlim, capital da República de Weimar, anterior à tomada do poder pelos nazistas. Uma nova filmagem do mesmo romance foi realizada por Werner Fassbinder em 1978 para um seriado de televisão, que teve de reconstruir nos estúdios, os cenários da cidade na Spree. As imagens do filme de 1931 documentam uma "realidade urbana" que os bombardeios entre 1942 e 1945 enterrariam para sempre sob seus escombros.
  • 3
    Vide ainda seus textos autobiográficos (1987).
  • 4
    "Les quatres Berlins": Mythologie berlinoise (Nicolaus Sombart) - é um texto inédito, de oito páginas, escrito no início da década de 80, quando o filho de Werner Sombart resolve voltar para Berlim. Devo a indicação do texto (e uma cópia) a Bernard Genton, do Institut Français/Berlin, a quem conheci em casa de N. Sombart, depois de concluída essa palestra. Sombart já se esquecera do texto. Nele fala de quatro Berlins: a de Marinetti, que termina em 1918 com o final da primeira Guerra Mundial e a queda do Kaiser; a de Döblin, despreparada para dar o passo da sociedade fortemente hierarquizada para a sociedade aberta; a de Ernst Jünger, que prepara o advento de Hitler e o III Reich; e, finalmente a Berlim dividida em capitalista e socialista, depois de 1945. Curiosamente, Sombart atribui a essa quarta Berlim as maiores chances de sobrevivência. A Queda do Muro em 1989 parece ter inviabilizado a publicação do texto, ou melhor, da interpretação dada à quarta Berlim.
  • 5
    O romance teve duas versões cinematográficas: a primeira, de 1931, dirigida por Piel Jutzi e a segunda, originalmente feita para uma mini-série de televisão (ARD) em 1978 de Werner Fassbinder (cfe. elucidado na nota 2).
  • 6
    Die Drei-Groschen-Oper (a Ópera dos Três Vinténs), passa, como é sabido, em Londres.
  • 7
    Franz Bieberkopf, no final do romance, sente-se perdido na cidade; ele nela circula sem rumo e sem um destino claro e, quando se dá conta, está diante dos muros da prisão em que esteve encarcerado, em Berlin Tegel: "Os bondes correm ao longo das ruas; eles seguem pela rua Schiller, por Pankow, pela rua Breite, pela praça Nollendorf, pela praça Uhland, pela estação Schmargendorf, pelo Grunewald; aí entro. Bom dia, eu me sento, eles podem me levar onde querem. E Franz começa a olhar a cidade como um cachorro que perdeu o rastro. Que cidade! Que cidade gigantesca. E que vida! Que vida ele já levou nela. Na estação de Stettin ele desce. E então percorre a rua dos Inválidos. Ali está o portão de Rosenthal. Confecções Fabisch. Ali fiquei apregoando minha mercadoria: grampos de gravata, no último Natal.
    Depois de Tegel ele pega o 41. E quando aparecem as paredes vermelhas, à esquerda, as paredes vermelhas, os pesados portões de ferro, Franz fica mais calmo. Isto é parte da minha vida e eu tenho que olhar para isso. Olhar.
    Os muros estão ali, vermelhos, e a avenida segue ao longo deles; o 41 passa por eles; rua General-Pape, Reinickendorf Oeste, Tegel, a fábrica Borsig martela. E Franz Biberkopf pára diante dos muros, vai para o lado, onde está o botequim. E as casas vermelhas atrás dos muros começam a tremer e balançar e a inchar as bochechas. Há presos em todas as janelas. Batem a cabeça contra as barras, têm o cabelo raspado à altura de meio milímetro; eles têm um aspecto miserável, subnutrido, todos rostos cinzentos, com a barba por fazer, rolam os olhos e se lamentam. São culpados de assassinato, assalto, furto, falsificação, estupros, todos os artigos da lei; e se lamentam com seus rostos cinzentos, eles estão presos, os cinzentos; agora eles estrangularam Mieze" (Döblin, 1993, p. 349, tradução de Barbara Freitag e Sérgio Paulo Rouanet).
