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De Berlim a Brusque, de São Paulo a Nashville: a sociologia de Emílio Willems entre fronteiras

Resumos

O artigo examina a repercussão da vivência de Emílio Willems, como imigrante, na perspectiva conceitual e temática que imprimiu ao seu trabalho intelectual. A marginalidade peculiar aos que transitam entre credos, culturas e valores distintos foi a experiência humana que norteou o pesquisador de origem alemã, para quem mudança cultural, conflito de valores e racionalização de ambigüidades tornaram-se assuntos privilegiados. Distante da nostalgia do outro e do longínquo, comum aos visitantes estrangeiros, a obra de Willems deixa ecoar a aventura improvisada de sua saída de Berlim e chegada ao Brasil em 1931.

Imigração; sociologia; recepção de idéias; cultura; marginalidade; Emílio Willems; alemães no Brasil


This paper examines the repercussion of Emilio Willems' life as an immigrant on the conceptual and thematic perspective given to his intellectual work. Being an outsider, a feature inherent to those who move between different creeds, cultures and values, was the human experience that directed this researcher of German origin. He focused on cultural change, conflict of values and the rationalization of ambiguities. Differently from the work of other foreign visitors, Willems' does not present a nostalgia for the `other' or for the `one far away', and it echoes the improvised character of the adventure of his journey from Berlin to Brazil in 1931.

Immigration; sociology; reception of ideas; culture; exclusion; Emílio Willems; Germans in Brazil


ARTIGO

De Berlim a Brusque, de São Paulo a Nashville: a sociologia de Emílio Willems entre fronteiras

Glaucia Villas Bôas

Professora do Departamento de Sociologia do IFCS - UFRJ

RESUMO

O artigo examina a repercussão da vivência de Emílio Willems, como imigrante, na perspectiva conceitual e temática que imprimiu ao seu trabalho intelectual. A marginalidade peculiar aos que transitam entre credos, culturas e valores distintos foi a experiência humana que norteou o pesquisador de origem alemã, para quem mudança cultural, conflito de valores e racionalização de ambigüidades tornaram-se assuntos privilegiados. Distante da nostalgia do outro e do longínquo, comum aos visitantes estrangeiros, a obra de Willems deixa ecoar a aventura improvisada de sua saída de Berlim e chegada ao Brasil em 1931.

Palavras-chave: Imigração, sociologia, recepção de idéias, cultura, marginalidade, Emílio Willems, alemães no Brasil.

ABSTRACT

This paper examines the repercussion of Emilio Willems' life as an immigrant on the conceptual and thematic perspective given to his intellectual work. Being an outsider, a feature inherent to those who move between different creeds, cultures and values, was the human experience that directed this researcher of German origin. He focused on cultural change, conflict of values and the rationalization of ambiguities. Differently from the work of other foreign visitors, Willems' does not present a nostalgia for the `other' or for the `one far away', and it echoes the improvised character of the adventure of his journey from Berlin to Brazil in 1931.

Key Words: Immigration, sociology, reception of ideas, culture, exclusion, Emílio Willems, Germans in Brazil.

Desejo aqui relembrar a passagem de Emílio Willems pelo Brasil. Ele deixou Berlim em 1931 para lecionar grego, latim e francês em um seminário católico, localizado na cidade de Brusque, em Santa Catarina. Tinha 26 anos de idade, e acabara de obter o título de doutor em Filosofia pela Universidade de Berlim, onde estudou com o sociólogo Alfred Vierkandt. Muitos anos depois, estabelecido em Nashville, nos Estados Unidos, enviou ao amigo Oracy Nogueira um pequeno esboço autobiográfico, no qual assinala que, logo após a chegada ao Brasil, entregou-se com sofreguidão ao conhecimento dos brasileiros e de sua cultura, não apenas como observador participante, mas como leitor de Alberto Torres, Oliveira Vianna e Gilberto Freyre.

Emílio Willems viveu 18 anos no Brasil. Tornou-se professor de Antropologia na Universidade de São Paulo e de Sociologia e Antropologia Social na Escola Livre de Sociologia e Política, aliando às atividades docentes o cumprimento de um rigoroso programa de pesquisas, que resultou na publicação de livros importantes como Assimilação e populações marginais, Aculturação dos alemães no Brasil estudo sociológico dos imigrantes germânicos e seus descendentes, Aspectos da aculturação dos japoneses no Estado de São Paulo, Cunha Tradição e transição em uma cultura rural do Brasil e Buzios Island. A caiçara community in Southern Brazil1 1 Buzios Island foi escrito em colaboração com Gioconda Mussolini. , Costumava levar seus alunos para o trabalho de campo, ocupando-se especialmente da formação dos jovens, entre eles Alceu de Maynard Araújo, Florestan Fernandes, Carlos Borges Schmidt, Gioconda Mussolini, Miriam Lifchitz Moreira Leite.

As Ciências Sociais começavam a despontar na universidade brasileira e, naquela época, ainda eram grandes as dificuldades em adquirir livros especializados em língua portuguesa. Willems foi uma figura chave na organização do campo teórico e conceitual da Sociologia e Antropologia como tradutor de conceitos que integram os verbetes do Dicionário de Sociologia e Etnologia, organizado em parceria com Herbert Baldus, do Dicionário de Sociologia, atualizado e publicado por Armand Cuvillier em Paris. Com Romano Barreto organizou o livro Leituras Sociológicas e criou a Revista Sociologia, primeiro periódico voltado exclusivamente para a divulgação de correntes sociológicas e da pesquisa dos especialistas brasileiros. A tradução de Ideologia e Utopia de Karl Mannheim, feita por ele, teve tamanha repercussão na definição do papel intelectual e político dos cientistas sociais brasileiros, que Willems certamente não podia supor nem prever (cf. Corrêa, 1987, p. 26).

Em 1948, convidado para lecionar por seis semanas no recém-criado Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de Vanderbilt, nos Estados Unidos, sentiu curiosidade "por um país que não conhecia, e pela universidade que, num ambiente bem provincial, cometera a ousadia de fundar um instituto desse gênero" (Willems, 1983, p. 9)2 2 Texto autobiográfico inédito. . Foi o começo de uma decisão custosa, sobre a qual Willems fala com muita parcimônia, insistindo nas vantagens que o centro de pesquisas norte-americano lhe oferecia para prosseguir seu trabalho de pesquisa sobre o Brasil. Em agosto de 1949, partiu definitivamente com a família para Nashville, encravada no deep south norte-americano, lugar onde deu continuidade às atividades de docente e pesquisador e veio a falecer em novembro de 1997.