  • 8
    Para o leitor interessado recomendo a leitura da passagem entre as páginas 118 e 124, na edição citada. Aqui um pequeno recorte:
    "Prédios administrativos amarelos, um obelisco para os soldados, vítimas da guerra. E à direita e à esquerda os longos prédios com seus telhados de vidro; trata-se das estrebarias, dos chiqueiros, salas de espera. Lá fora um tabuleiro negro: Propriedade da Associação dos Matadouros de Berlim S. A.. Os galpões do gado bovino, os galpões do gado suíno, o matadouro, propriamente dito: o tribunal dos animais, o machado em punho, daqui você não me escapa vivo. Ruas calmas nas imediações: rua Strassmann. Liebig, Proskauer, parques cultivados em que as pessoas passeiam. Elas moram aconchegadas umas às outras, se uma delas adoece e tem dor de garganta, o médico vem correndo." (Döblin, 1993DÖBLIN, Alfred. (1993) Berlin Alexanderplatz (1929). 32ª edição. Hamburg, DTV., p. 118, tradução de Barbara Freitag).
  • 9
    Uma boa seleção fornece a coletânea 19 Erzähler der DDR, que justamente se propos a apresentar a "nova geração de autores", da Alemanha socialista, depois de Bert Brecht, Arnold Zweig, Anna Seghers e outros. Entre os autores contam: Erich Neutsch, Werner Bräunig, Fritz Rudolf Fries e tantos outros.
  • 10
    "A vila dos Treibel estava situada num grande terreno com fundo muito amplo, que se estendia da rua Köpenick até o rio Spree. Antes somente havia aqui na proximidade imediata do rio, edifícios de fábricas, nos quais eram produzidos anualmente toneladas e toneladas de sais químicos, e mais tarde, quando a fábrica se expandiu quantidades igualmente elevadas de anil. Mas depois da Guerra de 1870, quando os bilhões começaram a afluir para o país, a mania de grandeza dos "fundadores" começou a contaminar até mesmo as cabeças mais sóbrias. Nesse momento, o empresário Treibel achou que sua residência, até então localizada na velha rua Jacob, apesar de ser atribuída ao arquiteto Gontard, e segundo alguns até mesmo a Knobelsdorff; não estava mais de acordo com a época e a sua posição social. Conseqüentemente, construiu no terreno de sua fábrica, uma vila no estilo da moda; com um pequeno jardim na frente e um parque nos fundos. Esta vila era um sobrado cujo piso superior, devido as suas janelas baixas, dava mais a impressão de um mezzanino que de um andar principal. Aqui Treibel morava há dezesseis anos e não compreendia como podia ter agüentado tanto tempo na velha rua Jacob, tão pouco aristocrática e tão desprovida de ar fresco, só por causa de um presumido arquiteto da época de Frederico, o Grande. Pelo menos esses sentimentos eram partilhados por sua mulher Jenny.
    A proximidade da fábrica, quando o vento era desfavorável, trazia consigo todo tipo de efeitos desagradáveis. Mas o vento do Norte, que empurrava a fumaça, era sabidamente raro e, afinal, não era necessário fazer recepções sociais justamente quando esse vento soprava. Além disso, Treibel elevava cada vez mais alto, as chaminés da fábrica, com isso diminuindo cada vez mais o mal-estar." (Fontane, 1979FONTANE, Theodor. (1979) Frau Jenny Treibel. Hamburg, DLV., p. 13, tradução de Barbara Freitag e Sérgio Paulo Rouanet).
  • 11
    Döblin descreve essa praça, (20 anos depois totalmente destruída durante a Segunda Guerra Mundial) em sua vida e dinâmica durante os anos vinte: "Estão abrindo as ruas junto ao Alexanderplatz para a construção do Metrô. Caminha-se por cima de tábuas. Os bondes atravessam a praça e seguem a rua Alexander e Münster em direção ao portão de Rosenthal. Nas ruas erguem-se prédios contra prédios. Estes estão emperrados de pessoas, do porão ao sótão. No térreo: lojas. Destilarias, restaurantes, comércio de frutas e verduras, produtos coloniais e especiarias, loja de carretos, pintura decorativa, confecção feminina, farinha e produtos farináceos, garagem de carros, corpo de bombeiros..." (1993, p. 105).