A importância de Emílo Willems para as Ciências Sociais não resulta apenas das numerosas iniciativas e projetos bem sucedidos de sua carreira acadêmica (cf. Bôas, 1997). Encontra-se antes na perspectiva que imprimiu ao seu trabalho intelectual, voltado enfaticamente para o conhecimento da mudança cultural. A condição de estrangeiro, forasteiro, ádvena, daquele que se desloca de uma cultura para outra sobretudo a marginalidade que se expressa na ambigüidade dos que não estão aqui nem lá é a experiência humana que orienta o seu trabalho de pesquisa. Tal orientação, facilmente verificável nos estudos sobre a vida dos imigrantes, evolui nas suas pesquisas sobre cultura rural, urbanização e religião, para a observação incansável e decidida dos finos ajustes que a transição de formas de sociabilidade, contidas nas noções de status/contractus, gemeindschaft /gesellschaft, cultura folk / civilização exige das coletividades, que, finalmente, também, não estão "aqui nem lá".

Willems filia-se a uma tradição sociológica interessada na convivência de modos distintos de conduta no mundo, referidos que estão a valores diferentes, por vezes, até mesmo excludentes. Sua longa narrativa sobre a vida dos alemães imigrantes (cf. Willems, 1940), brasileiros porque nascidos em território nacional onde vigora o jus soli, alemães porque filhos de alemães e sujeitos ao jus sanguinis, não só evidencia exemplarmente o interesse do autor, como aponta um ângulo mais agudo do problema e, talvez mais dramático, no qual valores diferentes não marcam apenas a identidade e conduta de coletividades distintas, mas encontram-se em um mesmo indivíduo ou grupo social.

A marca que Willems imprimiu ao seu trabalho intelectual molda-se tão significativamente a sua biografia de imigrante, portador dos ensinamentos de uma sociologia interessada nas diferentes culturas, que torna-se difícil não falar sobre a quase intimidade de seu trabalho com os imprevistos e as surpresas de sua aventura no Brasil. A escolha da sociedade brasileira e de outras sociedades latino-americanas como objeto de estudo, à época em que ganhavam nova fisionomia com a construção das indústrias e crescimento das cidades, apenas acentuou seu interesse pelas situações de transição e marginalidade, refletindo mais uma vez sua própria condição de estrangeiro em países e cidades, onde viveu ensinando e pesquisando. Por isso, vou destacar a seguir o lugar que a experiência brasileira tem na obra de Willems, argumentando, porém, que não pretendo explicar a obra de Willems como um produto inevitável de sua biografia, ou de seu milieu social, mas compreendê-la como fruto de uma concepção de vida de homem culto, que era própria a Willems, e para quem dar forma compreensiva a uma vivência especial e cheia de significados, mais que um ideal se torna um dever (cf. Gadamer, 1992, p. 9-19). Importa, portanto, compreender o que Willems faz com acontecimentos de sua biografia.

Infância e juventude

Em 1983, Willems escreveu uma pequena autobiografia e enviou o texto para Oracy Nogueira, então professor da Universidade de São Paulo, a fim de que o utilizasse na introdução de uma coletânea de artigos, que o colega organizava a pedido de Florestan Fernandes3 3 Carta de Oracy Nogueira a Emílio Willems, em 4 de janeiro de 1983 (cf. Nogueira, s./d.). . O livro nunca veio a público, mas o escrito, de poucas páginas, guardado na correspondência de Oracy, é muito elucidativo da maneira como Willems deseja apresentar-se ao público brasileiro, anos depois de sua partida para os Estados Unidos. Chama atenção do leitor para a sua formação na Alemanha durante o II Império e a República de Weimar e recorda os momentos decisivos de sua vinda ao Brasil e ida para os Estados Unidos.

Quando fala de si, Willems é discreto e reservado. Não menciona um nome sequer que não seja de sociólogos ou antropólogos conhecidos de seus círculos de formação ou profissionais. Nem mesmo de sua esposa Hilda4 4 O nome completo é Hilda Heimbuch. Carta de Emilio Willems a Oracy Nogueira, em 2 de outubro de 1983. , a namorada dos tempos de colégio, com quem se casou em 1932 e teve dois filhos. Não se poderia dizer que a virtude da modéstia o teria levado a omitir um tom mais eloqüente e elogioso às conquistas de sua vida longa e produtiva. O tom correto e seco impressiona o leitor, dando-lhe a sensação de que Willems quer lhe transmitir um sentimento de dever cumprido como bom filho que é das classes médias educadas da Alemanha do início do século.

Willems nasceu em 1905, em Niehl, subúrbio da cidade de Colônia, que mais se assemelhava a uma aldeia de camponeses e pescadores, cujas atividades produtivas incluíam às vezes, também, as de assalariados em fábricas das redondezas. O pai, um médico católico, não mantinha relações pessoais com a gente empobrecida do lugar onde morava com a família. Tampouco o filho encontrava na escola primária meninos e meninas de sua classe social para convivência mais próxima. Eram todas crianças proletárias, às quais faltavam os hábitos da higiene diária e o domínio do Hochdeutsch. Expressavam-se no dialeto local. Olhando retrospectivamente sua infância, Willems pondera que foi uma experiência valiosa o contato diário com meninos proletários. Proporcionava a visão de uma realidade social que, de outra maneira, teria permanecido escondida atrás de um cordão sanitário de classe social".

Sua educação seguiu os padrões da pedagogia autoritária, típica da Alemanha do II Império. Disciplina e obediência eram valores máximos, a guiar a conduta das crianças e dos jovens, a qualquer preço, sob pena de pesados castigos físicos e morais. Pais e professores constituíam uma verdadeira frente cuja função disciplinadora se estendia também para a comunidade adulta. A única lembrança que guarda dos professores é a imagem de sua prontidão para punir fisicamente os alunos com uma varada; dos pais relembra a obsessão pela moralidade católica e puritana cuja transgressão era necessariamente seguida das penitências ordenadas pelo padre no confessionário. A constatação de Willems amor paterno se exprimia sobretudo na repressão do que se considerava comportamento indesejável traduz bem a atmosfera em que vivia, da qual, aliás, diz não ter não guardado ressentimentos.

Penso que realmente não os guardou. Nutriu sentimentos ambíguos relativamente à severidade de sua educação. A frente disciplinadora da infância reapareceu sempre na sua memória. Retorna a ela, ao contar a triste história de Margarida, uma mulher de dezoito anos de idade, habitante da ilha de Búzios nos finais dos anos 40, e para quem tudo que acontecia na vida era aceito, sem preocupação nem esperança (cf. Willems & Mussolini, 1952, p. 75-77). De alguma forma, a ausência de vigor moral e de desejo de uma vida melhor relaciona-se, nas observações de Willems, com a falta de disciplina, a ausência de castigos, a tolerância para com as crianças, o excesso de sentimentalismo, a pieguice e a impunidade. A "tolerância parece ser um padrão profundamente enraizado na cultura brasileira" (Willems & Mussolini, 1952, p. 81) conclui ele a observar a pequena comunidade caiçara. No entanto, curiosamente, ao fazer seu acerto de contas com a Alemanha em A way of life and death (cf. Willems, 1983, p. 76), volta à questão da disciplina e do respeito sem limites à autoridade, desta vez, para analisar o papel da educação na transmissão das formas de conduta militarizadas que o prussianismo impôs e manteve na Alemanha durante três séculos.

A disciplina, a língua e a moral aprendidas na infância prepararam o jovem para a entrada no Gynnasium Tricoronato de Colônia. Instituição antiga, cujas origens remontavam à Idade Média, voltava-se exclusivamente para o ensino das letras clássicas, ciosa que era do dever de preservar a tradição medieval. Nove anos de latim, nove anos de religião, mais seis anos de grego, Willems fala do tempo em que estudou essas matérias com um misto de admiração e indiferença, para demonstrar através do excesso a inadequação do colégio aos tempos modernos, principalmente à situação de penúria em que vivia a Alemanha durante e depois da Primeira Guerra Mundial. Das lembranças, o conhecido Gynnasium é a única instituição que merece a exacerbação de sua crítica, seja pela preservação de uma tradição vestuta e quase sagrada, seja pelo seu caráter elitista, seja pelo total desinteresse de seus professores. Nos últimos anos do colégio, refugiou-se na música, no piano e violoncelo. Tinha prazer em participar em conjuntos de música de câmara e chegou a pensar em se profissionalizar como músico. Cultivou também o hábito pela leitura, adquirindo gosto pela literatura, manuseio da língua e aprendizado de idiomas estrangeiros. Apesar do rigor, do excesso e da inadequação, a formação nas humanidades clássicas distinguiu o ex-aluno do Gynnasium Tricoronato pela vida afora. E, em homenagem que lhe prestou o Departamento de Antropologia da Universidade de Vanderbilt, por ocasião de sua morte, ouviu-se que era um scholar of the old school, with a tremendous command of languages and historical sources... Immensely productive5 5 "professor da velha escola, com um extraordinário domínio de línguas e de fontes históricas... Imensamente produtivo" (N.E.). Homenagem feita a Emílio Willems por Thomas A. Gregor, professor do Departamento de Antropologia da Universidade de Vanderbilt em dezembro de 1997. .

As ponderações críticas desaparecem do esboço autobiográfico quando Willems se lembra de sua vida de estudante na Universidade de Berlim. Em 1924, deu início aos estudos em Ciências Econômicas na Universidade de Colônia, sem muito entusiasmo pela liberdade acadêmica que caracterizava os meios universitários. Afinal, depois de anos de submissão incondicional às regras impostas pela família e colégios, foi necessário um ano para que fizesse suas próprias escolhas. A transferência para Berlim permitiu-lhe conhecer os professores do círculo de Sociologia da universidade como Alfred Vierkandt, Theodor Geiger, Karl Dunkmann e Werner Sombart. Não havia ainda uma cátedra de Sociologia no quadro da Universidade de Berlim, porém, a discussão sobre a disciplina era intensa, segundo conta René König, colega e contemporâneo de Willems, porque se acreditava que a perspectiva de análise estrutural e as concepções sobre a mudança social, que os defensores da disciplina propugnavam, era um instrumento eficaz na luta contra o historicismo que imperava na universidade (cf. König, 1981).

O projeto fracassou, a repercussão dos ensinamentos de Dilthey sobre a via compreensiva do conhecimento histórico permaneceu viva, e o jovem Willems pôde conhecer as diferentes correntes em debate. É bom lembrar que à época de seus estudos, em Berlim, eram discutidas as idéias de Simmel e Troeltsch, que tinham sido professores na Universidade de Berlim, de Leopold von Wiese, que ele próprio conhecera na Universidade de Colônia6 6 Sobre a Sociologia de von Wiese e suas relações com os meios sociológicos norte-americanos cf. Alemann (1981). , e de Max Weber, do círculo de Heidelberg. Suas proposições sociológicas, embora distintas, orientavam-se para o conhecimento das formas de associação, seu sentido e significado, quer fosse numa perspectiva histórica ou não, mas sempre partindo da relação entre atores sociais, homens e mulheres, que formam e conformam os grupos sociais, criam e recriam, sujeitam-se e mantém ordens sociais que se impõem, às vezes com grande regularidade numa duração de tempo, a exemplo da ordem do capitalismo ocidental, na expressão de Max Weber. Tal sociologia não destoava das lições da etnologia que Vierkandt ensinara a Willems, nem dos ensinamentos do etno-sociólogo Richard Thurnwald, estudioso dos Bánaro da Nova Guiné, onde fez trabalho de campo de 1913 a 1915 (cf. König, 1981). Talvez porque ambas as disciplinas tivessem como tarefa a compreensão dos valores inerentes à vida social e relutassem em reduzir a explicação da cultura a leis. Não surpreende, portanto, que Willems se torne um passageiro entre a Sociologia e a Antropologia, no contexto brasileiro anos 40/50, em que o perfil das disciplinas das Ciências Sociais começava a se delinear.

O tempo em Brusque

O evento mais importante na vida de Willems foi, no entanto, sua vinda para o Brasil:

"(...) Nesse ano (1930), a grande depressão econômica, que assolava o mundo inteiro, havia atingido sua fase mais crítica. A situação era tal que não havia a menor possibilidade de achar emprego. Ao mesmo tempo, a situação política deteriorava-se a olhos vistos. Naquele momento, a Alemanha havia entrado, quase imperceptivelmente, numa fase de guerra civil entre nazistas e comunistas que, apesar do policiamento intenso, se combatiam em arruaças quase diárias. Eu já não tinha a menor dúvida de que, mais cedo ou mais tarde, o radicalismo da direita ou da esquerda haveria de prevalecer. Como repórter de tribunal atividade que exercia em 1930 assisti a muitos processos contra nazistas acusados de crimes de violência, notáveis pela crueldade bárbara com que foram executados. Como eu já não tinha ilusões quanto à natureza bestial de um possível regime nazista, estava decidido a aproveitar-me da primeira oportunidade para escapar ao cataclismo iminente. Um conhecido meu, que tinha passado alguns anos como professor primário no Rio Grande do Sul, me deu alguns endereços de pessoas e instituições que poderiam se interessar pelos meus serviços. Sem esperar respostas a minhas cartas iniciei imediatamente o estudo intensivo do português. Ao cabo de alguns meses recebi um convite para lecionar num seminário de padres em Brusque, Santa Catarina. Aceitei sem a menor hesitação e, em agosto de 1931, embarquei num vapor com destino a Santos. Tudo isto naturalmente foi improvisação (...)" (Willems, 1983, p. 4).