    "Acima e atrás das lojas encontram-se apartamentos, por detrás ainda vêm pátios, prédios laterais, transversais, prédios de fundo, casebres em áreas verdes. A rua Linien, aqui encontra-se a casa, em que Franz Biberkopf se refugiou depois da cagada com o Lüders." (p. 106)... "Franz Biberkopf, cuide-se! O que resultará desse lamaçal? Sempre deitado em seu quarto, somente bebendo e matutando, matutando! -
    Isso não é da conta de ninguém. Se eu quiser matutar, matuto até amanhã e neste mesmo lugar. Ele come suas unhas, geme, rola a cabeça no travesseiro encharcado de suor, sopra pelo nariz. Fico deitado até depois de amanhã, se quiser. Se a velha pelo menos acendesse o fogão. Mas essa é preguiçosa, só pensa em si.
    Gira a cabeça contra a parede, no chão vê um mingau, uma poça - vômito. Deve ter sido eu. O que uma pessoa não leva em seu estômago. Buh. Teias de aranha no canto cinzento, essas não pegam as ratazanas. Quero beber água" (p. 110, tradução de Barbara Freitag). Mais tarde, Jean Palmier escreve sobre a mesma praça:
    "Poucos lugares em Berlim adquiriram a celebridade do Alexanderplatz. Coração da Berlim popular, essa praça não cessou de freqüentar as obras literárias: dos poemas expressionistas ao romance de Döblin, que a imortalizou. Em velhas fotografias distinguem-se suas lojas, os trilhos do bonde, formando uma curva gigantesca, alguns fiacres imóveis ao longo das calçadas. A Alexanderplatz de Döblin vive como um ser: muda de rosto como as estações, suspira com o ruído dos bondes e a beleza do romance.
    A magia do livro está justamente em ter conseguido tornar tão vivos os personagens - o operário assassino Franz Bieberkopf, o crápula Reinhold, Mietze, Plums, os mendigos e as prostitutas - quanto a própria praça, as praças e as ruas que a cercam" (cf. Palmier, 1989PALMIER, Jean-Michel. (1989) Retour à Berlin. Paris, Payot., p. 31, tradução Barbara Freitag e Sérgio Paulo Rouanet).
  • 12
    "Fora daqui pensa a Liebmann, se você quiser dar no pé, os caminhos são conhecidos; e fica de novo diante da estante cheia de anotações e o monte de papel debaixo da mesa" (Liebmann, 1994LIEBMANN, Irina. (1994) In Berlin. Köln, Kiepenheuer und Witsch., p. 27).
    "Adeus bagulho.... Fotos como essas ela pode obter facilmente. Estão todas no monte. Queimar.
    Fora daqui, pensa ela ao pisar na rua, ao subir escadas, ao descascar batatas; o que fazer, o que fazer? E só pode falar com a filha, que apoiando a cabeça no braço, come, xingando os professores de canalhas e porcos. Mas esse diálogo não leva muito longe" (p. 28).
  • 13
    Já na parte ocidental de Berlim:
    "A rua Kant assobia como um tubo de vento, cinza, a Liebmann vai para o Zoo. E aqui é o fim da linha. A estação é o Leste; a porta para o Leste.
    Eu te conheço, diz a estação; eu também te conheço, pensa a Liebmann, pára sempre e procura com os olhos a câmara..."
    "A Liebmann não voltou para lá, está parada na estação Zoo com o passaporte na bolsa. Percorre com o olhar a fachada, até o teto e as nuvens lá encima, e para baixo em direção da ponte do trem, o elevado construído sobra a rua. Embaixo, na sombra transeuntes, figuras com sobretudo, algumas viram sua cabeça para os homens sentados e deitados, à esquerda, à direita, perto das portas da estação, os caras estão inchados e mijados; eles olham os transeuntes debaixo; um deles está fingindo pensa a Liebmann: se é verdade que todos vêm do Leste, todos esses vagabundos, TRAIÇÃO.