Mais do que os motivos de sua saída de Berlim, importa como Willems a qualifica. No texto, improvisação refere-se ao fato de ter-se tornado professor secundário sem formação adequada. Mas, não estaria chamando de improvisação a aventura à qual se tinha lançado para escapar da dura situação que prenunciava o advento do III Império? Um longo caminho separava Brusque de Berlim. Não somente a terrível situação política e econômica, nem o ambiente intelectual vivido na Universidade de Berlim, nem as diferenças culturais e nacionais de toda sorte, mas, ainda, a sociabilidade própria da grande cidade era contrastante com o dia-a-dia na pequena cidade fundada por alemães no sul do Brasil. Berlim cresce e industrializa-se rapidamente durante o reinado de Wilhem I (1971-1988) tornando-se, nos anos 20, a segunda maior cidade européia em população depois de Londres. Exemplifica, nos anos em que Willems lá estudava, o protótipo da cidade moderna, de tráfego intenso, metrô, concorrência, dinheiro, exposições, vanguardas artísticas. Um novo tipo de sensibilidade e conduta, menos sentimental e mais racional, caracterizava os berlinenses, cada vez mais habituados à sucessão de imagens variadas e à proximidade física com pessoas estranhas, no seu trânsito cotidiano pela cidade (cf. Waizbort, 1996).

A vida em Brusque foi marcada pela perplexidade e trabalho intenso. Não porque à pequena e lenta cidade faltassem as novidades, o resplendor e os terrores dos grandes centros urbanos, mas porque Willems se surpreende com seus compatriotas, cuja aparência estranha exibia a marca da imigração, condição que ele próprio acabara de adquirir. Durante três anos, o jovem lançou-se com determinação à observação da vida dos colonos, alemães assimilados e acaboclados, ouvindo as estórias dos velhos imigrantes e reunindo dados históricos. Dá forma a este material, ao escrever, em francês, o primeiro trabalho sobre o Brasil Essai sur le Problème de la Colonisation au Brésil, que a Revue Internationale de Sociologie publica em 1934. Ao artigo, seguiu-se um conjunto de pesquisas e publicações sobre o tema da aculturação e assimilação. O tempo vivido na pequena cidade catarinense transformou-se em vivência (Erlebnis) especial de ruptura com a rotina de sua vida tumultuada em Berlim, e entrada em um mundo diferente, cujo exotismo provinha de uma desfiguração daquilo que lhe era familiar, comum e rotineiro. O encontro de Willems com uma cultura diferente da sua cultura de origem, com certeza, distingue-se, radicalmente, da experiência típica de viajantes, naturalistas ou professores estrangeiros que estiveram no Brasil.

Em diversas ocasiões, referiu-se ao tempo de Brusque, como ao escrever o prefácio de Latin American culture: an anthropological synthesis, em 1975:

"Em 1949, quando comecei a dar aulas sobre a América Latina Contemporânea aos estudantes norteamericanos, pude olhar retrospectivamente para os dezoito anos de residência no Brasil, não como professor visitante, mas como um imigrante que vinha enfrentando a difícil tarefa de ganhar a vida e sustentar uma família com o parco salário de um professor. Ainda que muitas vezes frustrante, a vida numa pequena cidade brasileira provou ser não apenas inevitável mas sem valor. E, ocasionalmente, me vi como membro da classe média brasileira. Estava me tornando um nativo, sem deixar de ser antropólogo. Sem dúvida a experiência me trouxe ampla oportunidade de conhecer a cultura de dentro e nos seus próprios termos" (Willems, 1975, p. XI).

Dos primeiros escritos até o último livro A way of life and death. Three centuries of prussian-german militarism em que se reconcilia com o lugar da partida, percebe-se que a vida em Brusque foi algo inesquecível e insubstituível, cujo significado não se esgota nos limites de um conceito (cf. Gadamer, 1992, p.67). Era preciso trabalhá-la, moldá-la, compreendê-la como o faria um homem cultivado. E ele o fez. Com os ensinamentos que recebera dos círculos sociológicos e etnológicos da Universidade de Berlim, atribuiu a sua própria vivência (Erlebnis) uma função epistemológica, buscando a compreensão que a aventura no Brasil lhe proporcionara. Quem então melhor do que ele para entender a cultura brasileira de dentro, a partir de seus próprios termos? A leitura de Assimilação e populações marginais no Brasil estudo sociológico dos imigrantes germânicos e seus descendentes revela de que modo Willems reelaborou o tempo que passou em Brusque. Fez da marginalidade dos colonos alemães o tema central do livro e, para entendê-la, discutiu as causas da emigração, o longo e penoso processo de assimilação (verbrasilianern/verkaboclen/verlusen) e, finalmente, o que chamou de racionalização das ambigüidades.

No livro dedicado a Fernando de Azevedo, um dos homens que lhe prestou ajuda ao chegar a São Paulo em 1936, o leitor depara-se logo de início com duas grandes epígrafes um texto de John Dewey retirado de Democracia e educação, outro de W. J. Thomas e F. Znaniecki, transcrito de The polish peasant in Europe and America. Em ambas, a escolha é clara: Willems quer mostrar que, no seu trabalho, as relações entre meio ambiente/meio social e o indivíduo são vistas de uma perspectiva interativa, na qual os homens são influenciados pelo seu meio e se formam e conformam de acordo com ele; mas, como o meio social está sempre a mudar, variando enormemente as situações vividas pelos indivíduos, reagem a elas, fazendo novos arranjos e combinações. Confere importância ao homem concreto, ligado indissoluvelmente às coisas comuns à sua circunstância (cf. Dilthey, 1944). A lembrança dos escritores norte-americanos e, de resto, da bibliografia exaustiva de pesquisadores que estudavam os processos de assimilação dos imigrantes, numa época em que os Estados Unidos estavam abalroados de estrangeiros, não impede ver como Willems combina os ensinamentos de uma via compreensiva da vida social com o pragmatismo norte-americano, fundamento de uma importante vertente sociológica e antropológica voltada para os temas da imigração, marginalidade, aculturação nos Estados Unidos (cf. Lepenies, 1981).