    ... olha na bolsa, o passaporte ainda está dentro. De repente ela quer ir para o leste, no Zoo essa sensação lhe é bem clara. Na escadaria da estação (S-Bahn) todo filme agora de trás para frente, será possível, o vagão fedorento, as pessoas, os degraus que descem para o Kiosk da Intershop, para o hall de entrada, entrar na fila no balcão de controle de identidade, aqui ainda daria para voltar, fugir, aqui fede.... Uma hora, uma hora eu preciso para atravessar a fronteira, e vai" (Liebmann, 1994LIEBMANN, Irina. (1994) In Berlin. Köln, Kiepenheuer und Witsch., p. 89 ss, tradução de Barbara Freitag e Sérgio Paulo Rouanet).
  • 14
    Vide também Freitag (1992)FREITAG, Barbara. (1992) Deux villes entre l'histoire et la raison (Brasília et Berlin). In: BANURI, Tariq, BAUDRILLARD, Jean et alii. Un autre partage. Homme, Ville, Nature. Toulouse, Éditions Érès. Uma versão brasileira foi publicada no Rio como: Duas cidades entre a história e a razão. In: Homem, cidade, natureza (Número especial da Revista tempo brasileiro). Rio de Janeiro, Vol. 116..
  • 15
    Nestas anotações sobre sua infância em Berlim relata como passeia e vai às compras com sua mãe no bairro residencial do Tiergarten, o mesmo que já conhecemos através dos personagens de Fontane. No volume VI de suas obras reunidas encontramos outro fragmento, em que Benjamin se refere a Berlim, complementando seus depoimentos autobiográficos.
    Aqui vide: Berliner Chronik (pp. 465-519). Benjamin fala aqui da transparências das imagens de uma cidade que se torna presente na memória do escritor: "Seja como for, ele ficava enclausurado neste bairro residencial dos ricos, sem saber de outros bairros. Os pobres - para crianças de sua geração elas viviam no campo....
    Sua primeira escapada para o mundo exótico da miséria foi - o que não é de surpreender - um ensaio escrito" (p. 471).
  • 16
    Em seu capítulo Im alten Grunewald, N. Sombart descreve o bairro e a casa em que viviam os seus pais.
    "O bairro residencial do Grunewald sempre foi especial... Aqui eu fui educado. Para mim, isso era Berlim. Raras vezes eu circulava em outros bairros, com exceção do Kurfürstendamm, do Tiergarten e do centro histórico da cidade com as tílias, o castelo e a ilha dos museus. Mas chegar lá eram verdadeiras excursões, preparadas por longo estudo dos mapas" (p. 11).
  • 17
    Num trabalho recente (Racine, 1993RACINE, Jean-Bernard. (1993) La ville entre Dieu et les hommes. Genève, Presses Bibliques Universitaires.) essa polaridade do sagrado e do profano é retrabalhada de maneira magistral, a partir de um ponto de vista autenticamente religioso.
  • 18
    Mais recentemente, do mesmo autor, vide (1990).
  • 19
    o autor retoma neste livro recente um tema já tratado em seu livro de 1978 (Da Matta, 1983DA MATTA, Roberto. (1991) A casa e a rua. Espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan., p. 70-118).
  • 20
    Vide Berger (1993, p. 85), cap. Märzrevolution. Aqui Berger relata um episódio em que Fontane, que neste ano tinha 28 anos, corria meio desnorteado e confuso pelas ruas alvoroçadas de Berlim, perguntando-se o que ele teria a ver com uma revolução. Enquanto meditava, aproximava-se um grupo de trabalhadores em coluna, ao qual se associou. Atravessaram o Alexanderplatz, em direção ao Teatro Real, o qual foi tomado de assalto. No seu interior, encontraram o que procuravam: armas (espadas, escopetas, espingardas...). Fontane apropriou-se de uma delas tentando carregar a espingarda. Mas sua falta de experiência fez com que a entregasse, junto à barricada a um companheiro mais experiente, retirando-se para a sua casa. Entre seus quatro muros resolveu que não seria herói, mas voltou às ruas para pelo menos ser testemunha de mudanças sociais e históricas, únicas da cidade.
  • 21
    "... um mundo novo, melhor somente começará no quarto estado. (...) O que os trabalhadores pensam, falam, escrevem, efetivamente superou o pensamento, a fala e a escrita das velhas classes reinantes. Tudo é mais autêntico, mais verdadeiro, mais cheio de vida. Os trabalhadores atacam tudo de maneira original, e não somente tem objetivos novos, como os melhores caminhos para atingi-los" (citado por Swales, 1989, p. 77, retirado de uma carta de Fontane a James Morris de 22.02.96).
  • 22
    "Na esquina da Oranienburger, onde outrora ficava Keilich, é possível comprar carros, em frente, escombros atrás, de uma cerca. As calçadas na Oranienburger foram pavimentadas, a estação da S-Bahn que passa por baixo da rua, está aberta: mal iluminada, o teto baixo, a escrita nas paredes, gótica. Berlim está aberta. Quem quiser pode ir de Schönefeld até o Zoo [estação de S-Bahn e efetivamente o quarteirão central do Zoológico], quem não desembarcar, este vê Berlin toda" (p. 167, tradução de Barbara Freitag).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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  • BERGER, Joachim. (1993) Berlin: Freiheitlich & Rebellisch Berlin, Goebel Verlag.
  • BRECHT, Bertold. (1957) Stücke Berlin, Aufbau Verlag.
  • DA MATTA, Roberto. (1991) A casa e a rua. Espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil Rio de Janeiro, Guanabara Koogan.
  • ______ . (1983) Carnavais, malandros e heróis: para uma sociologia do dilema brasileiro 4ª edição. Rio de Janeiro, Zahar.
  • DARNTON, Robert. (1992) Dernière danse sur le mur. Berlin: 1989-1990 Paris, Editions Odile Jacob. Berlin journal: 1989-1990 (ed. americana).
  • DÖBLIN, Alfred. (1993) Berlin Alexanderplatz (1929). 32ª edição. Hamburg, DTV.
  • FONTANE, Theodor. (1979) Frau Jenny Treibel. Hamburg, DLV.
  • ______ . (1987) Autobiographische Schriften (Meine Kinderjahre/Von zwanzig bis dreissig/Kriegsgefangen). Zurique, Manesse Verlag.
  • ______ . (1993) Der Stechlin (1899). Stuttgart, Reclam.
  • FREITAG, Barbara. (1992) Deux villes entre l'histoire et la raison (Brasília et Berlin). In: BANURI, Tariq, BAUDRILLARD, Jean et alii. Un autre partage Homme, Ville, Nature. Toulouse, Éditions Érès. Uma versão brasileira foi publicada no Rio como: Duas cidades entre a história e a razão. In: Homem, cidade, natureza (Número especial da Revista tempo brasileiro). Rio de Janeiro, Vol. 116.
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  • RACINE, Jean-Bernard. (1993) La ville entre Dieu et les hommes Genève, Presses Bibliques Universitaires.
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  • SOMBART, Nicolaus. (1993) Jugend in Berlin. 1933-1943. Ein Bericht 1ª edição 1984. Frankfurt, Fischer Verlag (edição revista e ampliada).
  • SWALES, Martin. (1989) Möglichkeiten und grenzen des fontaneschen realismus. In: ARNOLD, Heinz Ludwig (ed). Text + Kritik. Sonderband über Fontane München, Text + Kritik.
  • Vários (1974) 19 Erzähler der DDR 1ª edição 1971. Frankfurt, Fischer-Verlag.
  • VÖLKER, Klaus. (1976) Bertolt Brecht. Eine Biographie München/Wien, Hanser Verlag.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Dec 1994

Histórico

  • Recebido
    Fev 1995
Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo Av. Prof. Luciano Gualberto, 315, 05508-010, São Paulo - SP, Brasil - São Paulo - SP - Brazil
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