"Eu mesmo entrevistei no dia 25 de dezembro de 1931, no já mencionado distrito de Guabiruba, o último sobrevivente da primeira leva de imigrantes badenses chegados aqui em 1860. Esta pessoa, um velho de 82 anos, me declarou que, na zona dele, não havia a menor necessidade de emigrar. A situação econômica de sua família e das demais famílias da localidade era boa. Mas agentes estranhos os haviam convencido das vantagens concedidas aos imigrantes no Brasil" (Willems, 1940, p. 45)7 7 Note-se que era dia de Natal e fazia apenas quatro meses da chegada de Willems. .

Willems recusa a primazia de uma causa econômica e aponta diversos motivos, inclusive religiosos, para a explicação do êxodo dos alemães. Ao discutir as razões da imigração, compara os imigrantes de origem camponesa com os imigrantes cultos, que vieram para o Brasil, fugindo das perseguições políticas, regimes e medidas autoritárias que os impediam de viver no seu próprio país. A Alemanha peneirava seus cidadãos8 8 O conceito de pe-neiramento como forma de seleção foi utilizado muitas vezes por Willems (cf. Willems, 1941; 1986; Willems & Baldus, 1939). pondo para fora os indesejáveis. Os liberais de 1848, os comunistas do grupo Spartakus mas, também, oficiais do exército imperial, engenheiros, advogados e professores (cf. Willems, 1940, p. 50-51) buscavam na nova terra a realização de seus ideais. Mas, como se as causas arroladas, econômicas, políticas e religiosas, ainda fossem insuficientes, evoca a figura do aventureiro, para dizer que à imaginação dos alemães jovens e adolescentes não faltava fascinação pelo exotismo de outros povos, sendo por isso talhados para a aventura Mereceria um estudo especial a tendência dos alemães para a vida aventurosa diz, referindo-se à Cultura Filosófica de Simmel (Simmel, 1986), publicado em Leipzig em 1919.

Os colonos alemães não viviam o melhor dos mundos, ao contrário do que se pode pensar de situações de contato entre diferentes culturas, quando membros de culturas diferentes se apropriam do que há de bom em cada uma delas. A vida entre duas culturas tampouco levou ao alargamento de sua visão de mundo, tornando-a mais cosmopolita e progressista (cf. Park, 1967). Ao contrário, Willems dedica páginas e páginas do livro a mostrar o drama de seus conterrâneos, cuja maneira de ser e viver nas colônias não encontrava aprovação nem dos brasileiros nem dos alemães. Sublinha as diferenças intransponíveis que vão surgindo entre a geração dos alemães nascidos na Alemanha, e a de seus filhos, descendentes de alemães, em decorrência da mistura dos idiomas, da perda da língua materna, dos casamentos mistos, da adaptação a escolas de disciplina frouxa. O ressentimento marca esta coletividade que não se faz reconhecer nem é reconhecida em nenhuma das culturas por onde transita. Os alemães diferem dos teuto-brasileiros, os brasileiros diferem dos alemães e dos teuto-brasileiros, sendo todos preconceituosos e cheios de estereótipos. Uma explanação longa sobre a presença das igrejas católica e protestante evidencia a influência que exercem sobre os imigrantes e seus descendentes, mas também a disputa entre elas pela preservação da cultura alemã (cf. Willems, 1940, p. 139-142).

Os termos verlusen (cf. Willems, 1940, p. 117) e verkaboklern, o abrasileirar-se ou acaboclar-se, utilizados em tom pejorativo pelos colonos, expressam preconceitos e temores da perda de suas tradições. Nos anos do nazismo e de exacerbada exaltação nacionalista, os conflitos abertos pela tentativa de organizações nacional-socialistas, visando o controle político das colônias no sul do Brasil, levaram alemães e teuto-brasileiros ao exercício do que Willems chama de racionalização das ambigüidades. Iniciaram uma discussão sobre etnia, cultura e cidadania, distinguindo a preservação de suas tradições do exercício da cidadania brasileira e, em defesa de seus interesses, manifestaram-se a favor da separação da noção de cidadania política (Staatsbürgertum) e cidadania étnica (Volksbürgertum).

Quando repensou sua experiência em Brusque, do ponto de vista sociológico, Willems assentou as bases de uma perspectiva cognitiva que o acompanharia ao longo de suas pesquisas distinguiu raça de cultura, insistindo em uma abordagem isenta do determinismo físico/biológico; recusou a redutibilidade dos fenômenos sociais às leis da economia, libertando, também, seu esquema analítico de qualquer visão orgânica ou sistêmica da vida social; acabou desvendando as relações sociais nas esferas da economia, da religião, do direito e da política. Seu interesse estava sobretudo no conhecimento das representações coletivas que se impunham às condutas de homens e mulheres imigrantes alemães no sul do Brasil. Tal foi o rumo que deu a sua vivência em Brusque.

O exemplo de Cunha

Emílio Willems não escreveu apenas sobre a assimilação/aculturação, nem abordou somente a questão da marginalidade, própria dos grupos humanos que se deslocam geográfica e culturalmente. Como tantos outros cientistas sociais de seu tempo, interessou-se pela secularização e individualização da vida social, sem, entretanto, demonstrar grande fascínio pelo modo de ser moderno aqui entendido enquanto processo generalizante e padronizador, a atrair e orientar para uma única direção diferentes modos e arranjos culturais. Aliás, a idéia de que a constituição das sociedades está envolta em um processo histórico que se encaminha inevitavelmente para a realização de um objetivo encontra-se ausente de seus estudos, ainda que busque compreender o fenômeno da modernidade. Na realidade, Willems discorda inteiramente de uma visão histórica evolucionista, mantendo-se fiel aos ensinamentos da sociologia berlinense da época de sua formação. Willems não aceita, seja por motivos lógicos ou factuais, a inevitabilidade de uma marcha seqüencial do velho para o novo, do tradicional ao moderno, razão pela qual sua reflexão permanece livre de uma visão normativa, seja do passado, seja do futuro. Para ele, importam, sim, os arranjos, os conflitos, as incompatibilidades entre homens e valores, a multiplicação de alternativas, a escolha possível. E é por isso que em nenhum momento se refere aos resquícios ou às sobrevivências do passado, como tampouco a um novo padrão de homem ou sociedade. A modernidade incluía diferentes credos, regras, formas de conduta e valores em conflito permanente (cf. Willems, 1961, p. 9-15).

A adoção de uma perspectiva de trabalho para a qual importam os valores que dão sentido e significado às ações humanas (cf. Weber, 1956, p. 223), aliada à discordância e abandono de uma visão da história enquanto processo, concorreu para que Willems fosse alvo de duras críticas e se tornasse, para alguns, o representante de uma via culturalista, empiricista e conservadora de interpretação dos fatos sociais; ainda que para outros, a discordância teórica e conceitual não impedisse de nele ver a figura de um cientista social afeito às regras do rigor metodológico e científico. É claro que havia também os que concordavam com ele. Para compreender as concordâncias e discordâncias criadas em torno da figura do jovem imigrante alemão, é preciso falar sobre Cunha.

Em 1947, sete anos depois da publicação de Assimilação e populações marginais no Brasil, vem a público Cunha, tradição e transição em uma cultura rural do Brasil, pela Diretoria de Publicidade Agrícola da Secretaria da Agricultura de São Paulo (cf. Willems, 1947). Foi o livro que mereceu maior e mais duradoura atenção do público brasileiro, sendo sucessivamente reinterpretado. Até hoje estimula a pesquisa monográfica, como desejava seu autor9 9 Antes de Willems, Mario Wagner Vieira da Cunha escreveu sobre o povoamento do município em 1944 (cf. Cunha, 1944). Robert Shirley, antropólogo norte-americano, revisita Cunha em 1964 e publica O Fim de uma tradição, em 1977 (Shirley, 1977); Oracy Nogueira, nascido em Cunha, escreve biografia de Dr. Casemiro, médico de cor e chefe político de Cunha na república Velha (cf. Nogueira, 1992). Em 2 de maio de 1992, ao agradecer o livro enviado por Oracy, Willems diz: "não esqueci que foi você que sugeriu que eu escolhesse Cunha como campo de pesquisa". A respeito de Cunha é importante ver também a pesquisa de Rosane Prado (1998). . Paradoxalmente foi o mais rechaçado, tornando-se um marco, um divisor de águas entre vertentes distintas do conhecimento sociológico. Quando se fala no nome de Willems no Brasil, ele é imediatamente associado a Cunha, vindo, em segundo lugar, eventuais lembranças de suas pesquisas sobre imigração. Já nos registros norte-americanos são lembrados os livros que ele publicou nos Estados Unidos Buzios islands, Followers of the new faith, Latin American culture: an anthropological synthesis, A way of life and death: three centuries of prussian-german militarism.

O leitor que se depara com as duas edições de Cunha, inevitavelmente, percebe que tem sob seu olhar dois livros10 10 Nísia Trindade Lima (1999) discute o trabalho de Willems. A leitura de seu breve comentário sobre os estudos antropométri-cos, incluídos na primeira edição de Cunha, e que raramente são mencionados, me levou a comparar as duas edições do livro. . A edição de 1947 traz um prefácio singelo assinado por Emílio Willems, de sua casa em Santo Amaro, onde morava com a família na cidade de São Paulo. Mapas e fotos do município e da cidade de Cunha ilustram as páginas que antecedem o relato. As fotos seguem, entremeando o texto, com imagens de diferentes aspectos da vida da pequena comunidade. Ao final, os anexos trazem informações sobre o movimento postal da cidade, saldos municipais, saldo de poupança dos moradores, regras para construção de estradas municipais, além das letras de inúmeras modinhas. É surpreendente, ao menos para quem só conhece a edição de 1961, que uma segunda parte do relato sobre Cunha continue nas páginas seguintes, sob forma de um estudo antropométrico da população, com minuciosas tabelas de medidas da face e dos crânios dos homens e das mulheres cunhenses, além de fotos de jovens, crianças e mulheres; segue-se uma terceira parte, intitulada nota sobre alguns objetos arqueológicos colhidos na região de Cunha.

Em 1961, a segunda edição, de editora particular e com fins lucrativos, muda o título para Uma Vila brasileira. Tradição e Transição. Apresenta apenas o estudo de comunidade sobre Cunha. O nome Nelson Werneck Sodré, como autor do prefácio, aguça a memória do leitor, que, em um primeiro momento, não consegue associar significativamente as teses do historiador sobre as formas feudais do Brasil colônia calorosamente discutidas nos anos 50/60 com o estudo de comunidade que espera ler. Muito embora não concorde com os métodos utilizados por Willems, as palavras de Sodré são muito elogiosas à contribuição do livro para o estudo das transformações de cidades e povoados brasileiros. Pouco esclarecem, contudo, os motivos da mudança do nome de Cunha para Itaipava, nem explicam a exclusão da segunda e terceira parte da edição original11 11 Para José de Souza Martins, entretanto, a reação dos cunhenses se devia ao fato de Cunha ter sido chamada de comunidade caipira por Willems, (cf. Martins, 1977). :

O estudo publicado há mais de dez anos, em sua forma primitiva, denunciava ainda a habilidade na manipulação de dados oriundos da colheita direta. Por um desses casos que ocorrem com relativa freqüência em nossa terra, despertou os pruridos de vaidade dos moradores da cidade que fora objeto de pesquisa. Em conseqüência, o autor, nesta edição, substitui o nome da mesma por outro, Itaipava, assim como das localidades vizinhas (cf. Sodré, 1961, p. 7).

Willems esteve em Cunha nos meses de janeiro, março, junho, julho e novembro de 1945. No ano em que o conflito mundial terminou na Europa, o III Império ruiu sob escombros e, no Brasil, a ditadura de Vargas foi substituída por regime democrático de governo, ele percorreu 300 quilômetros pelo interior, em animais de montaria, passando por áreas rurais desabitadas e marcadas por trilhas de gado. Cruzou a Serra do Mar e conheceu a estrada imperial que ligava Cunha a Parati. Seus companheiros de viagem e assistentes de pesquisa eram Florestan Fernandes, Myrtes Nogueira, Gioconda Mussolini, Carlos Borges Schmidt, Alceu Maynard Araujo, Francisca Klovrza e Paulo Florençano. Estava interessado no estudo de pequenas comunidades que não fossem primitivas, seguindo orientação do antropólogo Radcliffe Brown. Por isso havia se familiarizado com a bibliografia dos estudos de comunidade e pretendia, com o procedimento metodológico que aquelas pesquisas propunham, verificar o que ocorrera em Cunha, município afastado dos centros de irradiação política e econômica durante muitos anos. Parte assim ao encontro das coletividades rurais, camponesas, tradicionais, sertanejas (cf. Lima, 1999).

Cunha- tradição e transição em uma cultura rural no Brasil registra vários aspectos da vida dos habitantes do município, próximo de Parati, no interior do Estado de São Paulo. Povoado antigo, localizado à boca do sertão, tornou-se, no século XIII, pouso obrigatório para o abastecimento de tropas, para quem vinha de Parati para Minas Gerais ou de Guaratinguetá e Lorena, no Vale do Paraíba. Com a construção da Estrada de Ferro Central do Brasil perdeu sua função e ficou isolada quase cem anos (1860-1932), até a abertura da estrada que liga Guaratinguetá a Cunha.

Willems estrutura seu relato em três partes a terra e o povo, a estrutura social e a cultura. Em todas está presente sua questão de trabalho quer saber como uma comunidade, tanto tempo isolada dos grandes centros, se transforma. O paradigma sociológico, que só paulatinamente foi tomando lugar nos ensaios e pesquisas sobre o Brasil, figura nos capítulos voltados para a estrutura social, onde Willems apresenta uma coletividade que se constrói desigualmente, divide-se em classes (pela riqueza, profissão, religião, antiguidade da família, cor e educação)12 12 A construção das classes sociais de Cunha se faz com o uso dessas categorias e entrevistas aos habitantes do município (Willems, 1947). , em grupos constituídos por laços consangüíneos, de afinidade e ou vizinhança, e em associações por interesse, como os partidos políticos, cooperativas, igrejas, clubes e cliques.

Ao longo da narrativa, o leitor percebe que os cunhenses estavam sujeitos a uma ordem tradicional e pessoalizada, havendo poucos indícios de racionalidade em suas ações políticas ou econômicas. Grande parte da população analfabeta tinha dificuldade para associar-se em defesa de seus interesses. Durante anos, tiveram à frente do poder o famoso chefe Clemente Pedroso, médico cujos laços de amizade e compadrio se espalhavam por todo o município, e cujo prestígio se devia ao seu estilo de mando, considerado melhor do que aquele dos chefes do tempo em que se mandava matar. Mesmo assim, reclamavam que aqui há só os graúdos e o povo não manda em nada, mostrando sua insatisfação com as desigualdades de posição e mando no povoado.

O equilíbrio para as notáveis desigualdades sociais provinha da crença religiosa. A Festa do Divino, com seus votos, providenciava a redistribuição simbólica dos bens, mobilizava toda a população e refazia a solidariedade da comunidade. Willems a considerou uma das manifestações de maior apego à tradição: as mudanças que caracterizam, em escala crescente, outros setores da cultura local, parecem ter poupado a festa do Divino. Não havia porque vislumbrar um futuro moderno para o pequeno lugarejo. Aliás, no prefácio de 1961, reitera essa posição em tom polêmico:

" como os fatos examinados neste volume não oferecem ensejo para profecias, limito-me a declarar aqui que nenhuma das tendências de desenvolvimento assinaladas no decorrer do estudo indica ou sugere que um dia Itaipava (Cunha) como qualquer outra localidade, sairá da fase de mudança como uma serpente sai de sua pele, exibindo o lustro de uma estrutura social toda nova e imaculada" (Willems, 1961).

A crítica foi implacável. O estudo marcou a discussão sobre a ciência nos circuitos brasileiros à época de sua publicação, introduzindo uma enorme controvérsia metodológica, cuja história talvez se possa remontar à dura crítica feita por Caio Prado Júnior, na revista Fundamentos, em 1948 (Prado Jr., 1948- 1949)13 13 Graças a Miriam L. Moreira Leite tive acesso ao texto de Caio Prado Jr. Deixo registrado meu agradecimento pelas sugestões e importante estímulo que deu à pesquisa. . O historiador paulista reclamava da exterioridade e superficialidade nos estudos dos fatos sociais. Willems os apresentara como se não houvesse nenhum nexo significativo entre eles, e acreditara que a objetividade estava na descrição rigorosa do que observara. No entanto, a objetividade só era possível com a adoção de uma concepção moderna de história, cujas leis permitiriam revelar o que havia por detrás das aparências da vida caipira, fincada ali no pequeno vilarejo. O conceito de cultura utilizado por Willems, enquanto uma realidade em si, imanente aos grupos estudados, não levava ao conhecimento verdadeiro. Quem assim procedia, não fazia ciência, desprezava a teoria e, mais grave ainda, corroborava com o status quo de exploração e miséria da população. Cunha não passava de relatório burocrático de arrolamento de dados.

Muitas foram as críticas que se seguiram a de Caio Prado Jr., evidenciando os diferentes fundamentos teóricos, que foram se impondo sobre as ciências sociais14 14 Para uma comparação dos diferentes matizes da crítica aos estudos de comunidade, é importante ver a posição assumida por Adorno. Embora discorde inteiramente do princípio que sustenta tais estudos, realiza uma pesquisa com aquela orientação, em Darmstadt, logo depois da II Guerra Mundial, afirmando que "é razoável ver nesses estudos uma das tentativas mais enérgicas que se fizeram para eliminar a diferença entre ciência e sociedade" (Adorno, 1973, p. 166). . No Rio de Janeiro, referindo-se ao trabalho de Willems, Guerreiro Ramos dizia que o entusiasmo dos jovens sociólogos pelas pesquisas de comunidade era perigoso, levava ao desperdício de recursos técnicos e revelava uma maneira de ser colonial:

"As pesquisas sobre comunidades têm pleno sentido no atual estádio econômico dos Estados Unidos e no presente quadro de sua sociologia, cujas correntes estão perfeitamente delineadas e em que há abundante oferta de especialistas. No Brasil, a prática de tais investigações só poderá contribuir para desorientar os nossos escassos sociólogos em formação, dandolhes a satisfação de dominarem certas técnicas em voga num centro adiantado, despreocupa-se de tarefas outras essenciais de seu meio, quais elaborar um saber sociológico compatível com as necessidades nacionais e regionais. (...) Não é assim que ele deixará de ser colonial" (cf. Ramos, 1954, p. 82).

Houve também quem discernisse no procedimento, inaugurado por Willems, sua positividade. Oracy Nogueira e Florestan Fernandes estavam entre eles15 15 Um balanço crítico da repercussão dos estudos de comunidade encontra-se em Con-sorte (1996) e Nova (1996). . O método oferecia possibilidade de uma visão de conjunto de diversos aspectos da vida social das regras de namoro às formas de cooperativa e associação política, como se podia ler em Cunha além de facilitar a percepção de modos de pensar individuais ou coletivos, subestimados em outras metodologias. Ao conferir autoridade à experiência, os estudos de comunidade afastavam o pesquisador de seu gabinete e o lançavam em contato direto com um grupo ou coletividade. Corrigiam assim os excessos da razão. Outras pesquisas se seguiram a de Willems, e Cunha se transformou em símbolo de uma perspectiva cognitiva, mais interessada na compreensão da lógica da modernidade a partir de sua concretitude, do que na explicação racional de sua força uniformizadora e devir inevitável.

Nenhuma sociedade funciona adequadamente sem fazer arranjos entre homens e coisas, classificando-os em categorias e tipos (cf. Arendt, 1968, p. 152). A classificação é a base de toda discriminação. No entanto, às vezes aparecem pessoas que não se adequam bem às categorias estabelecidas, nem criam um novo gênero. Relutam em enquadrar-se nas referências habituais de um círculo social. Emílio Willems talvez seja um desses casos. Ele não era um professor estrangeiro, convidado para lecionar no Brasil, como tantos outros com quem conviveu, a exemplo de Donald Pierson, Radcliffe Brown e George Gurvitch.

Imigrante alemão, inicia sua carreira enquanto sociólogo e logo se torna antropólogo.Tematiza as culturas sertanejas no interior brasileiro e o processo de urbanização em países da América Latina; faz pesquisas antropométricas e dedica-se ao exame do pentecostalismo no Chile e no Brasil. Não há coerência temática em sua obra e se uma lógica própria pode ser apreendida, vem de seu interesse na compreensão da cultura nos seus próprios termos.

Aos 70 anos, Willems aposentou-se da Universidade de Vanderbilt. Queria usar o tempo para fazer algo completamente diferente, no fim da vida. Escreveu então A way of life and death. Three centuries of prussiangerman militarism16 16 O livro foi publicado primeiro na Alemanha, antes da edição em língua inglesa, sob o título de Der preussisch-deutsche Militarismus: ein Kultur-complex im sozialen Wandel (O militarismo alemão-prussiano: um complexo cultural em mudança) em 1984, fato que Willems considerou uma ironia (cf. Willems, 1984). com o objetivo de entender a tragédia que se abatera sobre a Alemanha de sua juventude. O velho amigo René König prefaciou o livro, relembrando o tempo em que estudaram juntos na Universidade de Berlim. Disse que a importância atribuída por Willems à imigração, como única saída para os que queriam livrar-se dos regimes autoritários que caracterizavam a Alemanha, tinha um significado pessoal para o autor. Realmente, com o livro, Willems recupera o elo perdido que faltava para fechar o circuito de seu itinerário. Era o tempo em Brusque, que ainda repercutia na sua memória.

Recebido para publicação em agosto/2000

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  • 1
    Buzios Island foi escrito em colaboração com Gioconda Mussolini.
  • 2
    Texto autobiográfico inédito.
  • 3
    Carta de Oracy Nogueira a Emílio Willems, em 4 de janeiro de 1983 (cf. Nogueira, s./d.).
  • 4
    O nome completo é Hilda Heimbuch. Carta de Emilio Willems a Oracy Nogueira, em 2 de outubro de 1983.
  • 5
    "professor da velha escola, com um extraordinário domínio de línguas e de fontes históricas... Imensamente produtivo" (N.E.). Homenagem feita a Emílio Willems por Thomas A. Gregor, professor do Departamento de Antropologia da Universidade de Vanderbilt em dezembro de 1997.
  • 6
    Sobre a Sociologia de von Wiese e suas relações com os meios sociológicos norte-americanos cf. Alemann (1981).
  • 7
    Note-se que era dia de Natal e fazia apenas quatro meses da chegada de Willems.
  • 8
    O conceito de pe-neiramento como forma de seleção foi utilizado muitas vezes por Willems (cf. Willems, 1941; 1986; Willems & Baldus, 1939).
  • 9
    Antes de Willems, Mario Wagner Vieira da Cunha escreveu sobre o povoamento do município em 1944 (cf. Cunha, 1944). Robert Shirley, antropólogo norte-americano, revisita Cunha em 1964 e publica
    O Fim de uma tradição, em 1977 (Shirley, 1977); Oracy Nogueira, nascido em Cunha, escreve biografia de Dr. Casemiro, médico de cor e chefe político de Cunha na república Velha (cf. Nogueira, 1992). Em 2 de maio de 1992, ao agradecer o livro enviado por Oracy, Willems diz: "não esqueci que foi você que sugeriu que eu escolhesse Cunha como campo de pesquisa". A respeito de Cunha é importante ver também a pesquisa de Rosane Prado (1998).
  • 10
    Nísia Trindade Lima (1999) discute o trabalho de Willems. A leitura de seu breve comentário sobre os estudos antropométri-cos, incluídos na primeira edição de Cunha, e que raramente são mencionados, me levou a comparar as duas edições do livro.
  • 11
    Para José de Souza Martins, entretanto, a reação dos cunhenses se devia ao fato de Cunha ter sido chamada de comunidade caipira por Willems, (cf. Martins, 1977).
  • 12
    A construção das classes sociais de Cunha se faz com o uso dessas categorias e entrevistas aos habitantes do município (Willems, 1947).
  • 13
    Graças a Miriam L. Moreira Leite tive acesso ao texto de Caio Prado Jr. Deixo registrado meu agradecimento pelas sugestões e importante estímulo que deu à pesquisa.
  • 14
    Para uma comparação dos diferentes matizes da crítica aos estudos de comunidade, é importante ver a posição assumida por Adorno. Embora discorde inteiramente do princípio que sustenta tais estudos, realiza uma pesquisa com aquela orientação, em Darmstadt, logo depois da II Guerra Mundial, afirmando que "é razoável ver nesses estudos uma das tentativas mais enérgicas que se fizeram para eliminar a diferença entre ciência e sociedade" (Adorno, 1973, p. 166).
  • 15
    Um balanço crítico da repercussão dos estudos de comunidade encontra-se em Con-sorte (1996) e Nova (1996).
  • 16
    O livro foi publicado primeiro na Alemanha, antes da edição em língua inglesa, sob o título de
    Der preussisch-deutsche Militarismus: ein Kultur-complex im sozialen Wandel (O militarismo alemão-prussiano: um complexo cultural em mudança) em 1984, fato que Willems considerou
    uma ironia (cf. Willems, 1984).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      03 Nov 2010
    • Data do Fascículo
      Nov 2000

    Histórico

    • Recebido
      Ago 2000
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